Nas redes sociais, feministas evangélicas se unem contra duplo preconceito:blaze aposta cores
"No grupo, podemos discutir coisas que não conseguimos nem no meio feminista, por sermos cristãs, e nem no meio cristão, onde sofremos bastante rejeição."
Nos limites "seguros" da comunidade, elas falam sobre passagens da Bíblia que consideram machistas ou feministas, compartilham vídeos "problemáticos" das suas próprias igrejas, mas também exaltam pastores e padres considerados progressistas e tiram dúvidas sobre doutrinas religiosas.
Assuntos como masturbação, aborto, laicidade do Estado e homossexualidade também entram no debate – e provocam discordâncias.
"Acontece muitoblaze aposta coresas meninas entrarem no grupo, verem os posts e dizerem: 'aqui tem coisas sobre as quais eu sempre quis falar, mas nunca pude, porque nunca achei ninguém que estivesse disposto a falar comigo sobre isso', afirma Thayô.
<link type="page"><caption> Leia mais: Tom 'bélico'blaze aposta coresalguns líderes evangélicos cria clima propício à intolerância, diz pastor</caption><url href="http://vesser.net/noticias/2015/06/150622_entrevista_pastor_pai_jp.shtml" platform="highweb"/></link>
<link type="page"><caption> Leia mais: 'Jesus é amor': Que dizem os evangélicos que não irão boicotar o Boticário?</caption><url href="http://vesser.net/noticias/2015/06/150604_salasocial_oboticario_opinioes_evangelicos_rs.shtml" platform="highweb"/></link>
'Paciência'
Para Thayô, a maneira "não positiva" como evangélicas são confrontadasblaze aposta coresdiscussões sobre temas polêmicos nos grupos feministas – "mesmo com boas intenções" – pode afastá-las do debate. Isso acentua a rejeição que muitas sentem dentro das próprias comunidades religiosas.
"O mais frequente no grupo são meninas que não estão se encaixando (nas igrejas), mas não querem se afastar e deixarblaze aposta corespraticarblaze aposta coresfé", afirma. Ela mesma, que participava da Igreja Cristã Evangélica do Brasil, diz ser hoje uma cristã pós-denominacional – que não frequenta nenhuma denominação específica.
A dificuldadeblaze aposta coresconciliar os questionamentos feministas com as doutrinas religiosas também motivou as amigas Jordanna Castelo Branco,blaze aposta cores31 anos, e Guísela Araújo,blaze aposta cores36 anos, a buscarem denominações evangélicas mais inclusivas.
"Eu nasci na igreja Batista, cresci na Assembleiablaze aposta coresDeus, fui para a igreja Nova Vida e hoje soublaze aposta coresuma comunidade chamada Libertas, que é uma igreja mais alternativa dentro da igreja Presbiteriana", diz Jordanna.
"Desde adolescente, eu questionava o papel da mulher: por que tinha que ser criada para ser uma boa donablaze aposta corescasa se, na escolablaze aposta coresque eu estudava, homens serviam o almoço e o jantar? Por que eu não podia usar calças jeans na igreja, se eram muito mais confortáveis? Por volta dos meus 16 anos, havia muitas cobranças para que eu andasse maquiada e soubesse cozinhar. E o meu questionamento causava espanto."
Depoisblaze aposta coresum período afastada dos cultos, ela decidiu voltar e diz estar mais satisfeita com o diálogo dentro da nova comunidade. Mesmo assim, declarar-se feminista ainda foi um problema.
"Quando eu comeceiblaze aposta coresfato a me identificar como feminista e assumir isso, eu já estava na Libertas. Mesmo assim, foi uma confusão. Alguns começaram a debochar, as meninas me criticaram. Foram dois amigos homens da igreja, que são mais ligados a movimentos sociais, que me defenderam. E aí a discussão começou e, algum tempo depois, outras mulheres começaram a se assumir como feministas também", conta.
<link type="page"><caption> Leia mais: Sexoblaze aposta coresDeus é indefinido, defende grupo feminista anglicano</caption><url href="http://vesser.net/noticias/2015/06/150602_genero_deus_mdb.shtml" platform="highweb"/></link>
A fluminense Guísela Araújo assumiu-se como feminista após uma tragédia pessoal. Em 2010,blaze aposta coresirmã foi assassinada por um ex-namorado. Hoje, ela diz sentir que não encontra um lugar "nem dentro da igreja, nem fora". Mesmo assim, pretende continuar tentando.
"Estou buscando uma igreja, porque é difícil encontrar um espaçoblaze aposta coresque eu consiga atuar com liberdade, dentro das coisas que eu acredito. Nasci na Assembleiablaze aposta coresDeus, mas falarblaze aposta coresfeminismo lá é muito complicado. A igreja é onde eu quero estar porque acho que há muito a ser feito."
No entanto, ela diz que respostablaze aposta coresoutras feministasblaze aposta coresdebates sobre religião desestimula o ativismo. "Em várias discussões na internet mesmo, vejo que não dão muito valor ao meu discurso porque sou cristã. E nem acreditam que uma mulher possa fazer a escolha pelo cristianismo", afirma.
"Eu até entendo as mulheres evangélicas que torcem o nariz para o feminismo porque não conhecem. E acho que poderiam ter mais paciência e boa vontade com as feministas. Mas acho também que falta às feministas mais paciência e boa vontade com as religiosas. A tolerância é algo que a gente vai construindo."
<link type="page"><caption> Leia mais: Jovem niteroiense faz sucesso no YouTube quebrando tabus sobre corpo feminino</caption><url href="http://vesser.net/noticias/2015/06/150521_jout_jout_tabus_redes_salasocial_lab.shtml" platform="highweb"/></link>
'Feminista perfeita'
Segundo a cientista política Rayza Sarmento, da UFMG, os embates com a religiosidadeblaze aposta coresalgumas mulheres não significam que o feminismo é intolerante. "É um pouco natural que esses embates ocorram. A própria história do feminismo é lidar com as diferenças e com questões muito sensíveis", disse à BBC Brasil.
"Quando o feminismo surge como bandeira política, é marcado pela históriablaze aposta coresvida das mulheres brancas eblaze aposta coresclasse média. As líderes feministas negras, por exemplo, diziam que tinham dificuldadeblaze aposta coreslidar com os homens no movimento negro e com as brancas no movimento feminista."
"Mas isso não o torna o movimento mais frágil, pelo contrário. Essas diferenças o tornam um movimento muito potente, até porque desmistifica a ideiablaze aposta coresque todas as mulheres são iguais", conclui.
A publicitária carioca Luíse Bello,blaze aposta cores26 anos, no entanto, reclama do que diz ser "uma visão muito superficial sobre as igrejas evangélicas no Brasil"blaze aposta coresdebates dos quais participou.
"Na igreja que eu frequento desde criança nunca enfrentei nenhum problema por ser feminista. Tive muito mais problemas me assumindo evangélicablaze aposta coresalgumas ocasiões do que dizendo que sou feminista na igreja", afirma.
Para ela, a resistência aos evangélicos é mais forte "por causablaze aposta coresuma bancada conservadora no Congresso, porque muitas igrejas evangélicas estão na TV colocando seus discursos e pela maneira estereotipada" como são retratados pelos meiosblaze aposta corescomunicação.
"Frequento uma denominação com uma doutrina rígidablaze aposta coresalguns aspectos. Realmente, se a gente for pegar as coisas que são esperadas das mulheres segundo a doutrina, elas não se encaixam muito com algumas ideias do feminismo. Mas eu fazer parte da igreja não fazblaze aposta coresmim menos feminista", diz.
"Você diz que é evangélico e logo vem à cabeça a imagemblaze aposta coresalguém que é um tonto doutrinado e não consegue enxergar além do que o pastor fala. Isso me cansa muito. Eu soublaze aposta coresuma igreja que é completamente apolítica. Não podemos, pela doutrina, misturar Estado e religião. Isso as pessoas nem sabem que existe."
Grupos como o "Feministas cristãs", ela diz, ajudam a lidar com os dilemasblaze aposta coresquem tenta conciliar as duas posições.
"Eu não sou uma feminista perfeita. Eu também não sou uma cristã perfeita. Eu quero ser, estou me esforçando. Mas eu sou uma pessoa. Eu não tenho todas as respostas."