'Como passei 21 dias na prisão por causabetpix365 loginum documento roubado':betpix365 login

Gabriel Araújo

Crédito, W. Franco

Legenda da foto, O mestrebetpix365 loginobras Gabriel Araújo foi preso por duas vezes por crimes que diz não ter cometido

betpix365 login A aparente negligênciabetpix365 loginAraújo diante do extravio cobrou seu preço: o mestrebetpix365 loginobras foi presobetpix365 login14betpix365 loginsetembro, por ordem da 9ª Vara Criminalbetpix365 loginBelo Horizonte (MG), a maisbetpix365 login900 kmbetpix365 loginsua casa.

betpix365 login Após conseguir provar que não era o criminoso procurado, deixou a Casabetpix365 loginPrisão Provisóriabetpix365 loginAparecidabetpix365 loginGoiânia (GO) no último 4betpix365 loginoutubro, descalço e com a mesma roupa que entrara.

betpix365 login Moradorbetpix365 loginTrindade, na região metropolitanabetpix365 loginGoiânia, ele diz ter feito promessa para esquecer o período na cadeia. "Nunca imaginei na minha vida ficar preso, porque eu nunca fiz maldade para ninguém."

betpix365 login Antesbetpix365 logincumprir a promessa, relatou à BBC Brasil como foi a experiência na prisão - e o pesadelo aindabetpix365 logincurso, pois ainda precisa provar definitivamentebetpix365 logininocênciabetpix365 loginpelo menos quatro processos. Confira o relato:

"Mexo com construção desde que me entendo por gente. Tenho 38 anos, comecei a trabalhar com 17 anos e há 20 anos sou mestrebetpix365 loginobras.

Fui roubado numa obra,betpix365 loginabrilbetpix365 login1999. A gente trocavabetpix365 loginroupa no almoxarifado e deixava tudo dependurado. Três funcionários deixaram as carteiras no bolso e foram roubados. Tinha habilitação e identidade [na carteira]. Nem fiz a ocorrência.

Em 2009, estava indo para o Alphaville (condomíniobetpix365 loginGoiânia), umas 8h. Um guarda me abordou e pediu a habilitação da moto.

Os guardas só aparecerambetpix365 loginnovo após uns 40 minutos. De repente apareceram cinco viaturas para me prender, atravessando canteiros, coisabetpix365 logincinema.

Começaram a me agredir. Chorei e disse: 'moço, nunca fiz nada'. E eles dando tapas, me empurrando numa telabetpix365 loginparque. Passantes batiam continência para os soldados: 'Parabéns, prendeu mais um bandido'.

Levaram-me ao 8º DP (Distrito Policial), perto do (estádio) Serra Dourada. Quando puxaram os processos, saiu a foto do cara (que usa o documento dele). Começaram a maneirar comigo.

Gabriel Araújo

Crédito, W. Franco

Legenda da foto, Gabriel Araújo com seus documentos atuais: descaso e negligênciabetpix365 loginadvogados com extravio motivaram problemas graves na Justiça

Jogaram-me na viatura, fui ao IML (Instituto Médico Legal) fazer examebetpix365 logincorpobetpix365 logindelito, fiz examebetpix365 logindigitais. Às 16h30 me liberaram: pelas digitais perceberam que eu não era o cara.

Segunda prisão

No mês passado fui ao Alphaville buscar um projeto para fazer orçamento. Voltando, fui parado às 9h30 numa barreira policial. Puxaram minha ficha no computador: estava lá o mandadobetpix365 loginprisão.

Colocaram-me no carro e me algemaram. De dentro do carro liguei para minha mulher buscar a moto que havia ficado na barreira. Quando ela chegou, eu tinha acabadobetpix365 loginentrar na viatura para ser preso. Imaginei que seria igual da outra vez, porque nunca fiz maldade para ninguém.

Fui ao IML, à Polícia Civil. Tiraram duas fotos minhas, mas não fizeram a verificação das digitais como da outra vez. Do IML fui para a Deic (Delegaciabetpix365 loginInvestigações Criminais).

O policial chegou com meu mandadobetpix365 loginprisão, entregou ao delegado e já me desceram (para triagem, na Casabetpix365 loginPrisão Provisóriabetpix365 loginAparecidabetpix365 loginGoiânia).

Presobetpix365 loginqualquer lugar vai para triagem. De onde é meu processo? (Minas Gerais) Eu só sairia da triagem para ir para Minas.

Meu tênis ficou na triagem. Agentes da triagem cortaram minha calça como bermuda, porque não pode entrarbetpix365 logincalça na cela. É lei do presídio. Fui descalço.

Foi o 'trem' mais triste da minha vida. Dormi num 'corró', uma celinha que divide os presos para cada ala que irão. Todos que chegam vão para essa celinha. São duas alas no presídio, A e B. Cada ala tem dez celas e uma cela especial para quem não convive com outros presos.

Cheguei lá umas 15h, havia umas 30 pessoas. À noite já eram 60. Passei a noitebetpix365 loginpé, num espaçobetpix365 login9 m². Esse cômodo tinha um banheiro, um tanquezinho que virava a torneira onde o povo tomava banho.

Regras e rotina

No dia seguinte fui para a ala B, numa celabetpix365 login16 m², com 30 a 33 pessoas. Tinha seis 'jegas' - jega é cama. Havia colchonetes, um banheiro para banho, um para as necessidades e uma pia.

Gabriel Araújo e família

Crédito, W. Franco

Legenda da foto, Gabriel com a mulher e filhas

Dormia umbetpix365 logincada cama, e o resto no chão. Era feito um rodízio, e os mais velhos iam subindo (para as camas). Passei os 21 dias no chão,betpix365 loginum colchonete fininho.

Quando cheguei o chefe da cela desceu e passou as coordenadas. Tem que fazer isso, aquilo.

Primeira coisa: tem que tomar banho. O mínimo por dia eram cinco. Mas tomava seis, sete por dia. Era só um cano com água fria. O banheiro era uma privada assentada no chão. Tinha uma cortinabetpix365 loginpano e um tanque entre o banheiro e o banho.

Lá é lei: se fizer cocô tem que tomar banho. São asseados ao extremo. Única coisa que presta é o asseio. Se o governo tivesse uma comida digna e colocasse menos pessoas na cela, recuperava muita gente. Mas como são muitos e a comida é ruim, o pessoal fica revoltado.

Tinha horário para banho, horário para levantar. Não sabia as horas, fazia só uma base. Às 6h tinha que levantar o pessoal que estava no chão, lavar a cela.

O café era às 8h. Misturavam leite com café 'aguado' e pão sem manteiga. Eram duas horasbetpix365 loginbanhobetpix365 loginsol, sem horário específico. Ficava todo mundo lá misturado.

O almoço erabetpix365 login11h às 13h. Não tinha hora certa. Era arroz, feijão e dois pedacinhosbetpix365 logincarne. Chegava quente, mas teve marmita azeda também. A janta era a mesma coisa: um lixo, nem cachorro come.

Eu falava (que era inocente), mas ninguém entendia. Caí lá dentro, sou ladrão como eles, diziam. E qualquer preso diz ser inocente. Pode estar ele filmado lá na câmera que fala que não é ele.

Me dava com todo mundo, mas ficava na minha, calado,betpix365 logincabeça baixa, sempre chorando, com saudade da família. Nem reparava nos outros.

Quinta-feira tinha visita e 'Cobal' (alimentos levados por visitantes). Dividi alimentos para não arrumar inimizade com ninguém.

Medo e liberdade

Fiquei mais isolado mesmo. Ficava com medo. Medobetpix365 loginnão ver mais minha família. De sair mortobetpix365 loginlá. Só Deus e quem vive isso sabe o que é uma cadeia. (Ele diz que não chegaram a ameaçá-lo e que não presenciou nenhuma situaçãobetpix365 logintensão).

Gabriel Araújo

Crédito, W. Franco

Legenda da foto, 'Só Deus e quem vive isso sabe o que é uma cadeia', afirma mestrebetpix365 loginobras

Lá tem caneta e os presos faziam um calendário do mêsbetpix365 loginum papel na parede. Um dia lá é uma eternidade. Tinha uma janela grande que dava para ver (a luz do dia). Não tinha nada para fazer.

(Após o advogadobetpix365 loginAraújo conseguir provar diferenças entre ele e o homem procurado, como o nome da mãe na identidade, profissão diferente e fotografia no sistemabetpix365 loginbuscas, a prisão do mestrebetpix365 loginobras foi revogada.)

Na saída da prisão vi minha família. Saí descalço porque quis doar os chinelos para os meninos lá. Não tenho palavras para descrever a alegria.

Tenho duas filhas, umabetpix365 loginoito e outrabetpix365 loginseis anos, Rafaela e Júlia. A mãe não escondeu nadinha delas.

Sinto-me meio fracassado, com uma Justiça cega dessa. Na primeira vez provei que (o procurado) não era eu. Agora outro mandadobetpix365 loginprisão igual. A lei é cega. Não nos ouvem mais. Se parassem um pouquinho para investigar...

Só com advogado já gastei R$ 25 mil. Foram R$ 8 mil antes, mais R$ 25 mil agora para provar minha inocência, fora (gastos)betpix365 loginSedex, telefone, gasolina. E os prejuízos da minha obra, que tive que parar. São três obras que ficaram paradas.

Agora o advogado irá checar se é preciso fazer esse reconhecimentobetpix365 loginBelo Horizonte e aí entrar com processo para mudar meu nome, tirar um sobrenome e colocar outro - acho que vou acrescentar o da minha esposa. Quero ver se tem como entrar contra o Estadobetpix365 loginMinas e obetpix365 loginGoiás (pedidobetpix365 loginindenização por danos morais).

Parece que estou aprendendo a viverbetpix365 loginnovo. Aquela cela não sai da minha cabeça, a angústia que vivi lá dentro, só tristeza. Estou tomando remédio para dormir, porque não dormia lá.

Peguei infecçãobetpix365 logingarganta desde o diabetpix365 loginque entrei, não sarou. Gripe era umabetpix365 logincima da outra, imunidade baixa. O povo quase morria lá precisandobetpix365 loginmédico e não atendiam.

Agora quero finalizar os processos. Farei o que tiver que fazer para não ser presobetpix365 loginnovo."