Óvnis no Brasil: o que foi a Operação Prato, investigação da ditadura sobre fenômenos ufológicos:

Imagem do ovni avistado no Pará nos anos 1970

Crédito, Acervo Edison Boaventura Junior

Legenda da foto, Operação Prato investigou ovnis no Pará nos anos 1970

"Infelizmente, todos os militares que participaram da Operação Prato já morreram. O último, aliás, foi o capitão Hollanda", lamenta o jornalista e ufólogo Ademar José Gevaerd, editor da revista UFO. "A Aeronáutica afirma que todas as informações relativas à Operação Prato já foram disponibilizadas, mas não acredito nisso", afirma.

Em agosto1997, Gevaerd recebeu um telefonema do capitão Hollanda, querendo agendar uma entrevista. Na mesma hora, ele e o coeditor da revista, Marco Antônio Petit, viajaram até Cabo Frio, na região dos Lagos fluminense.

Reportagem'O Estado do Pará'

Crédito, AcervoCarlos Mendes

Legenda da foto, Reportagem'O Estado do Pará'; operação produziu acervomilharesdocumentos, fotos e vídeos

Em casa, o coronel reformado contou detalhes da operação. Voltou a relatar os seus muitos avistamentos, admitiu que teve medoser abduzido e revelou que a investigação foi amplamente documentada. Sófotografias havia mais500. Isso sem falar das 16 horasfilmagens (nos formatos Super-8 e Super-16) eum calhamaço2 mil páginasrelatórios.

"Aquele monstro azul, embora tivesse um brilho muito forte, podia ser olhado diretamente sem que ardessem as vistas", declarou à revista UFO.

Dois meses depoisconceder a bombástica entrevista, o coronel Hollanda tirou a própria vida, enforcando-se no quartocasa com a corda do roupão. Houve quem especulasse que ele teria sido assassinado por revelar informações sigilosas e colocar a segurança nacionalrisco. Ou, ainda, quem assegurasse que Hollanda não morreu: apenas mudouidentidade e deixou o país.

Gevaerd rebate essas versões. "Não acreditoqueimaarquivo ou teoria da conspiração. Ele já havia tentado o suicídio antes", diz.

'Raios luminosos'

Por essas e outras razões, a Operação Prato continua a ser apontada por ufólogos do Brasil inteiro como um dos mais intrigantes casosavistamentoovnis já registrados no país. Os primeiros relatos começaram a surgirsetembro1977.

Os habitantesColares, Mosqueiro e Ananindeua, entre outros povoadosBelém, garantem ter sido atacados por "raios luminosos" vindos do céu.

"Dois orifícios paralelos, como se agulhas tivessem penetrado a pele das pessoas", descreveu a psiquiatra Wellaide Cecim Carvalho, então diretora da UnidadeSaúdeColares, vilapescadores a 96 km da capital, à equipe do programa Linha Direta - Mistério, exibido25agosto2005.

Segundo relatos da médica, os pacientes davam entrada no postosaúde com sintomasanemia, tontura e febre e, ainda, marcasqueimaduraprimeiro grau pelo corpo. Logo, o fenômeno foi apelido pelos ribeirinhos"chupa-chupa" ou "luz vampira".

"Nunca me esqueci do pânico estampado no rosto das pessoas que diziam ter sofrido ataques por luzes que desciam dos céus e extraíam sangues delas", recorda o jornalista Carlos Mendes. Escalado para cobrir o caso pelo jornal O Estado do Pará, calcula ter entrevistado 80 testemunhas.

Gevaerd e Hollanda,fotoarquivo

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Gevaerd e Hollanda,fotoarquivo; por quatro meses, soldados permaneceram no litoral do Pará, munidosbinóculos, câmeras e filmadoras para investigar

Tomados pelo pavor, os moradores da região se uniram para afugentar os invasores. Não passava pela cabeça deles que o intruso pudesse seroutro planeta. A hipótese mais provável era obra do demônio ou castigo divino.

À noite, famílias inteiras acendiam fogueiras, batiam latas e soltavam fogosartifício. Outras, mais religiosas, rezavam o terço. Outras, ainda, empunhavam paus, pedras e espingardas. Diante do desespero da população, o prefeito pediu socorro às Forças Armadas.

Foi quando o coronel Camilo FerrazBarros, chefe da 2ª Seção do Comar 1, convocou o capitão Hollanda, então comandante do Para-Sar, um esquadrãoelite da Força Aérea Brasileira (FAB) que realizava operaçõesbusca e salvamento, para chefiar a missão.

'Castigo divino' x 'ação comunista'

Durante quatro meses, Hollanda e seus homens permaneceram no litoral do Pará, munidosbinóculos, câmeras fotográficas e máquinas filmadoras, entre outras engenhocas. De dia, entrevistavam as vítimas dos ataques e as testemunhas dos avistamentos. À noite, se revezavam para monitorar o céu.

"A Operação Prato foi a maior missão militar para investigar ovnisque se tem notícia no mundo", classifica Gevaerd. Thiago Luiz Ticchetti, presidente da Comissão BrasileiraUfólogos (CBU), concorda: "O que mais me impressiona é o fatotermos investigado algo tão incrível e, ainda hoje, não sermos capazesexplicar o que aconteceu."

A equipe chefiada pelo capitão Hollanda contava, entre outros, com o 1º tenente médico Pedro Ernesto Póvoa. No dia 26outubro1977, o psiquiatra foi a um vilarejo chamado Santo AntônioUbintuba, no municípioVigia, ouvir relatosavistamentos e ataquesluzes insólitas.

Reportagem'O Estado do Pará'

Crédito, AcervoCarlos Mendes

Legenda da foto, Reportagem'O Estado do Pará'; ovnis causaram pânico na população paraense

Na horaredigir seu relatório, o psiquiatra deu o veredicto: "Histeria coletiva".

"Depois que os fatos ganharam as manchetes dos jornais, militares da Aeronáutica tentaram controlar a imprensa. Diziam que nós, repórteres, estávamos agindo com sensacionalismo e que as notícias publicadas só serviam para causar pânico", afirma o jornalista Carlos Mendes.

A certa altura da operação, agentes do antigo Serviço NacionalInformações (SNI) foram chamados para ajudar nas investigações.

Jorge Bessa era um dos oficiais do SNI deslocados para Belém. Em seu primeiro dia na Ilha do Mosqueiro, a 80 km da capital, avistou, por volta das 8h da noite, um objeto luminoso.

"Ele piscou três vezes, realizou pequenas manobras e,seguida, desapareceugrande velocidade. Não deixou dúvidasque obedecia a um comando inteligente", relata Bessa, que narrou suas aventuras no livro Discos Voadores na Amazônia, lançado no ano passado. "O fenômeno era visível a todos. Bastava olhar para o céu", diz.

Acervo

Quarenta anos depois, ufólogos ainda tentam ter acesso ao material coletado durante a Operação Prato. "Onde estão as fotos que o capitão Hollanda eequipe tiraram? E as filmagens? Que fim levou esse material?", indaga Thiago Luiz Ticchetti, da CBU.

Por intermédiosua assessoriaimprensa, a Aeronáutica informou que todo o material disponível sobre ovnis já foi encaminhado ao Arquivo Nacional. E mais: não dispõeprofissionais especializados para realizar investigações científicas ou emitir parecer a respeito deste tipofenômeno aéreo.

Mas nem sempre foi assim. Entre 1969 e 1972, a Aeronáutica chegou a ter um órgão específico para tratar do assunto. Até ser extinto pelo governo militar, o SistemaInvestigaçãoObjetos Aéreos Não Identificados apurou mais70 casosavistamentosdiscos voadores.

Hoje, o acervo sobre ovnis é um dos mais visitados do Arquivo Nacional. Só nos últimos 30 dias, foram quase 12 mil acessos. Do total753 relatórios disponibilizados, material que abrange um período63 anos (1952-2015), apenas seis dizem respeito à Operação Prato. Vão2setembro1977 a 28novembro1978 e englobam 15 municípios do interior do Pará.

"O material disponível para consulta pública é apenas a ponta do iceberg", afirma o ufólogo Edison Boaventura Júnior, presidente do Grupo Ufológico do Guarujá (GUG).

Segundo Gevaerd, a filha do brigadeiro Protásio, uma pedagoga aposentada, é uma das poucas felizardas que tiveram acesso às filmagens ultrassecretas. "Entre outros fatos aterradores, ela cita a nave-mãe pairando sobre o rio Amazonas", alega.

Outra cena impressionante, aponta Edison, é a que revela um ovni submergindo nas águas do rio Tapajósplena luz do dia. A filmagem, segundo o ufólogo, teria sido feita pelo sargento João Flávio Costa, o braço-direito do capitão Hollanda.

"A única certeza que tenho é que estamos dianteum dos maiores enigmas da ufologia. E mais: os avistamentos não acabaram", diz Edison, alegando que "40 anos depois, discos voadores continuam aparecendo naquela região".