'Igrejas encontram espaçobetsportvazios culturais', diz ministra Margareth Menezes:betsport
Apesar da polarização, Margareth Menezes diz que o Ministério da Cultura está aberto a todas as vertentes políticas. "Democracia é isso: aceitar quem pensa diferentebetsportvocê e ir para o embate sem necessidadebetsportmatar ninguém. São todos bem-vindos aqui", ela afirma à BBC.
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Menezes foi entrevistada na última segunda-feira (18/3), mesmo diabetsportque o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu seus ministros na esteira da divulgaçãobetsportpesquisas que mostraram uma piora na popularidade da gestão.
Questionada sobre o momento político, a ministra avaliou que "o governo está aprendendo" a se posicionar no mundo digital. "Está melhorando inclusive, porque eu acho que já esteve pior nesse sentido."
Aos 61 anos e nascidabetsportSalvador, Menezes ocupa pela primeira vez um cargo público. Como cantora, projetou-se como um dos grandes nomes da música afro-brasileira com sucessos como Faraó (1987), Dandalunda (2001) e As Áfricas que a Bahia Canta (2023), samba-enredo da Mangueira no Carnaval do ano passado.
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Em 2004, fundou a Associação Fábrica Cultural, que promove ações culturais e educacionais para jovens na PenínsulabetsportItapagipe, antiga região industrialbetsportSalvador onde ela própria nasceu.
Menezes diz, aliás, que umabetsportsuas prioridades no ministério é levar cinemas, teatros e bibliotecas para bairros periféricos, onde a ofertabetsportapresentações culturais está muitas vezes restrita a igrejas.
Para ela, "as igrejas encontram espaçobetsportvazios culturais", expandindo-se onde há pouca ofertabetsportcentrosbetsportcultura.
Confira abaixo os principais trechos da entrevista, concedida no gabinete da ministra,betsportBrasília, na última segunda-feira (18/03).
betsport BBC News Brasil - betsport O campo da cultura foi afetado pelas divisões e pela polarização política que temos hoje no Brasil. Algumas expressões culturais são associadas à esquerda, e outras, à direita. Como é gerir o ministério nesse cenário?
betsport Margareth Menezes - Temos recebido aqui políticos da direita e da esquerda. Já vieram gruposbetsportSanta Catarina, como já vieram também da região Norte, da região Centro-Oeste. Eles trazem aqui as propostas, e o que a gente faz é orientar, dizer como tem que inscrever na Lei Rouanet etc.
Até porque é um direito do cidadão serbetsportesquerda ou serbetsportdireita. A gente não pode decidir para onde o projeto vai. Temos que buscar fazer uma política que abrace a todos.
betsport BBC - betsport O sertanejo, gênero musical mais popular hoje no Brasil, ficou muito associado à direita. Vários grandes nomes do sertanejo apoiaram Jair Bolsonaro na última eleição. Há políticasbetsportapoio ao sertanejo no seu ministério?
betsport Menezes - Com certeza. Democracia é isso: aceitar quem pensa diferentebetsportvocê e ir para o embate sem necessidadebetsportmatar ninguém. São todos bem-vindos aqui.
betsport BBC - Enquanto cantora, o avanço do sertanejo a surpreende?
betsport Menezes - O Brasil é muito diverso. O sertanejo tem o lugar dele, assim com o funk, o hip hop, a axé music.
Teve um momento que foi do rock, do pop rock. Outro momento foi da Tropicália, outro momento, que é agora, é do sertanejo. Depois vem o forró... Faz parte, isso é que é a beleza do nosso povo.
Acho que os artistas sertanejos têm uma qualidade maravilhosabetsportcantores. Aquela partebetsportarranjos é uma coisa belíssima.
betsport BBC - Muitos músicos brasileiros já tiveram grande projeção no exterior, assim como as novelas brasileiras. Mas hoje o mercado mudou e é dominado pelos streamings, como Netflix, HBO etc. Como a senhora vê a projeção internacional da cultura brasileira hoje?
betsport Menezes - O consumo da cultura, da indústria cinematográfica, da indústria do audiovisual, está muito ligado aos streamings, então nós precisamos ter nossa regulamentação. Tivemos agora que recuperar as cotasbetsporttela [exigênciabetsportque TVs por assinatura ofertem um percentual mínimobetsportproduções nacionais].
Retroagimos um pouco no conjunto no último governo, que não trabalhou muito bem essa parte. Nós estamos retomando.
Estamos lançando para a produção nacional, pela Ancine (Agência Nacional do Cinema), R$ 180 milhões para produtoras nacionais e mais R$ 320 milhões para colaborações entre produtoras nacionais e internacionais para a produçãobetsportfilmes.
betsport BBC - Tem algum paísbetsportque a senhora se inspirebetsportrelação a políticas culturais?
betsport Menezes - A Coreia do Sul. Meu sobrinho está querendo aprender a falar coreano (risos). Isso foi uma açãobetsportgoverno. Eles incrementaram a política (cultural). Passaram cinco anos investindo, criando escolas ligadas totalmente à produção cultural e à produção artística.
Nós podemos pegar experiências da Coreia ebetsportoutros lugares que fizeram esse deverbetsportcasa para fortalecer as suas indústrias culturais. Os Estados Unidos fizeram issobetsportalgum momento, a França, também.
Vale a pena a gente fazer esse exercíciobetsportfortalecer a indústria, buscar mais recursos, trazer centros e escolasbetsporttecnologias novas do audiovisual. Porque nós temos também um público consumidor da nossa própria cultura.
betsport BBC - E a Coreia é um país pequeno…
betsport Menezes - E o Brasil, alémbetsportser um país grande, tem referências positivas no exterior. Até pouco tempo atrás, éramos o 13º país que mais influencia culturasbetsportoutros países [o US News & World Report, veículo americano especializadobetsportrankings, divulgou neste ano um estudo que apresenta o Brasil como o 11º país com maior influência cultural no mundo; a lista é encabeçada por Itália, França e EUA, e a Coreia do Sul é o 7º].
betsport BBC - O que o Brasil ganha tendo projeção cultural no exterior?
betsport Menezes - Mostra a força do país. Quando você tem um país que investe nabetsportcultura, que consome abetsportprópria cultura, você dá um recado para quem está lá fora também.
Um país que não reconhece abetsportcultura fica alijado, fica submetido. Ele é colonizado pela cultura alheia.
betsport BBC - Alguns Estados (Paraná, Mato Grosso do Sul e Goiás) recentemente retiraram das escolas públicas o livro Avesso da pele,betsportJeferson Tenório, argumentando que a obra teria conteúdo impróprio,betsportteor sexual, para crianças e adolescentes. Como encarou o episódio?
betsport Menezes - É muito ruim, é uma açãobetsportcensura. É preciso dizer isso: é uma censura. Foi um livro escolhido pelo próprio Ministério da Educação, com participação da sociedade civil. Não foi uma coisa feita aleatoriamente. E qual é a essência do livro? Ele fala sobre o racismo.
Precisamos fortalecer ainda a ideiabetsportdemocracia no Brasil e entender que a luta racial é a lutabetsporttodo o povo brasileiro.
betsport BBC - O Ministério da Cultura pode tentar reverter a decisão desses Estados?
betsport Menezes - A ligação desse assunto especificamente é com o Ministério da Educação. O que nós podemos fazer, por parte do Ministério da Cultura, é dizer que nós não apoiamos nenhum tipobetsportdiscriminação,betsportpreconceitos, desse tipobetsportcensura com a cultura brasileira.
betsport BBC - Nos últimos anos, exposiçõesbetsporttemática LGBT foram alvobetsportmovimentos que,betsportmuitos casos, forçaram o encerramento ou cancelamento dessas exposições. Qual é a visão do ministério sobre o assunto?
betsport Menezes - Somos um país que ainda está atravessando a necessidadebetsportfortalecer a democracia. Nesse sentido, a gente não pode nunca aceitar ações que venham a constranger pessoasbetsportseu direito democrático,betsportpensamento ebetsportexpressão.
Nós estamos fazendo políticas com cotas para todas as linguagens culturais. Estamos contemplando os quilombolas, os LGBTs, a cultura cigana, as mulheres.
E quando você coloca a cota, você não está colocando um limite, mas dizendo que são cidadãos brasileiros que merecem também abetsportparticipaçãobetsportrelação ao fomento.
betsport BBC - Como a senhora vê o avanço do mercado cultural religioso? A música gospel hoje é muito forte, assim como séries televisivas sobre a Bíblia, e o mercadobetsportlivros religiosos.
betsport Menezes - A humanidade tem essas dinâmicas. Vejo isso da mesma maneira que vejo a questão dos estilos musicais. Hoje existe um grande público que consome a cultura gospel. Então, dentro do Ministério da Cultura, nós acolhemos essas manifestações culturais. A gente não está aqui para brigar.
betsport BBC - Nas periferias, as igrejas acabaram suprindo a demanda por bens culturais? Por exemplo, a demanda por música, pelo ensinobetsportmúsica, por espetáculos - coisas que as igrejas oferecem. Isso se deveubetsportalguma medida à ausênciabetsportteatros, cinemas e outras ofertas culturais nesses locais?
betsport Menezes - As igrejas encontram espaço nesses vazios culturais, pode-se dizer. Vaziosbetsportequipamentos também.
Nós estamos agora atendendo um apelo que vem da terceira Conferência NacionalbetsportCultura, que aconteceu dez anos atrás. De trazer equipamentos culturaisbetsportcidades que nunca os tiveram. Estamos trazendobetsportvolta os CEUs da Cultura [equipamentos culturais comunitários], recuperando obras que estavam paradas. E fazendo essa distribuiçãobetsporttodo o Brasil.
Teremos quase 200 CEUs da Culturabetsporttodos os Estados brasileiros a cada ano até 2027. São R$ 300 milhões para a construçãobetsportequipamentos culturais. Estamos também resgatando os cinemas, as bibliotecas. Então tudo isso preenche o ambiente, dá oportunidade para que as pessoas entrembetsportcontato com uma diversidade maiorbetsportcultura.
betsport BBC - No diabetsportque esta entrevista acontece (18/03), houve uma reunião do presidente Lula com todos os ministros - uma reunião que ocorreu alguns dias depois da divulgaçãobetsportpesquisas que mostraram uma piora na popularidade do governo. Qual é abetsportleitura do momento?
betsport Menezes - É um governo que tem entregado, um governo com entregas maiores do que muitos outros anos, e não só comparando com o governo passado
É difícil você ser um governobetsportesquerda e ter um olhar social num país que não está acostumado a colocar o pobre dentro do orçamento.
Agora, existe a questão da disputa no ambiente digital. Mas o que vai realmente mudarbetsportvida? O que está no ambiente digital ou o que está aqui nabetsportmaterialidade?
betsport BBC - O governo está perdendo a batalha no ambiente digital?
betsport Menezes - O governo está aprendendo mais. Acho que está melhorando inclusive, porque eu acho que já esteve pior nesse sentido.
Mas não temos como pensar negativamente no que está sendo produzido pelo governo. E a gente não está desistindo. Temos mais três anosbetsportgoverno e estamos com vontade desse enfrentamento.
betsport BBC - Qual o balanço que a senhora faz do períodobetsportque está no cargo?
betsport Menezes - Nós estamos com 20% menosbetsportservidores do que 2016, mas, no entanto, com entregas muito mais volumosas.
Primeiro teve a entrega, que era já uma obrigação,betsportexecutar a Lei Paulo Gustavo [aprovadabetsport2022 para amortecer impactos da pandemia no setor cultural, destinando R$ 3,86 bilhões à área até o fimbetsport2024]. Nós conseguimos uma aderência à leibetsport98% das cidades 100% dos Estados.
Também lançamos uma instrução normativa nova para a Lei Rouanet [que concede isençõesbetsportimpostos a empresas que apoiem iniciativas culturais; as novas regras, segundo o ministério, buscam facilitar a adesão à lei e dar mais transparência ao processo].
E estamos querendo o nosso Marco do Fomento, que está agora para ser aprovado no Congresso [o marco cria diretrizes para políticas culturais da União, Estados e municípios].
Também entregamos a Lei Aldir Blanc [aprovadabetsport2020, prevê R$ 3 bilhõesbetsportinvestimentos no setor também para atenuar impactos da pandemia].
É uma lei fantástica. É a primeira vez que nós vamos ter a oportunidade de, durante cinco anos, irrigar o setor cultural diretamente do governo federal para os Estados e municípios.
betsport BBC - Numa cerimônia recente, a senhora agradeceu ao presidente Lula pela nomeaçãobetsportministras mulheres, mas disse que vocês querem a paridade entre homens e mulheres (hoje as mulheres estão no comandobetsport9 dos 37 ministérios, 24% do total). A senhora se frustra com a quantidadebetsportministras no governo?
betsport Menezes - O governo do presidente Lula é o que até hoje está nos dando mais essa possibilidade. Ainda é pouco e precisamos pleitear mais. A gente quer chegar à paridade. A gente sabe que é uma construção, mas certamente a pauta da mulher é uma pauta importante para o governo, e cada vez mais nós vamos falar sobre isso.
Sobre a questão da equiparaçãobetsportsalários (entre homens e mulheres no mercadobetsporttrabalho): é obrigaçãobetsporttodas nós mulheres que estamos participando do governo, que estamosbetsportlugaresbetsportcomando, chamar isso como seriedade, porque merecemos essa equiparação. E merecemos a equiparaçãobetsportpossibilidades,betsportestarbetsportlugaresbetsportcomando.