Por que o Hamas atacou Israel agora?:bet nacional png

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Legenda da foto, Incêndio causado por míssil lançadobet nacional pngGazabet nacional pngAshkelon, Israel

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Mesquitabet nacional pngAl-Aqsa e Monte do Templo

O motivo alegado pelo Hamas para o ataque brutal a Israel no último sábado está relacionado à mesquitabet nacional pngAl-Aqsa, que fica junto ao Monte do Templo,bet nacional pngJerusalém,bet nacional pnguma área da cidade considerada sagrada por muçulmanos, judeus e cristãos.

Em uma gravaçãobet nacional pngáudio divulgada no momento do ataque, Muhammad al-Deif, comandante da ala militar do Hamas, a Brigada al-Qassam, disse que a violência foi uma retaliação ao que chamoubet nacional png"ataques diários à mesquita Al-Aqsa" que "ousaram insultar nosso profeta dentro dos pátios da mesquita".

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Legenda da foto, Palestinos se reúnembet nacional pngfrente ao Domo da Rocha, no complexobet nacional pngAl-Aqsa
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O complexobet nacional pngAl-Aqsa - que inclui também o Domo da Rocha, cúpula dourada que domina a paisagembet nacional pngJerusalém - começou a ser construído no século 7 no localbet nacional pngonde, segundo a tradição islâmica, o profeta Maomé teria sido levado aos céus para se encontrar com Deus.

A área, no entanto, também é considerada sagrada pelos judeus, já que fica no lugar onde estava o Templobet nacional pngJerusalém, local que segundo a tradição judaica abrigava a chamada Arca da Aliança, que guardava os mandamentos dados por Deus a Moisés.

O templo foi destruído pelos romanos no ano 70 d.C., mas parte da edificação que circundava o lugar ficou preservada, tornando-se localbet nacional pngperegrinação e oração para judeusbet nacional pngtodo mundo, o chamado Muro das Lamentações.

Após séculosbet nacional pngdisputas sobre a área, um acordobet nacional pngvigor desde 1967 proíbe que não-muçulmanos orem dentro do complexo da mesquita, embora Israel continue controlando o acesso ao local.

Mesmo assim, nos últimos anos, nacionalistas judeus aumentaram as suas visitas ao complexo onde alguns sonhambet nacional pngconstruir um novo templo judaico, o que vem gerando críticas e reações dos palestinos.

Em setembrobet nacional png2000, uma visita do então líder da oposição israelense Ariel Sharon ao local foi considerada o catalisador da segunda Intifada, uma ondabet nacional pngrevoltabet nacional pngpalestinos que resultou na mortebet nacional png4 mil pessoas entre judeus e muçulmanos.

Desde então, os conflitosbet nacional pngtorno da área se intensificaram.

Em abril, a polícia israelense invadiu a mesquita usando granadasbet nacional pngefeito moral e balasbet nacional pngborracha, após uma disputa sobre atividades religiosas no local.

Em julho, o ministrobet nacional pngSegurança Nacionalbet nacional pngIsrael, Itamar Ben-Gvir, visitou o local, no que foi considerado uma provocação pelos palestinos. Em outras ocasiões, judeus inclusive chegaram a se disfarçarbet nacional pngmuçulmanos para orarem ali.

Um representante do Hamas no Líbano, Osama Hamdan, disse ao podcast Global News da BBC que o grupo estaria preocupado com as intenções do governo israelense para o lugar, dizendo que qualquer mudança formal nos acordos que regem o acesso ao locais sagrados seria uma “claramente ultrapassar os limites”.

As autoridades israelenses, no entanto, afirmam estar comprometidasbet nacional pngpreservar a liberdadebet nacional pngculto na região.

Aproximação entre Israel e Arábia Saudita

O contexto internacional também pode estar por trás dos ataques do Hamas a Israel.

Nos últimos anos, países árabes que antes não reconheciam oficialmente a existênciabet nacional pngIsrael passaram a normalizar suas relações com o Estado judeu.

Como parte dos chamados Acordosbet nacional pngAbraão, mediados pelos Estados Unidos, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Marrocos e Sudão estabeleceram relações diplomáticas com Israel entre 2020 e 2021.

Agora, uma das maiores potências do Oriente Médio, a Arábia Saudita, parece prestesbet nacional pngfazer o mesmo,bet nacional pnguma aproximação também patrocinada pelo governo americano.

As conversas entre as nações foram privadas até o momento, mas no finalbet nacional pngsetembro o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse acreditar que o acordo poderia ser finalizadobet nacional pngbreve.

Historicamente, a Arábia Saudita é uma das maiores defensoras da causa palestina, e a aproximação do país com Israel vinha gerando temoresbet nacional pngque a demanda pela criaçãobet nacional pngum Estado palestino pudesse ficarbet nacional pngsegundo plano na disputa política regional.

Como um dos mais radicais grupos militantes palestinos que se recusa a aceitar a existênciabet nacional pngum Estado judeu no Oriente Médio, o Hamas já vinha se opondo a aproximação saudita com Israel. Para muitos analistas, o ataque do último sábado pode ter sido uma tentativabet nacional pngatrapalhar um possível acordo.

Além disso, há décadas o Hamas é apoiado diretamente por uma outra potência da região, o Irã, que vem canalizando recursos e armamentos para o grupo militante palestino.

Alémbet nacional pnginimigo declaradobet nacional pngIsrael, o Irã,bet nacional pngmaioria xiita, tem uma relação conflituosa com a Arábia Saudita, que é sunita. Uma aproximação entre os seus dois inimigos na região poderia deixar o regimebet nacional pngTeerãbet nacional pnguma situação fragilizada.

Crédito, Reuters

Legenda da foto, O príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, e o presidente dos EUA, Joe Biden

Embora, segundo o governo americano, não existam evidênciasbet nacional pngenvolvimento direto do Irã nos ataques, uma eventual interrupção na aproximação entre a Arábia Saudita e Israel causada pelos atos extremistas poderia serbet nacional pnginteressebet nacional pngTeerã.

Ainda não estão claras, no entanto, quais as possíveis consequências dos ataques sobre a aproximação entre Israel e Arábia Saudita.

Logo após os eventosbet nacional pngsábado, o Ministério das Relações Exteriores da Arábia Saudita divulgou uma nota pedindo “a suspensão imediata da escalada (de violência) entre os dois lados”.

O governo saudita, no entanto, diz também ter alertado Israel sobre “os perigos da explosão da situação como resultado da ocupação contínua, da privação do povo palestino dos seus direitos legítimos e da repetiçãobet nacional pngprovocações sistemáticas contra seus locais sagrados”.

Divisões internasbet nacional pngIsrael

O ataque do Hamas acontecebet nacional pngum momentobet nacional pngque divisões políticas internasbet nacional pngIsrael atingiram umbet nacional pngseus pontos mais altosbet nacional pngdécadas, o que pode ter entrado no cálculo do grupo extremista ao planejar a sériebet nacional pngatentados.

Desde o início do ano, Israel tem testemunhado uma ondabet nacional pngprotestos que reuniram dezenasbet nacional pngmilharesbet nacional pngpessoas que se opõem a uma sériebet nacional pngreformas do governo Netanyahu que, segundo a oposição, podem comprometer o caráter democrático do Estadobet nacional pngIsrael.

A primeira parte dessas reformas foi aprovada pelo Knesset, o parlamento israelense,bet nacional pngjulho deste ano. A nova legislação retira parte do poder da Suprema Cortebet nacional pngIsrael (equivalente ao STF brasileiro) ebet nacional pngtribunaisbet nacional pnginstâncias inferioresbet nacional pngrevisar ou cancelar algumas decisões tomadas pelo governo e pelo parlamento.

A oposição argumenta que a reforma pode acabar concentrando muitos poderes nas mãosbet nacional pngNetanyahu, enquanto o governo argumenta que as reformas buscam corrigir supostas interferências do judiciáriobet nacional pngpolíticas públicas.

A propostabet nacional pngreforma acontecebet nacional pngum momentobet nacional pngque Netanyahu enfrenta na Justiça acusaçõesbet nacional pngcorrupção após voltar ao governobet nacional pngIsrael no final do ano passado depoisbet nacional pngter formado uma coalizão com partidos ultranacionalistas e religiosos.

Oposicionistas reagiram às reformas tomando as ruas do país, pedindo a anulação da nova legislação e a renúnciabet nacional pngNetanyahu.

Crédito, EPA-EFE/REX/Shutterstock

Legenda da foto, Momento ébet nacional pngdivisões internasbet nacional pngIsrael; oposição pede renúnciabet nacional pngNetanyahu

Os protestos receberam apoio não apenas dos líderes dos partidosbet nacional pngoposição, mas tambémbet nacional pngaltos comandantes militares, oficiaisbet nacional pngInteligência ebet nacional pngoutras forçasbet nacional pngsegurança, alémbet nacional pngempresários e juristas, o que aumentou a sensaçãobet nacional pngque o país estava dividido.

Em um desdobramento sem precedentes na históriabet nacional pngIsrael e que já vinha causando preocupaçõesbet nacional pngoposição e governo sobre a segurança do país ebet nacional pngcapacidade militar, centenasbet nacional pngmilitares da reserva se juntaram aos protestos e ameaçaram se recusar a se apresentar para o serviço, incluindo pilotos da Força Aérea.

Todo esse contextobet nacional pngdivisões internasbet nacional pngIsrael pode ter pesado nos planos do Hamasbet nacional pnglançar os ataques.

Além disso, outra questão internabet nacional pngIsrael pode ter contribuído para a decisão do Hamas: os atentados coindiram com a festividade judaica Simchat Torá, celebrada no ultimo dia do feriado religiosobet nacional pngSucot, que dura uma semana.

“Acontece no finalbet nacional pngum períodobet nacional pngférias, muitos israelenses estavam distraídos e relaxados”, disse à BBC News Mundo, o serviçobet nacional pngespanhol da BBC, Ian Parmeter, historiador do Centrobet nacional pngEstudo Árabes e Islâmicos da Universidade Nacional da Austrália.

Tensões na Cisjordânia e expansãobet nacional pngassentamentos judaicos

Os ataques deste sábado também acontecerambet nacional pngum momentobet nacional pngescaladabet nacional pngviolência na Cisjordânia, região que fica entre Israel e a Jordânia e que é reivindicada pelos palestinos, mas tem a presençabet nacional pngforças israelenses desde 1967.

Cercabet nacional png3 milhõesbet nacional pngpalestinos vivem na região (sem incluir os que morambet nacional pngJerusalém Oriental), onde também está localizada a capital administrativa da Autoridade Palestina, Ramallah.

Nos últimos anos, no entanto, tem havido uma proliferaçãobet nacional pngassentamentos judaicos na Cisjordânia. Esses assentamentos, embora sejam considerados ilegais pela ONU, são diretamente estimulados pelo governo israelense.

Segundo as Nações Unidas,bet nacional png2022, cercabet nacional png700 mil judeus estariam vivendobet nacional pngassentamentos da região.

Parte destes assentamentos é ocupado por extremistas que nos últimos anos têm sido responsáveis por ataques contra civis palestinos na Cisjordânia. Incidentesbet nacional pngque extremistas palestinos atacam assentados israelenses também têm sido registrados.

Segundo a ONU, neste ano, 190 palestinos foram mortos por israelensesbet nacional pngincidentes envolvendo armasbet nacional pngfogo - pelo menos metade deles faria partebet nacional pnggrupos militantes. Outros 30 israelenses teriam sido mortos por palestinos na região.

Desde 2022, maisbet nacional png1000 palestinos teriam sido obrigados a deixar suas casas na Cisjordânia.

O aumento da tensão na Cisjordânia fez com que Israel deslocasse partebet nacional pngsuas forças militares que ficavam nas proximidadesbet nacional pngGaza para a região, o que pode ter facilitado a invasãobet nacional pngmilitantes do Hamas.

“O exército israelense estava muito mais focado nas dificuldades da Cisjordânia e demorou a transferir o seu pessoal para o sul do país para defender as populações que estavam sendo atacadas”, diz o historiador Ian Parmeter.

Crédito, EPA-EFE/REX/Shutterstock

Legenda da foto, Soldado israelense prepara artilharia pertobet nacional pngGaza

Propaganda para o Hamas

O Hamas também pode ter usado o ataque como propaganda contra Israel para tentar aumentar abet nacional pngpopularidade nos territórios palestinos e radicalizar mais pessoas na região.

"O Hamas sabe que não pode sobreviver, especialmente diante das condiçõesbet nacional pngameaça na Faixabet nacional pngGaza, sem fazer propagandabet nacional pngque eles estão lutando para um Estado da Palestina e contra Israel", diz Rashmi Singh, professorabet nacional pngRelações Internacionais da PUC Minas que tem maisbet nacional png20 anosbet nacional pngexperiênciabet nacional pngterrorismo e contra-terrorismo.

"Existe uma raiva e uma frustração muito grandes contra Israel que pode ser transformadabet nacional pngapoio. Qualquer facção ou grupo quer promover isso e até usar violência para esse fim."

Neste contexto, o crescimentobet nacional pngoutros grupos menores, mas cada vez mais extremistas, podem estar sendo vistos como uma ameaça à autoridade do Hamasbet nacional pngGaza.

Para Ian Parmeter, do Centrobet nacional pngEstudos Árabes e Islâmicos da Universidade Nacional Australiana, uma dessas organizações é a Jihad Islâmica.

"Um fator importante que motiva o Hamas para a violência é a necessidadebet nacional pngvigiar os seus flancos", afirmou Parmeterbet nacional pngum artigo publicado no site The Conversation.

"Estes grupos lançaram, por vezes, ataquesbet nacional pngfoguetesbet nacional pngforma independente contra Israel, o que traz retribuição contra todo o território."

Crédito, EPA-EFE/REX/Shutterstock

Legenda da foto, Destruição na cidadebet nacional pngGaza, na Faixabet nacional pngGaza

Negociaçãobet nacional pngprisioneiros

Segundo números divulgados pelas forças armadasbet nacional pngIsrael, maisbet nacional png100 pessoas (civis e militares) foram sequestradas por combatentes do Hamas durante o ataque e são mantidasbet nacional pngcativeiro.

Alguns estão vivos e outros já são considerados como mortos, declarou o porta-voz militarbet nacional pngIsrael, o tenente-coronel Jonathan Conricus.

Crianças, mulheres, idosos e deficientes estão entre os reféns, acrescentou ele.

Segundo o Hamas, o númerobet nacional pngisraelenses capturados foi "bem maior" do que as dezenas inicialmente estimadas, e eles são mantidosbet nacional pnglocais espalhados por toda a Faixabet nacional pngGaza.

No passado, grupos palestinos usaram reféns como moedabet nacional pngtroca para garantir a libertaçãobet nacional pngmilitantes detidos por Israel, o que pode explicar uma das motivações do ataque.

Em 2011, por exemplo, Israel concordoubet nacional pngliberar 1.027 prisioneiros palestinosbet nacional pngtroca da libertação do soldado israelense Gilad Shalit, que permaneceu por maisbet nacional pngcinco anos como refém do Hamas.

Cercabet nacional png4,5 mil palestinos estão detidosbet nacional pngprisões israelenses atualmente – uma questão que é muito sensível para a população da Palestina.

Segundo a agênciabet nacional pngnotícias Reuters, o governo do Catar estaria tentando negociar a solturabet nacional png36 mulheres e crianças capturadas pelo Hamasbet nacional pngtrocabet nacional png36 prisioneiros palestinos.

Uma guerra que se estende por gerações

Para Rashmi Singh, ataques como o do último finalbet nacional pngsemana costumam acontecerbet nacional pngforma cíclica, a cada 15 ou 20 anos.

Isso porque todas as vezesbet nacional pngque há um movimento maiorbet nacional pngresistência contra Israel, os militantes envolvidos são mortos ou presos, diz a especialista.

E diante da continuidade do conflito nos últimos 75 anos, novos grupos ou integrantes sempre costumam surgir.

Crédito, EPA-EFE/REX/Shutterstock

Legenda da foto, Ataque israelensebet nacional pngGaza

"E uma nova geraçãobet nacional pngresistência só surge dali uns 15 ou 20 anos novamente, quando podemos ter novos ataques."

Segundo a professora da PUC Minas, isso fica evidente nos vídeos do ataque que circularam nas redes sociais. "As pessoas nos vídeos são extremamente jovens. Ou seja, provavelmente não conhecem a vida na Faixabet nacional pngGaza sem guerra", afirmou.