'Fiquei seis anos sem ver meu pai e o reencontrei... na cracolândia':apostas para amanhã placard

No finalapostas para amanhã placard2016, Mylena resolveu participar, como voluntária,apostas para amanhã placardum evento que oferecia tratamentosapostas para amanhã placardbeleza a mulheres e transexuais da cracolândia. E pensou que, uma vezapostas para amanhã placardmeio ao vaivémapostas para amanhã placardtraficantes e dependentes, poderia tentar novamente.

Ela decidiu perguntar a assistentes sociais do programa Braços Abertos - iniciativa da gestão Fernando Haddad (PT) na cracolândia e hojeapostas para amanhã placardreformulação pela administração João Doria (PSDB) - se alguém conhecia seu pai.

E elas,apostas para amanhã placardfato, sabiam do paradeiro do paiapostas para amanhã placardMylena - o auxiliarapostas para amanhã placardserviços Alcides Silva*,apostas para amanhã placard52 anos, era um dos beneficiários do extinto programa, que oferecia aos usuáriosapostas para amanhã placardcrack remuneração diáriaapostas para amanhã placardR$ 15 por diaapostas para amanhã placardtrabalho, refeições e vagasapostas para amanhã placardhotéis da região.

Mylena deixou um bilhete com as assistentes sociais. "Pai, me liga! Te amo e estou com saudades", dizia a mensagem com os númerosapostas para amanhã placardtelefone.

O reencontro não demorou. E desde então, pai e filha não perderam mais o contato, e poderão conhecer, juntos, o novo membro da família - Mylena está grávidaapostas para amanhã placardoito meses. "O importante agora é que vou ver e acompanhar esse netinho", diz o pai.

No ano passado, pai e filha passaram o Natal juntos pela primeira vezapostas para amanhã placard20 anos. O encontro foi na casa da mãeapostas para amanhã placardMylena, a comerciante Irene Cavalcanti.

"Finalmente tivemos um encontro familiar. Minha mãe recebeu meu pai muito bem, foi bem tranquilo, ele ficou muito feliz", conta a produtora cultural.

Alcides não largou o crack - mas diz estar consumindo menos. E Mylena o visita a cada 15 dias no hotelapostas para amanhã placardque ele vive na cracolândia.

"O espaço é muito limpo, me sinto bem lá. As pessoas acham que a cracolândia é o inferno na Terra, mas não é bem assim. Claro que ninguém irá andar sozinho no 'fluxo', onde se compra e vende droga, masapostas para amanhã placardgeral não é um lugar muito mais perigoso do que outras regiões da cidade", opina a filha.

A conversa da filha e do pai com a BBC Brasil ocorreapostas para amanhã placardfrente à estação Júlio Prestes, marco arquitetônico da cidade esquecidoapostas para amanhã placardmeio ao abandono da região central.

A poucos metros dali, na cracolândia, são comercializados cercaapostas para amanhã placarddez quilosapostas para amanhã placardcrack por dia, segundo a Polícia Civil do Estado. Na semana passada, um assalto terminouapostas para amanhã placardconfronto e confusão generalizada envolvendo dependentes químicos, traficantes e forçasapostas para amanhã placardsegurança. Houve saques a lojas e um ônibus chegou a ser sequestrado por viciados.

Braços Abertos ou Recomeço?

Assim como o futuro do paiapostas para amanhã placardMylena, o destino do programa anticrack da gestão do PT é incerto. Implantadoapostas para amanhã placardjaneiroapostas para amanhã placard2014, a ação petista partia do princípio da reduçãoapostas para amanhã placarddanos: fazer com que o usuário amplieapostas para amanhã placardinserção social e diminua o consumo aos poucos, por meioapostas para amanhã placardofertaapostas para amanhã placardemprego e moradia, sem necessidadeapostas para amanhã placardinternação.

Dependentes químicos que trabalhassem ao menos quatro horas por dia (em atividades como varriçãoapostas para amanhã placardrua e jardinagem) ou participassemapostas para amanhã placardoficinasapostas para amanhã placardarte e pintura, como é o casoapostas para amanhã placardAlcides, ganhavam R$ 15 por dia. Cercaapostas para amanhã placard400 pessoas eram atendidas até o final do ano passado.

Na campanha eleitoral, o atual prefeito João Doria (PSDB) disse que o programa "não era bom para a cidade" e prometeu extingui-lo. Após confronto na semana passada, Doria disse que a "cracolândia tem prazo final para acabar" e que isso ocorreria "em breve".

Relatos na imprensa após a eleição sugeriram que a gestão tucana manteria parte das ações da iniciativa, mas a prefeitura ainda não divulgou detalhes do plano - diz apenas que tudo será incorporado ao programa Recomeço, do governo do Estado (também do PSDB) e focado no tratamento dos dependentes.

"O projeto tem como eixo fundamental o acolhimento e tratamentoapostas para amanhã placarddependentes químicos. O conceito básico é primeiramente dar abrigo aos dependentes fora da área (cracolândia). O programa inclui também açõesapostas para amanhã placardassistência social, zeladoria e segurança, com apoio à polícia no combate ao tráfico. As iniciativas serão feitasapostas para amanhã placardconjunto com o governo do Estado, governo federal e sociedade civil", informou a prefeituraapostas para amanhã placardnota à BBC Brasil.

A administração não respondeu pedidos específicosapostas para amanhã placardinformação, como número atualapostas para amanhã placardbeneficiários, ações que serão ou não mantidas e qual será a estruturaapostas para amanhã placardgestão.

O sociólogo Benedito Mariano, coordenador do Braços Abertos na gestão Haddad, defende a iniciativa que gerenciava. "A lógica do acolhimento e do resgate socialapostas para amanhã placardpessoas que se viam à margem da sociedade pode provocar grandes mudanças", afirma.

Uma pesquisa da Plataforma Brasileiraapostas para amanhã placardPolíticaapostas para amanhã placardDrogas, rede que promove políticasapostas para amanhã placardreduçãoapostas para amanhã placarddanos, apontou que 67%apostas para amanhã placard80 beneficiários ouvidos haviam relatado redução no consumo.

Há quem considere, por outro lado, que tratamentos que visem a abstinência, como a proposta das gestões do PSDB, sejam mais adequados. Para Ana Cecília Marques, coordenadora da Comissãoapostas para amanhã placardDependência Química da Associação Brasileiraapostas para amanhã placardPsiquiatria e professora da PUC-SP, viciados devem passar primeiramente por tratamentosapostas para amanhã placarddesintoxicação eapostas para amanhã placarddoenças relacionadas ao consumoapostas para amanhã placarddrogas.

"A maioria dos usuários adquire as chamadas comorbidades, como enfisema e inflamação dos nervos, que precisam ser tratadas", diz Marques, citando programasapostas para amanhã placarduniversidades como USP e Unifesp que alcançariam taxasapostas para amanhã placardabstinênciaapostas para amanhã placard60%.

A descontinuidade das iniciativas anticrack do setor público não se restringem a São Paulo. No plano federal, a principal aposta do governo Dilma Rousseff (PT) - microônibus superequipados para monitorar as cracolândias - resultouapostas para amanhã placardveículos parados, subutilizados ou funcionandoapostas para amanhã placardforma precária, como mostrou a BBC Brasilapostas para amanhã placard2015. e até o momento, não há indicaçãoapostas para amanhã placardque essa política seja prioridade da gestão Michel Temer (PMDB).

apostas para amanhã placard Futuro

Ainda longe da abstinência, Alcides fica à espera da nova proposta da Prefeituraapostas para amanhã placardSão Paulo para resolver o problema da cracolândia e seus viciados. "Espero que não mude muita coisa porque a ação tem me ajudado", diz.

De acordo com estimativa feitaapostas para amanhã placard2015 pelo governo federal, 340 mil pessoas usavam crack regularmente no país naquele ano.

"O uso compulsivo da droga muitas vezes não está diretamente relacionado à substânciaapostas para amanhã placardsi, mas à ausência ou rupturaapostas para amanhã placardvínculos sociais", lembra José Luis Ratton, professor do departamentoapostas para amanhã placardSociologia da UFPE e integrante do Fórum Brasileiroapostas para amanhã placardSegurança Pública.

Sem dar detalhesapostas para amanhã placardsua vida, o homemapostas para amanhã placardfala agitada e gestos largos reconhece que as drogas o "empurraram para outro mundo". Pouco depois, passa a mão na barriga da filha grávida e abre um sorriso. "Quero abrir uma barracaapostas para amanhã placardsucos no centro", conta. "Voltei a sonhar, antes estava jogado, não queria saberapostas para amanhã placardnada."

* Nome fictício. O paiapostas para amanhã placardMylena falou com a reportagem com a condiçãoapostas para amanhã placardnão ter o nome divulgado, apenas imagens e declarações.