Como a Lava Jato mudou as relações entre políticos e empresas no Brasil:www betesportivo com
Dinheiro e poder
Para Manoel Galdino, diretor-executivo da ONG Transparência Brasil, a Lava Jato criou um conflito para políticos brasileiros.
Por um lado, Galdino diz que eles continuam precisandowww betesportivo commuito dinheiro para se eleger e se manter influentes.
Ele afirma que a trajetória do ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) ilustra como o dinheiro garante poderwww betesportivo comBrasília: hoje preso e condenado por corrupção, Cunha ajudou a arrecadar os recursos que financiaram as campanhaswww betesportivo commuitos deputados e se valeu da relação com os colegas para se eleger presidente da Câmara,www betesportivo com2015.
Por outro lado, Galdino diz que a Lava Jato e uma decisão judicialwww betesportivo com2015 que proibiu doaçõeswww betesportivo comempresas a campanhas devem reduzir o fluxowww betesportivo comdinheiro para os políticos.
"Só as empresas que queiram operar totalmente no caixa 2 vão se arriscar a fazer doações", ele diz.
O diretor da Transparência Brasil afirma que, diante da menor ofertawww betesportivo comdinheiro privado, políticos deverão tentar aumentar os valores do fundo partidário, alimentado com verbas públicas.
A medida, porém, enfrenta resistências, já que "há uma grande aversão da população a dar mais dinheiro para os políticos".
Ele defende alterar a legislação para que se reduza a necessidadewww betesportivo comgastarwww betesportivo comcampanhas ou para que políticos consigam arrecadar mais recursoswww betesportivo comdoadores privados, com transparência.
Galdino diz que, no cenário atual, há um riscowww betesportivo comque o crime organizado se envolva mais com o financiamentowww betesportivo comcampanhas.
"Para eles não faria diferença: eles já estão no crime e só ampliariamwww betesportivo comatuação,www betesportivo comtrocawww betesportivo comuma oportunidade para ter mais influência no Estado."
Para Antônio Augustowww betesportivo comQueiroz, analista político do Departamento Intersindicalwww betesportivo comAssessoria Parlamentar (Diap), a Lava Jato deixou muitos empresários receososwww betesportivo comlidar com congressistas.
"Há uma grande mudança culturalwww betesportivo comcurso. Aquilo que era visto como natural - pagar propina para resolver um problema - perde densidadewww betesportivo comuns 90%", estima
Segundo Queiroz,www betesportivo comvezwww betesportivo comdialogar com legisladores, os empresários estão cada vez mais buscando contatos diretos com servidoreswww betesportivo comcarreirawww betesportivo compostoswww betesportivo comcomando no Poder Executivo, que, segundo ele, estariam com a imagem menos arranhada que os parlamentares.
Por não disputarem eleições e não terem a necessidadewww betesportivo comarrecadar recursos para campanhas, esses servidores estariam também menos sujeitos a pressões políticas e à corrupção, segundo Queiroz - alémwww betesportivo comterem menos visibilidade.
Ele diz que os empresários procuram os funcionários para tentar influenciar decisões que afetem suas companhias. A atuação se dá numa zona cinzenta - não há regulamentação sobre como deve ser o contato entre servidores e empresárioswww betesportivo comtemaswww betesportivo cominteresse das empresas - e também está sujeita à corrupção, porém.
Mas Queiroz diz que, apesar da restrição a doaçõeswww betesportivo comempresas a campanhas, executivos continuarão a influenciar as disputas - ainda quewww betesportivo commenor escala - por meiowww betesportivo comdoações privadas, que seguem permitidas.
Em 2016, nas eleições para prefeito no Riowww betesportivo comJaneiro, por exemplo, maiswww betesportivo com600 doadores privadoswww betesportivo comcampanhas eram ligados a empresas - sócios, proprietários, principais acionistas, diretores e presidenteswww betesportivo comempresas -, a maior parte, do setorwww betesportivo comconstrução e engenharia, pelo que revelou um estudo da Fundação Getúlio Vargas feita a pedido do jornal O Globo.
Transparência
Para Sérgio Praça, cientista político da Fundação Getúlio Vargas (FGV)www betesportivo comSão Paulo, as empresas terãowww betesportivo comse relacionarwww betesportivo commodo mais transparente com os políticos.
"A criminalização do homicídio não impede as pessoaswww betesportivo commatarem, mas agora a corrupção ficou muito arriscada para as empresas."
Ele afirma que as companhias deverão recorrer mais a serviçoswww betesportivo comagênciaswww betesportivo comlobby e investir no diálogo para tentar convencer os políticos a apoiar suas demandas.
"Acho que veremos mais empresas tornando públicos seus encontros com políticos, dizendo com quais políticos se encontrou e para tratarwww betesportivo comquais assuntos. É óbvio que haverá segredos, mas pelo menos haverá algum registro."
Praça diz que a relação entre políticos e empresas no Brasil poderá ficar mais próxima do modelo dos Estados Unidos.
Nos EUA, há numerosos centroswww betesportivo compesquisa e debates (think tanks) que promovem eventos com empresas, jornalistas e autoridades para a discussãowww betesportivo compolíticas públicas. Ao financiar essas organizações, empresas tentam difundir suas ideias e influenciar as autoridades.
Também há várias agênciaswww betesportivo comlobby e gruposwww betesportivo cominteresse que atuam no Congresso americano. Ao contrário do que ocorre no Brasil, nos EUA o lobby é uma atividade regulamentada. Lobistas devem se registrar no Congresso, e há várias regras que ditam suas relações com políticos, como restrições à ofertawww betesportivo compresentes.
O cientista político diz que também podem surgir no Brasil organizações semelhantes às financiadas pelos irmãos Charles e David Koch. Herdeiroswww betesportivo comum grande grupo industrial americano, eles apoiam várias organizações conservadoras e pró-livre mercado que tentam influenciar a política local.
"Eles são hiperpolêmicos, mas são transparenteswww betesportivo comrelação às políticas que apoiam e os motivos que têm para isso. Essa transparência falta na relação do empresário brasileiro com a política."
Dimensão
Os três analistas afirmam, porém, que as mudançaswww betesportivo comcomportamento devem levar mais tempo para chegar a instâncias inferioreswww betesportivo comgoverno.
Manoel Galdino, da Transparência Brasil, diz que investigadores e juízes que atuam nos Estados e municípios tendem ser menos independentes que procuradores e juízes federais.
Segundo ele, uma importante razão para o sucesso da Lava Jato foi a "cooperação relativamente inédita entre Ministério Público, Polícia Federal e varas especializadas do Judiciário".
"Há muito menos chancewww betesportivo comrepetir esse tipowww betesportivo comoperação nos Estados."
Porém, para Antônio Augustowww betesportivo comQueiroz, do Diap, é natural que a mudança comece pela esfera federal.
"O exemplo sempre vem do plano nacional, mas o fatowww betesportivo como STF (Supremo Tribunal Federal) estar abrindo processos e punindo vai com certeza inibir a corrupção nos planos estadual e municipal. A mudança é mais célere no plano federal, mas o exemplo acaba se replicandowww betesportivo comEstados e municípios."