Tim Vickery: É na música sertaneja que o Brasil escapablackjack gratissua urbanização dura?:blackjack gratis

Crédito, Eduardo Martino

Durante muito tempo, o Brasil não passavablackjack gratisuma fazenda gigante. Até hoje há uma rixa entre aqueles que acham que o país deveria pensarblackjack gratissi como um exportadorblackjack gratismatéria-prima e os que imaginam um futuro mais ambicioso.

De qualquer maneira, a vida do campo faz parte da realidade, da tradição e da memóriablackjack gratisum país que tem algumas pessoas tachadasblackjack gratis"galinhas", uns goleirosblackjack gratis"frangueiros" e uma riquezablackjack gratisexpressõesblackjack gratisraízes rurais das quais podemos ficar falando até acabar o milho, acabar a pipoca.

O interessante é o seguinte: milhõesblackjack gratisbrasileiros que usam essas expressões e curtem as festas não têm nem nunca tiveram qualquer contato com o interior tupiniquim.

Crédito, Elói Corrêa/GOVBA

Legenda da foto, Desconhecidas fora do Brasil, festas juninas/julinas têm um peso impressionante dentro do país

Fazem parte da grande ondablackjack gratisimigrantes da Europa e do Oriente Médio que fizeram crescer as cidadesblackjack gratisum país que se urbanizou com uma rapidez impressionante no século 20. Eles nunca tiveram que achar o caminho da roça.

Mesmo assim, nas festas juninas/julinas, todo mundo cabe dentro do arraial.

Nisso tem uma comparação óbvia, porém fascinante, com os Estados Unidos. Lá também existe a figura do campo como um símbolo das raízes do país - o caubói, ou vaqueiro. E lá também isso é uma coisa distante da realidadeblackjack gratismuitosblackjack gratisum paísblackjack gratisimigração. Os europeus que foram tentar a vidablackjack gratisNova York nunca experimentaram a vidablackjack gratiscaubói.

Junto com essa semelhança, há uma grande diferença entre as tradições celebradas ao norte e ao sul do Rio Grande. Porque o caubói americano é um dominador; domina boi, domina índio, domina terra. John Wayne mandava geral!

O caipira brasileiro, porém, é comemorado como uma figura pacata, levando uma vida simplesblackjack gratisque casar com Rosinha é a ambição maior.

A outra diferença é a maneira como o mito é tratado. Se eu quero surpreender meus conterrâneos, digo a eles que a música que mais vende no Brasil é a sertaneja. Issoblackjack gratisabsoluto não bate com a imagem do país.

O caubói, entretanto, é totalmente ligado à identidade dos Estados Unidos no exterior - uma consequência daqueles filmesblackjack gratisfaroeste. Hollywood, uma indústriablackjack gratiseuropeus recém-chegados, muito fez para criar e disseminar a ideia do caubói como símbolo da nação - um contoblackjack gratisindividualismo áspero num país prestes a dominar o mundo com uma misturablackjack gratispoder corporativo e militar.

O Brasil não estava tentando projetar uma imagem para o mundo. O mais importante foi criar uma identidade para si próprio. E foi impressionante o sucesso do governoblackjack gratisVargas neste sentido.

A Grande Depressão mundial e fez despencar a procura pelas matérias-primas brasileiras. Houve uma necessidadeblackjack gratisdesenvolver, modernizar, industrializar. As cidades cresceram.

O Rioblackjack gratisJaneiro logo ocuparia um lugar importante no imaginário mundial, como símboloblackjack gratisturismo exótico. A então capital se transformou no centro das possibilidadesblackjack gratisum novo Brasil, com samba, alegria e direitos trabalhistas para todos.

Na imaginação, o Brasil moderno foi esmagadoramente, concretamente urbano.

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Ao contrário do caipira brasileiro, que é comemorado como figura pacata, o caubói americano 'manda geral'

Interessante, então, que a geração mais nova, adultos jovens e adolescentes, esteja abraçando com tanta força a música do interior, gênero para o qual antes os urbanos torceriam o nariz.

O que explica o boom atual da música sertaneja, o chamado sertanejo universitário? Em parte isso pode ser visto como um modismo, sempre forte no Brasil. Mas pode ser também que vá mais fundo. Pode ser que a realidade urbana do Brasil hojeblackjack gratisdia, comblackjack gratiscomplexidade e violência social, esteja gerando uma reação contrária, uma busca imaginária pela simplicidade rústica.

Seja qual for a explicação, é inegável que uma geração que dez anos atrás andava nesta épocablackjack gratisano vestidablackjack gratisminicaipira agora está curtindo uma sofrência.

*Tim Vickery é colunista da BBC Brasil e formadoblackjack gratisHistória e Política pela Universidadeblackjack gratisWarwick.

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