De reclamações da merenda a brigas entre alunos: conheça os mediadores das escolas paulistas:blaze apostas baixar
Moraes Filho é um "mediador". Hoje, há 3,5 mil deles no Estado; a partir da formação oferecida a outros profissionais neste mês, o número passará para 6.795 (5 mil vice-diretores e 1.795 professores-mediadores, profissionais inteiramente dedicados à mediação).
A promessa éblaze apostas baixarque todas as escolas da rede estadual terão pelo menos um mediador - algumas vão contar com maisblaze apostas baixarum profissional dedicado à função, o que será definido a partirblaze apostas baixaríndicesblaze apostas baixarvulnerabilidade social eblaze apostas baixarviolência registrados por escola pela pasta.
Dados locais e nacionais mostram a realidade da violência nas escolas - a qual o governo estadual buscar frear com a ampliação da mediação nos colégios.
Segundo dados da Prova Brasil 2015, 22,6 mil professores do 5º e 9º ano relataram terem sido ameaçados por algum aluno no último ano. De um totalblaze apostas baixar262,4 mil professoresblaze apostas baixartodo o país que responderam ao questionário, 51% testemunharam, no último ano, agressão verbal ou físicablaze apostas baixaralunos dirigidas a professores ou funcionários da escola.
Já no Estadoblaze apostas baixarSão Paulo, pesquisa realizada pelo Instituto Locomotiva a pedido do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estadoblaze apostas baixarSão Paulo (Apeoesp) mostra que 85% dos professores souberamblaze apostas baixarcasosblaze apostas baixarviolência nas escolas estaduaisblaze apostas baixarque trabalham; outros 51% dizem já terem sido vítimasblaze apostas baixarviolênciablaze apostas baixarambiente escolar.
"Todas as pessoas deveriam procurar dentroblaze apostas baixarsi a tolerância, saber ouvir, ser aberto ao diálogo... Mas dependendo do ambiente, não sobra tempo. É o tempo relógio e o tempo emocional. Eu ouço 'ene' problemas: tenho que saber filtrar e não deixar isso abalar o meu emocional", explica Nailza Fernandes Veiga,blaze apostas baixar50 anos, professora-mediadora da Escola Estadual Professor Manuel Ciridião Buarque, na Lapa, bairroblaze apostas baixarclasse média na capital paulista.
"A mediação tem que deixar um marco dentro da escola. E o maior marco dentro da escola é a aberturablaze apostas baixardiálogo", acrescenta ela.
Na prática, a rotinablaze apostas baixarmediadores como Veiga e Moraes Filho inclui o agendamentoblaze apostas baixarencontros com famílias, o registro escritoblaze apostas baixarconflitos na escola e a organizaçãoblaze apostas baixarcampanhas e eventos na unidade.
Os casosblaze apostas baixarintervenção mais comuns nas escolas envolvem agressões (verbais e físicas), depressão entre os alunos e ataques nas redes sociais. Mas, diferente do que pode indicar o nome da funçãoblaze apostas baixar"mediadorblaze apostas baixarconflito", Moraes Filho destaca que seu trabalho se dá ao longo prazo - e nãoblaze apostas baixar"apagar incêndios".
"No início, eu chegava no pontoblaze apostas baixarresgate. Eu ainda tenho que fazer isso hoje, mas agora trabalho muito com a prevenção. Eu vejo uma fumacinha ali, tenho que jogar água, porque daqui a pouco o incêndio chega. É um passoblaze apostas baixarformiguinha", diz Moraes Filho.
Mediação entre a escola e a rua
Na cartilha da atuaçãoblaze apostas baixarVeiga, estão algumas práticas que vãoblaze apostas baixarencontro ao que é praticado cotidianamenteblaze apostas baixaralgumas escolas: chamar os pais do aluno para a escola "de surpresa", por exemplo, está longe do roteiro indicado; o mesmo acontece com a induçãoblaze apostas baixarque alunos peçam desculpas uns aos outros.
Segundo Veiga, tudo deve ser transparente, conversado e espontâneo. A transparência se estende também aos professores: a educadora indica que eles façam registros escritosblaze apostas baixarocorrências, como formablaze apostas baixardocumentar e embasar a gestãoblaze apostas baixarconflitos.
Na rede estadual, a formaçãoblaze apostas baixarmediação tem carga horáriablaze apostas baixar40 horas e inclui conteúdos como direitosblaze apostas baixarcrianças e adolescentes e métodos para resoluçãoblaze apostas baixarconflitos.
A mediação escolar tem origemblaze apostas baixararbitragens no ambiente jurídico e ganhou tradiçãoblaze apostas baixarpaíses como Portugal, Estados Unidos e Argentina.
No Brasil, houve algumas experiências, sobretudo na educação pública, no Rioblaze apostas baixarJaneiro, Ceará, Rio Grande do Sul e Distrito Federal - mas é São Paulo que se destaca pelo tempo e abrangência deste tipoblaze apostas baixariniciativa.
No Jardim Macedônia, bairro na periferiablaze apostas baixarSão Paulo onde fica a Escola Estadual Jornalista David Nasser, Moraes Filho busca otimizar recursos. O Conselho Tutelar, ONGs, empresas e um postoblaze apostas baixarsaúde municipal, o Pronto Atendimento Jardim Macedônia, são chamadosblaze apostas baixar"parceiros" da escola. Se o mediador percebe sinaisblaze apostas baixardepressãoblaze apostas baixarum adolescente, por exemplo, ele encaminha para o posto; um grupoblaze apostas baixarteatro formado ali tem o apoioblaze apostas baixaruma empresa no transporte dos alunos para apresentações.
A ligação com a comunidade, para Moraes Filho, significa também conhecê-la.
"Conheço essa comunidade inteira, sei onde mora cada aluno meu. Essa escola é a minha vida. Se um aluno me chama agora, por exemplo, eu paro tudo", conta o mediador. "Graças a deus, os pais também têm muita confiançablaze apostas baixarmim. Às vezes vou na casa deles, falo no WhatsApp...".
O envolvimento da família é considerado fundamental para que o trabalho da mediação traga resultados.
"Tenho dias específicos para atender às famílias. E quando eu ouço as famílias, às vezes eu entendo por que o aluno está tão tenso. Alguns pais já se acostumaram com isso, às vezes eu nem preciso procurar e eles ligam pedindo para falar com a mediadora", afirma Veiga.
Até mesmo na cozinha ela é chamada para mediar conflitos entre alunos e merendeiras: "Eu estou onde precisar: um dia estou na minha sala, outro diablaze apostas baixaroutra, e até na cozinha. Os alunos reclamam que o arroz está duro, eu vou lá, converso com as cozinheiras, e explico para os alunos: é que o arroz é integral, não é que está duro!"
Acúmuloblaze apostas baixarfunções
Tamanha capilaridade dos mediadores, no entanto, é vista como um sinalblaze apostas baixarsobrecarga por críticos da aplicação da mediação nas escolas paulistas.
Em artigo publicado no jornal Folhablaze apostas baixarS. Paulo no início do mês, a presidente da Apeoesp, Maria Izabel Azevedo Noronha, defendeu a adoção da mediação nas escolas estaduais - mas criticou que esta função seja delegada a vice-diretores, e não somente a profissionais inteiramente dedicados à função.
Beatris Cristina Possato, doutorablaze apostas baixarEducação pela Unicamp, cuja tese teve como objeto os mediadoresblaze apostas baixarSão Paulo, também aponta preocupação com o acúmuloblaze apostas baixarfunções.
"Acredito que seja muito difícil alguém que ocupa um cargo na gestão escolar exercer esse papel. O vice-diretor da rede estadualblaze apostas baixarensinoblaze apostas baixarSão Paulo, na maioria das vezes, possui uma sobrecargablaze apostas baixartrabalho (assim como outros profissionais da educação) e não poderia ser responsabilizado por mais essa atribuição. Mediar uma situação é um processo lento e dialogal, que demanda tempo e continuidade", escreveu Possato à BBC Brasil por e-mail.
Emblaze apostas baixarpesquisa, entre outras abordagens, Possato acompanhou a rotinablaze apostas baixarum mediador do Estado.
"Ele passou a assumir todos os problemasblaze apostas baixarconvivência e lidar com os conflitos existentes na escola. Horablaze apostas baixarfunção se assemelhava ablaze apostas baixarum inspetor, horablaze apostas baixarum diretorblaze apostas baixarescola. Demonstrava sentimentoblaze apostas baixarimpotência frente a todos os problemas, sem saber muito bem como resolvê-los", aponta a pesquisadora. "Não havia um projeto coletivo, que envolvesse a comunidade escolar, para se amenizar as manifestaçõesblaze apostas baixarviolências daquele espaço".
"Para que a mediação escolar seja significativa, todos os integrantes da escola devem estar envolvidos nessa proposta. Se avaliarmos experiências exitosasblaze apostas baixaroutros países como Chile, Argentina, Espanha, Portugal, entre outros, veremos que os programas trabalhavam com equipesblaze apostas baixarmediadores que continham todos os segmentos da escola (alunos, professores, funcionários, gestores, etc), alémblaze apostas baixarpais e representantes da comunidade e não se centravamblaze apostas baixaruma única pessoa", acrescenta.
Em nota, a Secretariablaze apostas baixarEducação do Estado defendeu que a responsabilidade do mediador deve ser compartilhada. O papel deste profissional seria oblaze apostas baixararticulação.
"Culturalmente, os vice-diretores são responsáveis pelo atendimento aos alunos e aos seus familiares. As questõesblaze apostas baixarindisciplina e conflitos surgidos na escola, geralmente são levados para eles resolverem. Assim sendo, a secretaria resolveu investirblaze apostas baixarorientação e formação para que a atuação dos vices seja qualificada e eles possam organizar e disseminar, junto à equipe escolar, ações que minimizem os conflitos nas escolas", diz a pasta.
Ainda segundo a Secretaria, nas escolasblaze apostas baixarque há mediadores, o númeroblaze apostas baixarincidentes - que vão da evasão à agressão física - caiu 70%blaze apostas baixar2014 a 2017.
"A secretaria acredita que, com ao menos um profissional treinadoblaze apostas baixarcada unidade, o programa alcançará melhores índices", diz a secretaria.
Punição
Para alémblaze apostas baixaríndices, Veiga e Moraes Filho sentem o impacto do próprio trabalhoblaze apostas baixarsuas trajetórias pessoais. Com frequência, o ambienteblaze apostas baixarsuporte e tolerância que ajudaram a disseminar serve também para apoiá-losblaze apostas baixarmomentos delicadosblaze apostas baixarsuas vidas.
"Meu pai estava muito doente, na fase terminal. Eu estavablaze apostas baixarsala, tremendo. Até que um aluno veio me perguntar: você tá beleza? Eu falei que estava. Eles me forçaram a formar uma roda e conversar, fizeram uma mediação comigo. Chorei bastante", lembra Moraes Filho.
"As pessoas costumam dizer que eu sou paizão. Eu não consigo entender que dê punição a aluno. Por quê? Eu fui um aluno complicado. E eu tive uma professora que acreditoublaze apostas baixarmim, e hoje estou aqui. Assim como ela acreditoublaze apostas baixarmim, eu acreditoblaze apostas baixartodos eles. Para mim não existe aluno perdido. Já perdi alunos? Já. Por overdose? Já. Mas eu luto pelo meu aluno", conta o mediador.
A punição, segundo Veiga, não está nem emblaze apostas baixarlinhablaze apostas baixartrabalho, nemblaze apostas baixarseu dever.
"A punição nunca deve estar nas mãos do mediador. Não apoiamos a punição. O aluno tem que se ouvido, tem que ter o espaço dele, se sentir parte da escola. Não desautorizamos o diretor, mas eu faço meu trabalho: converso, falo para entendermos o que aconteceu. Quando eu falo para ouvirmos a situação do aluno, eu já peneiro e falo: olha, não foi tudo isso. Porque cada um que se vê dentro do conflito olha apenas para o seu lado, e eu ensino a olhar para os dois lados", conclui a mediadora.