Cinco motivos que levaram o Rio à pior crisezebet in ghanasegurançazebet in ghanamaiszebet in ghanauma década:zebet in ghana
"Como passamos por alguns anoszebet in ghanaotimismo, o golpe é muito maior", diz ele, referindo-se à melhora nos indicadoreszebet in ghanaviolência nos anos posteriores à instalação das UPPs e anteriores à Copa do Mundo. "Não apenas não conseguimos chegar aonde queríamos, mas estamos caminhando para uma situação ainda pior", considera Cano.
Nesta semana, o governo federal anunciou que enviará reforços ao Rio depoiszebet in ghanaa cidade ter parado na terça-feira, quando bandidos atearam fogo a nove ônibus e dois caminhõeszebet in ghanaalgumas das principais viaszebet in ghanaacesso à cidade - represáliazebet in ghanafacções criminosas contra operações policiaiszebet in ghanauma comunidade.
O Ministério da Justiça prometera mandar cem homens da Força Nacionalzebet in ghanaSegurança e agora diz que o número pode chegar a 300, após críticaszebet in ghanaque o aceno havia sido por demais tímido.
A recessão, a grave crise financeira do Estado do Rio, a escassezzebet in ghanarecursos para a polícia e o desemprego estão entre os fatores que contribuem para a atual crisezebet in ghanasegurança.
Para o antropólogo e especialistazebet in ghanasegurança pública Luiz Eduardo Soares, o quadro atual resulta da intensificaçãozebet in ghanapráticas e circunstâncias que estãozebet in ghanacurso há muito tempo.
"O padrão tem sido o mesmo: confronto com 'o tráfico', adotando incursões bélicas às favelas, que matam inocentes, suspeitos e até mesmo policiais. A velha 'política' da conhecida - e derrotada - guerra às drogas", lamenta.
Entenda quais são os principais fatores estão por trás da atual crisezebet in ghanasegurança no Rio.
Deterioração das UPPs
Nos últimos cinco anos, o númerozebet in ghanatiroteioszebet in ghanacomunidades com UPPs aumentou 13.746%,zebet in ghanaacordo com um estudo feito pela própria Polícia Militar. O númerozebet in ghanaconfrontos nas favelas com UPPs passouzebet in ghana13,zebet in ghana2011, para 1.555,zebet in ghana2016. As trocaszebet in ghanatiros se intensificaram nas últimas semanas, notadamente no Complexo do Alemão, onde a PM atua para instalar uma cabine blindada numa das principais vias da comunidade Nova Brasília.
O entusiasmozebet in ghanatorno da política das UPPs foi inicialmente justificado por uma queda vertiginosa nos índiceszebet in ghanacriminalidade nas comunidades. Com o tempo e a expansão do programa para comunidades maiores e mais complexas - como a Rocinha e o próprio Complexo da Maré -, a situação começou a se deteriorar.
Um dos problemas, segundo a socióloga Julita Lemgruber, coordenadora do Centrozebet in ghanaEstudoszebet in ghanaSegurança e Cidadania da Cândido Mendes (Cesec), foi apostar primordialmente nas UPPs, que tinham foco claro na capital e nunca foram uma políticazebet in ghanasegurança pública para todo o Estado - das 38 UPPs implantadas, apenas uma, no Complexo da Mangueirinha, fica fora dos limites do município, na Baixada Fluminense.
"Quando a política das UPPs entrouzebet in ghanafalência, o Estado não conseguiu se movimentar rapidamente para se reestruturar", diz Lemgruber.
Para ela, os episódios violentos que a cidade tem presenciado são "reações pontuais para apagar incêndios", levando o Riozebet in ghanavolta à situaçãozebet in ghana"anos atrás".
"Isso não é uma políticazebet in ghanasegurança pública. Isso são ações violentas que não levam a lugar nenhum. Temos visto uma médiazebet in ghanaquatro mortes provocadas pela polícia por dia, e maiszebet in ghana60 policiais já morreram no Rio só neste ano. Isso seria um escândalozebet in ghanaqualquer parte do mundo. Aqui, faz parte da paisagem."
Para Ignacio Cano, pesquisador da Uerj, o Estado se ancorou nos bons resultados iniciais das UPPs sem que as políticas fossem "ampliadas, corrigidas, modificadas ou complementadas por novas políticas".
"Os gestores se limitaram a uma expansão quase automática das UPPs e do pagamentozebet in ghanabonificações a policias", considera Cano. Ele diz que as UPPs viraram o "fetiche" da segurança pública no Rio; convencionou-se atribuir a elas tudozebet in ghanabom que acontecia, ou tomar todos os problemas como indicativoszebet in ghanaseu fracasso. A situação, porém, envolve muitos outros fatores.
Crise financeira no estado e na polícia
O cenáriozebet in ghanarecessão e grave crise financeira no Estado do Rio tem castigado servidores públicos estaduaiszebet in ghanavários setores - e não é diferente com a Polícia Militar. Turistas desavisados que chegavam ao aeroporto do Galeão para a Olimpíada no ano passado foram recebidos por um grupozebet in ghanapoliciaiszebet in ghanaprotesto empunhando bandeiras dando as boas vindas ao "inferno" - "welcome to hell", diziazebet in ghanainglês, avisando que policiais e bombeiros não estavam recebendo seus salários, e quem chegasse ao Rio não estaria seguro.
De lá para cá, a situação se tornou mais crítica. Devido à crise, policiais ainda não receberam 13º salário nem as bonificações a que têm direito. Maria Isabel Couto, da Diretoriazebet in ghanaAnálisezebet in ghanaPolíticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV/DAPP), diz que a escassezzebet in ghanarecursos vem prejudicando a infraestrutura e as condiçõeszebet in ghanatrabalho da polícia, aumentando a situaçãozebet in ghanavulnerabilidade.
"O aumento dos indicadoreszebet in ghanaviolência significa que os policiais na ponta estão sendo colocados sob muito mais pressão - isso enquanto o Estado passa por uma crise financeira violentíssima que gera ansiedade sobre se vão receber salários, e boatoszebet in ghanaque o Estado não tem dinheiro para comprar gasolina,zebet in ghanaque as viaturas estão sucateadas,zebet in ghanaque coletes a provazebet in ghanabala estão vencidos e armas estão sem manutenção. Tudo isso gera um cenáriozebet in ghanamuito estresse para um funcionário cuja função é ir para a rua e proteger a população."
Neste ano, maiszebet in ghana60 policiais já foram mortos no Rio. "A sociedade precisa responsabilizar o policial quando ele precisar ser responsabilizado, mas também precisa entender que policiais estão sob extrema pressão e profundo estresse, e que eles também são vítimas desse processo."
Expansão da manchazebet in ghanacriminalidade
A década entre 2006 e 2016 foi marcada por um períodozebet in ghanaotimismo que teve seu ápice zebet in ghana2011, ano que apresentou os melhores indicadoreszebet in ghanasegurança. Em seguida, a situação começou a se deteriorar. Ao fim do período, a violência não voltou ao que era; mas se reconfigurou e se espalhou geograficamente pelo Estado.
Uma pesquisa realizada pela FGV/DAPP com base nos dados compilados pelo Institutozebet in ghanaSegurança Pública (ISP) mostrou que, quando a violência voltou a aumentar, ela se distribuiu pelo Estado.
"Antes, a capital sempre acumulava os maiores númeroszebet in ghanaviolência", diz Maria Isabel Couto, uma das autoras da pesquisa. Isso foi mudando ao longo dos últimos anos, com o aumento do crime no interior do Estado e na Baixada Fluminense (região metropolitana do Rio, já fora das fronteiras do município).
"A concentração na capital significava que, do pontozebet in ghanavista da segurança pública, os esforços e o contingente também podiam ser concentrados. Hoje, a violência está muito mais dispersa, e é preciso distribuir esforços, recursos e adotar estratégias mais complexas", diz Couto.
A distribuição criminal pode ser atribuída,zebet in ghanaparte, à fugazebet in ghanatraficanteszebet in ghanaáreas ocupadas por UPPs para consolidar o domínio e outros territórios. Mas Couto considera também que o descrédito das UPPs teve um importante papel. "As UPPs trouxeram a sensaçãozebet in ghanaque o Rio ia finalmente dar conta do problema do tráfico. Os primeiros episódioszebet in ghanaviolência fizeram essa ideia desmantelar e mostraram que as UPPs não eram infalíveis."
Fortalecimentozebet in ghanafacções criminosas
Se na fase inicial as UPPs pareciam estar sufocando a atuaçãozebet in ghanacriminososzebet in ghanaalgumas favelas, as disputaszebet in ghanaterritórios vistas recentemente mostram que os danos causados não foram permanentes. A disputazebet in ghanaterritórios tem sido constante no Rio, e facções criminosas aproveitam a crise para agirzebet in ghanaforma mais agressiva.
"A criminalidade percebe que há um descontrole na segurança pública, que não há rumo, orientação", diz Julita Lemgruber.
"Você acha que a criminalidade não percebe que o Rio está à deriva, com um ex-governador preso, o mandato do atual correndo risco (referência a acusaçõeszebet in ghanacorrupção contra o governador Luiz Fernando Pezão), um Tribunalzebet in ghanaContas que está na cadeia? É uma situaçãozebet in ghanafaltazebet in ghanalegitimidade do Estado, um Estado que está um pouco à deriva, e a criminalidade percebe isso claramente", argumenta Lemgruber.
Mais do que isso, a desigualdade social e a faltazebet in ghanaoportunidade para jovens nas comunidades continua a contribuir para atrair meninos e adolescentes para o tráfico e munir as facçõeszebet in ghanarecursos humanos.
Sem outra portazebet in ghanasaída que ofereça outras oportunidades, jovens pobreszebet in ghanacomunidades idem são atraídos pelos benefícios "sedutores" do tráfico - que não se reduzem a bens materiais, diz o antropólogo e especialistazebet in ghanasegurança pública Luiz Eduardo Soares. "Mais do que isso, estãozebet in ghanajogo acolhimento, reconhecimento, valorização e pertencimento", afirma.
"É possível disputar menino a menino com a fontezebet in ghanarecrutamento criminosa. Disputar significa oferecer pelo menos os mesmos benefícios, com sinal invertido, evidentemente", considera Soares, dando o exemplo do campozebet in ghanapolíticas culturais, que tem muitas experiências bem sucedidas no Brasil e no mundo.
Maria Isabel Couto, da FGV/DAPP, diz que a faltazebet in ghanauma política nacionalzebet in ghanasegurança também ajuda a fortalecer as facções - que substituíram a disputazebet in ghanauma ou outra favela por disputas mais amplas e ambiciosas.
"A gestão do crime não respeita fronteiras", diz Maria Isabel Couto. "As facções estão se comunicando, criando parcerias, buscando expandirzebet in ghanainfluência e suas rotas. Há uma clara disputa nacional e internacional por territórios."
Em contraposição, ela diz ser urgente elaborar uma política nacionalzebet in ghanasegurança pública. "O governo federal precisa entender que se tratazebet in ghanauma questão nacional e que é seu dever lidar com isso. Nenhum Estado tem condiçõeszebet in ghanadar conta desse controle sozinho."
'Pacificação' versus confronto
Com a "falência" da políticazebet in ghanapacificação e o aumento da criminalidade, especialistas dizem que a doutrina policial que preconiza o confronto armado está voltando a ganhar força. A política das UPPs foi baseadazebet in ghanaestratégiaszebet in ghanapoliciamento comunitária - embora, considera Julita Lemgruber, elas não tenham sido bem sucedidaszebet in ghanaconsolidar esse vínculo com as comunidades.
Porém, o velho modelo das operações policiaiszebet in ghanafavelas para confrontar o tráfico não foi abandonado, e, com o acirramento da crise e da violência, volta a se intensificar.
O aumento do númerozebet in ghanapessoas mortas pela polícia reflete o aumentozebet in ghanaconfrontos. Nos últimos cinco anos (2012-2016), o númerozebet in ghanahomicídios decorrenteszebet in ghanaoposição à intervenção policial aumentou 120%, chegando a 920. Em 2012, o patamar mais baixo na última década, foram 419 mortes. Jázebet in ghana2007, antes das UPPs, o númerozebet in ghanamortos por policiais chegou a 1.330.
"As perdaszebet in ghanavida decorrentes desse conjuntozebet in ghanaações são definidas, cinicamente, como casualties, efeitos colateraiszebet in ghanamedidas 'necessárias'. Como dizia (o ex-secretáriozebet in ghanaSegurança Pública José Mariano) Beltrame, e outros antes dele: 'Não se fazem omeletes sem quebrar ovos'", diz Luiz Eduardo Soares.
"Eu acrescento: desde que não sejam seus filhos. Os efeitos dessa orientação irresponsável, mesmo criminosa, são trágicos."