'Torturei minha 'garotinha' durante anos': o relato viralapp bwinuma mãe sobre aceitar o filho transgênero:app bwin

Crédito, José Bernardo Oliveira

Legenda da foto, Norma Coeli publicou post emocionado no Facebook sobre como enfrentou próprio preconceito para aceitar José Bernardo

"Sempre soube que meu filho não era uma menininha. Mas escondi issoapp bwinmim mesma o quanto pude", conta Normaapp bwinentrevista por telefone à BBC Brasil.

"Na verdade, eu apenas torturei minha "garotinha" por anos a fio! Essa é a mais pura verdade", acrescenta.

Em um post emocionado publicado emapp bwinpágina pessoal no Facebook na quarta-feira passada, Norma desabafou sobre como enfrentou o próprio preconceito para aceitar o filho. O relato, que veio acompanhadoapp bwinuma foto da carteiraapp bwinidentidade socialapp bwinJosé Bernardo, rapidamente viralizou nas redes sociais, com milharesapp bwincurtidas e compartilhamentos.

"Foi libertador para nós dois. Sempre fui seu ombro amigo. Ouvia suas angústias e seus problemas. Mas eu tinha medo do que podia acontecer com ele. E talvez isso explique por que eu custava tanto a aceitar que meu filho era diferente dos outros", assinala.

"Meu ex-marido (Norma separou-se há três anos depoisapp bwinpermanecer quase duas décadas casada) e o irmão dele, mais velho, também o apoiaram bastante. Somos bastante unidos e uma família feliz. Aqui não existe preconceito", acrescenta.

No post, Norma discorre sobre a "tortura" contra o filho.

"Muitos lacinhos, babados, bonecas e afins! Depois aulasapp bwinbalé pra aprender a ser "mocinha"... Daí vieram as sapatilhas, frufrus e o lindo mundo cor-de-rosa!!!", escreveu.

"E, por alguns anos, eu também acreditei no meu próprio "mundinho mágico" e achei que tudo era imaginação bobaapp bwinmãe. Mas não era", acrescentou.

Crédito, Norma Coeli

Legenda da foto, Postapp bwinNorma viralizou no Facebook

Repercussão

Norma conta ter decidido escrever o post sobre José Bernardo ─ que escolheu o nomeapp bwinhomenagem ao avô ─ para "informar" a família.

"Mas a repercussão foi muito maior do que imaginava. Foi um alívio e um susto. Mas, para além das curtidas e compartilhamentos, o mais importante foi que o post me propiciou ter contato com centenasapp bwinpessoas que passam por uma situação semelhante", avalia.

"Há vários Josés Bernardos no Brasil. Infelizmente, nem todos são aceitos como eu aceitei meu filho. Fiquei muito comovida ao receber tantos relatosapp bwinhomossexuais e transgêneros que me confidenciaram que não têm o apoio da família. Um sofrimento sem fim", lamenta.

Contudo, a reação não foi unicamente positiva. Houve quem criticasse Norma e o filho, com mensagensapp bwinódio e preconceito.

Em muitos casos, a não-aceitação terminaapp bwinviolência. Segundo dados da ONG Transgender Europe, o Brasil é o país que mais mata travestis e transgêneros no mundo, seguido do México, Colômbia, Venezuela e Honduras.

Crédito, José Bernardo Oliveira

Legenda da foto, José Bernardo tem carteiraapp bwinidentidade social emitida pelo Estado do Pará

De 1ºapp bwinjaneiroapp bwin2008 a 31app bwindezembroapp bwin2015, foram 802 mortesapp bwintodo o território nacional. No mesmo período, 2.016 transgêneros foram mortosapp bwin65 países do mundo.

"Felizmente, nunca fui agredido, apesarapp bwinjá ter recebido olhares estranhos na rua e ouvido comentários negativos a meu respeito", diz José Bernardo à BBC Brasil.

Diante do alto númeroapp bwincasosapp bwinviolência, uma medidaapp bwinvigorapp bwinalguns Estados brasileiros vem sendo louvada como importante ferramenta no combate ao preconceito.

Desde 2014, o Pará é uma das unidades da Federação que permite a emissãoapp bwinidentidade social a travestis e transsexuais. Ao todo, já foram entregues 270 documentos, principalmenteapp bwinBelém, segundo o governo.

"Para mim, foi libertador. É como se eu pudesse responder por alguém que eu sempre fui", acrescenta José Bernardo.

Crédito, Luis Barrucho

Legenda da foto, Post foi removido após denúncia e, posteriormente, voltou ao ar

'Fora do ar'

Em meio à tamanha repercussão positiva, Norma foi surpreendida com a retirada do post do ar dias depoisapp bwinpublicá-lo. Ela chegou a repostá-lo, mas o conteúdo novamente foi apagado.

Procurado pela BBC Brasil, o Facebook afirmou que "manter a segurança das pessoas é a maior responsabilidade" da rede social.

"Manter a segurança das pessoas é a maior responsabilidade do Facebook, e por isso desenvolvemos Padrõesapp bwinComunidade que determinam o que é permitido ou não na nossa plataforma, incluindo a garantiaapp bwinidentidades autênticas e restringindo a publicaçãoapp bwininformações pessoais sem consentimento", informou o Facebook,app bwincomunicado enviado à BBC Brasil.

Segundo as regrasapp bwincomunidade do Facebook, nenhum conteúdo é removido "proativamente" e, quando isso ocorre, resultaapp bwinuma denúncia.

Os postsapp bwinNorma teriam violado as regrasapp bwincomunidade da rede social por causa da foto da carteiraapp bwinidentidade socialapp bwinJosé Bernardo, na qual seus detalhes pessoais aparecem visíveis.

Os relatos já foram republicados.

Norma diz acreditar que a denúncia tenha partidoapp bwinalgum "homofóbico ou transfóbico".

"Infelizmente, ainda há muito preconceito no Brasil. Espero que meu relato não gere tamanha comoção e seja encarado apenas pelo que é: uma mensagemapp bwinamorapp bwinuma mãe para seu filho", conclui.