'Como paramos no tempo se há 500 anos lutamos por nossas terras?': índios criticam chefe da Funai:cabaretclub casino

Índios e presidente da Funai

Crédito, Arquivo Pessoal/BBC Brasil/Programa Aldeias

Legenda da foto, Presidente da Funai , Antonio Costa (no topo à direita), disse à BBC Brasil que povos indígenas 'não podem ficar parados no tempo' e que deveriam se inserir no 'sistema produtivo' nacional
Telma Taurepang

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, 'No diacabaretclub casinoque esse povo acordar e ver que não pode comer petróleo, quando esse povo acordar e não conseguir respirar ar puro, talvez seja tarde demais', diz Telma Taurepang, coordenadora-geral da União das Mulheres Indígenas da Amazônia Brasileira

"Como estamos parados no tempo se estamos lutando há maiscabaretclub casino500 anos para que não destruam nossas terras?", questionou.

Taurepang, que vivecabaretclub casinoRoraima, criticou a avaliaçãocabaretclub casinoCosta sobre o potencial econômico das terras indígenas. Para o chefe do órgão federalcabaretclub casinodefesa dos índios, esses territórios deveriam ser tratados como áreascabaretclub casino"segurança nacional" porque abrigam as últimas reservascabaretclub casinomadeira, minérios e rios represáveis do país.

Para a líder indígena, Costa tem um pensamento predatório. "No diacabaretclub casinoque esse povo acordar e ver que não pode comer petróleo, quando esse povo acordar e não conseguir respirar ar puro, talvez seja tarde demais."

Ruralistas

Presidente da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), Marivelton Baré criticou a relação entre o presidente da Funai e a bancada ruralista. Na conversa com a BBC, Costa disse não ver "sentimento contra o índio"cabaretclub casinoruralistas. "Ele (produtor rural) tem um sentimentocabaretclub casinodefesa dacabaretclub casinoterra, como o índio também tem", afirmou na ocasião o presidente da Funai.

Referindo-se aos ruralistas como "classe contrária" aos índios, Baré afirmou que Costa "não tem nenhum compromisso institucional com o órgão que assumiu". "Ele tem a missão institucionalcabaretclub casinolevar adiante a política indigenista do país, e não os interesses obscuros da classe contrária."

Marivelton Baré

Crédito, Arquivo Pessoal

Legenda da foto, Para Marivelton Baré, presidente da Funai tem 'missão institucional'cabaretclub casinoavançar política indigenista, e não interessescabaretclub casinoruralistas

Ele também condenou a opinião do presidente da Funai sobre pregação religiosa nas aldeias. Costa, que é pastor evangélico e foi indicado ao cargo pelo Partido Social Cristão (PSC), disse exercer suas funções tecnicamente, mas afirmou não se opor ao proselitismo religioso nas comunidades.

"Todas as instituições religiosas que seguem a palavracabaretclub casinoDeus têmcabaretclub casinobuscar pessoas que venham a conhecer a palavracabaretclub casinoDeus. Por que os índios não, se é a vontade deles?", disse Costa na entrevista. Para o chefe da Funai, a presençacabaretclub casinomissionários não afeta a cultura dos indígenas.

Confrontado com as declarações, Baré questionou a opiniãocabaretclub casinoCosta. "Se a presença das igrejas não afetasse (os índios), muitos povos não teriam sido dizimados desde que entraramcabaretclub casinocontato com elas."

Polêmica

Coordenador da Comissão Guarani Yvyrupa, que agrega comunidades guaranis do Sul e Sudeste do Brasil, Tiago Karai afirma que o presidente da Funai revelou ignorância ao se manifestar sobre seu povo.

Na entrevista, Costa citou os guaranis ao afirmar que o Estado brasileiro deveria dar assistência aos indígenas para que não dependessem do "assistencialismo". "Exemplo: índios guaranis são coletores. Temoscabaretclub casinodar tecnologia para que eles possam plantarcabaretclub casinosuas terras e ser cultivadores", disse Costa.

Para Karai, porém, o presidente da Funai demonstra ter uma "visão muito errada" do povo. "Os guaranis são agricultores. É complicado que alguém que representa o órgão indigenista não tenha um mínimo conhecimento dos povos indígenas."

Tiago Karai

Crédito, Programa Aldeias

Legenda da foto, 'A gente planta para comer e trocar com outros povos, esse é o nosso interesse', diz Tiago Karai, coordenadorcabaretclub casinocomissão que agrega comunidades guaranis

Karai enviou à reportagem fotoscabaretclub casinovariedades rarascabaretclub casinomilho cultivadas há séculos por seu povo.

Para ele, a fala do presidente sugere ainda que os indígenas são "inferiores". "Parece que a gente deveria pensarcabaretclub casinoplantar soja, cana, milhocabaretclub casinogrande escala para vender. Só que o indígena não tem esse pensamento, a gente planta para comer e trocar com outros povos, esse é o nosso interesse."

A entrevistacabaretclub casinoCosta também motivou críticas entre antropólogos e no setor do Ministério Público Federal que lida com populações indígenas.

Para Henyo Barretto, professorcabaretclub casinoantropologia da Universidadecabaretclub casinoBrasília e coordenador da Comissãocabaretclub casinoAssuntos indígenas da ABA (Associação Brasileiracabaretclub casinoAntropologia), Costa comete um "grave disparate" ao querer "integrar os índios exatamente nos sistemas que esgotaram os mananciais hídricos, as florestas e as madeiras".

"Soa quase como um convite para que os índios destruam seu próprio patrimônio ambiental."

Mineração

O professor diz ainda que Costa revelou um "grave desconhecimento" ao afirmar que, caso seja regulamentada pelo Congresso, a mineraçãocabaretclub casinoterras indígenas não exigiria a autorização das comunidades.

Segundo o presidente da Funai, a autorização não seria necessária porque as terras indígenas pertencem à União. "Mas eles deveriam ter uma participação no produto, e com isso haveria uma formacabaretclub casinoamenizar os problemas sociais que eles vivem", disse Costa.

Barretto lembra que o terceiro parágrafo do artigo 231 da Carta diz que "o aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas mineraiscabaretclub casinoterras indígenas só podem ser efetivados com autorização do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos resultados da lavra, na forma da lei".

Para Barretto, "ignorar que as comunidades precisam ser ouvidascabaretclub casinorelação a qualquer empreendimento é desconhecer o que a Constituição prevê".

Para o subprocurador-geral da República Luciano Mariz Maia, que coordena a Câmaracabaretclub casinoPopulações Indígenas e Comunidades Tradicionais do Ministério Público Federal, Costa deveria levarcabaretclub casinoconta a complexa relação dos indígenas com seus territórios.

milho

Crédito, Arquivo Pessoal

Legenda da foto, Segundo representante, guaranis são agricultores e plantam variedades rarascabaretclub casinomilho há séculos

"Uma terra para o índio é o espaçocabaretclub casinoque ele se encontra, e a terra faz parte dele próprio. Não é uma questãocabaretclub casinoquantas cabeçascabaretclub casinogado ele pode ter no campo, ou quantas toneladascabaretclub casinogrãos ele pode extrair, quantas toneladascabaretclub casinopeixe pode pescar, mas quantocabaretclub casinovida ele consegue ter a partir daquele rio, a partir daquelas matas, a partir daquela terra."

História

Maia afirma ainda que, quando o presidente da Funai cita na entrevista os problemas que alguns grupos indígenas enfrentam hoje para ser autossustentáveis, ele também deveria citar as causas dessa situação.

"As condições a que os índios são submetidos hoje não decorrem da vontade dos índios, mas da interferência externacabaretclub casinofazendeiros, garimpos, mineradoras, hidrelétricas e as frentescabaretclub casinoexpansão econômica que produziram a expulsão dos índioscabaretclub casinosuas terras".

Para Marcio Santilli, sócio-fundador do ISA (Instituto Socioambiental) e presidente da Funai entre 1995 e 1996, "a substituição da responsabilidade do Estado pela pregação dos recursos naturais das terras indígenas foi largamente praticada durante a ditadura militar, com desastrosas consequências econômicas, ambientais ecabaretclub casinodesintegração social dos povos indígenas".

"Pero Vazcabaretclub casinoCaminha,cabaretclub casino1500, após relatar a abundância e a limpidez das águas do Brasil, pediu ao reicabaretclub casinoPortugal para 'salvar esta gente', sendo que agora somos nós que estamos com as torneiras secas", afirma.

Elogios

Fórumcabaretclub casinocaciques do Mato Grosso do Sul tem encontro com presidente da Funai

Crédito, Funai

Legenda da foto, Para presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (bancada ruralista), deputado federal Nilson Leitão (PSDB-MT), presidente da Funai (acima, sentado à direita) 'se mostrou sintonizado com nova realidade do indígena'

Já as declaraçõescabaretclub casinoCosta foram elogiadas pelo presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (bancada ruralista), o deputado federal Nilson Leitão (PSDB-MT).

Segundo Leitão, o presidente da Funai "se mostrou sintonizado com a nova realidade do indígena, e não acabaretclub casinoporta-vozes dos indígenas, que defendem interesses que nada têm a ver com as necessidades desses povos".

"Há muitas diferenças entre indígenas do Norte e do Sul do Brasil. O indígena mudou, não pode mais ser tratado como um retrato na parede", diz Leitão.

O deputado afirma ainda que "muitos povos querem produzir, querem acessar a tecnologia, querem se inserir no mercado". "Temoscabaretclub casinooferecer todo apoio a eles."

Leitão exaltou ainda a aproximação entre o novo presidente da Funai e o Congresso. Na entrevista, Costa disse ter recebido maiscabaretclub casino"40 deputados e senadorescabaretclub casinotodos os segmentos", vários deles membros da bancada ruralista.

"A Funai por muito tempo teve uma atuação muito ideológica. É muito bom ver que as coisas estejam mudando."