'Caso Weinstein não me choca': mulheres falam sobre assédio na indústria brasileira do entretenimento:365 bet poker
Desde então dezenas estrelas do cinema - incluindo atrizes como Angelina Jolie e Gwyneth Paltrow - foram a público contar como o produtor havia se aproveitado da365 bet pokerposição e poder para assediá-las.
Weinstein, que tem negado acusações365 bet pokerestupro, foi demitido365 bet pokersua companhia, a Weinstein Company, e deixado pela mulher, a estilista Georgina Chapman, com quem era casado havia dez anos.
No Brasil, o debate sobre assédio pegou fogo no início do ano, quando o ator José Mayer foi acusado365 bet pokerassédio pela figurinista Su Tonani, que trabalhava na produção365 bet pokeruma novela da TV Globo na qual ele atuava. O ator inicialmente negou a acusação, mas depois publicou uma carta pedindo desculpas. A emissora emitiu um comunicado dizendo que condenava qualquer atitude do tipo e colocou o ator na geladeira.
Tais polêmicas levantam a questão: o assédio é um problema mais comum na indústria do entretenimento do que365 bet pokeroutros setores da economia?
Segredo público
O caso365 bet pokerHarvey Weinstein tem sido apresentado pelas vítimas como um "segredo público".
"Todo mundo sabia e ninguém fez nada a respeito", escreveu a atriz francesa Lea Seydoux no jornal britânico The Guardian. Ela relatou que o produtor a agarrou enquanto os dois conversavam durante uma reunião que deveria ser365 bet pokernegócios.
A produtora Malu Andrade, que organiza o grupo Mulheres do Audiovisual - Brasil, conta que recebe diariamente relatos365 bet pokerassédio ocorridos no país tão chocantes quantos os das vítimas do produtor americano.
"É uma situação vivida por todas. Desde estagiárias até mulheres graúdas, que têm cargos365 bet pokerliderança", diz ela.
No entanto, diz Andrade, todas as vezes365 bet pokerque as colegas incentivam as mulheres a denunciar abertamente, falar sobre o ocorrido com jornalistas, elas preferem ficar365 bet pokersilêncio.
"Elas se sentem muito inseguras. O mercado é pequeno, todo mundo se conhece, existe um medo latente e muito real365 bet pokernão conseguir emprego por vingança dos assediadores ou365 bet pokerser prejudicada365 bet pokeroutras formas."
Tanto para Malu Andrade e Marina Person quanto para outras diretoras e produtoras do cinema no Brasil ouvidas pela BBC Brasil, entretanto, a sensação365 bet pokerque o assédio é maior na indústria audiovisual é equivocada.
"Não porque o problema seja pequeno no cinema e na TV - é muito grande -, mas porque ele é extremamente grave365 bet pokertodos os setores da sociedade", afirma Person.
"Há assédio365 bet pokertodos os lugares - no cinema, na propaganda, no mundo corporativo, nas escolas e até nas famílias, mas ninguém quer falar disso", diz ela, cuja produtora, a Mira Filmes, lançou há algum tempo o filme Precisamos Falar365 bet pokerAssédio.
"Antes365 bet pokerestar no cinema eu trabalhei365 bet pokervárias áreas e passei por situações365 bet pokerassédio365 bet pokertodas", corrobora Rita Buzzar, roteirista365 bet pokerfilmes como Olga e Budapeste.
Sob os holofotes
Segundo profissionais da indústria, casos como o365 bet pokerHarvey Weinstein chamam mais atenção pelo fato365 bet pokeras pessoas envolvidas serem mais famosas, terem mais dinheiro e mais acesso aos meios365 bet pokercomunicação.
"Em quantas empresas isso não acontece, e as mulheres não falam porque têm medo, porque precisam do emprego?", questiona Buzzar.
"Isso sobressai mais no audiovisual porque os nomes são famosos, as pessoas estão na mídia. E é muito bom que isso aconteça, porque pode ajudar outras mulheres que acham que não podem ter voz, dar coragem para que elas também falem", afirma a roteirista.
"A gente vê casos365 bet pokertodos os lugares, escritórios365 bet pokeradvocacia, empresas365 bet pokeroutras áreas. E muitas vezes outros setores conseguem abafar ainda mais", diz Tatiana Quintella, que produziu filmes como A Mulher Invisível e O Homem do Futuro e foi executiva365 bet pokermultinacionais como a Warner Bros e a Columbia TriStar. Ela diz que também passou por inúmeras situações365 bet pokerque teve que enfrentar assediadores.
"Esse levante feminista recente contra esse tipo365 bet pokerabsurdo está colocando o nosso setor sob o holofote, mas infelizmente não é algo da nossa área, é algo que se manifesta365 bet pokertudo quanto é lugar, ninguém está livre", diz Vânia Catani, produtora por trás365 bet pokerlongas como O Filme da Minha Vida e O Palhaço.
Ela conta que nunca recebeu relatos365 bet pokerproblemas em365 bet pokerprodutora -365 bet pokerque grande parte das funcionárias são mulheres -, mas pessoalmente passou por uma situação "absurda".
"No Rio Content Marketing (feira do setor), fui cumprimentar uma pessoa do governo que conheço há anos e ele chupou minha orelha e deu um tapa na minha bunda, dizendo que eu estava gostosa", conta. "Eu falei para ele que aquilo era um absurdo e até fiz um post no Facebook. Todo mundo sabe quem ele é", conta ela, que prefere não revelar o nome do homem envolvido.
Representação
Para a cineasta Tata Amaral, a grande questão envolvendo assédio e audiovisual tem a ver com a forma como as mulheres costumam ser retratadas - apagadas ou objetificadas -365 bet pokerobras365 bet pokercinema e TV.
"O assédio é apenas um sintoma horroroso da cultura365 bet pokerestupro, e as produções contribuem com isso. Você liga a TV no domingo e vê como as mulheres são objetificadas. A TV mostra uma bunda o dia inteiro. Uma mulher sem rosto, sem cabeça, só a bunda", afirma.
"A representação das mulheres é quase sempre feita por homens, é um olhar masculino e sexualizado que contribui para essa cultura365 bet pokerestupro", acrescenta, citando um dado da Ancine que diretoras e roteiristas mulheres são apenas 19% da indústria audiovisual no Brasil.
A procuradora Sofia Vilela365 bet pokerMoraes e Silva, vice-coordenadora do núcleo pela eliminação da discriminação do Ministério Público do Trabalho, acrescenta mais uma camada ao debate. Embora reconheça que o problema realmente existe365 bet pokertodas as áreas, ela afirma que algumas profissionais têm sim uma exposição maior ao assédio.
"Devido ao machismo, há uma fetichização e objetificação365 bet pokeralgumas profissões que piora a situação para algumas profissionais", afirma ela, que cita profissões como secretárias, enfermeiras, aeromoças, garçonetes, além365 bet pokeratrizes e modelos, entre as mais impactadas.
"Profissionais que lidam com o público sofrem violação não só dos empregadores, mas também dos clientes", diz Vilela.
Dados imprecisos
O caso365 bet pokerJosé Mayer gerou a campanha #ChegaDeAssédio. Atrizes e funcionárias da Globo chegaram a usar camisetas com os dizerem "Mexeu com uma, Mexeu com todas".
As mobilizações vão além do segmento audiovisual. Há movimentos, por exemplo, como o "Deixa Ela365 bet pokerPaz", coletivo feminista365 bet pokerintervenções urbanas que luta contra a discriminação365 bet pokergênero e pela autonomia das mulheres.
"Quando comecei na carreira, sempre tinham brincadeiras, comentários. Só o fato365 bet pokervocê não poder usar a roupa que quer porque os caras não respeitam já é uma agressão", diz a cinematógrafa Amanda Barroso.
Apesar da comoção, não há dados exatos sobre o quanto o problema é comum no ambiente365 bet pokertrabalho no Brasil.
Circula pela internet um dado atribuído à OIT (Organização Internacional do Trabalho)365 bet pokerque 52% das mulheres teriam sofrido assédio no emprego. No entanto, a entidade informou à BBC Brasil que a informação é falsa, e que não tem nenhuma pesquisa que aponte esse ou outro número sobre assédio sexual no ambiente365 bet pokertrabalho no Brasil.
Segundo a promotora Sofia Vilela365 bet pokerMoraes e Silva, é difícil ter um panorama do problema365 bet pokernúmeros porque, além365 bet pokernão haver pesquisas confiáveis, casos365 bet pokerassédio são muito subnotificados.
"As pessoas têm receio365 bet pokerfalar, medo365 bet pokerperder o emprego,365 bet pokerserem alienadas. A gente ouve dezenas365 bet pokerrelatos, mas sabe que são raros os casos que chegam a órgãos externos à empresas ou ao Ministério Público Trabalho. O que alcançam a Justiça são menos ainda", afirma ela.
Além, disso, diz, o crime acaba não sendo tão investigado ou punido internamente pelas empresas como crimes contra seu patrimônio, como um furto ou diferença365 bet pokercaixa.
A violação pode acontecer com ambos os sexos, mas a grande maioria das vítimas são mulheres, segundo o Ministério Público do Trabalho. E os agressores costumam ser reincidentes.
"É muito raro casos365 bet pokerque o homem faz isso só uma mulher específica. Em geral o comportamento se repete", diz a procuradora.
Segundo ela, os homens têm um papel importante não só365 bet pokermanter a própria conduta correta. "Eles precisam topar ser testemunhas365 bet pokerprocessos e a têm a responsabilidade365 bet pokernão contribuir para um ambiente hostil", afirma.
O assédio sexual é crime no Brasil. Ele é definido pelo Código Penal como um ato365 bet pokerque uma pessoa se aproveita365 bet pokersua condição365 bet pokersuperior hierárquico ou365 bet pokerposição365 bet pokerpoder inerente ao seu cargo para obter forçosamente uma vantagem sexual.
Quando a vítima não está365 bet pokeruma situação365 bet pokerdesvantagem365 bet pokerrelação ao abusador, a prática não pode ser considerada crime365 bet pokerassédio, mas isso não significa que a conduta não possa ser punida.
De acordo com o Ministério Público do Trabalho, a empresa pode responder a ações trabalhistas se não tomar uma atitude.
"Ela tem a obrigação365 bet pokergarantir um ambiente seguro e, portanto, responsabilidade por assédios praticados por seus funcionários", diz a procuradora Sofia Vilela.