'É um arraial fantasma': os moradores que insistemcasino sem depósitomorar nos vilarejos destruídos pela lamacasino sem depósitoMariana:casino sem depósito

O agricultor João Elói da Silva
Legenda da foto, João Elói passou quase um ano sem energia elétricacasino sem depósitoParacatu, para onde voltou um mês e meio depois do desastre | Crédito: Camilla Veras Mota/BBC Brasil

"Isso aqui é um arraial fantasma", diz a esposacasino sem depósitoSilva, Maria Salete, para depois emendar que só não volta para a antiga casa porque tem que cuidar do filhocasino sem depósito17 anos, caçulacasino sem depósito12,casino sem depósitoidade escolar.

Ruínascasino sem depósitoParacatu
Legenda da foto, Poucas casas ficaramcasino sem depósitopé depois que a avalanchecasino sem depósitolama passou pelo distrito, que está a 35 kmcasino sem depósitoMariana | Crédito: Camilla Veras Mota/BBC Brasil

A estrada que corta Paracatu ainda guarda os rastros da destruição causada pela lama. As ruínas que ficam na entrada do distrito estão soterradas quase até a altura da porta pelo rejeito, coberto por um lençolcasino sem depósitograma que cresce desde 2015.

Objetos pessoaiscasino sem depósitoantigos moradores e quase tudo o que poderia ter algum valor foi saqueado nos últimos dois anos. Ficou uma máquinacasino sem depósitolavar, um restocasino sem depósitosofá, um tapete enrolado.

A igreja e a escola, um pouco mais à frente, ainda têm a fachada bicolor, dividida pelo nível que a lama atingiu. Do Bar do Jairo, pontocasino sem depósitoencontro para o rala-bucho semanal, só sobrou a parede da frente.

A lama chegou até o quintalcasino sem depósitoSilva. A casa dele, aparentemente intacta, está cheiacasino sem depósitorachaduras por dentro, causadas pelo desprendimentocasino sem depósitoum grande blococasino sem depósitopedra do leito do rio quando o tsunamicasino sem depósitolama passou pelo vilarejo. "A terra balançou", ele lembra.

Escola municipalcasino sem depósitoParacatu
Legenda da foto, A escola e a igreja do vilarejo ainda trazem as marcas que a lama deixou dois anos atrás | Crédito: Camilla Veras Mota/BBC Brasil

Os reparos na estrutura ele negocia com a Fundação Renova, que hoje responde pelas açõescasino sem depósitoreparação da mineradora Samarco ecasino sem depósitosuas controladoras, Vale e BHP Billiton. É a instituição que discute com os atingidos as indenizações, que ainda não foram pagas.

As vítimas recebem um auxílio emergencialcasino sem depósitoum salário mínimo por mês, mais 20% por dependente e o valorcasino sem depósitouma cesta básica. Das compensações, foram antecipados pagamentoscasino sem depósitoR$ 10 mil às famílias que tinham residênciacasino sem depósitouso eventual nos distritos atingidos, R$ 20 mil às que perderam a casacasino sem depósitoque moravam e R$ 100 mil aos parentescasino sem depósitodesaparecidos ou mortos.

O agricultor passou quase um ano sem energia elétrica. A luz voltou depois que um dos filhos fez um apelo a um vereador conhecido, conta a esposa. No último ano, Silva replantoucasino sem depósitohorta, voltou a criar porcos, galinhas e codornas. "Isso aqui é uma diversão", diz ele.

A família vem visitá-lo uma vez por semana. Eles comemoram os aniversárioscasino sem depósitoParacatu, com "churrasquinho e cerveja".

Ele lamenta a situação dos antigos vizinhos, especialmente os mais velhos, como ele, que não conseguem se adaptar à vida urbanacasino sem depósitoMariana, que está a 35 km. Muitos têm sido diagnosticados com depressão e hoje tomam remédios.

"Tem muita gente lá sofrendo, e a gente está sofrendo junto com eles".

Fachada do Bar do Jairo,casino sem depósitoParacatu
Legenda da foto, O que restou da cidade foi saqueado depois que os moradores foram levados para Mariana | Crédito: Camilla Veras Mota/BBC Brasil

Silva segue com a saúdecasino sem depósitoferro, que o ajuda na rotina pesada da roça - ele faz questãocasino sem depósitolimpar o chiqueiro duas vezes por dia -, e só se queixacasino sem depósitouma ardência nos olhos quando o tempo fica seco e a lama que ainda está sobre o distrito vira poeira.

A Renova passa periodicamente com carros-pipa pelo vilarejo, nos períodos mais secos, para evitar que a poeiracasino sem depósitorejeito se espalhe. A fundação afirma que a lamacasino sem depósitosi não traz riscos à saúde, que os estudos químicos feitos no material chegaram à conclusãocasino sem depósitoque ele é inerte.

Nesse sentido, um caso particular vem sendo observado entre os atingidos do municípiocasino sem depósitoBarra Longa, a 60 kmcasino sem depósitoMariana, que permaneceramcasino sem depósitosuas casas durante o processocasino sem depósitoreconstrução. A poeira intensa gerada pelas obras no decorrer do último ano e espalhada pela cidade pelo trânsitocasino sem depósitoveículos pesados vem ocasionando,casino sem depósitoacordo com os moradores, problemas respiratórios ecasino sem depósitopele.

O início da reconstruçãocasino sem depósitoParacatucasino sem depósitoum terreno próximo está previsto para 2018 e a entrega, para o ano seguinte. Silva não sabe se quer mudar. "Isso vai ser uma coisa que vai ter que ser muito conversada", afirma o agricultor, que se preocupa com questões como a disponibilidadecasino sem depósitoágua na região escolhida para a "nova" Paracatu.

Loucos por Bento

Para tentar fugir da realidade árida da vida provisória na cidade, marcada por uma relação tensa com os marianenses, a comunidadecasino sem depósitoBento Rodrigues, a mais afetada pelo rompimento da barragem, também tem voltado ao local do desastre.

Mônica Quintão e a mãe, Maria das Graças
Legenda da foto, Mônica Quintão e a mãe, Maria das Graças, voltam a Bento Rodrigues praticamente todos os finscasino sem depósitosemana | Crédito: Camilla Veras Mota/BBC Brasil

Já faz um ano que Mônica Quintão e a família passam praticamente todos os finscasino sem depósitosemana no distrito, que permanece sem energia elétrica. A casa da tia, uma das poucas poupadas pela lama, estava suja, sem porta e sem janelas - levadas por saqueadores - na primeira vezcasino sem depósitoque dormiram lá.

À medida que a casa foi sendo recauchutada, o númerocasino sem depósitoex-moradores que participavam das excursões aumentou. Hoje, ela contabiliza 32 "loucos por Bento", como o grupo se autodenomina.

Ao contráriocasino sem depósitoParacatu, a entrada no distrito não é livre. Apenas funcionários da mineradora, moradores e seus convidados podem circular pelas ruínas.

Procissãocasino sem depósitoNossa Senhora das Mercês realizadas por atingidos do desastre com barragem da Samarco
Legenda da foto, Grupo dos "loucos por Bento" costuma se reunircasino sem depósitodatas festivas, como a procissãocasino sem depósitoNossa Senhora das Mercês (acima) | Crédito: Arquivo pessoal

A turma dos finscasino sem depósitosemana, que improvisa a iluminação com celulares e baterias, é menor. As grandes reuniões acontecem nas datas festivas, comemoradas entre as ruínas - a procissãocasino sem depósitoNossa Senhora das Mercês, a festacasino sem depósitoSão Bento, semana santa, virada do ano - e contam com os geradores que passaram a ser alugados pela Renova após um pedido feito pelos atingidos.

As mesas improvisadas a céu aberto são fartascasino sem depósitocomida mineira típica. "Todo mundo ganhou peso no último ano", brinca Quintão.

Juntos, os moradores do distrito rezam, cantam, tomam banho na cachoeira que está a uma caminhadacasino sem depósitodistância e percorrem o que restoucasino sem depósitosuas casas, aindacasino sem depósitobuscacasino sem depósitoobjetos pessoais e lembranças da vida no vilarejo.