'Ela era a alegriaregras betnacionaltodos': A dor da família da menina morta 'duas vezes'regras betnacionalincêndioregras betnacionalcrecheregras betnacionalMG:regras betnacional
"Nós começamos a arrumar a casa para o velório e a minha irmã se desesperou. Amigos e vizinhos começaram a chegar para o velório, e todo mundo me pedindo informações pelas redes sociais", lembra seu tio, o técnicoregras betnacionalsegurança do trabalho Erick Medeiros Dias. Até que a mãeregras betnacionalCecília avisou que estava tudo bem e que ela tinha visto a filha.
"Ela era a alegriaregras betnacionaltodo mundo por onde passava. Vai fazer muita falta. Já está fazendo muita falta. Não dá para acreditar que ela se foi", afirma Dias.
Cecília morreu às 13h15regras betnacionalsexta-feira, sucumbindo às queimaduras e ao estrago feitoregras betnacionalseus órgãos por inalar a fumaça tóxica do fogo ateado na creche.
O vigia noturno da creche, Damião Soares dos Santos, provocou o incêndio durante o horárioregras betnacionalrecreação na escola municipal infantil, onde estavam maisregras betnacional70 crianças. Ele jogou combustível nas crianças,regras betnacionalfuncionários eregras betnacionalsi próprio, alémregras betnacionalagravar o impacto ao abraçar algumas crianças.
A BBC Brasil teve acesso às salasregras betnacionalaula e constatou a dimensão do estrago: brinquedos e livros carbonizados no chão, parede e pisos tingidosregras betnacionalpreto pela fumaça. Tirasregras betnacionalPVC que forravam o teto estavam caídas no chão, derretidas. Tudo exala um forte cheiroregras betnacionalqueimado. Alguns chinelos e sapatinhos das crianças ainda estavam espalhados pelo chão.
Um quarto para as bonecas
Todos os alunos mortos na creche foram velados por suas famílias dentroregras betnacionalcasa, muitas vezes madrugada adentro, como o velórioregras betnacionalCecília.
Seu corpo chegouregras betnacionalcasa logo depois da meia-noite. A família praticamente não dormiu. O movimentoregras betnacionalvizinhos, parentes e amigos começouregras betnacionalmadrugada e continuou até a hora do enterro, às 11h30.
O caixão foi colocado no centroregras betnacionaluma salaregras betnacionalparedes cor-de-rosa, com fotos da menina com roupas também cor-de-rosa. Seus olhos castanhos arregalados nas imagens fitavam quem chegava.
Cecília morava na casa da avó com seus pais e seu tio,regras betnacionaluma residência simples no bairroregras betnacionalRio Novo, perto da creche, na periferia da cidade. É uma regiãoregras betnacionalbaixa renda, com construçõesregras betnacionalbaixo custo, comércio barato e ruasregras betnacionalterra.
Logo na entrada, pilhasregras betnacionaltijolo, brita e telhas estavam dispostos nas laterais do quintal. A família estava prestes a começar uma obra para acrescentar três cômodos à casa.
"Ela sempre dormiu comigo e com a minha esposa, mas a gente ia construir um quarto para ela", conta o pai Adilson Gonçalves. "Ela estava feliz da vida que ia ter o cantinho dela com as bonecas."
Rosto perfeito
Todos na família trabalham o dia todo, e por isso Cecília estava matriculada no período integral. O pai é funcionárioregras betnacionaluma empresa terceirizada da Ambev, a mãe é supervisora da Avon, a avó é empregada doméstica.
"Eu estava trabalhando na hora que aconteceu. Um amigo meu ligou para avisar. Eu corriregras betnacionalvolta para casa, mas ela já estava no hospital", lembra Gonçalves.
O pai viu a filha na manhã antesregras betnacionalela morrer, no hospital, dormindo, sedada. "Fiquei feliz. Foi bom." Ele não chegou a ver os ferimentos. "Ela ficou com as costas muito queimadas. Mas o rosto dela estava perfeito."
Quase cem pessoas estavam no velório quando o cortejo estava pertoregras betnacionalsair. Lanches e refrescos foram servidosregras betnacionaluma mesaregras betnacionalplástico no quintal. Um grande toldo protegia as pessoas do calor implacável do norteregras betnacionalMinas. Chuva, por lá, só a partirregras betnacionaldezembro, dizem os moradoresregras betnacionalJanaúba.
João Alvesregras betnacionalCarvalho Filho, pastor da Igreja Videira, frequentada regularmente pela família, encerrouregras betnacionalprece pedindo para todos cantarem uma das músicas preferidasregras betnacionalCecília, "Meu Barquinho". A canção evangélica diz: "Não temo mais o mar, pois firme está minha fé/ No meu barquinho está, Jesusregras betnacionalNazaré/ Se o medo me cercar, ou se o vento soprar/ Seu nome eu clamarei, Ele me guardará."
Na mesma hora, a algumas quadras dali, acontecia o enterroregras betnacionalYasmin Medeiros Salvino,regras betnacional4 anos, que também morreu na sexta-feira. As duas foram sepultadasregras betnacionalcovas lado a lado no Cemitério São Lucas.
Adilson conta que ele e o resto da família agora vão ter atendimento psicológico para aprender a lidar com a perdaregras betnacionalCecília. "No mais, é seguir a vida", diz. "Eu sei que ela lutou muito. O espírito dela vai continuar aqui, lutando, brincando e pulando do mesmo jeito que fazia", diz.
Crianças recebem alta
Consternada desde a tragédiaregras betnacionalquinta-feira, a cidaderegras betnacionalJanaúba teve um primeiro alento neste sábado, com a alta hospitalar das 16 crianças que haviam sido menos afetadas e estavam internadas na Fundaçãoregras betnacionalAssistência Socialregras betnacionalJanaúba, a Fundajan.
As crianças foram recebidas com festa do ladoregras betnacionalfora do hospital, recebendo balões, brinquedos, pirulitos. A enfermeira Letícia Rodrigues Mendes se vestiuregras betnacionalpalhaça, com direito a nariz vermelho, para alegrá-las.
"Foi emocionante. Queríamos tentar amenizar um pouco o sofrimento delas. Mas sabemos que ainda vão sofrer muito. É um trauma muito grande", diz.
As crianças partiramregras betnacionalvolta para suas casasregras betnacionaluma van ao lado dos pais. Os funcionários do hospital se reuniram para uma sessão coletiva para falar sobre tudo que aconteceu e as dificuldadesregras betnacionaltodosregras betnacionallidar com a tragédia.
"Nós acompanhamos eles desde os primeiros momentos. Foi péssimo", diz Mendes com os olhos enchendoregras betnacionallágrimas. "É muito difícil ver o sofrimento das crianças, a dor, vê-las todas queimadas. A gente engole o choro e faz o nosso trabalho. Mas abala muito."
*Esta reportagem foi atualizadaregras betnacional9regras betnacionaloutubroregras betnacional2017 com o númeroregras betnacionalvítimas da tragédia