Vítimas das próprias armas: a trágica polêmica que divide policiais e fabricante:bot aviator realsbet

Fotomontagem com as pistolas proibidas pelo Exército

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Legenda da foto, A fabricação da pistola 24/7 (à dir.) foi proibida pelo Exército; o órgão também encontrou irregularidades na produção do modelo 840 (à esq.)

"Foi um tiro só", relataram os dois policiais que estavam ao ladobot aviator realsbetAlves quandobot aviator realsbetpistola Taurus PT 100 caiu do coldre preso ao seu colete e disparou sozinha. A bala atingiu a cabeça do policial, entre seus olhos. Ele morreu na hora, deixando dois filhos ebot aviator realsbetmulher.

Alves é um dos 55 casosbot aviator realsbetpoliciais brasileiros atingidos por disparos acidentaisbot aviator realsbetpistolas e metralhadorasbot aviator realsbettodo o país reunidos no site Vítimas da Taurus.

A intenção dos criadores do portal, que também estão entre as vítimas, é pressionar o Exército - regulador da produção no país - a proibir definitivamente a fabricação e o uso das armas feitas pela empresa.

Eles também pressionam pela aberturabot aviator realsbetuma Comissão Parlamentarbot aviator realsbetInquérito (CPI) no Congresso Nacional, exigem que a Taurus indenize as vítimas e pedem que o governo abra o mercado para que seja possível a importaçãobot aviator realsbetoutras marcas.

A Taurus, porbot aviator realsbetvez, negou à BBC Brasil que seja culpada pelos incidentes e afirmou ser vítimabot aviator realsbetuma "campanha" contrabot aviator realsbetreputação.

Ao ser questionada sobre o númerobot aviator realsbetacidentes, a empresa disse que os policiais tinham muita dificuldadebot aviator realsbetlidar com armas modernasbot aviator realsbetpronto emprego, como as pistolas da Taurus - a empresa diz acreditar que parte dos acidentes tenha sido causada por falhas dos próprios policiais.

Por outro lado, o governo estadual paulista decidiu proibir a comprabot aviator realsbetnovas Taurus durante dois anos.

A decisão, publicada no Diário Oficial na última semana, ocorreu após a Polícia Militar paulista produzir um laudo que apontou que 5.931 submetralhadoras modelo SMT 40, compradas por R$ 21 milhões, tinham defeitosbot aviator realsbetfábrica.

Submetralhadora STM 40 da fabricante brasileira Taurus

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Legenda da foto, Governobot aviator realsbetSP gastou R$ 21 milhões, mas nunca usou submetralhadoras da Taurus

Todas as armas estão guardadas há cinco anos e nunca chegaram a ir para as mãos dos policiais do Estado.

O governo afirmou à BBC Brasil,bot aviator realsbetnota, que os "laudos periciais atestam irregularidades nas armas fornecidas pela empresa" e que "os PMs paulistas participambot aviator realsbetrigoroso treinamento nas academiasbot aviator realsbetpolícia, com destaque para o método Giraldi, desenvolvidobot aviator realsbetSão Paulo e reconhecido internacionalmente".

A gestão disse ainda que está adotando as medidas previstasbot aviator realsbetcontrato e que vai esperar a conclusão do processo para definir se haverá substituição das armas ou devolução do dinheiro.

"O consultor jurídico da Taurus, Rabih Nasser, disse que "a Taurus não reconhece essa imagembot aviator realsbetque suas armas disparam sozinhas" e afirma que a empresa não pode se pronunciar sobre estudos e perícias nas quais não teve participação."

Pode disparar sozinha

Embora negue falha nas armas, o vice-presidente da Taurus, Salesio Nuhs, reconheceubot aviator realsbetentrevista à BBC Brasil que a empresa cometia errosbot aviator realsbetcomunicação e falhou no passado por não ter treinado os policiais para manusear suas armas.

Sóbot aviator realsbetagostobot aviator realsbet2016, a empresa assumiu que as pistolas podem disparar sozinhas ao cair no chão e incluiu a informaçãobot aviator realsbetseus manuaisbot aviator realsbetinstrução.

"Depois que a Companhia Brasileirabot aviator realsbetCartuchos (CBC) comprou a Taurus,bot aviator realsbetagosto do ano passado, a gente se aproximou dos policiais. Oferecemos treinamentos online e muitas informações sobre as armas para evitar acidentes. Também passamos a revisar todas as armas do Brasil inteiro sem custo", afirmou.

A Taurus é uma empresa brasileirabot aviator realsbetcapital aberto, fundadabot aviator realsbet1939 e comprada pela Companhia Brasileirabot aviator realsbetCartuchos (CBC)bot aviator realsbet2015. Ela tem três fábricas no Brasil e umabot aviator realsbetMiami, nos Estados Unidos - onde é a quarta maior fornecedorabot aviator realsbetarmamentos.

Em setembro deste ano, um policial morreu apósbot aviator realsbetarma disparar sozinha quando ele caiubot aviator realsbetuma moto no Riobot aviator realsbetJaneiro. O tiro acertoubot aviator realsbetperna e ele morreu no hospital após perda excessivabot aviator realsbetsangue.

Os criadores do site Vítimas da Taurus suspeitam que pode ter ocorrido uma falha da arma, mas não consideram esse caso por não terem certeza.

A página contabiliza apenas os "casos confirmadosbot aviator realsbetdefeito da pistola" - seus administradores afirmam que, durante a queda, uma blusa pode ter enroscado e acionado o gatilho, por exemplo.

Durante uma semana, a BBC Brasil conversou com maisbot aviator realsbet20 policiaisbot aviator realsbetdiversos Estados. Entre eles, sargentos, tenentes, coronéis e soldados da PM, alémbot aviator realsbetagentes federais e investigadores da Polícia Civil. Todos relataram insegurança ao usar as armas da Taurus e disseram que gostariambot aviator realsbetpoder escolher entre outras marcas.

Eles também relataram conhecer vítimasbot aviator realsbetdisparos involuntáriosbot aviator realsbetarmas da marca brasileira.

Redes sociais

Em páginas no Facebook ebot aviator realsbetdezenasbot aviator realsbetvídeos publicados no YouTube, há policiaisbot aviator realsbetdiversas regiões do país fazendo demonstraçõesbot aviator realsbetpistolas e metralhadoras da Taurus falhando.

Um dos vídeos, que também viralizoubot aviator realsbetgruposbot aviator realsbetWhatsAppbot aviator realsbetpoliciais militares, mostra uma pistola Taurus aparentemente disparando sozinha após ser chacoalhada, com o dedo fora do gatilho.

O vídeo já registrou maisbot aviator realsbet850 mil visualizações no Youtube.

Em outro vídeo publicado por policiaisbot aviator realsbetBrasília, uma submetralhadora regulada para disparar um tiro por vez parece fazer disparosbot aviator realsbetrajada. Outra arma do mesmo modelo também foi filmada, segundo os autores do registro, dando uma sequênciabot aviator realsbettiros logo após um policial apenas encaixar um pente carregado com munição.

Reproduçãobot aviator realsbetvído que viralizou

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Legenda da foto, Vídeos publicados na internet mostram armas da Taurus aparentemente disparando sozinhas

Em outra filmagem feita por policiais do Piauí, uma carabina da fabricante dispara,bot aviator realsbetacordo com eles, mesmo estando travada.

O vice-presidente da Taurus afirmou que não comentaria a morte do policial no Maranhão, caso que abre esta reportagem, porque o laudo ainda não ficou pronto. Em relação aos vídeos, ele voltou a dizer que nenhum laudo comprovou falhas nas armas.

Ao comentar o fatobot aviator realsbeta empresa ser alvobot aviator realsbet40 ações na Justiça por disparos involuntários, Nuhs disse que a Taurus não é culpada pelos acidentes e ressaltou que a empresa nunca foi condenada.

"Produzimos 160 mil pistolas modelo 24/7, e nenhum laudo diz que elas são defeituosas. As evidências técnicas feitas não validam a tesebot aviator realsbetque a Taurus é culpada por esses disparos. Existe uma campanha contra a Taurus."

Um dos motivos que leva a Taurus a ser a maior fornecedorabot aviator realsbetarmas no Brasil é uma portaria do Exército prevendo a preferênciabot aviator realsbetcomprabot aviator realsbetarmamentos nacionais quando houver similares aos importados.

Esse é o caso das pistolas .40 - que incluem os criticados modelos 24/7, PT 100 e 840, fabricados pela Taurus - usadas por quase todos os policiais do país.

Não há informaçãobot aviator realsbetquantas dessas armas suspeitasbot aviator realsbetfalhas estejam nas mãosbot aviator realsbetpoliciais e empresasbot aviator realsbetsegurançabot aviator realsbettodo o país. Mas governosbot aviator realsbetalguns Estados e o Exército já começaram a se mobilizar para barrar a produção dessas armas e pararbot aviator realsbetcomprar armamentos da fabricante brasileira.

Proibição e boicote

Após uma sériebot aviator realsbetdenúncias e ações judiciais movidas contra a Taurus, o Exército decidiu investigar a produção dessas armas.

Durante uma inspeção à fábrica da empresa, o órgão encontrou irregularidades na produçãobot aviator realsbetdois modelos e decidiu suspender a venda e fabricação da pistola 24/7*.

Em ofício enviado ao governo do Paraná, o Exército diz que foram detectadas alterações na trava do gatilho, o que "demonstra a existênciabot aviator realsbetindíciosbot aviator realsbetviolaçãobot aviator realsbetcompromisso assumidobot aviator realsbetnão modificar produto com produção já autorizada".

O documento, assinado pelo general Guilherme Cals Theophilo Gasparbot aviator realsbetOliveira, ainda afirma que a Taurus não tem uma gestão "que busque conhecer as necessidades do cliente e seu graubot aviator realsbetsatisfação, bem como que oriente e forneça serviçosbot aviator realsbetmanutenção preditiva, preventiva ou corretiva".

A empresa afirmou à BBC Brasil que o laudo do Exército não tem efeito prático porque o modelo já tinha sido paradobot aviator realsbetser fabricadobot aviator realsbetdezembrobot aviator realsbet2015. O estoque que restou foi lacrado e apreendido para ser fiscalizado pelo órgão.

Depois desse ofício, o governo paranaense foi autorizado a abrir uma licitação para importar 865 pistolas da marca austríaca Glock - que domina 65% do mercado americano - e entregar aos policiais do Estado.

O governo argumenta que a Glock tem preço inferior e qualidade superior às armas fornecidas pela Taurus.

Texto publicado no Diário Oficial do Estadobot aviator realsbetSão Paulo proíbe a comprabot aviator realsbetarmas da Taurus por dois anos

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Legenda da foto, Governo paulista decidiu interromper licitaçõesbot aviator realsbetarmas da Taurus após laudos que apontaram defeitosbot aviator realsbetfábrica

O governobot aviator realsbetSão Paulo seguiu o mesmo caminho e decidiu suspender por dois anos a comprabot aviator realsbetarmas da Taurus após o resultadobot aviator realsbetum laudo apontar defeitosbot aviator realsbetfábricabot aviator realsbetquase 6 mil submetralhadoras, compradas por R$ 21 milhões.

A Secretaria da Segurança Públicabot aviator realsbetSão Paulo informou que "a sanção imposta à Taurus foi motivada pelo não cumprimento das cláusulas contratuais pela empresa, como especificações técnicas e garantia do armamento fornecido".

A BBC Brasil apurou que há outros Estados se mobilizando para também deixarbot aviator realsbetadquirir produtos da marca.

O vice-presidente da empresa afirmou que "existe um interesse por trás disso".

"Pergunta se eles estão tentando importar Glock, esses três Estados. A resposta é essa. Existe um interesse por trás disso tudo. É exatamente isso", disse.

Omissões

Agentesbot aviator realsbetsegurança e comandantes policiais ouvidos pela BBC Brasil afirmaram que os incidentes podem ser mais numerosos que os relatados.

Segundo eles, muitos policiais chegam a omitir casosbot aviator realsbetdisparo acidental no pé, por exemplo, para não se tornar alvobot aviator realsbetchacota dentro da corporação.

Esse é o caso do major e subcomandante do centrobot aviator realsbetinstrução e tiro da PMbot aviator realsbetGoiás, Eduardo Bruno Alves. Há nove anos, ele foi atingido porbot aviator realsbetprópria pistola Taurus 24/7 após ela cair no chão e disparar sozinha. O tiro acertou seu braço direito, cruzou seu peito e saiu pelas costas.

"Eu virei alvobot aviator realsbetpiadas porque ninguém acreditava que a arma pudesse realmente disparar. Fui taxado como idiota. Hoje, a informação está muito difundida e os policiais não têm mais dúvidasbot aviator realsbetque isso acontece pela quantidadebot aviator realsbetvídeos reais provando que a arma falha", afirmou.

Policial manuseia submetralhadora SMT 40 da Taurus

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Legenda da foto, Em teste publicado no YouTube, policial mostra arma semelhante à comprada pela PMbot aviator realsbetSP aparentemente destravando sozinha

Alves perdeu parte dos movimentos da mão, alémbot aviator realsbetforça e capacidade pulmonar, mas continua ensinando os policiaisbot aviator realsbetGoiás a atirar. "Mas sem Taurus. Agora, eu só uso Imbel (produzida pelo Exército)", afirmou.

O major afirma que os governos evitam comprar armas Imbel, também fabricadas no Brasil, porque são mais pesadas e difíceisbot aviator realsbetmanusear. Alves também criou a página 1911, que possui maisbot aviator realsbet400 mil seguidores no Facebook e se tornou uma referênciabot aviator realsbetinformações sobre armas.

CPI

Atingido por um disparo na perna direita apósbot aviator realsbetarma atirar sozinha ao cair no chãobot aviator realsbet2013, o tenente Alexandre Castro, da Polícia Militarbot aviator realsbetGoiás, briga pela aberturabot aviator realsbetuma CPI no Congresso Nacional para apurar os incidentes.

Castro já fez oito cirurgias e está afastado das ruas desde o acidente.

"Já colhemos a assinaturabot aviator realsbet202 deputados e queremos que ela (a CPI) seja abertabot aviator realsbetfevereiro", afirmou ele. "Vamos punir a Taurus por esses crimes."

Deputado Major Olímpio com criadores do portal que relata disparos acidentais no Brasil

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Legenda da foto, Membros do site Vítimas da Taurus conseguiram reunir assinaturas necessárias para aberturabot aviator realsbetCPI

O presidente da Associação Nacionalbot aviator realsbetPraças, Elissandro Lotinbot aviator realsbetSouza, também defende a CPI.

"Não concordo com monopóliobot aviator realsbettipo algum e temos gestionado visando a essa quebra. Esse monopólio ainda obriga as polícias a comprar armas que matam eles mesmos e os deixam com problemas graves", disse,bot aviator realsbetreferência ao fatobot aviator realsbeta Taurus ser a maior fabricante e distribuidorabot aviator realsbetarmas do país.

*Anteriormente, a BBC Brasil havia informado que o Exército também havia interrompido a produção da pistola 840. A informação foi corrigida no texto.