De reclamações da merenda a brigas entre alunos: conheça os mediadores das escolas paulistas:4x4 bet com

Alunos e o mediador Victor Moraes Filho
Legenda da foto, Moraes Filho posa ao lado4x4 bet comalunos da Escola Estadual Jornalista David Nasser; Estado4x4 bet comSP está formando milhares4x4 bet comprofissionais dedicados à mediação

Moraes Filho é um "mediador". Hoje, há 3,5 mil deles no Estado; a partir da formação oferecida a outros profissionais neste mês, o número passará para 6.795 (5 mil vice-diretores e 1.795 professores-mediadores, profissionais inteiramente dedicados à mediação).

A promessa é4x4 bet comque todas as escolas da rede estadual terão pelo menos um mediador - algumas vão contar com mais4x4 bet comum profissional dedicado à função, o que será definido a partir4x4 bet comíndices4x4 bet comvulnerabilidade social e4x4 bet comviolência registrados por escola pela pasta.

Dados locais e nacionais mostram a realidade da violência nas escolas - a qual o governo estadual buscar frear com a ampliação da mediação nos colégios.

Segundo dados da Prova Brasil 2015, 22,6 mil professores do 5º e 9º ano relataram terem sido ameaçados por algum aluno no último ano. De um total4x4 bet com262,4 mil professores4x4 bet comtodo o país que responderam ao questionário, 51% testemunharam, no último ano, agressão verbal ou física4x4 bet comalunos dirigidas a professores ou funcionários da escola.

Já no Estado4x4 bet comSão Paulo, pesquisa realizada pelo Instituto Locomotiva a pedido do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado4x4 bet comSão Paulo (Apeoesp) mostra que 85% dos professores souberam4x4 bet comcasos4x4 bet comviolência nas escolas estaduais4x4 bet comque trabalham; outros 51% dizem já terem sido vítimas4x4 bet comviolência4x4 bet comambiente escolar.

"Todas as pessoas deveriam procurar dentro4x4 bet comsi a tolerância, saber ouvir, ser aberto ao diálogo... Mas dependendo do ambiente, não sobra tempo. É o tempo relógio e o tempo emocional. Eu ouço 'ene' problemas: tenho que saber filtrar e não deixar isso abalar o meu emocional", explica Nailza Fernandes Veiga,4x4 bet com50 anos, professora-mediadora da Escola Estadual Professor Manuel Ciridião Buarque, na Lapa, bairro4x4 bet comclasse média na capital paulista.

"A mediação tem que deixar um marco dentro da escola. E o maior marco dentro da escola é a abertura4x4 bet comdiálogo", acrescenta ela.

A mediadora Nailza Fernandes Veiga
Legenda da foto, 'A mediação tem que deixar um marco dentro da escola. E o maior marco dentro da escola é a abertura4x4 bet comdiálogo', diz Nailza Fernandes Veiga

Na prática, a rotina4x4 bet commediadores como Veiga e Moraes Filho inclui o agendamento4x4 bet comencontros com famílias, o registro escrito4x4 bet comconflitos na escola e a organização4x4 bet comcampanhas e eventos na unidade.

Os casos4x4 bet comintervenção mais comuns nas escolas envolvem agressões (verbais e físicas), depressão entre os alunos e ataques nas redes sociais. Mas, diferente do que pode indicar o nome da função4x4 bet com"mediador4x4 bet comconflito", Moraes Filho destaca que seu trabalho se dá ao longo prazo - e não4x4 bet com"apagar incêndios".

"No início, eu chegava no ponto4x4 bet comresgate. Eu ainda tenho que fazer isso hoje, mas agora trabalho muito com a prevenção. Eu vejo uma fumacinha ali, tenho que jogar água, porque daqui a pouco o incêndio chega. É um passo4x4 bet comformiguinha", diz Moraes Filho.

Mediação entre a escola e a rua

Na cartilha da atuação4x4 bet comVeiga, estão algumas práticas que vão4x4 bet comencontro ao que é praticado cotidianamente4x4 bet comalgumas escolas: chamar os pais do aluno para a escola "de surpresa", por exemplo, está longe do roteiro indicado; o mesmo acontece com a indução4x4 bet comque alunos peçam desculpas uns aos outros.

Segundo Veiga, tudo deve ser transparente, conversado e espontâneo. A transparência se estende também aos professores: a educadora indica que eles façam registros escritos4x4 bet comocorrências, como forma4x4 bet comdocumentar e embasar a gestão4x4 bet comconflitos.

Na rede estadual, a formação4x4 bet commediação tem carga horária4x4 bet com40 horas e inclui conteúdos como direitos4x4 bet comcrianças e adolescentes e métodos para resolução4x4 bet comconflitos.

A mediação escolar tem origem4x4 bet comarbitragens no ambiente jurídico e ganhou tradição4x4 bet compaíses como Portugal, Estados Unidos e Argentina.

No Brasil, houve algumas experiências, sobretudo na educação pública, no Rio4x4 bet comJaneiro, Ceará, Rio Grande do Sul e Distrito Federal - mas é São Paulo que se destaca pelo tempo e abrangência deste tipo4x4 bet cominiciativa.

No Jardim Macedônia, bairro na periferia4x4 bet comSão Paulo onde fica a Escola Estadual Jornalista David Nasser, Moraes Filho busca otimizar recursos. O Conselho Tutelar, ONGs, empresas e um posto4x4 bet comsaúde municipal, o Pronto Atendimento Jardim Macedônia, são chamados4x4 bet com"parceiros" da escola. Se o mediador percebe sinais4x4 bet comdepressão4x4 bet comum adolescente, por exemplo, ele encaminha para o posto; um grupo4x4 bet comteatro formado ali tem o apoio4x4 bet comuma empresa no transporte dos alunos para apresentações.

A ligação com a comunidade, para Moraes Filho, significa também conhecê-la.

"Conheço essa comunidade inteira, sei onde mora cada aluno meu. Essa escola é a minha vida. Se um aluno me chama agora, por exemplo, eu paro tudo", conta o mediador. "Graças a deus, os pais também têm muita confiança4x4 bet commim. Às vezes vou na casa deles, falo no WhatsApp...".

O mediador Victor Moraes Filho
Legenda da foto, Moraes Filho firma parcerias na comunidade onde fica a Escola Estadual Jornalista David Nasser

O envolvimento da família é considerado fundamental para que o trabalho da mediação traga resultados.

"Tenho dias específicos para atender às famílias. E quando eu ouço as famílias, às vezes eu entendo por que o aluno está tão tenso. Alguns pais já se acostumaram com isso, às vezes eu nem preciso procurar e eles ligam pedindo para falar com a mediadora", afirma Veiga.

Até mesmo na cozinha ela é chamada para mediar conflitos entre alunos e merendeiras: "Eu estou onde precisar: um dia estou na minha sala, outro dia4x4 bet comoutra, e até na cozinha. Os alunos reclamam que o arroz está duro, eu vou lá, converso com as cozinheiras, e explico para os alunos: é que o arroz é integral, não é que está duro!"

Acúmulo4x4 bet comfunções

Tamanha capilaridade dos mediadores, no entanto, é vista como um sinal4x4 bet comsobrecarga por críticos da aplicação da mediação nas escolas paulistas.

Em artigo publicado no jornal Folha4x4 bet comS. Paulo no início do mês, a presidente da Apeoesp, Maria Izabel Azevedo Noronha, defendeu a adoção da mediação nas escolas estaduais - mas criticou que esta função seja delegada a vice-diretores, e não somente a profissionais inteiramente dedicados à função.

Beatris Cristina Possato, doutora4x4 bet comEducação pela Unicamp, cuja tese teve como objeto os mediadores4x4 bet comSão Paulo, também aponta preocupação com o acúmulo4x4 bet comfunções.

"Acredito que seja muito difícil alguém que ocupa um cargo na gestão escolar exercer esse papel. O vice-diretor da rede estadual4x4 bet comensino4x4 bet comSão Paulo, na maioria das vezes, possui uma sobrecarga4x4 bet comtrabalho (assim como outros profissionais da educação) e não poderia ser responsabilizado por mais essa atribuição. Mediar uma situação é um processo lento e dialogal, que demanda tempo e continuidade", escreveu Possato à BBC Brasil por e-mail.

Em4x4 bet compesquisa, entre outras abordagens, Possato acompanhou a rotina4x4 bet comum mediador do Estado.

"Ele passou a assumir todos os problemas4x4 bet comconvivência e lidar com os conflitos existentes na escola. Hora4x4 bet comfunção se assemelhava a4x4 bet comum inspetor, hora4x4 bet comum diretor4x4 bet comescola. Demonstrava sentimento4x4 bet comimpotência frente a todos os problemas, sem saber muito bem como resolvê-los", aponta a pesquisadora. "Não havia um projeto coletivo, que envolvesse a comunidade escolar, para se amenizar as manifestações4x4 bet comviolências daquele espaço".

"Para que a mediação escolar seja significativa, todos os integrantes da escola devem estar envolvidos nessa proposta. Se avaliarmos experiências exitosas4x4 bet comoutros países como Chile, Argentina, Espanha, Portugal, entre outros, veremos que os programas trabalhavam com equipes4x4 bet commediadores que continham todos os segmentos da escola (alunos, professores, funcionários, gestores, etc), além4x4 bet compais e representantes da comunidade e não se centravam4x4 bet comuma única pessoa", acrescenta.

Nailza Fernandes Veiga entre alunos
Legenda da foto, Depois4x4 bet comformação, estado terá 1.795 professores-mediadores, profissionais inteiramente dedicados à mediação, como Nailza Fernandes Veiga

Em nota, a Secretaria4x4 bet comEducação do Estado defendeu que a responsabilidade do mediador deve ser compartilhada. O papel deste profissional seria o4x4 bet comarticulação.

"Culturalmente, os vice-diretores são responsáveis pelo atendimento aos alunos e aos seus familiares. As questões4x4 bet comindisciplina e conflitos surgidos na escola, geralmente são levados para eles resolverem. Assim sendo, a secretaria resolveu investir4x4 bet comorientação e formação para que a atuação dos vices seja qualificada e eles possam organizar e disseminar, junto à equipe escolar, ações que minimizem os conflitos nas escolas", diz a pasta.

Ainda segundo a Secretaria, nas escolas4x4 bet comque há mediadores, o número4x4 bet comincidentes - que vão da evasão à agressão física - caiu 70%4x4 bet com2014 a 2017.

"A secretaria acredita que, com ao menos um profissional treinado4x4 bet comcada unidade, o programa alcançará melhores índices", diz a secretaria.

Punição

Para além4x4 bet comíndices, Veiga e Moraes Filho sentem o impacto do próprio trabalho4x4 bet comsuas trajetórias pessoais. Com frequência, o ambiente4x4 bet comsuporte e tolerância que ajudaram a disseminar serve também para apoiá-los4x4 bet commomentos delicados4x4 bet comsuas vidas.

"Meu pai estava muito doente, na fase terminal. Eu estava4x4 bet comsala, tremendo. Até que um aluno veio me perguntar: você tá beleza? Eu falei que estava. Eles me forçaram a formar uma roda e conversar, fizeram uma mediação comigo. Chorei bastante", lembra Moraes Filho.

"As pessoas costumam dizer que eu sou paizão. Eu não consigo entender que dê punição a aluno. Por quê? Eu fui um aluno complicado. E eu tive uma professora que acreditou4x4 bet commim, e hoje estou aqui. Assim como ela acreditou4x4 bet commim, eu acredito4x4 bet comtodos eles. Para mim não existe aluno perdido. Já perdi alunos? Já. Por overdose? Já. Mas eu luto pelo meu aluno", conta o mediador.

A punição, segundo Veiga, não está nem em4x4 bet comlinha4x4 bet comtrabalho, nem4x4 bet comseu dever.

"A punição nunca deve estar nas mãos do mediador. Não apoiamos a punição. O aluno tem que se ouvido, tem que ter o espaço dele, se sentir parte da escola. Não desautorizamos o diretor, mas eu faço meu trabalho: converso, falo para entendermos o que aconteceu. Quando eu falo para ouvirmos a situação do aluno, eu já peneiro e falo: olha, não foi tudo isso. Porque cada um que se vê dentro do conflito olha apenas para o seu lado, e eu ensino a olhar para os dois lados", conclui a mediadora.