'Não sou petista, sou lulista': o que dizem os colegascazetv estrela betsindicatocazetv estrela betLula sobre condenação:cazetv estrela bet

Sindicalista Januário Fernandes da Silva carrega jornal com manchete favorável a Lula

Crédito, Leandro Machado/BBC Brasil

Legenda da foto, Januário Fernandes da Silva, que participoucazetv estrela betgrupos criados por Lula no movimento sindicalista, acredita na inocência do ex-presidente

Em denúnciacazetv estrela betsetembro do ano passado, o Ministério Público Federal (MPF) classificou Lula como "comandante máximo" do esquemacazetv estrela betcorrupção na Petrobras.

O petista também responde a outros processos, no âmbitocazetv estrela betoperações como a Lava Jato e a Zelotes. Entre as acusações, há lavagemcazetv estrela betdinheiro, corrupção e obstrução da Justiça. O ex-presidente nega todas elas.

'Mostre as provas, infeliz'

Na última semana, depois da condenação pelo caso do tríplex, a BBC Brasil ouviu seis ex-colegas do petista que participaram das grandes greves dos metalúrgicos no final dos anos 1970 e início dos 1980, no ABC paulista. Na época, Lula presidiu o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e liderou greves que pararam grandes empresas da região. A maioria não tem mais contato com o antigo líder - dois deles, que vivem no Ceará, só veem o político pela televisão.

Questionados sobre as diversas acusações ao ex-presidente, os ex-colegas repetem os argumentoscazetv estrela betLula: 1) Moro é parcial e não tinha provascazetv estrela betque o ex-presidente fosse o dono do tríplex no Guarujá; 2) os processos contra Lula são partecazetv estrela betuma perseguiçãocazetv estrela betquem nunca o aceitou como político, as chamadas "elites"; 3) o petista só foi condenado porque lidera as pesquisascazetv estrela betopinião para as eleiçõescazetv estrela bet2018.

Na sentença sobre o caso do tríplex, o juiz Sergio Moro afirmou que sim, é imparcial, e que a condenação nada tem a ver com as eleiçõescazetv estrela bet2018.

O magistrado também alegou que não era necessário que o apartamento estivesse no nome do ex-presidente para provar vantagens indevidas dadas a ele. O magistrado cita a argumentação do Ministério Público Federal, para o qual a manutenção do imóvelcazetv estrela betnome da empresa foi feita para "ocultar e dissimular o ilícito".

Para dona Zelinha, como Maria Elicélia é conhecida, as provas não apareceram. Ela era faxineira do sindicato quando Lula discursava para milharescazetv estrela betoperárioscazetv estrela betassembleiascazetv estrela betestádios do ABC. Hoje, tem uma lanchonete no prédio da organização.

No diacazetv estrela betque a condenação foi anunciada por Moro, ela não quis dar entrevista. Estava triste, nervosa. "Como vou falar do meu companheiro para um repórter? Não tenho esse direito", diz.

No dia seguinte, mais calma, conversou normalmente. "Eu falaria para esse juiz Moro: infeliz, mostre as provas. Cadê as provas?", diz.

Lula é carregado por sindicalistas durante assembléiacazetv estrela betSão Bernardo do Campo,cazetv estrela bet1979

Crédito, Claudinei Petroli/AFP

Legenda da foto, Lula foi presocazetv estrela bet19cazetv estrela betabrilcazetv estrela bet1980, acusadocazetv estrela betser o principal 'agitador' das paralisaçõescazetv estrela betoperários

"Eu acho que o pecadocazetv estrela betLula é ser popular demais. Tem gente que não aceita", diz o ex-metalúrgico Antonio Luiz, o Robozão, hoje assessorcazetv estrela betum deputado estadual do PT. "Se Lula não fosse o primeiro nas pesquisas, ninguém estava nem aí para ele."

Antonio militou com Lula desde a primeira grande greve,cazetv estrela bet1978, na Scania. Depois, quando as paralisações tornaram-se frequentes, a polícia começou a procurar líderes do movimento. "A gente escondia Lulacazetv estrela betqualquer canto. Foi um momento muito difícil", diz.

O ex-presidente foi presocazetv estrela bet19cazetv estrela betabrilcazetv estrela bet1980, acusadocazetv estrela betser o principal "agitador" das greves, que não eram aceitas pela ditadura que governava o país. Djalma Bom, um dos diretores do sindicato na época, também foi detido e ficou com 31 dias com Lula na mesma cela.

Ele elege uma cena daquele mês como a mais difícil da vida do amigo, momento mais complicado do que o vivido hoje: "Lula estava no belichecazetv estrela betcima da minha. Ele abaixou, com lágrimas nos olhos e disse: 'Djalma, minha mãe morreu", conta.

Cachaça e uísque

Na primeira ligação da BBC Brasil, horas depoiscazetv estrela beto ex-colegacazetv estrela betmilitância ser condenado por Moro, ele disse que não tinha condiçõescazetv estrela betfalar. "Estou mal, né?", afirmou. Dois dias depois da sentença, deu entrevista. Ainda filiado ao PT, Djalma tornou-se bastante crítico à trajetória que o partido tomou nos últimos anos.

"Eu não concordo com os desvios praticados por algumas pessoas que comandaram o Partido dos Trabalhadores", diz. "Como partido que acumulava força para mudar a sociedade, no fim, o PT entrou no caminho que só se preocupa com eleição, um caminho distanciado dos seus objetivos iniciais. Antes, era democrata, socialista, colado aos trabalhadores."

Djalma foi um dos primeiros deputados federais eleitos pelo PT,cazetv estrela bet1982. Recebeu 164.398 votos. "Na minha eleição, a gente arrecadava dinheiro para a campanha dentro das fábricas, com os trabalhadores. Hoje, o PT corre atráscazetv estrela betempresários. Os anseios dos trabalhadores não são os mesmos dos empresários", diz ele, hoje com 78 anos.

"O PT se afastoucazetv estrela betsua base, se afastou dos movimentos sociais que sempre foramcazetv estrela betsustentação."

No entanto, ele poupa Lula das acusações feitas ao petista. "Eu colocaria meu corpo inteiro na fogueira por Lula, ele me provou que é honesto. Ele foi preso uma vez injustamente e isso não vai acontecercazetv estrela betnovo", diz.

Por outro lado, Djalma faz uma crítica ao amigo, que não vê mais com a mesma frequênciacazetv estrela betoutros tempos. "O poder mexe com a vaidade das pessoas. Você bebe cachaça 51 e, depois do poder, passa a beber uísque 18 anos. Acho que isso aconteceu com ele."

Lula já disse querer voltar ao poder, e anuncioucazetv estrela betcandidatura a um possível terceiro mandato na Presidência. Segundo pesquisa Datafolhacazetv estrela betjunho, ele tem 30% das intençõescazetv estrela betvoto, seguido por Jair Bolsonaro (PSC), com 16%, e Marina Silva (Rede), com 15%.

Apesarcazetv estrela betlíder nas intençõescazetv estrela betvoto, o petista tem alto índicecazetv estrela betrejeição: 46% dos entrevistados disseram que nunca votariam nele.

Lulacazetv estrela betevento no PT

Crédito, Paulo Pinto/AGPT

Legenda da foto, Lula foi condenado pelo juiz Sergio Moro a nove anos e seis mesescazetv estrela betprisão, mas ainda deverá ser julgadocazetv estrela betsegunda instância

'Emoção à parte'

Ainda militante metalúrgico, Januário Fernandes da Silva repete o discursocazetv estrela betLula sobre uma suposta perseguição. "A elite brasileira nunca engoliu que um operáriocazetv estrela betuma fábrica fosse o comandante máximo do país. Essa condenação é mais uma fase do golpe dado na democracia brasileira", diz, sentado emcazetv estrela betmesa no sindicato.

Ele evita criticar diretamente líder e o PT. "Não vou fazer autocrítica para um repórter, né? A gente faz isso, mas internamente."

Januário hoje tem 62 anos e é fotógrafo do sindicato. Nas greves, participoucazetv estrela betuma comissãocazetv estrela betfábrica da Ford no fim dos anos 1970. Esses grupos foram uma inovaçãocazetv estrela betLula na presidência do órgão.

Até então, o sindicato ficava afastado dos peões das fábricas, segundo os trabalhadores da época. Lula propôs o oposto: os sindicalistas deveriam participar das decisões internas das fábricas, por meiocazetv estrela betcomissõescazetv estrela betmetalúrgicoscazetv estrela betcada unidade.

"Lula dizia que a gente deveria ficar na porta da fábrica, dentro dela, a gente devia participar da vida do trabalhador. Essa proximidade criou um novo sindicalismo no Brasil", diz Djalma. O então líder sindical ganhou popularidade entre os peões porcazetv estrela betoratória inflamada e a simplicidade com que tratava os colegas, lembram os amigos.

Foi nessa época,cazetv estrela bet1978, que José Alves Bezerra se aproximou do futuro presidente da República. "Eu estava sempre com Lula, nas assembleias, no sindicato", diz, acrescentando que foi demitido por justa causa da Volkswagen porcazetv estrela betparticipação nas greves.

Nos anos 1990, ele abandonou o sindicalismo e voltou paracazetv estrela betcidade natal, Várzea Alegre, municípiocazetv estrela bet40 mil habitantes no interior do Ceará. "Meu amigo, aquicazetv estrela betVárzea está todo mundo revoltado com essa condenação. E digo isso com a emoção à parte", afirma.

Maria Elicélia da Silva, ex-faxineira do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC

Crédito, Leandro Machado/BBC Brasil

Legenda da foto, 'Não sou petista, sou é Lulista, vê a diferença?', diz Maria Elicélia da Silva, dona Zelinha, ex-faxineira do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC

Por telefone, Bezerra também separa a figuracazetv estrela betLula do PT. "Lula é uma coisa, o partido é outra. A gente não sabe quem são essas pessoas que tomaram conta do PT. Votaria nele mil vezes, quatro vezes mil", diz.

Maria do Socorro, que também abandonou a militância e voltou para a mesma cidade no Ceará, acrescenta sobre as acusações do líder: "Se Lula errou, por que só ele vai pagar? E Michel Temer, que está todo enrolado, e continua aí todo bonitão? E Aécio Neves?", pergunta,cazetv estrela betreferência ao presidente e ao senador tucano, também investigados pela operação Lava Jato.

O dia mais feliz

A ex-faxineira dona Zelinha conta que 27cazetv estrela betoutubrocazetv estrela bet2002, quando Lula foi eleito pela primeira vez presidente do país, foi o dia mais felizcazetv estrela betsua vida. "Eu só chorava. Só fiquei triste porque ele não poderia mais falar palavrão, igual falava para mim. O cargo não deixa", diz.

Na tarde da sentençacazetv estrela betMoro, um homem passou na frente do sindicato e xingou o petistacazetv estrela bet"ladrão". Dona Zelinha saiu até a porta do prédio. "Eu queria pegar pelo pescoço... Ninguém fala mal dele pertocazetv estrela betmim. Estou muito triste, mas tenho certeza da inocência dele", diz ela, que tem 68 anos.

Nordestina como Lula (nasceucazetv estrela betJoão Pessoa, Paraíba), ela explicacazetv estrela betnovo seu amor incondicional pelo ex-sindicalista, presidente da República por duas vezes, e hoje condenado por corrupção e lavagemcazetv estrela betdinheiro: "Não sou petista, sou lulista. Lula corre aqui nas minhas veias."