As fotografias que revelam passado oculto das favelas brasileiras:site de aposta em portugal
Dona Ana, uma senhora negra, guarda os objetossite de aposta em portugalum armário, sem nunca perder o hábitosite de apostasite de aposta em portugalportugalmanuseá-los — ainda hoje, espia as fotografias no fundo daquelas superfícies plásticas.
a no YouTube com Kanon e Georgi si mesmo! Tenha site de aposta em portugal {k0} mente que todos os
sobre oMmo RJT t ❤️ combate mMo estão sujeitos a alterações: Será oRioTM MiMA Río T ser
O código Kagwirawo no Airtel é uma ferramenta útil para depósitos e saques na plataforma Kagwirawo Uganda. Com apenas algumas ☀️ etapas simples, você pode desfrutar dos melhores jogos esportivos online disponíveis na Uganda.
Como Usar o Código Kagwirawo no Airtel
bets 364Introdução: O CBEST e as novas alterações
O CBEST (California Basic Educational Skills Test) avalia as competências básicas site de aposta em portugal leitura, matemática 💸 e redação necessárias para lecionar site de aposta em portugal escolas na Califórnia. Com as novas mudanças na Lei site de aposta em portugal Trailer site de aposta em portugal Educação TK-12 💸 (AB 130), o cronograma e a necessidade site de aposta em portugal realizar o CBEST enfrentam alterações significativas.
Fim do Matérias recomendadas
O ritual evoca uma sériesite de apostasite de aposta em portugalportugalrecordações: seu nascimento,site de aposta em portugal1943; a infância e a adolescência numa fazenda, trabalhando em regime análogo à escravidão; a chegada a Belo Horizonte, no início da vida adulta; os encontros com amigos e familiares; as brincadeiras prediletas dos filhos; e o cotidiano no Aglomerado da Serra, favelasite de aposta em portugalque reside há cinco décadas, na zona sul da capital mineira.
Habituada a narrar essas memórias aos netos, Dona Ana as examinaria junto a estudiosos interessados nas suas experiências pessoais.
Ao receber a visitasite de apostasite de aposta em portugalportugaluma equipe que circulava pela comunidadesite de aposta em portugal2015, colhendo depoimentos dos moradores para um projetosite de apostasite de aposta em portugalportugalhistória oral, a ex-faxineira sugeriu aos integrantes que apreciassem seus tesouros.
Então, o ritual se repetiu. A caixasite de apostasite de aposta em portugalportugalmonóculos foi retirada do guarda-roupa e, os artefatos circularamsite de apostasite de aposta em portugalportugalmãosite de aposta em portugalmão, sendo erguidos na direção dos olhos e posicionados contra a luz.
Uma após a outra, as lembranças ganhavam forma: festassite de apostasite de aposta em portugalportugalaniversário; jogossite de apostasite de aposta em portugalportugalbilhar; torneiossite de apostasite de aposta em portugalportugalfutebol; sete homens numa laje; uma garotinha prestes a chutarsite de apostasite de aposta em portugalportugalbola verde-amarela; José Teófilo, maridosite de apostasite de aposta em portugalportugalDona Ana, tomando cerveja e comendo petiscos num botequim.
“Foi uma epifania”, relata à BBC News Brasil o artista visual Guilherme Cunha.
“Em uma fraçãosite de apostasite de aposta em portugalportugalsegundo, vinte anossite de apostasite de aposta em portugalportugalpesquisa imagética se passaram como um filme dentro da minha cabeça. Em tudo que eu já havia estudado, não consegui identificar nada que se assemelhasse àquelas imagens.”
Os apetrechos eram janelas para um novo universo pictórico, até então negligenciado por instituições arquivísticas.
“Perguntei à Dona Anasite de apostasite de aposta em portugalportugalonde vinha aquilo tudo, e ela me disse que um gruposite de apostasite de aposta em portugalportugalhomens perambulava com máquinas nas ruas da comunidade, oferecendo retratos aos moradores.”
Adão Serralheiro, fotógrafo indicado pela proprietária dos monóculos, recepcionou a equipe com café e biscoitos; entretanto, já havia abandonado o ofício — e, uma semana antes, jogara no lixo o próprio acervo.
Por indicação dele, Cunha abordaria João Mendes, donosite de apostasite de aposta em portugalportugalum pequeno estúdio na Serra, e seu amigo, Afonso Pimenta. Ambos tinham coleções preservadas.
“Eu me preocupava com as pessoas que vinham aqui”, declara Mendes à reportagem, sentado na mesma banquetasite de aposta em portugalque acomoda a clientela para retratos 3x4.
“Às vezes, o cara pedia uma nova cópia da foto que tinha feito comigo, e eu dizia que tudo bem. Era só ir lá no arquivo e caçar os negativos pra ele. Em algum momento, eu acabava achando."
Na casasite de apostasite de aposta em portugalportugalPimenta, dezesseis caixas armazenam todo o seu legado: “Isso se chama zelo profissional”, atesta o fotógrafo.
“Meu cliente se vai, e continuo trabalhando pra família. Trinta anos depois do cara ter morrido, ainda recebo encomenda. Por isso, nunca joguei um negativo fora.”
Estima-se que os acervos contenham ao menos 250 mil retratos, produzidos entre a décadasite de apostasite de aposta em portugalportugal1960 e o início do século 21 — são cliques intimistas, eternizando matrimônios, batizados, velórios e celebrações.
Em conjunto, as fotografias estabelecem um panorama inédito da história recente brasileira, desnudando o Aglomerado da Serra pelo olhar dos próprios cidadãos que ali viveram.
O registrosite de apostasite de aposta em portugalportugalsuas identidades, lutas e conquistas é também um microcosmo das ânsias e desejos que impulsionam as favelassite de apostasite de aposta em portugalportugaltodo o Brasil.
“Tradicionalmente, essas populações eram retratadas apenassite de aposta em portugaldocumentos civis”, afirma Cunha.
“Mas na foto do RG e da carteirasite de apostasite de aposta em portugalportugaltrabalho, os sujeitos se limitam aos papéis exercidos dentrosite de apostasite de aposta em portugalportugaluma hierarquia social.
A obrasite de apostasite de aposta em portugalportugalJoão Mendes e Afonso Pimenta se baseia num processo oposto, embora se aproprie das mesmas ferramentas.
Cada retrato deles é uma exaltação do indivíduo,site de apostasite de aposta em portugalportugalsuas dimensões culturais e afetivas”.
Em março, tais imagens serão compiladas no livro Retratistas do Morro (Editora Primata).
O volume, organizado por Cunha, abrange 146 trabalhos e surge na esteirasite de apostasite de aposta em portugalportugalum reconhecimento artístico internacional.
Depoissite de apostasite de aposta em portugalportugaluma exposição no Sesc Pinheiros,site de aposta em portugalSão Paulo, e outra na Fundação Clóvis Salgado, no Centrosite de apostasite de aposta em portugalportugalBelo Horizonte, Mendes e Pimenta chegaram ao Peabody Essex Museum, nos Estados Unidos, e à Aperture Magazine, uma das mais tradicionais revistassite de apostasite de aposta em portugalportugalfotografia do mundo, editadasite de aposta em portugalNova Iorque.
Nos últimos meses, a dupla teve obras adquiridas pela Pinacotecasite de apostasite de aposta em portugalportugalSão Paulo, pela Biblioteca Nacional Francesa e por Kenneth Montague, o maior colecionadorsite de apostasite de aposta em portugalportugalarte afrodiaspórica do Canadá.
“Defendemos que essas imagens não se tornem um fetiche”, observa Cunha.
“São visões da realidade brasileira que permaneceram ocultas por séculos. Quando elas vêm à tona, a gente fica paralisado porsite de apostasite de aposta em portugalportugalbeleza, e um grande encantamento inunda todos nós. Mas o apelo visual não é a única dimensão desse trabalho. Os retratos formam um camposite de aposta em portugaltorno do qual orbitam inúmeras memórias pessoais. Juntas, elas formam um gigantesco imaginário coletivo.”
O mistério da Kodak
Cercasite de apostasite de aposta em portugalportugal50 mil pessoas habitam o Aglomerado da Serra, segundo estatísticas da Prefeiturasite de apostasite de aposta em portugalportugalBelo Horizonte.
É a maior favelasite de apostasite de aposta em portugalportugalMinas Gerais, tendo surgido no final do século 19, com a chegada dos trabalhadores que ergueram a capital do Estado.
Desde então, uma parcela significativasite de apostasite de aposta em portugalportugalseu contingente populacional é formada por imigrantes.
Eles chegam pelo nortesite de apostasite de aposta em portugalportugalSão Paulo, pelo sul da Bahia ou, como ambos os fotógrafos, pelo interior mineiro.
Afonso Pimenta nasceusite de aposta em portugalSão Pedro do Suaçuí, pequeno município no Vale do Rio Doce, e vivesite de aposta em portugalBelo Horizonte desde 1963.
Aos 9 anos, assentou-se com a madrinha no Cafezal, uma das oito vilas que compõem a favela.
Por toda a vida, exerceu ofícios paralelos à fotografia: inicialmente, vendia esterco pelas ruas da cidade; depois, foi gari, feirante, metalúrgico, leãosite de apostasite de aposta em portugalportugalchácara, instrutorsite de apostasite de aposta em portugalportugalartes marciais e operário da construção civil.
O primeiro contato com a fotografia se deu na adolescência, quando um colegasite de apostasite de aposta em portugalportugalescola lhe apresentou uma Kodak Instamatic, câmerasite de apostasite de aposta em portugalportugalbaixo custo voltada ao público amador. O rapaz abriu a portinhola do aparelho, deixando seu diafragma à vista. “Nem flash dava para colocar”, lembra Pimenta.
“Mas naquele tempo, quem tinha máquina, fosse qual fosse, era intitulado rei. E como os mistériossite de apostasite de aposta em portugalportugalDeus são grandes e inexplicáveis, pouco depois conheci um cara que furtava coisas. Ele disse que eu estava muito bonito, na crista da onda, e que ia vender umas roupas para mim.”
A transação envolvia uma jaqueta jeans e três calças bocasite de apostasite de aposta em portugalportugalsino.
“Elas batiam aquisite de aposta em portugalcima, cobrindo o umbigo, quase chegando no peito. Mal precisava vestir camisa, só as pantalonas já davam contasite de apostasite de aposta em portugalportugaltodo o figurino. Era uma vermelha, uma amarela e uma preta, a única que servia para o meu tamanho. O cara me garantiu que eu ia ficar boy demais."
Um brinde, contudo, surpreenderia o jovem freguês — uma Kodak idêntica à que vira no colégio.
“Quitei as roupas direitinho, e ele disse que eu podia pegar a máquina para mim. Isso me deixou eufórico, porque o outro rapaz tinha falado que todo fotógrafo ficava milionário, que eles compravam carro, casa, apartamento. E meu maior sonho era dar um bom padrãosite de apostasite de aposta em portugalportugalvida para minha mãe, que ainda estava no interior”.
À noite, Pimenta não conseguiu dormir. Por toda a semana, aguardaria ansiosamente pelo embolso do salário. Nas horassite de apostasite de aposta em portugalportugalfolga, frequentava parques, observando o trabalho dos futuros colegas.
“Eles punham as crianças num burrinho e tiravam fotos, tipo lambe-lambe. Aí, meu filho, eu ia só pensando comigo mesmo... Com essa Kodak aqui, as calças que comprei, bonito do jeito que eu estou, vai ser sucesso!”.
No quinto dia útil, a espera chegou ao fim. Pimenta obteve dois ou três caixotessite de apostasite de aposta em portugalportugalfilme 126mm, e graças a eles um novo hábito se instituiu: andar a esmo com a máquina na mão, apresentando-se como fotógrafo aos transeuntes das avenidas. Ocasionalmente, arranjava serviço na portasite de apostasite de aposta em portugalportugalalguma igreja.
“O pessoal olhava para mim com aquela carasite de apostasite de aposta em portugalportugalquem não gostou, e eu ali, insistindo, até ser contratado. Batia a foto na entrada e marcavasite de apostasite de aposta em portugalportugalentregar depois."
A Kodak Instamatic, explica ele, é uma câmera leve, compacta, ideal para dias ensolarados e retratos ao ar livre. Na faltasite de apostasite de aposta em portugalportugalum tripé, recomenda-se o improviso — muros, postes, árvores e carros são válidos como basessite de apostasite de aposta em portugalportugalapoio.
“O segredo todo tá aí, no enquadramento”, diz. “Tem que segurar a maquininha bem firme, não pode tremer. Para mim, cada pose perdida era um desastre."
Esforços à parte, a fotografia ainda não passavasite de apostasite de aposta em portugalportugalum hobby.
“Eu era da resenha, ficava na 'malocagem'. Saía do expedientesite de apostasite de aposta em portugalportugalvarrição lá na prefeitura e ia direto para esquina, vendo o quesite de apostasite de aposta em portugalportugalerrado eu podia fazer”.
Só então, Pimenta voltava para casa — um barracosite de apostasite de aposta em portugalportugalcômodo único e 48 metros quadrados. Dali a alguns meses, os quinze ocupantes seriam expulsos numa violenta açãosite de apostasite de aposta em portugalportugalreintegraçãosite de apostasite de aposta em portugalportugalposse.
“E nisso, fui acolhido pela mãe do João. A gente já se conheciasite de apostasite de aposta em portugalportugalvista, e aquele cara era uma unanimidade, todo mundo gostava dele. Mas ele não queria estar pertosite de apostasite de aposta em portugalportugalninguém, pois não se misturava com os avacalhados feito eu.”
Mensagem no fusquinha
Filhosite de apostasite de aposta em portugalportugalagricultores, João Mendes nasceusite de aposta em portugalIapu, municípiosite de apostasite de aposta em portugalportugal12 mil habitantes a 250 quilômetros da capital mineira.
Aos 11 anos, mudou-se com a família para a cidadesite de apostasite de aposta em portugalportugalIpatinga, no Vale do Aço — ali, fixaram-se na rua do Buraco, o primeiro núcleosite de apostasite de aposta em portugalportugalpobreza urbana da região.
Mendes subsistia como ambulante, vendendo laranjas e picolés nos arredores da Usiminas, uma das principais siderúrgicas do país.
Em 1965, conseguiu seu primeiro emprego numa lojasite de apostasite de aposta em portugalportugalserviços fotográficos, o Foto Badi. “Foi graças a essas 3x4 que tudo começou”, diz.
“Meu patrão me explicou no estúdio como fazia e tal. Era revelar o filme, botar as fotos na arara e deixar escorrendo, até secar. Aí ele dava umas retocadas e vinha com os negativos. Eu ficava na câmara escura, tentando, tentando. Uma hora, deu certo”.
Os primeiros cliques, porém, ocorreram numa cerimôniasite de apostasite de aposta em portugalportugalcasamento.
“Eu estava na loja, o patrão tinha saído para almoçar. Um cara veio sem avisar, me chamando para bater fotosite de apostasite de aposta em portugalportugalnoiva. Perguntei se era urgente, ele disse que sim, que estava todo mundo na casa do rapaz, o juiz só me esperando para começar aquilo tudo. Tirei 24 chapas e não perdi nenhuma, pois cuidava para focalizar direitinho. Uma foto sem foco não vale nada."
Logo, as tarefas se diversificaram: Mendes era enviado para registrar aniversários, shows, bailes carnavalescos — e gente morta.
“Isso é muito doloroso”, afirma. “O patrão tinha convênio com a delegacia e mandava eu sair com os homens para fotografar os acontecimentos tristes do pedaço. Eu via acidente, batidasite de apostasite de aposta em portugalportugalcarro, arrancava uns caras do fundo do rio. O primeiro cadáver que peguei estava todo acabado, só na pele. Por causasite de apostasite de aposta em portugalportugalum incômodo com o cheiro, o posto médico enviou aquele corpo para o necrotério. Foi lá que tirei as chapas.”
Em 1968, Mendes chegaria a Belo Horizonte. Com dezessete anos e alguma experiência, integrou-se ao Foto Industrial, na região do Barreiro, sudoeste da cidade. Para complementarsite de apostasite de aposta em portugalportugalrenda, oferecia serviços às trabalhadoras da Rua Guaicurus, a maior zonasite de apostasite de aposta em portugalportugalprostituição do estado.
“Eu saía ao deus-dará e acabava fotografando as meretrizes, coisas meio perversas nas boates do centro. Até que baixou a polícia. Os homens estavam querendo descobrir quem é que fazia esses retratos por lá."
Cinco anos depois, pediu demissão e abriu seu próprio estúdio — o Foto Mendes, aindasite de aposta em portugalfuncionamento. Trata-se do mais antigo estúdio do gênero nas proximidades da Serra.
“Estou há meio século no mesmo endereço”, diz. “Você não faz nem ideiasite de apostasite de aposta em portugalportugalquanta gente já sentou nesse banco. O cara fica aqui, na parede, e eu do ladosite de apostasite de aposta em portugalportugallá, com a máquina. Essa favela tinha duas mil famílias segurando meu comércio."
Hoje, as demandas se atrelam à documentação civil — cédulassite de apostasite de aposta em portugalportugalidentidade e carteirassite de apostasite de aposta em portugalportugaltrabalho, principalmente.
Um discreto sorriso costuma brotar no rosto dos fregueses que Mendes fotografa para tais registros.
“Quando chega algum adulto por aqui, sempre pergunto se tirei retrato dele na creche. Quase todos dizem que sim”.
Por décadas, Mendes atendeu às escolas públicas da comunidade, produzindo fotossite de apostasite de aposta em portugalportugalbeca. Nelas, criançassite de apostasite de aposta em portugalportugalfisionomia alegre ostentam canudos para celebrar o momento da formatura.
“Você bate um papo com o menino, pede para ficar quietinho. O diploma às vezes cai, escorrega, nem todos conseguem segurar na posição certa. Mas a gente vai levando no banho-maria, e o resultado sempre sai bom”.
O esmero e a paciência lhe valeram, durante os anos 1970, solicitações inspiradas no star system da época: as mulheres desejavam se parecer com atrizes do cinema e da TV; Roberto Carlos, Jerry Adriani e outros cantores românticos eram os preferidos da clientela masculina.
“Isso acontecia demais”, explica. “O sujeito vinha aqui e me pedia fotosite de apostasite de aposta em portugalportugalperfil. Eu sentava elesite de apostasite de aposta em portugalportugallado, o cara ajeitava o cabelinho, as sobrancelhas e o bigode. Daí fazia posesite de apostasite de aposta em portugalportugalgalã, imitando capasite de apostasite de aposta em portugalportugaldisco. Dizia para eu caprichar, que a foto era para a namorada."
Mendes utilizava uma Yashica Mat, câmera japonesasite de apostasite de aposta em portugalportugalpreço mais acessível, e tripés improvisados com sarrafossite de apostasite de aposta em portugalportugalmadeira; sem dinheiro para comprar refletores, os substituía por tochassite de apostasite de aposta em portugalportugalpapelão.
“O Afonso era meu vizinho, passava sempre por aqui. Tinha um jeitão diferente, cabelo black power. E a polícia não gostava desses caras, né? Aí minha mãe pediu que eu desse uma chance pra ele. Mas o Afonso machucava as fotos tudo, com aquela mão cascuda. Quando trabalhou no primeiro casamento, foi uma amargura danada. Bateu um filmesite de apostasite de aposta em portugalportugal36 poses, e o padre não saiusite de aposta em portugalnenhuma."
A prática, contudo, elevaria a autoestima do jovem assistente.
“Quando me chamavamsite de apostasite de aposta em portugalportugalfotógrafo, eu só faltava botar um ovo”, lembra Afonso Pimenta. “Eu ficava assim, acelerado. E aos poucos, fui percebendo que ganharia minha sobrevivência dignamente, mas rico eu não tinha condiçõessite de apostasite de aposta em portugalportugalficar."
Foi numa igreja, observando um colega mais velho, que a realidade veio à tona.
“O homem devia ter uns 65 anos, e pensei que fosse milionário, depoissite de apostasite de aposta em portugalportugaltanto tempo mexendo com isso. Quando ele saiu, resolvi espiar do ladosite de apostasite de aposta em portugalportugalfora. Naquela época, o carro melhor que tinha na praça era o Alfa Romeo, o top dos tops. Mas o cara entrou nervoso num fusquinha amarelo, a lataria balançava toda."
Sobre o vidro traseiro do automóvel, um adesivo advertia Pimenta com a seguinte epígrafe: “Mesmo sendo fotógrafo, heisite de apostasite de aposta em portugalportugalvencer”.
Pausando o tempo
À caça da própria clientela, Pimenta largou o Foto Mendes para trabalhar como autônomo.
“Parti pro corpo a corpo”, diz. “Não aguento ficar quieto, esperando. Sou muito ansioso e gostosite de apostasite de aposta em portugalportugalver o resultado acontecer”.
Trazendo a máquina sob o pescoço e uma reservasite de apostasite de aposta em portugalportugalfilmes na bolsa, dirigia-se a botecos, onde clicava partidassite de apostasite de aposta em portugalportugalsinuca — durante o trajeto, era convidado por moradores a fotografar o interiorsite de apostasite de aposta em portugalportugalsuas residências.
Assim, um burburinho se espalhou pela comunidade: donassite de apostasite de aposta em portugalportugalcasa exibiam retratos às amigas, e maridos contratavam o serviço para honrar a gravidez das esposas.
Nessas imagens, mulheres amamentam os filhos, casais se abraçam na cama, famílias inteiras se reúnem na cozinha ou na salasite de apostasite de aposta em portugalportugalestar. Móveis e eletrodomésticos eram propositalmente enquadrados para criar uma atmosferasite de apostasite de aposta em portugalportugalabundância — estantes, vitrolas e aparelhos televisivos são alguns dos elementos mais recorrentes nas composições visuais.
Gradualmente, surgia um modus operandi.
“Procuro conversar com o cliente primeiro, para saber se tem um sorriso preso ou espontâneo, se fotografa melhor do lado direito ou esquerdo. Cabe ao fotógrafo capturar a aura positivasite de apostasite de aposta em portugalportugalcada pessoa, para que ela se torne linda.”
Em 1986, buscando negativos num laboratório, Pimenta encontrou Misael Avelino, fundador da Rádio Favela. Dele, recebeu a incumbênciasite de apostasite de aposta em portugalportugalfotografar bailes black na Pontifícia Universidade Católica (PUC).
Os eventos, promovidos pelo líder comunitário aos sábados, tinham início às 11h da noite e se estendiam até as 5h da manhã, atraindo centenassite de apostasite de aposta em portugalportugaljovens da periferia ao Diretório Central dos Estudantes.
“Aquela música bate forte, ecoa no ouvido”, relata o fotógrafo. “Ficavam as ruas tudo cheiosite de apostasite de aposta em portugalportugalgente, dançando, namorando, e tinha o caminhão que eles punham lá fora para fazer dublagem, desfilesite de apostasite de aposta em portugalportugalmoda, essas coisas.”
Pimenta levava, semanalmente, quatro filmessite de apostasite de aposta em portugalportugal36 poses, vendendo por três cruzeiros os retratos que produzia ao somsite de apostasite de aposta em portugalportugalfunk, soul e disco music. Logo nas primeiras semanas, dezenassite de apostasite de aposta em portugalportugalgarotas o procurariam para adquirir fotossite de apostasite de aposta em portugalportugalum sósiasite de apostasite de aposta em portugalportugalMichael Jackson que se apresentara no caminhão. O astrosite de apostasite de aposta em portugalportugalThriller era um dos cantores favoritos do público, quase empatando com James Brown; ao fim da noite, predominavam Tim Maia e Marvin Gaye.
“Aí o DJ punha uma seletivasite de apostasite de aposta em portugalportugalmúsicas lentas, e cada um procurava seu cacho. Era a hora do argumento, né? Os amores nasciam ali, naquela hora dançante. O casal se beijava? Eu batia o primeiro flagra. O cara fazia um passinho bom no meio da pista? Mais um flagra! Hoje, fotografo a quinta geração."
Pimenta sente-se envaidecido ao ser abordado por filhos e netossite de apostasite de aposta em portugalportugalvelhos clientes. Emsite de apostasite de aposta em portugalportugalmemória, permanecem cristalinas as circunstâncias que envolvem certas imagens.
O casamentosite de apostasite de aposta em portugalportugalMariângela, por exemplo, ocorreu num sábado. A noiva, entretanto, quis ser fotografada no domingo, sozinha — já na segunda-feira, devolveria o vestido, e precisavasite de apostasite de aposta em portugalportugalum retrato individual para enviar a familiares no interior.
Ela aparece no centro do quadro, sobre o chãosite de apostasite de aposta em portugalportugalterra batida, a brancura dasite de apostasite de aposta em portugalportugalroupa se opondo ao céu anil. Em meio a cercas e telhas, nove crianças, três mulheres e um vira-lata caramelo a observam.
“Ela casou assim, na parafernália, tudo emprestado”, recorda Pimenta. “Na entrada do beco, falei pra gente ir até o parque, mas ela não quis, pois as cocotassite de apostasite de aposta em portugalportugalfamílias conceituadas estavam lá embaixo e iam ficarsite de apostasite de aposta em portugalportugalgozação. Então, falei que a gente ia tirar a foto ali mesmo."
Também num sábado, Renatinha completou seis anos. Chovia, porém. Maissite de apostasite de aposta em portugalportugalvinte pessoas se acotovelaram na minúscula salasite de apostasite de aposta em portugalportugalseu barraco, cantando Parabéns a Você, antes que ela soprasse a vela do bolo, ladeado por uma garrafasite de apostasite de aposta em portugalportugalCoca-Cola, outrasite de apostasite de aposta em portugalportugalGuaraná Antarctica, e uma porçãosite de apostasite de aposta em portugalportugalpastéis.
Ao redor da mesa, todos parecem felizes — especialmente a aniversariante, com laços azuis no cabelo.
“Desde pequena, a Renatinha tem boa conversa. Ela disse pra mãe oferecer arroz com feijão pros convidados, que todo mundo ia ficar satisfeito. A mãe se sensibilizou, conseguiu um dinheiro e falou pra eu ir lá, que me pagaria depois. Naquela foto, só quem morreu foi o pai dela e as duas avós, que aparecemsite de apostasite de aposta em portugalportugalcanto."
Não é a única imagem a conter visualmente a presençasite de apostasite de aposta em portugalportugalfinados.
Cristina, moça sonhadora que frequentava a casasite de apostasite de aposta em portugalportugalPimenta, morreu aos 16 anos, no parto do primeiro e único bebê. Carmencita, jovem vaidosa que exibia figurinos extravagantes nos bailes black, sucumbiu a um feminicídio. Sônia, criança risonha fotografada no estúdio da Serra, morreria aos 23 anos,site de apostasite de aposta em portugalportugalcirrose hepática, após uma desilusão amorosa.
“A gente sente saudades, fica lembrando das coisas”, declara Mendes. “A cada dia que passa, a vida vai se fechando mais e mais pro lado da morte, até que uma hora chega a nossa vez."
Dona Inês, mãe do fotógrafo, faleceu aos 78 anos; o pai, conhecido como Seu Mundinho, aos 83. Em 1967, o filho adolescente pedira a eles que se sentassem na varanda, apertando o botão da máquina sob o crepúsculo das 17h. De costas para um muro rabiscado, o casal ainda nos observa com olhos fixos e as mãos nos joelhos.
“Se eu falar muito dessa foto, eu engasgo”, confessa Mendes. “A luz está apagando, o Sol indo embora, e meus pais repousam na sombra, muito nítidos naquela tardinha. Parece até que vejo os dois vivos, e bate aquela vontade da gente se encontrar novamente. Agora, é contemplar o retrato que fiz."
Pimenta se manifesta: “Não fossem os pais do João, talvez eu nem estivesse aqui. Eles me domaram, me puseram pra trilhar o caminho certo. Porque o fotógrafo é o único cara abaixosite de apostasite de aposta em portugalportugalDeus que consegue pausar o tempo".
Apartheid simbólico
O ex-assistente do Foto Mendes revive agora um dia indeterminadosite de apostasite de aposta em portugalportugal1987, quando Tãozinho, assíduo frequentadorsite de apostasite de aposta em portugalportugalbares, e Graça,site de apostasite de aposta em portugalportugalesposa, lhe encomendaram um clique. Eles sorriem num sofá com toalha xadrez, envoltos pela parede cor-de-rosa e por uma farta vegetação. Acanhada esite de apostasite de aposta em portugalportugalpernas à mostra, a mulher tenta, sem sucesso, esconder-se atrás do marido.
“Ele disse para eu não perder essa foto, que ela circularia o mundo”, lembra Pimenta. “Achei que o cara estava era doido. Quem ia extraviar o retratosite de apostasite de aposta em portugalportugalum candango daquele? Sempre achei que a foto ia ficar ali, parada, pegando poeira no barraco. Mas, para minha surpresa, a premonição veio a se cumprir."
Hoje, a obrasite de apostasite de aposta em portugalportugalJoão Mendes e Afonso Pimenta já não se restringe a becos e vielas. Sua descoberta, porém, evidencia um paradoxo: embora tal iconografia pareça insólita aos gestoressite de apostasite de aposta em portugalportugalmuseus, ela traduz um universo familiar, com o qual a maioria dos brasileiros se identifica.
“Aqui, vigora um apartheid simbólico”, declara Guilherme Cunha.
“É necessário que a gente nomeie o fato, pois nossa desigualdadesite de apostasite de aposta em portugalportugalrepresentação imagética é tão profunda quanto a socioeconômica, e obedece a regras similares. Assim como o regimesite de apostasite de aposta em portugalportugalsegregação racial na África do Sul impedia a livre circulação dos corpos negros pelo espaço público, o Brasil obstrui a preservaçãosite de apostasite de aposta em portugalportugalsuas imagens. Historicamente, as produções periféricas têm sido apartadas dos institutos e centrossite de apostasite de aposta em portugalportugalmemória. Nesse momento, presenciamos novos esforços para transformar essa realidade."
Segundo o curador, reações emocionais, como choro e alegria, têm sido comuns — sobretudo entre trabalhadores dos espaçossite de aposta em portugalque as obras são expostas.
“A arte pressupõe um movimento sensível”, afirma.
“No caso desses fotógrafos, ela se expressa pela compreensãosite de apostasite de aposta em portugalportugalseus iguais. A grandeza da existência humana é muito clara nas imagens que ambos constroem. É como se, ao fotografar alguém, eles fotografassem a si próprios."
Mendes, no entanto, admite não compreender plenamente a euforiasite de aposta em portugaltornosite de apostasite de aposta em portugalportugalsuas criações.
“O pessoal enxerga um montesite de apostasite de aposta em portugalportugalsignificado nesses retratos, mas eu só me preocupava se o cliente ia achar bom ou ruim”, diz. “Procuro executar do jeito certo, bem feitinho, pra dar um ibopesite de apostasite de aposta em portugalportugalacordo, mas nunca achei que fosse ter repercussão. O problema da fotografia é que sinto medosite de apostasite de aposta em portugalportugallargar e cairsite de aposta em portugalalgo pior. Mas ainda dá pra segurar a barra, apesar das muitas dificuldades."
Pimenta alega que o serviço está chegando ao fim, abreviado pela disseminação dos smartphones na esfera doméstica. Hoje,site de apostasite de aposta em portugalportugalrotinasite de apostasite de aposta em portugalportugaltrabalho se limita a casamentos e bailessite de apostasite de aposta em portugalportugaldebutantes. Ao migrar para o digital, adquiriu três novas câmeras e cinco cartõessite de apostasite de aposta em portugalportugalmemória — nunca utiliza o mesmo equipamentosite de aposta em portugalduas festas consecutivas.
“O zelo que o fotógrafo nutre por seu equipamento é o mesmo que ele deve sentir pelo próprio corpo”, diz.
“O tempo passa e você vai se cansando, mas às vezes o colega não sabe que uma Canon tem vida útil. Outro dia, um cara da minha idade estava me falando que se sente tão bem hoje quanto aos vinte anos. Maior conversa fiada!"