Medo torna estupro coletivo o ‘crime mais subnotificado’ no país, diz delegada da mulher:aposta na blaze
Thiers foi afastado da investigação após pedidoaposta na blazeEloisa Samy, então advogada da adolescente. Segundo Samy, ele teria perguntando à vítima se ela tinha por hábito fazer sexoaposta na blazegrupo.
"Pensando no colega, não tenho a mínima dúvidaaposta na blazeque ele não quis reduzir a vítima, mas acho que tudo conspirou para que não desse certo", diz Anflor.
Sobre os problemas no atendimento a vítimasaposta na blazeviolência sexual, a delegada afirma que são necessários mais investimentos para o treinamentoaposta na blazetodos os servidores da polícia -- homens e mulheres -- e para a instalaçãoaposta na blazeuma estrutura mais adequada, com salas reservadas e acesso rápido à perícia.
No entanto, pondera, mais verbas para o setor só virão quando as mulheres estiverem nos espaçosaposta na blazedecisão. Por enquanto, haveria mais forçaaposta na blazevontade individual do que apoio institucional.
"Infelizmente, o combate à violência contra a mulher está dependendo muito da forçaaposta na blazecada uma."
Leia a seguir os principais trechos da entrevista.
aposta na blaze BBC Brasil - O atendimento à jovemaposta na blaze16 anos que foi estuprada por vários homens no Rio foi bastante criticado. O que falta para melhorar atender as vítimasaposta na blazeviolência sexual?
aposta na blaze Nadine Anflor - A gente precisaaposta na blazeinvestimento nas polícias judiciárias. Ultimamente se falouaposta na blazecriar um departamentoaposta na blazecombate à violência contra a mulher na Polícia Federal. Excelente que a PF entre nesse tema, mas a gente sabe que na prática são as polícias civis dos pequenos municípios que são procuradas às 4h da manhã. Temos que melhorar a estruturação da polícia civil para bem atender a mulher, com salas individualizadas para o atendimento e imediato encaminhamento para a perícia, e que dentro do IML não se tenha uma revitimização, porque é um momento muito delicado para ela.
aposta na blaze BBC Brasil - O estupro coletivo é um crime comum?
aposta na blaze Anflor - Acho que ele é o (crime) mais subnotificadoaposta na blazetodos, porque há um temor da vítima não sóaposta na blazeum agressor, mas, no caso dela,aposta na blaze30. Se a mulher tem medoaposta na blazedenunciar quando é estuprada por um, imagina por 30. Então, acho que a subnotificação é muito mais alta no caso dos estupros coletivos - porque não temos muitos casos. Ele existeaposta na blazetodos os Estados e nas mais diversas classes sociais.
aposta na blaze BBC Brasil - No caso do no Rio, o delegado que primeiro assumiu a investigação foi criticado por perguntar à jovem se ela costumava praticaraposta na blazesexo grupal. Como avalia a atuação dele?
aposta na blaze Anflor - A gente não conhece o inquérito e não pode falaraposta na blazenome do que realmente aconteceu. O que eu posso dizer é: as poucas coisas que eu vi,aposta na blazeperguntas que ele fez à vítima, sãoaposta na blazepraxe e isso se faz. O problema é a abordagem, a forma como se pergunta. Evidentemente que há perguntas que devem ser feitas, mas tem jeitos e jeitosaposta na blazese perguntar,aposta na blazedeixar a vítima mais à vontade para falar. Não é possível que uma vítima dessa não tenha uma mulher junto, uma escrivã, uma delegadaaposta na blazepolícia. Começa aí.
Disseram que a sala (onde foi dado o depoimento) era toda envidraçada e não tinha privacidade. Tudo favoreceu para que ela se sentisse acuada. Pensando no colega (delegado), não tenho dúvidaaposta na blazeque ele não quis reduzir a vítima, mas tudo conspirou para que não desse certo. Até porque o crime mais grave não era oaposta na blazedivulgação das imagens, era oaposta na blazeestupro, e ele era delegadoaposta na blazecrimes cometidos pela internet. Me parece que me faltou um poucoaposta na blazesensibilidade, porque era uma vítimaaposta na blazeestupro. Mas não acredito que foi por maldade ou despreparo do delegado, que é um grande delegadoaposta na blazepolícia.
aposta na blaze BBC Brasil - O delegado também foi criticado por, mesmo com vídeos e a palavra da vítima, não confirmar a existência do crime. Essa ponderação é correta?
aposta na blaze Anflor -Se é correto dizer que ele está investigando? Evidentemente que é correto, porque ele não pode pressupor que houve um estupro sem acreditar nisso. Por que se abre um inquérito policial? Justamente para se buscar a veracidade dos fatos. Se, naquele momento que ele falou, ele não tinha isso só com base no vídeo, se não tinha certezaaposta na blazeque era ela no vídeo -não sei o que levou ele a falar isso- é evidente que ele pode dizer.
Claro, a delegada (Cristiana Bento, agora à frente da investigação) já analisou. É mais fácil para ela dizer hoje que houve o estupro, já está com outros elementos. A gente tem que ter cuidado e não se precipitar. Nesse ponto realmente ele não pecou por não ter a convicção. Eu teria um pouco maisaposta na blazecuidado ao dizer isso. Diria que há grande evidênciaaposta na blazeque o estupro aconteceu, mas não poderia dá-lo como certeza, por isso estaria abrindo um inquérito para investigar.
aposta na blaze BBC Brasil - Isso tem a ver com o fatoaposta na blazeo delegado não ser da área?
aposta na blaze Nadine Anflor - É o grande equívoco. Ele nunca trabalhou com esse tipoaposta na blazedelito. Um delegado que trabalha com uma investigaçãoaposta na blazeinternet vai dizer que, a princípio, a divulgação aconteceu, mas que o estupro ele não pode dizer se aconteceu. Deveria ter ido para a delegada imediatamente.
aposta na blaze BBC Brasil - Quais são os principais problemas nas delegacias quanto ao atendimento dessas vítimas?
aposta na blaze Anflor - É importante que se capacite os servidores que não estão lotadosaposta na blazedelegacias da mulher, homens e mulheres. Precisamos que os homens entrem nesse combate. Não temos como ter somente mulheres atendendo mulheres. Evidentemente que é melhor, porque a mulher tem outra abordagem.
aposta na blaze BBC Brasil - Quais são as diferenças do atendimento?
aposta na blaze Anflor - A mulher consegue se colocar na posiçãoaposta na blazevítima. O maior medoaposta na blazequalquer mulher hoje, e digo isso com certeza, é ser vítimaaposta na blazeum crime sexual. Na horaaposta na blazefazer um interrogatório, a mulher consegue se colocar no papelaposta na blazevítima e ter uma abordagem diferenciada. Então, o ideal é que sejam atendidas por mulheres, mas não é possível ter só policiais mulheres para fazer o atendimento. Realmente falta uma capacitação maior dos funcionários e servidores da segurança pública que não estejam nas delegacias especializadas.
aposta na blaze BBC Brasil - Há pouca atenção do Estado para o combate à violência sexual?
aposta na blaze Anflor - O Rio Grande do Sul tem um patamar muito bom, que não se pode perder. A gente teve a secretariaaposta na blazepolíticas para as mulheres, hoje não temos mais por questãoaposta na blazecorteaposta na blazecustos. Sempre digo que nosso defeito é depender das pessoas e não das instituições. Hoje infelizmente se depende muito da delegada que está na delegacia, da juíza que está na vara da violência doméstica e teríamos que ter (esse suporte) mais institucionalizado.
aposta na blaze BBC Brasil - As vítimas dependeriam, então, do engajamento da delegada eaposta na blazeposição pessoal.
aposta na blaze Anflor - Exatamente. E isso é um problema no país inteiro. Infelizmente, o combate à violência contra a mulher está dependendo da forçaaposta na blazecada uma. Eu aqui no Senado fiquei pensando: olha quantas senadoras estão aqui... são pouquíssimas. Fiquei sete anos na delegacia da mulher dizendo que ela tinha que se empoderar, que lugaraposta na blazemulher é onde ela quiser, mas nos locaisaposta na blazepoder, onde existe o poderaposta na blazealterar leis, no localaposta na blazeque a gente pode dizer 'precisamosaposta na blazeinvestimento para que as delegacias especializadas atendam bem', temos pouquíssimas delegadasaposta na blazepolícia, chefesaposta na blazepolícia. São pouquíssimas senadoras dentro do Legislativo. Ou seja: temos que ocupar os espaçosaposta na blazepoder.
Quando me convidaram para concorrer à presidente da associação, pensei 'tenho que ir'. Não adianta ficar só falando pelo fim da violência contra a mulher, a gente tem que ocupar os espaços para decidir e destinar as verbas necessárias para que a violência contra a mulher pelo menos diminua.
aposta na blaze BBC Brasil - Como vê aprovação da lei que aumenta a pena pelo crimeaposta na blazeestupro? O que ainda falta fazer?
aposta na blaze Anflor - Acho um avanço. Mas precisamos rediscutir a questão do regime semiaberto (para condenados por estupro), a questãoaposta na blazeum estuprador que estupra vítimas na rua,aposta na blazelocais que, por faltaaposta na blazeiluminação, favorecem aaposta na blazeação. Esse estuprador a gente percebe que é doente. Ele vai acabar voltando a cometer estupros, mesmo que fique dez anos preso. Tenho por experiência: quando descobria um autoraposta na blazecrimeaposta na blazeestupro, acabava resolvendoaposta na blazecinco a seis inquéritos policiais. São doentes, precisam ser tratados e infelizmente têm que ser segregados, não podem ficaraposta na blazeliberdade.
aposta na blaze BBC Brasil - Você define esses estupradores como "doentes". Os que participaram do estupro coletivo no Rio se encaixam nesse perfil?
aposta na blaze Anflor - Não me parece ser o caso do estupro do Rio. Nesse caso, acho perfeito o aumentoaposta na blazepena (aprovado no Senado), já estava mais do que na horaaposta na blazeisso acontecer.
aposta na blaze BBC Brasil - O que difere um tipo do outro?
aposta na blaze Anflor - O do estupro coletivo é uma questãoaposta na blazehumilhar a vítima,aposta na blazeter esse poder sobre ela. E o estuprador que comete o estupro na rua, que estupra sozinho, é um doente. Ele tem desejo, precisa daquilo. O prazer dele é ver o temor no rosto da vítima. Quanto mais a vítima grita, mais ele se excita.
aposta na blaze BBC Brasil - O exameaposta na blazecorpoaposta na blazedelito da jovemaposta na blaze16 anos não mostrou sinaisaposta na blazeestupro. A delegada Cristina Bento disse que o laudo é um indício importante, mas não essencial. Qual é a importância dele na investigação?
aposta na blaze Anflor - A palavra da vítima num crimeaposta na blazeestupro vale muito mais do que qualquer prova. A gente tem que confiar na palavra dela, porque uma vítimaaposta na blazeestupro, e principalmente no caso dela, se expor a tudo a que já se expôs, é muito pior do que... ela poderia ter guardado para ela. É muito difícil para uma mulher chegar numa delegacia e inventar toda essa história. As exceções que tive ao longo da minha vida tinham motivos. E o principal deles era a questão da profilaxia e da possibilidade do aborto. É uma discussão que a gente tem que entrar, sobre o aborto legal.
aposta na blaze BBC Brasil - Como os temas estão ligados?
aposta na blaze Anflor - Muitas mulheres registram que foram estupradas porque, na verdade, não querem aquele filho. Então, essa discussão o Brasil vai ter que enfrentaraposta na blazeuma vez por todas.