'Caso Weinstein não me choca': mulheres falam sobre assédio na indústria brasileira do entretenimento:1xbet formas de deposito

Harvey Weinstein

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, A eclosão do caso Harvey Weinstein caiu como uma bomba1xbet formas de depositoHollywood

Desde então dezenas estrelas do cinema - incluindo atrizes como Angelina Jolie e Gwyneth Paltrow - foram a público contar como o produtor havia se aproveitado da1xbet formas de depositoposição e poder para assediá-las.

Da esquerda para a direita: Gwyneth Paltrow, Angelina Jolie, Cara Delevingne, Lea Seydoux, Rosanna Arquette e Mira Sorvino

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Legenda da foto, As atrizes Gwyneth Paltrow, Angelina Jolie, Cara Delevingne, Lea Seydoux, Rosanna Arquette e Mira Sorvino foram algumas das que contaram como foram assediadas por Harvey Weinstein

Weinstein, que tem negado acusações1xbet formas de depositoestupro, foi demitido1xbet formas de depositosua companhia, a Weinstein Company, e deixado pela mulher, a estilista Georgina Chapman, com quem era casado havia dez anos.

No Brasil, o debate sobre assédio pegou fogo no início do ano, quando o ator José Mayer foi acusado1xbet formas de depositoassédio pela figurinista Su Tonani, que trabalhava na produção1xbet formas de depositouma novela da TV Globo na qual ele atuava. O ator inicialmente negou a acusação, mas depois publicou uma carta pedindo desculpas. A emissora emitiu um comunicado dizendo que condenava qualquer atitude do tipo e colocou o ator na geladeira.

Tais polêmicas levantam a questão: o assédio é um problema mais comum na indústria do entretenimento do que1xbet formas de depositooutros setores da economia?

Segredo público

O caso1xbet formas de depositoHarvey Weinstein tem sido apresentado pelas vítimas como um "segredo público".

"Todo mundo sabia e ninguém fez nada a respeito", escreveu a atriz francesa Lea Seydoux no jornal britânico The Guardian. Ela relatou que o produtor a agarrou enquanto os dois conversavam durante uma reunião que deveria ser1xbet formas de depositonegócios.

A produtora Malu Andrade, que organiza o grupo Mulheres do Audiovisual - Brasil, conta que recebe diariamente relatos1xbet formas de depositoassédio ocorridos no país tão chocantes quantos os das vítimas do produtor americano.

"É uma situação vivida por todas. Desde estagiárias até mulheres graúdas, que têm cargos1xbet formas de depositoliderança", diz ela.

No entanto, diz Andrade, todas as vezes1xbet formas de depositoque as colegas incentivam as mulheres a denunciar abertamente, falar sobre o ocorrido com jornalistas, elas preferem ficar1xbet formas de depositosilêncio.

"Elas se sentem muito inseguras. O mercado é pequeno, todo mundo se conhece, existe um medo latente e muito real1xbet formas de depositonão conseguir emprego por vingança dos assediadores ou1xbet formas de depositoser prejudicada1xbet formas de depositooutras formas."

Tanto para Malu Andrade e Marina Person quanto para outras diretoras e produtoras do cinema no Brasil ouvidas pela BBC Brasil, entretanto, a sensação1xbet formas de depositoque o assédio é maior na indústria audiovisual é equivocada.

Marina Person
Legenda da foto, "Há assédio1xbet formas de depositotodos os lugares - no cinema, na propaganda, no mundo corporativo, nas escolas e até nas famílias", diz a diretora Marina Person | Foto: Divulgação

"Não porque o problema seja pequeno no cinema e na TV - é muito grande -, mas porque ele é extremamente grave1xbet formas de depositotodos os setores da sociedade", afirma Person.

"Há assédio1xbet formas de depositotodos os lugares - no cinema, na propaganda, no mundo corporativo, nas escolas e até nas famílias, mas ninguém quer falar disso", diz ela, cuja produtora, a Mira Filmes, lançou há algum tempo o filme Precisamos Falar1xbet formas de depositoAssédio.

"Antes1xbet formas de depositoestar no cinema eu trabalhei1xbet formas de depositovárias áreas e passei por situações1xbet formas de depositoassédio1xbet formas de depositotodas", corrobora Rita Buzzar, roteirista1xbet formas de depositofilmes como Olga e Budapeste.

Sob os holofotes

Segundo profissionais da indústria, casos como o1xbet formas de depositoHarvey Weinstein chamam mais atenção pelo fato1xbet formas de depositoas pessoas envolvidas serem mais famosas, terem mais dinheiro e mais acesso aos meios1xbet formas de depositocomunicação.

"Em quantas empresas isso não acontece, e as mulheres não falam porque têm medo, porque precisam do emprego?", questiona Buzzar.

"Isso sobressai mais no audiovisual porque os nomes são famosos, as pessoas estão na mídia. E é muito bom que isso aconteça, porque pode ajudar outras mulheres que acham que não podem ter voz, dar coragem para que elas também falem", afirma a roteirista.

Atrizes, apresentadoras e mulheres que trabalham na Rede Globo usam camiseta da campanha "Mexeu com uma, mexeu com todas"
Legenda da foto, As globais Cris Vianna, Drica Moraes, Mariana Xavier, Alice Wegmann, Astrid Fontenelle e Sophie Charlotte divulgaram imagens suas com camiseta1xbet formas de depositocampanha | Foto: Reprodução/Instagram

"A gente vê casos1xbet formas de depositotodos os lugares, escritórios1xbet formas de depositoadvocacia, empresas1xbet formas de depositooutras áreas. E muitas vezes outros setores conseguem abafar ainda mais", diz Tatiana Quintella, que produziu filmes como A Mulher Invisível e O Homem do Futuro e foi executiva1xbet formas de depositomultinacionais como a Warner Bros e a Columbia TriStar. Ela diz que também passou por inúmeras situações1xbet formas de depositoque teve que enfrentar assediadores.

"Esse levante feminista recente contra esse tipo1xbet formas de depositoabsurdo está colocando o nosso setor sob o holofote, mas infelizmente não é algo da nossa área, é algo que se manifesta1xbet formas de depositotudo quanto é lugar, ninguém está livre", diz Vânia Catani, produtora por trás1xbet formas de depositolongas como O Filme da Minha Vida e O Palhaço.

Ela conta que nunca recebeu relatos1xbet formas de depositoproblemas em1xbet formas de depositoprodutora -1xbet formas de depositoque grande parte das funcionárias são mulheres -, mas pessoalmente passou por uma situação "absurda".

"No Rio Content Marketing (feira do setor), fui cumprimentar uma pessoa do governo que conheço há anos e ele chupou minha orelha e deu um tapa na minha bunda, dizendo que eu estava gostosa", conta. "Eu falei para ele que aquilo era um absurdo e até fiz um post no Facebook. Todo mundo sabe quem ele é", conta ela, que prefere não revelar o nome do homem envolvido.

Representação

Para a cineasta Tata Amaral, a grande questão envolvendo assédio e audiovisual tem a ver com a forma como as mulheres costumam ser retratadas - apagadas ou objetificadas -1xbet formas de depositoobras1xbet formas de depositocinema e TV.

"O assédio é apenas um sintoma horroroso da cultura1xbet formas de depositoestupro, e as produções contribuem com isso. Você liga a TV no domingo e vê como as mulheres são objetificadas. A TV mostra uma bunda o dia inteiro. Uma mulher sem rosto, sem cabeça, só a bunda", afirma.

"A representação das mulheres é quase sempre feita por homens, é um olhar masculino e sexualizado que contribui para essa cultura1xbet formas de depositoestupro", acrescenta, citando um dado da Ancine que diretoras e roteiristas mulheres são apenas 19% da indústria audiovisual no Brasil.

Deixa ela1xbet formas de depositopaz
Legenda da foto, Mulheres do audivisual usam camiseta do coletivo "Deixa Ela1xbet formas de depositoPaz"| Foto: Divulgação

A procuradora Sofia Vilela1xbet formas de depositoMoraes e Silva, vice-coordenadora do núcleo pela eliminação da discriminação do Ministério Público do Trabalho, acrescenta mais uma camada ao debate. Embora reconheça que o problema realmente existe1xbet formas de depositotodas as áreas, ela afirma que algumas profissionais têm sim uma exposição maior ao assédio.

"Devido ao machismo, há uma fetichização e objetificação1xbet formas de depositoalgumas profissões que piora a situação para algumas profissionais", afirma ela, que cita profissões como secretárias, enfermeiras, aeromoças, garçonetes, além1xbet formas de depositoatrizes e modelos, entre as mais impactadas.

"Profissionais que lidam com o público sofrem violação não só dos empregadores, mas também dos clientes", diz Vilela.

Dados imprecisos

O caso1xbet formas de depositoJosé Mayer gerou a campanha #ChegaDeAssédio. Atrizes e funcionárias da Globo chegaram a usar camisetas com os dizerem "Mexeu com uma, Mexeu com todas".

As mobilizações vão além do segmento audiovisual. Há movimentos, por exemplo, como o "Deixa Ela1xbet formas de depositoPaz", coletivo feminista1xbet formas de depositointervenções urbanas que luta contra a discriminação1xbet formas de depositogênero e pela autonomia das mulheres.

"Quando comecei na carreira, sempre tinham brincadeiras, comentários. Só o fato1xbet formas de depositovocê não poder usar a roupa que quer porque os caras não respeitam já é uma agressão", diz a cinematógrafa Amanda Barroso.

Apesar da comoção, não há dados exatos sobre o quanto o problema é comum no ambiente1xbet formas de depositotrabalho no Brasil.

Ator José Mayer
Legenda da foto, José Mayor foi pivô1xbet formas de depositoescândalo1xbet formas de depositoassédio na TV Globo. Foto: Globo/João Miguel Júnior

Circula pela internet um dado atribuído à OIT (Organização Internacional do Trabalho)1xbet formas de depositoque 52% das mulheres teriam sofrido assédio no emprego. No entanto, a entidade informou à BBC Brasil que a informação é falsa, e que não tem nenhuma pesquisa que aponte esse ou outro número sobre assédio sexual no ambiente1xbet formas de depositotrabalho no Brasil.

Segundo a promotora Sofia Vilela1xbet formas de depositoMoraes e Silva, é difícil ter um panorama do problema1xbet formas de depositonúmeros porque, além1xbet formas de depositonão haver pesquisas confiáveis, casos1xbet formas de depositoassédio são muito subnotificados.

"As pessoas têm receio1xbet formas de depositofalar, medo1xbet formas de depositoperder o emprego,1xbet formas de depositoserem alienadas. A gente ouve dezenas1xbet formas de depositorelatos, mas sabe que são raros os casos que chegam a órgãos externos à empresas ou ao Ministério Público Trabalho. O que alcançam a Justiça são menos ainda", afirma ela.

Além, disso, diz, o crime acaba não sendo tão investigado ou punido internamente pelas empresas como crimes contra seu patrimônio, como um furto ou diferença1xbet formas de depositocaixa.

A violação pode acontecer com ambos os sexos, mas a grande maioria das vítimas são mulheres, segundo o Ministério Público do Trabalho. E os agressores costumam ser reincidentes.

"É muito raro casos1xbet formas de depositoque o homem faz isso só uma mulher específica. Em geral o comportamento se repete", diz a procuradora.

Segundo ela, os homens têm um papel importante não só1xbet formas de depositomanter a própria conduta correta. "Eles precisam topar ser testemunhas1xbet formas de depositoprocessos e a têm a responsabilidade1xbet formas de depositonão contribuir para um ambiente hostil", afirma.

O assédio sexual é crime no Brasil. Ele é definido pelo Código Penal como um ato1xbet formas de depositoque uma pessoa se aproveita1xbet formas de depositosua condição1xbet formas de depositosuperior hierárquico ou1xbet formas de depositoposição1xbet formas de depositopoder inerente ao seu cargo para obter forçosamente uma vantagem sexual.

Quando a vítima não está1xbet formas de depositouma situação1xbet formas de depositodesvantagem1xbet formas de depositorelação ao abusador, a prática não pode ser considerada crime1xbet formas de depositoassédio, mas isso não significa que a conduta não possa ser punida.

De acordo com o Ministério Público do Trabalho, a empresa pode responder a ações trabalhistas se não tomar uma atitude.

"Ela tem a obrigação1xbet formas de depositogarantir um ambiente seguro e, portanto, responsabilidade por assédios praticados por seus funcionários", diz a procuradora Sofia Vilela.