Saúde precária nas cidades sem acesso rodoviário no Amazonas desafia próximos prefeitos:slot flamingo
Mas como são as cidades amazônicas sem acesso por rodovias?
Apesar da pouca atenção que recebem, esses municípios somam 43 dos 62 do Estado, com população totalslot flamingomaisslot flamingo1 milhãoslot flamingopessoas. Dessas, 641 mil estão nas cidades e 488 mil na zona rural. O transporte é essencialmente fluvial e as viagens, normalmente longas.
Cidades remotas
Ipixuna é uma das cidades mais remotas do Amazonas e do Brasil. Situada no Rio Juruá, fica a 2,8 mil kmslot flamingobarco da capital.
Balsas que transportam itensslot flamingoconsumo básicos, como gás, combustível e mesmo alimentos não perecíveis para a merenda escolar, podem levar maisslot flamingoum mês entre Ipixuna e Manaus, durante o períodoslot flamingoseca dos rios.
Ipixuna, como a maioria das cidades amazônicas sem acesso rodoviário, é extremamente pobre e desigual. O Índiceslot flamingoDesenvolvimento Humano (IDH) do município está muito abaixo da média nacional, equiparável aoslot flamingopaíses africanos como Uganda, que ocupa a 165ª posição no mundo.
Como agravante, esses municípios têm enfrentado, nos últimos anos, choques climáticos - variações cada vez mais frequentes e severas dos níveis dos rios. Essas mudanças têm superado a capacidadeslot flamingoadaptação a essas variações naturais.
Caapiranga - outro município sem acesso rodoviário, mas bem mais próximo à capital -, enfrentouslot flamingomaior cheia eslot flamingomaior secaslot flamingo2015, segundo os moradores. A enchente cobriu boa parte da área urbanaslot flamingomaio. Durante a seca,slot flamingooutubro, já era impossível chegar ao porto da cidade.
Nesta semana o Juruá, principal rio que abastece Ipixuna, atingiuslot flamingocota mais baixa já registrada.
Florestaslot flamingopé
Por outro lado, essas cidades têm uma enorme importância sociocultural, histórica e para o meio ambiente. Dados do Instituto Nacionalslot flamingoPesquisas Espaciais mostram que esses 43 municípios têm uma incrível quantidade da florestaslot flamingopé. São quase 1 milhãoslot flamingoquilômetros quadrados cobertos com floresta amazônica - mais do que a área inteira da região Sudeste do Brasil.
Ipixuna tem 98%slot flamingosua floresta conservada. O município abriga ao menos três grupos indígenas e dezenasslot flamingocomunidades ribeirinhas, com amplo conhecimento e dependência dos recursos naturais.
"Eu não vou pra cidade porque lá a gente dependeslot flamingodinheiro para sobreviver e aqui não, no mínimo temos a comida", conta um ribeirinho morador do Rio da Liberdade.
Apesar das riquezas naturais e culturais e da hospitalidadeslot flamingosua população, a grande maioria desses municípios não explora o seu potencial turístico.
Desafios da saúde
A saúde é um direito constitucional assegurado aos brasileiros por meio do Sistema Únicoslot flamingoSaúde (SUS), que é universal e gratuito. O objetivo 3 da agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável reflete não só os desafios necessários para "Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos", mas o papel estratégico dos futuros prefeitos para reforçar a posição brasileiraslot flamingomelhorar boa parte dos indicadoresslot flamingomortalidade e adoecimento evitável.
Dados do Ministério da Saúde colocam o Amazonas como um dos Estados com menor esperançaslot flamingovida ao nascer (70 anos)slot flamingo2012.
Adicionalmente,slot flamingo2010, apresentou um dos mais baixos índicesslot flamingomédico por habitante do país (1,07 por mil habitantes). Tais dados evidenciam que as condiçõesslot flamingovida e saúde nesses municípios sejam ainda piores e mais desafiadoras.
Ipixuna registrou,slot flamingo2014, taxaslot flamingomortalidade infantilslot flamingo37 óbitos por mil nascidos vivos. Mais do que o dobro da média nacional (17) no mesmo ano. As causas,slot flamingogrande parte, podem estar associadas a problemasslot flamingosaúde evitáveis, como diarreia, pneumonia e desnutrição.
A melhoria desses indicadores também passa por açõesslot flamingosaneamento básico e ambiental que costumeiramente são desvalorizadas. Apesar do saneamento ser essencial para a prevençãoslot flamingodoençasslot flamingoveiculação hídrica, maisslot flamingo60% dos municípios do Estado não tratam a água que abastece os domicílios. Cercaslot flamingo30% sequer têm gestão dos serviçosslot flamingoágua.
É o que aconteceslot flamingoCaapiranga, onde a população usa água provenienteslot flamingopoços privados ou comunitários.
As péssimas condiçõesslot flamingosaneamento são agravadas durante enchentes ou fortes chuvas. As precárias fossas, quando existentes, costumam transbordar.
Em Ipixuna, como na maior parte dos municípios do Amazonas, não há coletaslot flamingoesgoto e 59% dos domicílios na cidade sequer possuem vaso sanitário.
Em vários municípios é comum que uma família tenha que conviver com a péssima condição sanitáriaslot flamingoseus vizinhos: "O vizinho construiuslot flamingocasinha (latrina no quintal) colada na minha cozinha. Quando chove muito, transborda. Tenho filhos pequenos que brincam no quintal. Já reclamei muitas vezes para a prefeitura, mas nada foi feito", diz um moradorslot flamingoIpixuna.
Em Jutaí, no rio Solimões, a situação não é diferente: "O vizinho esticou o canoslot flamingoseu banheiro no meu quintal. Todo o dejeto vem parar aqui. Quando chove é pior. Já chamei várias vezes a prefeitura, mas eles nunca vieram olhar".
Desafios da gestão municipal
Os desafios para melhoria da saúde nesses municípios são enormes. A precariedade está relacionada à pobreza e à desigualdade, resultadosslot flamingoum processo históricoslot flamingoexploração, abandono e exclusão.
As sucessivas gestões não têm tido compromisso real com o problema. Nas últimas décadas, a atenção dada a esses municípios - nacional ou internacionalmente - tem sido dominada pelos debates ambientais. Enquanto houve investimentos na criaçãoslot flamingounidadesslot flamingoconservação, como reservasslot flamingodesenvolvimento sustentável, há uma escassezslot flamingonovas ideias para resolver os problemasslot flamingoquem vive nessas cidades.
A saúde esbarraslot flamingoproblemasslot flamingocapacidade técnica eslot flamingogestão. É comum que os secretários municipais não tenham conhecimento técnico na área, cuja indicação seja consequênciaslot flamingointeresses políticos, amizade e, não raro, nepotismo.
O sistemaslot flamingocontratação também limita a eficiência do sistema. A maioria dos municípios não tem um quadroslot flamingoprofissionais contratados via concurso público. Isso gera uma grande rotatividadeslot flamingoprofissionais, e médicos são contratados para carga horária integralslot flamingomaisslot flamingoum município ao mesmo tempo.
Agentes Comunitáriosslot flamingoSaúde mudam a cada eleição que a oposição sai vitoriosa, pois é um programa usado eleitoralmente tendoslot flamingovista a carênciaslot flamingoemprego nos municípios. Cargos comissionados, como osslot flamingosecretáriosslot flamingoSaúde, muitas vezes sequer residem no município, assim como muitos prefeitos.
O combate à corrupção deve ser prioridade para a melhoria da saúde. Investigações recentes do Ministério Público levaram à prisãoslot flamingotrês prefeitos e 30 municípios estão sendo investigados por suspeitaslot flamingodesvioslot flamingorecursos.
Em Santa Isabel do Rio Negro, caso mais recente, a prefeita e familiares dela foram presos acusadosslot flamingodesviar R$ 10 milhões. Em Pauini, no rio Purus, a 10 diasslot flamingobarcoslot flamingoManaus, foram desviados R$ 15 milhões dos orçamentos da Saúde e Educação.
O procurador-geral do Estado atribui parte da razão desse cenário à percepçãoslot flamingoimpunidade que a ausênciaslot flamingofiscalização e dificuldadeslot flamingoacesso provocam.
É também necessário reforçar ações e serviços associados à atenção básica. Por exemplo, a Estratégiaslot flamingoSaúde da Família, que visa oferecer não apenas acesso universal e contínuo a serviçosslot flamingosaúdeslot flamingoqualidade, como também açõesslot flamingopromoção da saúde, prevenção, recuperação e reabilitação.
Isso evita situações mais graves que levam a remoções para tratamento médico-hospitalar fora do município, muitas vezes por via aérea, com gastos altíssimos.
Os próximos prefeitos também devem estar atentos ao desafiador arranjo do perfilslot flamingosaúde da população. De um lado, observa-se o aumento da incidênciaslot flamingodoenças crônicas, como a hipertensão arterial, a diabetes e diversos tiposslot flamingocâncer.
De outro, elas coexistem com doenças infecciosas e parasitárias historicamente relevantes, como a malária, as hepatites virais e a tuberculose. Alémslot flamingoproblemas novos, como a doença causada pelo vírus Zika.
A melhoria da saúde nesses municípios não é uma tarefa fácil. Mesmo sem a corrupção, persiste o problema da carênciaslot flamingoprofissionais comprometidos e capacitados e da histórica desigualdade social.
Os próximos prefeitos devem estar cientes desses desafios e criar um ambiente político-institucional favorável à melhoria das condiçõesslot flamingovida da população, assegurando o direito básico à saúde nesses municípios historicamente negligenciados, porém encantadores,slot flamingomeio à floresta Amazônica.
slot flamingo * slot flamingo Este é o segundoslot flamingouma sérieslot flamingoartigos que será publicada pela BBC Brasilslot flamingoparceria com o Urban Transformations Network e o UK Economic and Social Research Council (UT-ESRC) sobre presente e o futuro das cidades brasileiras. Os artigos publicados não traduzem a opinião da BBC.