Como as raízes do Cerrado levam água a torneiras1win site oficialtodas as regiões do Brasil:1win site oficial
Os aquíferos são reabastecidos pela chuva, mas dependem da vegetação para que a água chegue lá embaixo.
Barbosa afirma que muitas plantas do Cerrado têm só um terço1win site oficialsua estrutura acima da superfície e, para sobreviver num ambiente com solo oligotrófico (pobre1win site oficialnutrientes), desenvolveram raízes profundas e bastante ramificadas.
"Se você arrancar uma dessas plantas, vai contar milhares ou até milhões1win site oficialraízes, e quando cortar uma raiz e levá-la ao microscópio, verá inúmeras outras minirraízes que se entrelaçam com as1win site oficialoutras plantas, formando uma espécie1win site oficialesponja."
Esse complexo sistema radicular retém água e alimenta as plantas na estação seca. Graças a ele, as árvores do Cerrado não perdem as folhas mesmo nem mesmo no auge da estiagem - diferentemente do que ocorre entre as espécies do Semiárido, por exemplo.
Barbosa conta que, quando há excesso1win site oficialágua, as raízes agem como esponjas encharcadas, vertendo o líquido não absorvido para lençóis freáticos no fundo. Dos lençóis freáticos a água passa para os aquíferos.
O professor diz que essa dinâmica começou a ser afetada radicalmente nos anos 1970, com a expansão da pecuária e1win site oficialgrandes plantações1win site oficialgrãos e algodão pelo Cerrado.
A nova vegetação tem raízes curtas e não consegue transportar a água para o fundo.
Pior: entre a colheita e o replantio, as terras ficam nuas, fazendo com que a água da chuva evapore antes1win site oficialpenetrar o solo. Em alguns pontos do Cerrado, como no entorno1win site oficialBrasília, o uso1win site oficialágua subterrânea para a irrigação prejudica ainda mais a recarga dos aquíferos.
Em fevereiro, Brasília começou a racionar água pela primeira vez na história - e meses antes do início da temporada seca.
Migração1win site oficialnascentes
Conforme os aquíferos deixaram1win site oficialser plenamente recarregados, Barbosa diz que se acelerou na região um fenômeno conhecido como migração1win site oficialnascentes.
Para explicar o processo, ele recorre à imagem1win site oficialuma caixa d'água com vários furos. Quando diminui o nível da caixa d'água, o líquido deixa1win site oficialjorrar dos furos superiores.
Com os aquíferos ocorre o mesmo: se o nível1win site oficialágua cai, nascentes1win site oficialáreas mais elevadas secam.
Ele diz ter presenciado o fenômeno num dos principais afluentes do São Francisco, o rio Grande, cuja nascente teria migrado quase 100 quilômetros a jusante desde 1970.
O mesmo se deu, segundo Barbosa, nos chapadões no oeste da Bahia e1win site oficialMinas Gerais: com a retirada da cobertura vegetal, vários rios que vertiam água para o São Francisco e o Tocantins sumiram.
O professor diz que a perda1win site oficialafluentes reduziu o fluxo dos rios e baixou o nível1win site oficialreservatórios que abastecem cidades do Nordeste, Centro-Oeste e Norte.
Em 2017, segundo a Secretaria Nacional1win site oficialProteção e Defesa Civil (Sedec), o número1win site oficialmunicípios brasileiros1win site oficialsituação1win site oficialemergência causada por longa estiagem chegou a 872, a maioria no Nordeste.
Já1win site oficialSão Paulo as chuvas1win site oficialverão aumentaram os níveis das represas e afastaram no curto prazo o risco1win site oficialracionamento. Mas Barbosa afirma que a maioria dos rios que cruza o Estado é alimentada pelo aquífero Guarani, cujo nível também vem baixando.
O aquífero abastece toda a Bacia do Paraná, que se estende do Mato Grosso ao Rio Grande do Sul, englobando ainda partes da Argentina, Paraguai e Uruguai.
Fotografia do passado
Bastaria então replantar o Cerrado para garantir a recarga dos aquíferos?
A solução não é tão simples, diz o professor. Ele conta que o Cerrado é o mais antigo dos biomas atuais do planeta, tendo se originado há pelo menos 40 milhões1win site oficialanos.
Segundo ele, olhar para o Cerrado é como olhar para uma fotografia do passado.
"O Cerrado já atingiu seu clímax evolutivo e precisa, para o seu desenvolvimento,1win site oficialuma série1win site oficialfatores que já não existem mais."
Ele exemplifica: há plantas do Cerrado que só são polinizadas por um ou outro tipo1win site oficialabelhas ou vespas nativas, várias das quais foram extintas pelo uso1win site oficialagrotóxicos nas lavouras. Essas plantas poderão sobreviver, mas não serão mais capazes1win site oficialse reproduzir.
O Cerrado também é uma espécie1win site oficialmuseu porque muitas1win site oficialsuas plantas levam séculos para se desenvolver e desempenhar plenamente suas funções ecológicas. É o caso dos buritis, uma das árvores mais famosas do bioma, que costuma brotar1win site oficialbrejos e cursos d'água.
Barbosa costuma dizer que, quando Cabral chegou ao Brasil, os buritis que vemos hoje estavam nascendo.
Mesmo plantas1win site oficialpequeno porte costumam crescer bem lentamente. O capim barba-de-bode, por exemplo, leva mais1win site oficialmil anos para atingir1win site oficialmaturidade. Barbosa diz ter medido as idades das espécies com processos1win site oficialdatação1win site oficiallaboratório.
Parceria com animais
Sabe-se hoje da existência1win site oficialcerca1win site oficial13 mil tipos1win site oficialplantas no Cerrado, número que o torna um dos biomas mais ricos do mundo. Dessas espécies, segundo o professor, não mais que 200 podem ser produzidas1win site oficialviveiros.
Ele conta que a ciência ainda não consegue reproduzir1win site oficiallaboratório as complexas interações entre os elementos do bioma, moldadas desde a era Cenozoica.
Barbosa diz, por exemplo, que muitas plantas do Cerrado têm sementes que são ativadas apenas1win site oficialsituações bem específicas. Algumas delas só têm a dormência quebrada quando engolidas por certos mamíferos e expostas a substâncias presentes1win site oficialseus intestinos.
Há ainda sementes que precisam do fogo para germinar. Contrariando o senso comum, Barbosa diz que incêndios naturais são essenciais para a sobrevivência do Cerrado e podem ocorrer1win site oficialduas formas.
Uma delas se dá quando blocos1win site oficialquartzo hialino, um tipo1win site oficialcristal, agem como lentes que concentram a luz do sol, superaquecendo a vegetação.
A outra ocorre pela interação entre algumas plantas e animais do Cerrado, entre os quais a raposa, o lobo-guará, o tamanduá-bandeira e o cachorro-do-mato-vinagre.
Segundo Barbosa, esses mamíferos carregam no pelo uma carga eletromagnética que,1win site oficialcontato com gramíneas secas, provoca faíscas.
O professor diz que o fogo é necessário não só para ativar sementes, mas para permitir que gramíneas secas, que não têm qualquer função ecológica, sejam substituídas por plantas novas.
"Se a gramínea seca fica ali, não tem como rebrotar, então é preciso dessa lambida1win site oficialfogo natural pra limpar aquele tufo."
Os incêndios também são importantes, segundo ele, para que o solo do Cerrado continue pobre - afinal, foi nesse solo que o bioma se desenvolveu.
"O fogo é paradigma para quem pensa na preservação. Se você pensa como agrônomo, o fogo é nocivo, porque acentua o oligotrofismo do solo."
Estancar os danos
Quando deixa1win site oficialhaver incêndios naturais, os animais e insetos nativos desaparecem e as plantas do Cerrado são derrubadas, é quase impossível reverter o estrago, diz Barbosa.
Mesmo assim, ele defende preservar toda a vegetação remanescente para estancar os danos.
Barbosa diz torcer para que, um dia, a ciência encontre formas1win site oficialrecuperar o bioma.
"Claro que você não vai reocupar toda a área que está produzindo [alimentos], mas você pode pelo menos tentar amenizar a situação nas áreas1win site oficialrecarga1win site oficialaquíferos."
Sua preocupação maior é com a fronteira agrícola conhecida como Matopiba, que engloba os últimos trechos1win site oficialCerrado no Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Nos últimos anos, a região tem experimentado uma forte expansão na produção1win site oficialgrãos e fibras.
"Se esse projeto continuar avançando, será o fim: aí podemos desacreditar qualquer possibilidade, porque não teremos nem matriz para experiências1win site oficiallaboratório."
Nesse cenário, diz Barbosa, os aquíferos do Cerrado rapidamente se esgotarão.
"Os rios vão desaparecer e, consequentemente, vai desaparecer toda a atividade humana da região, a começar das atividades agropastoris."
"Teremos uma convulsão social", ele prevê.
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