'O homem das plantinhas': a história do morador que se dedica a reflorestar as favelas do RJ:bets365br cadastro

Jocelino Porto

Crédito, Jocelino Porto

Legenda da foto, Jocelino Porto promove oficinabets365br cadastroeducação ambiental para crianças

bets365br cadastro Articulador social da ONG Viva Rio, onde trabalha desde 2010, Porto deu o seguinte depoimento à BBC Brasil:

"Nascibets365br cadastroCampina Grande, na Paraíba. Mas, quando tinha dois anos, meu pai decidiu se mudar com toda a família - eu, minha mãe e meus nove irmãos ─ para São Paulo,bets365br cadastrobuscabets365br cadastrouma vida melhor. Pouco tempo depois, pegamos a estrada novamente, dessa vez rumo ao Riobets365br cadastroJaneiro, onde vivo até hoje.

Não tive uma infância feliz. Mas só me dei conta disso mais tarde, depoisbets365br cadastrovelho. Trabalhei desde muito cedo. Éramos muito pobres e sempre moramosbets365br cadastrofavela. Um dia, quando tinha cercabets365br cadastrodez anos, meu pai me chamou para uma conversa e me disse desesperado que não aguentava mais. Tivebets365br cadastropararbets365br cadastroestudar para ajudá-lo a pagar as contas. Era isso ou passaríamos fome.

Jocelino Porto

Crédito, Vitor Madeira/Viva Rio

Legenda da foto, Porto recebeu títulobets365br cadastroCidadão do Estado do Riobets365br cadastroJaneirobets365br cadastro2013

Sempre gosteibets365br cadastroplantas. Desde muito cedo, aprendi a cuidar delas. Trata-sebets365br cadastroum trabalho minucioso, que levabets365br cadastroconta um sem númerobets365br cadastrovariáveis: água, temperatura, exposição ao sol são algumas delas.

Cultivo as mudasbets365br cadastrominha casa, na favelabets365br cadastroRocha Miranda, na zona norte do Riobets365br cadastroJaneiro. Não tenho muito espaço, mas o suficiente para abrigar cercabets365br cadastro300 pésbets365br cadastrodiferentes árvores. Em ocasiões especiais, contudo, esse número pode chegar a até 2 mil, como no Dia Internacional do Meio Ambiente,bets365br cadastrojunho, quando costumo fazer uma grande campanha. Isso sem falar no adubo, que produzo aqui mesmo, com os restosbets365br cadastroalimentos.

Coloco as sementesbets365br cadastroum copinho plástico e espero germinar. Assim que começam a crescer, sei que é horabets365br cadastrodoá-las.

Jocelino Porto

Crédito, Jocelino Porto

Legenda da foto, Porto já produziu maisbets365br cadastro72 mil mudas

'Homem das plantinhas'

Ganhei o apelidobets365br cadastro'homem das plantinhas' por causa do meu trabalho no reflorestamento das favelas. O que começou como um passatempo é hoje a minha razãobets365br cadastroviver. Desde a décadabets365br cadastro90, segundo meus próprios cálculos, já produzi maisbets365br cadastro72 mil mudas.

Não vou negar que se trata às vezesbets365br cadastroum trabalho solitário. Mas é recompensador ver a felicidade das pessoas quando a árvore que plantei vira referência dentrobets365br cadastrouma favela e promove união.

Aqui pertobets365br cadastrocasa, por exemplo, plantei um pébets365br cadastroerva cidreira. Todos os dias vejo pessoas quebrando os galhos para fazer chá. A grande maioria não tem dinheiro para comprar remédio e usa o chá para curar resfriados e tratar outras indisposições.

Minha intenção é ver as favelasbets365br cadastronovo cobertas pelo verde. As favelas hoje são áridas e mal-cuidadas. Somos carentesbets365br cadastrotudo e vivemosbets365br cadastrouma guerra interminável. Quem mais perde com isso são os moradores.

Diantebets365br cadastrotanto sofrimento, sinto que tenhobets365br cadastrofazer a minha parte. E vi na natureza uma formabets365br cadastroreaproximar a comunidade ─ ganhei o respeito dos moradores, dos traficantes e também dos policiais.

Em 1992, fui um dos fundadores do NEPP (Núcleo Ecológicobets365br cadastroPedras Preciosas), onde desenvolvi um importante trabalhobets365br cadastroeducação ambiental nas favelas do Rio. A NEPP acabou virando uma referência e um dos frutos do nosso trabalho foi a redução do consumobets365br cadastroágua dentro das favelas, além da formaçãobets365br cadastro200 agentes ambientais.

Quatro anos depois, criei uma escolinha ecológica para criançasbets365br cadastrosete a 11 anos. Participei também da criação da Eco Favela e fui fundador do Movimento Ecológicobets365br cadastroRocha Miranda.

Tenho por companhia inseparável minha pequena câmera por meio da qual denuncio principalmente locais com acúmulobets365br cadastrolixo. São maisbets365br cadastro10 mil fotos reveladas, compiladasbets365br cadastroum arquivo que reúne 36 volumesbets365br cadastrocatálogos, registrosbets365br cadastromeus serviços prestados à comunidade ao longo da vida.

Jocelino Porto

Crédito, Vitor Madeira/Viva Rio

Legenda da foto, Porto vem produzindo milharesbets365br cadastromudas para recompor o que foi desmatadobets365br cadastrocomunidades pobres da cidade

Orgulho

Mas, sem dúvida, um dos meus maiores orgulhos é ver a reação das crianças ao meu trabalho.

Lembro-me até hoje da campanha que fizemos na Cinelândia, no centro do Rio,bets365br cadastro1997. Timidamente, oferecemos uma mudabets365br cadastroplantabets365br cadastrotrocabets365br cadastro1 kgbets365br cadastroalimento. Foi um sucesso. Em pouco tempo, as 300 mudas que havia trazido acabaram.

Em outra ocasião, recentemente, na favela da Maré, realizei uma oficina voltada para o público infantil. No início, as crianças não queriam sujar as mãos na terra. Mas logo que a primeira começou a transferir as mudas para o copinho plástico, todas ficaram entusiasmadas e quiseram participar.

Sem dúvida, as crianças dão muito mais valor ao meu trabalho do que as autoridades. Todos os secretáriosbets365br cadastromeio ambiente do Rio já estiveram na minha casa e fizeram promessas. Nenhuma foi cumprida.

Tenho poucas ambições na vida, mas espero que meu legado sirva para conscientizar a todos sobre a importância da preservação da natureza. É uma luta diária que não pode parar."