Japão vê seu pacifismo históricotecnica da roletaxeque diantetecnica da roletaavançostecnica da roletaChina e Coreia do Norte:tecnica da roleta

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Legenda da foto, Protesto antinuclear no Japão, que sediou a cúpula do G7; país rediscute limitestecnica da roletaseu pacifismo das últimas 8 décadas

“Cedo ou tarde não sobrará nenhum hibakusha. Como o Japão terá mudado até lá?”

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O medo dele ecoa pelo Japão. O mundo ao redor do país mudou. E o próprio Japão envelheceu, e seu milagre econômico pós-guerra se enfraqueceu, diante do enorme poder e tamanho do mercado da China. Agora, um ansioso público japonês deseja maior proteção contra as novas ameaças que batem atecnica da roletaporta.

O governo do Partido Liberal Democrata (LPD), cujas mãos há tempos estavam atadas diante da aversão da população à militarização, agora veem esses nós ficando mais frouxos.

Legenda da foto, Toshiyuki Mimaki é parte do cada vez menor grupotecnica da roletapessoas que sobreviveram ao bombardeiotecnica da roletaHiroshima

O governo do premiê Fumio Kishida tem embarcado no maior gasto militartecnica da roletadécadas e planeja expandir suas Forças Armadas.

E cada passo rumo à militarização deixa o Japão cada vez mais dividido quanto a seus ideais pacifistas.

“O mundo está passando por um períodotecnica da roletaturbulência”, diz Mimaki. “Recentemente, o premiê Kishida começou a falartecnica da roletaaumentar o orçamento militar. Eu pensei: ‘será que vamos começar uma guerra?’”

Um equilíbrio difícil

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Deixadotecnica da roletajoelhos pelo usotecnica da roletabombas atômicas contra Hiroshima e Nagasaki, o Japão foi transformadotecnica da roletauma potência imperialista a uma nação pacifistatecnica da roletaquestãotecnica da roletaanos.

Sua Constituição pós-Segunda Guerra, adotadatecnica da roleta1947 e imposta pelas forças ocupantes americanas, consolidou essa transformação. A Carta contém uma cláusula conhecida como Artigo 9: o primeiro parágrafo renuncia à guerra, e o segundo promete que o país nunca manterá tropas militares.

Considerado a gênese do pacifismo japonês, o Artigo 9 está no centro do debate atual entre a necessidadetecnica da roletadefesa e o anseio por paz. Há quem acredite que essa cláusula enfraqueceu o Japão, mas outros argumentam que mudar isso significa abdicar do pacifismo e esquecer as dolorosas lições da história.

Diantetecnica da roletauma significativa oposição pública, vários líderes tentaram - sem sucesso - modificar o Artigo 9. Mas, diantetecnica da roletacada novo desafiotecnica da roletasegurança, o governo japonês conseguiu expandir a interpretação da cláusula.

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Legenda da foto, O domotecnica da roletaHiroshima, única construção remanescente do bombardeio; à direita, local durante a visitatecnica da roletalíderes do G7

As Tropastecnica da roletaAuto-Defesa (SDF), que seriam a versão japonesatecnica da roletaum exército, foram criadastecnica da roletaresposta à Guerra da Coreia (1950-53) e ao início da Guerra Fria. Nos anos 1990, durante a Primeira Guerra do Golfo, o Japão enviou a SDFtecnica da roletamissõestecnica da roletapaz - foi a primeira vez que as tropas foram enviadas a conflitos internacionais.

Mais recentemente, etecnica da roletamodo controverso, diante da ascensão da China etecnica da roletauma imprevisível Coreia do Norte, o (agora falecido) premiê Shinzo Abe promoveu leis que permitiram as tropas japonesas a combater no exterior junto a países aliados,tecnica da roletaautodefesa.

“O pacifismo é uma ideia fixa do público japonês, que não vai abandoná-la”, avalia James D Brown, professor-associadotecnica da roletaCiências Políticas da Universidade Temple, no Japão.

“Em vez disso, o que estátecnica da roletacurso é um processotecnica da roletareinterpretar o que pacifismo significa. Se já significou oposição ao usotecnica da roletaforças armadas, hoje significa oposição à agressão e aceitação do uso da forçatecnica da roletanome da autodefesa,tecnica da roletauma lista crescentetecnica da roletacircunstâncias.”

O Japão está mais uma veztecnica da roletaum ponto decisivo, diantetecnica da roletadesafios sem precedentes, que fizeram emergir um medotecnica da roletacerco.

É que a China, assertiva, gasta bilhõestecnica da roletadólarestecnica da roletaseu Exército e faz movimentos cada vez mais ousados no Mar do Sul da China - especialmente contra Taiwan, que fica próxima às ilhas do sul japonês.

Isso despertou entre japoneses a ansiedadetecnica da roletaque, caso surja um conflito armadotecnica da roletaTaiwan, o Japão acabaria sendo não apenas arrastado para uma guerra entre EUA e China, como também alvejado como um aliado americano. Afinal, o país abriga bases militares americanas e têm a maior concentraçãotecnica da roletatropas americanas fora dos EUA.

A Coreia do Norte, enquanto isso, é uma ameaça existencial perene. Suas ambições nucleares cresceramtecnica da roletamodo mais alarmante no último ano, quando o país lançou um número recordetecnica da roletamísseis - inclusive um que passou por cima do Japão.

A invasão russa da Ucrânia e a possibilidadetecnica da roletaque Moscou use armas nucleares também despertou conversas a respeitotecnica da roletaeventuais guerras nucleares. Por fim, os desdobramentostecnica da roletauma aliança mais próxima entre Moscou e Pequim também rondam os japoneses.

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Legenda da foto, Abe (à esq, ex-premiê) e Kishida (dir, atual premiê) fizeram defesas da militarização

“Há um entendimento geral no Japãotecnica da roletaque vivemostecnica da roletauma vizinhança muito pesada”, diz Kazuto Suzuki, professortecnica da roletaSegurança Internacional e Ciências Políticas na Universidadetecnica da roletaTóquio.

Pedidos por mais militarização costumavam ser dominados por uma minoriatecnica da roletaconservadores que tentavam resgatar o orgulho nacional. Mas pesquisastecnica da roletaopinião recentes mostram que a ideia tem ganhado apelo entre o público mais amplo.

Mais japoneses (41,5%tecnica da roleta2022,tecnica da roletacomparação com 29%tecnica da roleta2018) dizem querer uma SDF maior e mais forte. O apoio da aliançatecnica da roletasegurança Japão-EUA cresceu para 90%, e metade dos entrevistados se disse favorável a mudanças na segunda parte do Artigo 9, que impede o Japãotecnica da roletater um Exército.

Até algumas pessoastecnica da roletaHiroshima defendem isso.

“Sempre que eu ouço as notícias sobre mísseis (norte-coreanos), fico horrorizada”, diz uma mulher que preferiu se identificar apenas como Sra. Tanaka. “Há casos, no mundotecnica da roletahoje,tecnica da roletaque as pessoas são atacadastecnica da roletarepente. Me pergunto se é necessário ver (gastos militares) como algo que sirva para nos proteger.”

É o tipotecnica da roletacomentário que soa como música aos ouvidos do Partido Liberal Democrata. A agremiação sempre advogou por reformas constitucionais e defendeu a militarização,tecnica da roletaparticular durante o governotecnica da roletaAbe.

Em anos recentes, o governo também ficou sob pressãotecnica da roletaWashington -tecnica da roletaespecial sob Donald Trump - para que fizesse mais dentro do âmbito da aliançatecnica da roletasegurança com os EUA.

“O governo sempre quis avançar com o reforço da SDF. No passado, a opinião pública impedia isso - o que não é mais o caso”, diz Brown.

No atual governo Kishida, o Japão comprou oito caças, reformou porta-aviões e encomendou ,centenastecnica da roletamísseis Tomahawk. O premiê prometeu gastar 43 trilhõestecnica da roletaienes (R$ 1,5 tri)tecnica da roletadefesa nos próximos anos. Até 2027, o orçamento militar do Japão alcançará 2% do PIB e virará o terceiro maior do mundo.

Os liberais-democratas também estão pressionando por revisões constitucionais, para detalhar a existência da SDF e para deixar explícito que o Japão pode manter um exércitotecnica da roletaautodefesa.

Ironicamente, Kishida costuma ser visto como uma figura pacífica dentro do partido. Com laços próximos a Hiroshima - ele teve parentes mortos no ataque atômico -, o premiê tem advogado por um mundo sem armas nucleares. Até mesmo escreveu um livro sobre o assunto.

A escolha por Hiroshima para sediar o G7 no último fimtecnica da roletasemana parece ter sido deliberada, para reiterar essa estratégia antiproliferaçãotecnica da roletaarmas nucleares.

O argumentotecnica da roletaKishida étecnica da roletaque, para manter a paz na Ásia, o Japão precisa aumentar consideravelmente atecnica da roletadefesa. Mas alguns observadores também acreditam que a reputação pacifista dele dá um verniz mais politicamente aceitável à propostatecnica da roletamilitarização feita por seu governo.

“Figuras pacíficas podem adotar movimentos linha-dura porque as pessoas consideram seus motivos insuspeitos”, avalia Brown.

Cruzando a linha vermelha

Mas até mesmo os linha-dura japoneses não mencionam qualquer propostatecnica da roletaconstruir um arsenal nuclear. Não surpreende que esse permaneça sendo um assunto proibido no único país do mundo a ter sido atacado por uma arma nuclear.

Ainda assim, a busca japonesa por uma defesa mais robusta fez Abe e Kishida cruzarem o que alguns veem como uma linha vermelha.

Muitos dentro do Japão etecnica da roletavizinhos como a China temem que outros tabus do tipo possam ser quebrados pelo país no futuro.

Uma possibilidadetecnica da roletadiscussão é se o Japão deveria emprestar armamento letal para países que estejam sob invasão, como a Ucrânia. Durante o G7, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, agradeceu o Japão por um pacotetecnica da roletaauxílio financeirotecnica da roletaUS$ 7,6 bilhões. Tóquio também fornece equipamentos não-letais (como coletes à provatecnica da roletabalas) a Kiev.

Isso, nota o acadêmico Suzuki, seria uma espécietecnica da roleta“teste para Taiwan”. Já há questionamentos a respeitotecnica da roletao quanto o Japão auxiliaria os EUA no casotecnica da roletaum conflito com a China a respeito da ilha, considerada por Pequim uma província rebelde.

Uma ideia mais controversa diz respeito à ideia levantada por Shinzo Abe no ano passado,tecnica da roletao Japão abrigar armas nucleares americanas. O apoio público a essa ideia, conhecida como compartilhamento nuclear, ainda é baixo. Kishida a rejeitoutecnica da roleta2022, dizendo que ela se chocava com a posição antinuclear japonesa.

Ainda assim, o Japão pode acabar mudandotecnica da roletaideia sob determinadas circunstâncias, avaliam especialistas. Por exemplo, se a Coreia do Sul adquirir suas próprias armas, se a ameaça chinesa for vista como maior e se a Rússia usar armas nucleares na Ucrânia.

Cada vez que o Japão cruza uma nova linha vermelha ou debate a possibilidadetecnica da roletafazê-lo, intensifica a disputatecnica da roletatornotecnica da roletasua identidade pós-guerra e seu compromisso com o pacifismo.

Há quem argumente que, a despeito do avanço da militarização, os ideais japoneses permanecem intactos. Enquanto seu pacifismo possa parecer “inconsistente” ao longo dos anos, seus sentimentos antinuclear e antiguerra permanecem vivos, diz Daisuke Akimoto, especialistatecnica da roletapacifismo da Universidade Hosei,tecnica da roletaTóquio.

O que estátecnica da roletacurso agora é apenas “o fortalecimentotecnica da roletapolíticastecnica da roletasegurançatecnica da roletaresposta a mudanças no ambiente estratégico”, argumenta Akimoto.

Suzuki concorda. “Eutecnica da roletafato tenho confiança na intenção japonesa”, ele diz. “De fato acredito que o Japão se compromete há 80 anos a não ir à guerra. Tivemos uma experiência muito ruim e não vamos repeti-la.”

Legenda da foto, A ativista antinuclear Yuna Okajima teme que o governo destrua ideais pacifistas japoneses

Enfrentando o passado

Mas nem todos têm essa certeza e acreditam que essa constante redefinição do pacifismo estica o princípio até o pontotecnica da roletaque ele pode se romper.

“Acho que a forma como (o governo) está agindo é suja”, diz Sara Ogura, estudantetecnica da roletavisita a Hiroshima. “Eles estão interpretando (a lei)tecnica da roletamodo que deliberadamente abrem oportunidades para o uso da força. Me causa desconfiança.”

Embora o governo diga “não ter a intençãotecnica da roletair à guerra agora, acho que ele meio que está se preparando para ir à guerra quando chegar a hora”, diz o ativista anti-armas nucleares Yuna Okajima.

Alguns também acreditam que a disposição a se militarizar é alimentada pela ausênciatecnica da roletaum acertotecnica da roletacontas nacional com os próprios erros cometidos pelo Japão.

A “educação para a paz” a respeito das duas guerras mundiais é algo obrigatório nas escolas japonesas, mas há poucas discussões a respeito do papel do Japão como agressor e causadortecnica da roletaatrocidades durante a Segunda Guerra Mundial.

A estudante universitária Misuzu Kanda acredita que a “história negativa do Japão com outros países é às vezes encoberta pela questão nuclear.”

“Eu nasci na regiãotecnica da roletaHiroshima. A educação para a paz é feita principalmente da perspectivatecnica da roletaHiroshima e Nagasaki, a respeitotecnica da roletao quanto sofremos. Mas, ao mesmo tempo, quando pensamos na paz, acho que precisamos refletir também sobre o que fizemos aos outros países.”

Yuna Okajima concorda: “acho que é meio que uma provatecnica da roletaque o governo japonês não está disposto a enfrentartecnica da roletahistória. Por isso eles não ensinam isso às crianças - para nutrir seu espírito patriótico, acho. Mas se não olharmos para nosso histórico como perpetradores, aumenta a chancetecnica da roletacometermos o mesmo erro.”

Depoistecnica da roletater sido completamente destruída pela bomba atômica, Hiroshima é hoje uma cidade organizada e pitoresca localizada entre montanhas, que carrega poucos traços evidentestecnica da roletaseu passado - exceto pelo Domo Genbaku, a única estrutura que ficoutecnica da roletapé após o bombardeio.

No Parque Memorial da Paz são feitas as homenagens aos mortos, sob a inscrição: “Que todas as almas aqui descansemtecnica da roletapaz, porque não repetiremos o mal”.

“As bombas atômicas foram derrubadas sobre Hiroshima e Nagasaki porque começamos uma guerra”, diz Mimaki. “Hiroshima foi queimada, Nagasaki foi queimada, e foi o Exército Imperial japonês que cometeu esse erro. Não devemos entrartecnica da roletaguerras novamente.”