Volta pós-impeachment: Lugo é favorito para vencer eleição no Paraguai1xbetbr2018:1xbetbr
"A política não é racional. Não valem os argumentos. Tudo que nós fizemos como argumentação, resposta e defesa, não vale. O que dizem 23 (senadores - votos necessários para aprovar o impeachment no Paraguai) se faz. Acredito que algo similar ocorreu com Dilma. Na América Latina, a irracionalidade sobressai", afirmou.
Sua candidatura é defendida pela Frente Guasú - uma aliança1xbetbrpartidos1xbetbresquerda - e por movimentos sociais, campesinos e estudantis. Eles apostam na mobilização popular para vencer a disputa jurídica. Alguns dizem que um eventual impedimento da candidatura pode desencadear conflitos no país.
Para Lugo, o apoio que tem hoje é "sentimental, não racional".
"Em junho1xbetbr2012, quiseram enterrar um modelo (político) e uma pessoa. Hoje, porém, há um grande reconhecimento, afeto e carinho da população sobre o que foi o governo1xbetbr2008 a 2012", continuou o ex-presidente.
A popularidade do senador é realçada pela baixa aprovação do atual governo1xbetbrHoracio Cartes, rico empresário eleito pelo tradicional Partido Colorado que também almeja mais cinco anos como presidente.
Embora a economia paraguaia siga crescendo, descolada da crise dos vizinhos, continua alta a desigualdade social. A pobreza, pior no interior, salta aos olhos também1xbetbrAssunção - as ruas são em1xbetbrmaioria esburacadas, sujas, e apenas a duas quadras do palácio presidencial há uma favela, la Chacarita.
"Estamos convocando uma grande assembleia para poder desenhar um país que seja1xbetbrtodos e1xbetbrtodas e não1xbetbrgrupos privilegiados que excluem, como foi feito historicamente e como se está fazendo nesse momento", crítica Lugo.
Em seu modesto gabinete, ele fala rodeado por uma Bíblia, um mapa do Paraguai, e um quadro1xbetbrJosé Gaspar Francia, líder da independência que governou ditatorialmente1xbetbr1814 a 1840.
Questionado sobre a possibilidade1xbetbrvoltar a governar num momento1xbetbrfortalecimento da direita1xbetbrpaíses como Brasil e Argentina, Lugo desconversa.
"Lula vai voltar (em 2018). Cristina (Kirchner, ex-presidente argentina) vai voltar. É jovencita".
"Aprendi muito"
A eleição1xbetbrLugo1xbetbr2008 rompeu com seis décadas1xbetbrhegemonia do Partido Colorado, que comandava o país desde 1947.
Eleito com o apoio1xbetbroutra força política tradicional, o Partido Liberal, acabou perdendo os aliados,1xbetbrmeio a discordâncias sobre os rumos do governo.
Após as mortes1xbetbr16 pessoas, entre camponeses e policiais, durante ação1xbetbrdespejo1xbetbrtrabalhadores sem terra1xbetbruma propriedade no interior do país, Lugo foi responsabilizado pelo conflito e cassado pelo Congresso,1xbetbrum processo que durou menos1xbetbr48 horas.
A duração bem maior do julgamento1xbetbrDilma Rousseff, que levou meses e resultou na cassação definitiva no final1xbetbragosto, é constantemente citada pelos apoiadores1xbetbrLugo para reforçar a suposta ilegalidade1xbetbrsua destituição. Para esses aliados, o chamado "massacre1xbetbrCuruguaty" foi armado para viabilizar um "golpe parlamentar".
Assim como no caso1xbetbrDilma, a falta1xbetbrhabilidade política do ex-bispo também é apontada como um dos motivos1xbetbrsua queda.
"Ele se comunicava muito bem com as pessoas comuns, mas não sentava para negociar com políticos. Sempre criticava a classe política, como se fosse um sacerdote falando1xbetbrum púlpito1xbetbrigreja", observa Fernando Masi, sociólogo do Cadep (Centro1xbetbrAnálisis y Difusión1xbetbrla Economía Paraguaya).
À BBC Brasil, Lugo disse ter "aprendido muito" com o impeachment, e que agora trabalha1xbetbruma aliança para "garantir um governo mais duradouro".
Lugo x Cartes
A alta popularidade1xbetbrLugo contrasta com a alta rejeição do atual presidente.
Pesquisa divulgada1xbetbragosto pelo jornal paraguaio "Ultima Hora" sobre a eleição1xbetbrde abril1xbetbr2018 mostrava o ex-bispo disparado na frente dos demais potenciais concorrentes, com 40%1xbetbrintenções1xbetbrvoto1xbetbrAssunção e 50% nas outras principais cidades do país. Já Cartes tinha menos1xbetbr10%. No Paraguai, a disputa se encerra1xbetbrapenas um turno.
Outro levantamento recente mostrou que mais1xbetbr70% dos entrevistados avaliam o governo atual como ruim ou péssimo.
Para a senadora do Partido Colorado Blanca Ovelar, o próprio processo1xbetbrimpeachment fortalece o ex-bispo.
"Lugo mostrou1xbetbrhumildade, aceitou1xbetbrdestituição, se retirou do palácio com sandálias. Fica a ideia1xbetbrum presidente vitimizado pelo julgamento político", acredita.
Ovelar, que foi a candidata colorada contra Lugo1xbetbr2008, apoiou a eleição1xbetbrCartes1xbetbr2013, mas hoje faz parte da dissidência a ele dentro do partido.
Na1xbetbropinião, embora Cartes discurse pela redução da pobreza, não faz o suficiente na prática. Um dos limitadores para a expansão dos gastos sociais é a baixa carga tributária do país,1xbetbrmenos1xbetbr13% do PIB. Apesar disso, o presidente se opõe a elevar impostos sobre a exportação1xbetbrsoja, setor quase isento atualmente (Paraguai é o quarto maior exportador mundial).
"No imaginário coletivo, se instalou que Lugo se importa com os pobres e que Horacio (Cartes) não. Isso está instalado", resume Ovelar.
Dados do Ministério da Fazenda paraguaio mostram que os gastos sociais do país saltaram no governo Lugo,1xbetbr7,7% do PIB1xbetbr2008 para 11,7%1xbetbr2012, e recuaram1xbetbrseguida (11,2%1xbetbr2014, dado mais recente). Segue sendo uma das taxas mais baixas da América do Sul.
O ex-bispo, que se beneficiou da alta da arrecadação1xbetbrum momento1xbetbrvalorização das commodities exportadas, ampliou significativamente transferências1xbetbrrenda do Tekoporã (Bolsa Família do Paraguai) e despesas com saúde.
Aliado1xbetbrCartes, o senador do Partido Colorado Victor Bogado minimiza o valor das consultas1xbetbropinião, lembrando o recente resultado do plebiscito sobre o acordo1xbetbrPaz na Colômbia, que contrariou as pesquisas. Ele diz que o governo é marcado pela transparência e obras1xbetbrinfraestrutua.
O sociólogo Fernando Masi reconhece avanços nessas áreas, mas diz que estão aquém do que diz o "marketing político", gerando insatisfação na população.
Outra crítica comum ao atual presidente é1xbetbrque usaria seu dinheiro para comprar apoio político e que governaria1xbetbrforma autoritária. Apesar1xbetbrcomandar o país, mantém ativos os negócios, tendo adquirido nos últimos anos meios1xbetbrcomunicação e empresas1xbetbroutros setores, como hotéis.
"Assim como Lugo, Cartes não tem bom diálogo com os políticos. A diferença é que também não tem carisma. Ele não conversa com os ministros, mas ordena como um patrão", nota Masi.
A BBC Brasil procurou a assessoria do governo Cartes para que pudesse responder às críticas, mas não obteve retorno.
"Naturalmente, quando você é uma liderança política forte, gera também uma oposição forte. O dinheiro é importante, mas não é determinante na política", rebateu o aliado Bogado.
Reeleição é possível?
A Constituição paraguaia prevê que o presidente e seu vice "não poderão ser reeleitos1xbetbrnenhum caso".
A interpretação que tem predominado é que a proibição atinge ex-presidentes. Aliados1xbetbrLugo argumentam que a leitura literal do artigo não fala1xbetbrex-mandatários.
O plano é inscrever1xbetbrcandidatura e depois enfrentar na Justiça Eleitoral e na Corte Suprema os questionamentos1xbetbropositores.
O senador Carlos Filizzola, da Frente Guasú, diz que, quando Lugo foi deposto, optou por não resistir, temendo conflitos. Ele acredita que agora a situação pode ser outra se a candidatura for impedida.
"Vai ser muito difícil barrar uma candidatura que está crescendo. Creio que dessa vez, com o apoio que tem, as pessoas vão sair às ruas para protestar. Pode haver um conflito grave", disse à BBC Brasil.
Horacio Cartes também quer se candidatar e vem tentando convencer o Congresso a alterar a Constituição, permitindo a reeleição. Lugo, porém, tem se oposto à proposta, argumentando que a mudança só poderia ser feita com a convocação1xbetbruma Assembleia Constituinte pelo próximo presidente,1xbetbr2019.
"Tenho certeza absoluta, Lugo não será candidato se não tiver a emenda (constitucional). Ele não poderá nem inscrever a candidatura", diz Bogado.
Questionado se acredita ser possível que o ex-bispo seja autorizado a concorrer, o sociólogo Fernando Masi ri e responde: "Tudo é possível no Paraguai".
Ele ressaltou, no entanto, que o Judiciário do país está sujeito a muitas pressões: "A Justiça não é independente no Paraguai. Está muito ao arbítrio do que dizem os políticos mais fortes e os poderes econômicos".
À BBC Brasil, Lugo disse que respeitará a decisão da Justiça.