Eles cresceram sob chuva ácida e hoje lutam como engenheiros pelo meio ambiente:estrelabet com login

Cleiton Jordão e Mauro Braga

Crédito, BBC | Fatima Cristina

Legenda da foto, Os engenheiros Cleiton Jordão e Mauro Braga tentam encontrar soluções políticas e científicas para combate à poluiçãoestrelabet com loginCubatão

A cidade tinha altos índicesestrelabet com logindoenças respiratórias e,estrelabet com login1981, dezenasestrelabet com logincrianças nasceram com anencefalia e outras malformações do sistema nervoso. Muitas delas naquele bairro.

Legenda do vídeo, O engenheiro que cresceu sob chuva ácida e hoje luta contra poluição

A chuva ácida, que era frequente na cidade onde cercaestrelabet com login20 indústrias pesadas eliminavam gases como óxidosestrelabet com loginnitrogênio eestrelabet com loginenxofre na atmosfera, não chegava a queimar imediatamente a pele, mas contribuía com a degradação da vegetação e das estruturas da cidade.

"Quando eu era criança, a imagem que mais me chocava era a da Serra do Mar, que era toda aberta e rasgada por causa da poluição", diz Jordão à BBC Brasil.

"Eu cresciestrelabet com loginoutro bairro industrial, mas ia muito à Vila Parisi para visitar amigos dos meus pais e avós. E comecei a perceber que eu gostariaestrelabet com loginatuar na área ambiental."

Contribuição

Por causa da famaestrelabet com login"cidade mais poluída do mundo" e do subsequente reconhecimento, pela ONU, como um casoestrelabet com loginrecuperação ambiental nos anos 1990, Cubatão tornou-se atraente para quem tem interesseestrelabet com logintrabalhar com meio ambiente e saneamento básico.

Além da ofertaestrelabet com loginempregos na indústria, a cidade também abriga o Centroestrelabet com loginCapacitação e Pesquisaestrelabet com loginMeio Ambiente da USP (Cepema), que reúne pesquisadores interessadosestrelabet com logindesenvolver tecnologia contra a poluição.

Foi lá que o engenheiro eletricista Mauro Braga,estrelabet com login42 anos, descobriu também a vocação para o trabalho ambientalista.

Mauro Bragaestrelabet com loginCubatão nos anos 1980

Crédito, Arquivo Mauro Braga

Legenda da foto, Por causa do alto índiceestrelabet com logindoenças respiratórias da cidade nos anos 1980, Mauro queria ser médico quando criança

Após se especializarestrelabet com logindesenvolvimentoestrelabet com loginsensores ópticos, ele criou um nariz e uma língua eletrônicos que podem detectar poluentes no ar e na água.

Muito antes disso, Braga, filhoestrelabet com loginmineiros que foram para Cubatão trabalhar na indústria siderúrgica, queria ser médico.

"Quando a crise começou, eu já tinha uns 5 ou 6 anos e ouvia muito sobre a regiãoestrelabet com loginque meu pai trabalhava, que era do lado da Vila Parisi. Diziam que as pessoas que moravam próximo da região industrial tinham problemas respiratórios. Eu queria ir para a área médica para ajudar", relembra.

A aptidão para engenharia elétrica, no entanto, o levou para a indústria e,estrelabet com loginseguida, para as salasestrelabet com loginaula. Anos depois, ele decidiu novamente usar os conhecimentos para lidar com a poluiçãoestrelabet com loginCubatão.

"No mestrado, eu acabei indo para a áreaestrelabet com logindesenvolvimentoestrelabet com loginsensores e, com um centroestrelabet com loginpesquisas ambientais aqui, vi que era um nicho no qual eu podia contribuir. Para nós que somos do município, isso é muito importante."

"Quis desenvolver uma estratégiaestrelabet com loginmonitoramento para que as pessoas soubessem o quanto a poluição poderia estar afetando a vida delas."

O sistemaestrelabet com loginsensores, feitoestrelabet com loginparceria com uma empresa alemã, pode identificar e quantificar a presençaestrelabet com loginmetais pesados nos rios e mangues da cidade. Uma adaptação permite que ele também seja usado para interagir com gases tóxicos liberados na atmosfera pelas fábricas.

"É uma solução relativamente barata, comparada aos métodosestrelabet com loginanálise tradicionaisestrelabet com loginlaboratório. E poderia ser um apoio ao que já existe", diz Mauro.

"Uma redeestrelabet com loginsensores instaladosestrelabet com logindiversos pontos, próximo das fontesestrelabet com loginpoluição, pode dar uma ideia mais precisa do que está acontecendo. Até para ter um planoestrelabet com loginevacuação,estrelabet com logincasoestrelabet com loginacidente, isso é importante."

O sistema já foi testado e ainda aguarda financiamentoestrelabet com loginórgãos públicos ou privados para começar a ser utilizado na cidade.

Cubatão nos anos 1980

Crédito, Arquivo Cleiton Jordão

Legenda da foto, Sem filtros nas chaminés das indústrias, fumaça preta era eliminada dia e noite ao ladoestrelabet com loginbairros residenciais

Qualidade do ar

Depoisestrelabet com loginchamar a atenção do mundo nos anos 1980, Cubatão colocouestrelabet com loginprática um plano para controlar as emissõesestrelabet com loginpoluentes na atmosfera, que lhe valeu reconhecimento durante a conferência ambiemtal da ONU Eco-92, no Rioestrelabet com loginJaneiro.

Atualmente, o município perdeu o postoestrelabet com logincidade mais poluída do mundo - e até mesmo do Brasil, segundo dadosestrelabet com login2014 da Organização Mundialestrelabet com loginSaúde.

O órgão mede a concentraçãoestrelabet com logindois tiposestrelabet com loginmaterial particulado na atmosfera, o PM10 e o PM2,5, cuja diferença está no tamanho das partículas poluidoras - como sulfato, nitratos e carbono - que penetram nos pulmões e no sistema cardiovascular. As mais finas, PM2,5, são consideradas mais perigosas.

Na cidade paulista, os valoresestrelabet com loginPM10 e PM2,5estrelabet com login2014 ficaram abaixo, mas muito próximos dos limites máximosestrelabet com loginsegurança estabelecidos pelo órgão - índicesestrelabet com loginque já há cercaestrelabet com login15% mais chancesestrelabet com loginmortes prematuras.

A OMS considera que a exposição anual dos cubatenses ao material particulado PM2,5 ainda é três vezes maior do que a considerada desejável.

Na área residencial da cidade, a qualidade do ar é considerada boa, segundo a Companhia Ambiental do Estadoestrelabet com loginSão Paulo (Cetesb).

Masestrelabet com login2013 um estudoestrelabet com loginpesquisadores da USP concluiu que, mesmoestrelabet com loginníveis aceitáveis, a poluição do arestrelabet com loginCubatão ainda tem sérios efeitos na saúde da população.

O trabalho afirma que, para cada aumentoestrelabet com login10 microgramas por metro cúbicoestrelabet com loginmaterial particulado PM10 no ar da área residencial, aumentavaestrelabet com loginaté 5% a quantidadeestrelabet com logininternações por doenças respiratórias, especialmenteestrelabet com logincrianças menoresestrelabet com logincinco anos, eestrelabet com logindoenças cardiovascularesestrelabet com loginmaioresestrelabet com login39 anos.

Cleiton Jordãoestrelabet com loginCubatãoestrelabet com login1989

Crédito, Arquivo Cleiton Jordão

Legenda da foto, Cleiton Jordão lembraestrelabet com loginficar impressionado com chuva ácida e efeito da poluição na Serra do Mar quando criança

Memória

Cleiton Jordão formou-seestrelabet com loginengenharia ambiental eestrelabet com logingestão pública. No final do ano passado, atuou como secretário do Meio Ambienteestrelabet com loginCubatão, e diz que a cidade precisa ser mais eficiente no combate à poluição atmosférica.

"Foi muito difícil (ser secretário) porque o Meio Ambiente não é um foco dos governos. Nunca foi prioridade das administrações estruturar a secretariaestrelabet com loginMeio Ambiente. Não temos o nosso código ambiental da cidade, não temos fiscaisestrelabet com logincontrole ambiental", diz.

"Conseguimos criar um fundo municipalestrelabet com loginmeio ambiente, mas ainda estáestrelabet com loginfaseestrelabet com loginimplantação. Cubatão precisa investir mais no mundo acadêmico para encontrar mais soluções inovadoras contra a poluição."

Apesar da fama mundial, não há na cidade museus, arquivos ou memoriais sobre o períodoestrelabet com loginque a poluição afetou centenasestrelabet com loginfamílias - o número exatoestrelabet com logincrianças nascidas com malformações nunca foi estabelecido, e pesquisadores que viveram a época falamestrelabet com loginpressão do governo militar para ocultá-lo.

Jordão é hoje professorestrelabet com loginciências no Ensino Médio, e se preocupa com o pouco conhecimento que os adolescentes têm sobre a tragédia.

"Pergunto a meus alunos sobre a poluição naquele tempo e eles mal sabem. Só os mais velhos sabem. Esse resgate deve ser feito para que não se comentam erros passados."

"É como um câncer. A pessoa pode se curar do câncer, mas, se não tiver preocupação e tomar todos os cuidados, ele pode voltar", afirma.

Esta reportagem faz parte da série da BBC #SoICanBreathe, dedicada a problemas causados pela poluição.

Vídeo com imagensestrelabet com loginChuck Tayman e reportagemestrelabet com loginCamilla Costa e Luciani Gomes.