Evangélicos se unem para combater preconceito dentro das igrejas:sites apostas bonus

Crédito, Mayra Sartorato/BBC Brasil

Legenda da foto, A funcionária pública Laudicéia Reis Silva dos Santos, o pastor Marco Davi e a empreendedora Evelyn Daisy,sites apostas bonusgruposites apostas bonusestudos sobre raça e evangelho

E eles garantem que há outros pastores fazendo trabalhos semelhantessites apostas bonusvários Estados brasileiros.

"Em razão do ativismo evangélico conservador no plano político e moral, os evangélicos têm sido muito mal vistos pela imprensa, por defensores da laicidade do Estado, dos direitos humanos e por grupos feministas e LGBT", diz à BBC Brasil Ricardo Mariano, professorsites apostas bonussociologia da USP e autor do livro Neopentecostais, que traça o perfil das igrejas evangélicas no país.

"Existem maissites apostas bonus50 milhõessites apostas bonusevangélicos no Brasil, um quarto da população, então é um grupo que não pode ser visto como um bloco coeso nem no plano político nem no moral. Há uma imensa pluralidade", afirma.

Crédito, Lídia Mariasites apostas bonusLima

Legenda da foto, A pastora Lídia Mariasites apostas bonusLima organiza eventos para discutir a questão da mulher no Evangelho

Demônios e racismo

Em 2011, o pastor evangélico e deputado Marco Feliciano (PSC-SP), disse emsites apostas bonusconta no Twitter que "africanos descendemsites apostas bonusancestral amaldiçoado por Noé", o que provocou uma sériesites apostas bonuscríticassites apostas bonusdefensoressites apostas bonusdireitos humanos e variados grupos evangélicos.

Acusadosites apostas bonusdiscriminação, o deputado disse não ser racista nem homofóbico, mas voltou a repetir, desta vez emsites apostas bonusdefesa apresentada ao STF (Supremo Tribunal Federal) que a "maldição sobre a África" teria ligação com o "primeiro atosites apostas bonushomossexualismo na história".

O pastor batista Marco Davisites apostas bonusOliveira diz ter vivido na pele os efeitos desse tiposites apostas bonusdiscurso que liga a negritude a maldições.

Alguns anos atrás, ao participarsites apostas bonusum conselhosites apostas bonuspastoressites apostas bonusuma igreja da Assembleiasites apostas bonusDeus, a maior denominação evangélica e pentecostal no Brasil, ele decidiu falar sobre o racismo dentro da igreja - e relata ter enfrentado uma reação violenta por partesites apostas bonusum líder evangélico, que prefere não identificar.

"Eu estava falando sobre a questão racial e um pastor começou a gritar dizendo que eu estava cheiosites apostas bonusdemônios, tentando dividir a igreja, que eu não tinha o espírito santosites apostas bonusmim e, portanto, não era evangélico nem cristão", conta Oliveira à BBC Brasil. "Isso só me fortaleceu porque percebi que, se causava tanto incômodo, devemos continuar falando sobre isso."

Oliveira organizou um gruposites apostas bonusestudossites apostas bonusraça com integrantes negros e brancossites apostas bonusdiferentes segmentos evangélicos, batizadosites apostas bonusDiscipulado Justiça e Reconciliação.

"Temos batistas, pentecostais, presbiterianos, todos convivem muito bem", afirma Carlos Diogo, integrante do grupo.

"Dialogamos a questão racial na Bíblia e dentro das igrejas com base no livrosites apostas bonusFrantz Fanon Pele Negra, Máscaras Brancas. Cada membro lê um trecho do livro e faz um resumo", explica - a obra citada por ele fala sobre a negação do racismo contra o negro na França e ficou conhecida por oferecer um maior senso crítico sobre o impacto do racismo na sociedade.

Crédito, Mayra Sartorato/BBC Brasil

Legenda da foto, Laudicéia, Evelyn e Carla, integrantessites apostas bonusgruposites apostas bonusestudos sobre raça

O grupo teve início na metadesites apostas bonus2016, com 20 integrantes negros e 10 brancos, e durou até novembro. Ao longo desse período, participou do Fórumsites apostas bonusIgualdadesites apostas bonusGênero na Igreja Batista no Parque Doroteia (São Paulo), cujo pastor é Oliveira, e do Culto Contra o Genocídio da População Negra.

Oliveira diz ter retomado o gruposites apostas bonusestudos há uma semana, com novos integrantes.

"O nosso cristianismo nasce na África, Jesus Cristo era negro. Quando os negros começam a entender que a Bíblia é um livro escrito para povos negros, eles começam a se libertar, as meninas paramsites apostas bonusalisar o cabelo, deixam o cabelo crespo", diz.

Para o pastor batista, visões como a defendida por Feliciano no Twitter se devem a errossites apostas bonusinterpretação do evangelho.

"O racismo está presente na igreja porque ela é uma instituição formada por gente. Há racismo por faltasites apostas bonuscompreensão do texto bíblico. Muitos acreditam que se aproximar da negritude é se aproximar do diabo, e isso oprime muitas pessoas negras."

Teologia feminista

Divergênciassites apostas bonustorno da interpretação dos preceitos bíblicos também se manifestamsites apostas bonusoutros temas sobre os quais há preconceitos.

Há, por exemplo, pastores que utilizam passagens bíblicas para justificar a subordinação feminina ao homem, afirma a pastora Lídia Mariasites apostas bonusLima.

"O que sempre aparecesites apostas bonusdiscursos machistas são trechos que dizem que a mulher foi criada para ser auxiliadora. São textos escritos por homens que refletem asites apostas bonusépoca", diz.

Por esse motivo, Lima organiza eventos voltados a mulheressites apostas bonusSão Paulo junto à Assessoriasites apostas bonusDireitos Humanos da Koinonia, uma instituição ecumênica que reúne diversas tradições religiosas envolvidassites apostas bonusmovimentos sociais. Em cada encontro, que reúne cercasites apostas bonus20 a 30 pessoas, há uma discussão sobre a condição da mulher na sociedade brasileira e são distribuídas cartilhas sobre o enfrentamento à violência doméstica, um material didático que ultrapassou os limites da igreja metodista e foi replicadosites apostas bonusoutras denominações.

Crédito, Lídia Mariasites apostas bonusLima

Legenda da foto, Participantessites apostas bonusevento organizado por Lima fazem leitura do Novo Testamento junto a cartilhasites apostas bonuscombate à violênciasites apostas bonusgênero

"A leitura bíblica que se faz nas igrejas é pensada a partir do patriarcado, dizendo que Deus é homem, fala dos pais da igreja (Abraão, Isaac), e o lugar da mulher está sempresites apostas bonusposiçãosites apostas bonussubmissão. Quando pensamossites apostas bonusteologia feminista, fazemos uma releitura dessa história bíblica", afirma ela.

Enquanto Lima distribui cartilhas para coibir a violência contra a mulher, tramita no Congresso um projetosites apostas bonusleisites apostas bonusautoria do Pastor Eurico (PHS-PE), da Assembleiasites apostas bonusDeus, revogando a lei (12.845/2013), que obriga os hospitais públicos a prestarem atendimento médico gratuito às vítimassites apostas bonusviolência sexual.

A justificativa apresentada pelos defensores do projeto é que o atendimento a vítimassites apostas bonusviolência sexual promove o "aborto químico" ao garantir a elas o acesso à chamada pílula do dia seguinte.

'Cura da homofobia'

Outros projetos da chamada "bancada evangélica" atingem diretamente a comunidade LGBT, como o Estatuto da Família, que fixa como conceitosites apostas bonusfamília apenas aquela formada por homem e mulher, o que pode dificultar o processosites apostas bonusadoçãosites apostas bonuscrianças por casais gays.

Em reação a esse tiposites apostas bonusproposta, José Barbosa, teólogo batista e pastor, criou um movimento contra a homofobia dentro das igrejas.

Ele conta que teve a ideia quando viu cristãos pedindo perdão à comunidade LGBT, pela forma como a igreja os tratou, durante a parada gaysites apostas bonusChicago,sites apostas bonus2012. Três anos depois, o religioso organizou um grupo - que virou um movimento com 50 pessoas - para fazer o mesmo na parada gaysites apostas bonusSão Paulo, sob o mote "Jesus Cura a Homofobia".

Crédito, José Barbosa

Legenda da foto, Teólogo José Barbosa criou movimento contra a homofobia dentro das igrejas

"A maioria (dos participantes) são héteros e evangélicos que assumiram essa causa dentro das igrejas que frequentam, como batistas, presbiterianas, anglicanas... É uma tentativasites apostas bonuslevar essa discussão para as igrejas", explica o líder do "Jesus Cura a Homofobia".

"Principalmente, quando veio essa ondasites apostas bonusconservadorismo no Brasil, com (o pastor Silas) Malafaia e Feliciano, achei necessário 'colocar a cara no sol' para dizer que há outro tiposites apostas bonusevangélico. Nem todo evangélico é homofóbico e contra os direitos humanos", afirma.

De acordo com Barbosa, o interessesites apostas bonusevangélicos por causas do tipo não é novidade e teria se desenvolvido nos anos 1980 com a chamada "Teologiasites apostas bonusMissão Integral", uma leitura do evangelho voltada para assistência social.

"A partir dos anos 2000, quando começou a efervescência do conservadorismo que vemos no Brasil hoje, esses grupos começaram a se organizar melhor, principalmente no Nordeste e no Sudeste. Há também as igrejas inclusivas, voltadas aos homossexuais. A diferença do 'Jesus Cura a Homofobia' é que tentamos trabalhar dentro das igrejas tradicionais", diz.

Especialistasites apostas bonusigrejas evangélicas, Mariano, da USP, chama essa "efervescência do conservadorismo" nas igrejassites apostas bonus"ativismo político evangélico".

"A insistência do ativismo evangélico é cada vez mais radical, com dezenassites apostas bonusprojetossites apostas bonuslei para combater a igualdadesites apostas bonusgênero, impedir que casais gays tenham os mesmos direitos civis, entre outros", avalia ele.

Crédito, José Barbosa

Legenda da foto, Evangélicos do movimento "Jesus Cura a Homofobia" na Parada Gaysites apostas bonusSão Paulo

"Uma das motivações centrais do ativismo político evangélico ésites apostas bonusordem moral, eles querem restaurar a ordem social e moralsites apostas bonusacordo com seus padrões tradicionalistassites apostas bonusmoralidade bíblica, que são diferentes dos cenários sociais modernos. É uma espéciesites apostas bonusreação conservadora à secularização jurídica", afirmou.

Mariano sublinha, porém, que há diferentes imagens a respeito do evangélico no imaginário do país.

"Tradicionalmente, o evangélico é pensado como alguém que não bebe, não fuma, tem um comportamento honesto", diz o professor da USP.

"Essa reputação do evangélico como aquele com um comportamento moral rigoroso é uma imagem muito forte que prevalece, mas destoa um poucosites apostas bonusoutra imagem pública deles, a do envolvimentosites apostas bonuslideranças evangélicas pentecostaissites apostas bonusescândalos", explica.

"Quando se olha para as autoridades evangélicas há uma imagem, e os fiéis têm outra."