‘Minha mãe foi cortesã e não me envergonho’:bet 65 apostas
Em vezbet 65 apostasse fecharbet 65 apostascasa como as outras cortesãs (mulheres artistas), ela vestia um belo sári, noite após noite, cantando e dançando para gruposbet 65 apostashomens que vinham assistir às suas apresentações no kotha – uma palavrabet 65 apostasidioma hindi que designa o local onde as dançarinas profissionais se apresentavam para os homens ou, até mesmo, um bordel.
Sua vida havia lhe ensinado que as dificuldades, muitas vezes, eram o caminho da oportunidade – ou, pelo menos, da sobrevivência.
A conturbada vidabet 65 apostasRekhabai agora é temabet 65 apostasum livro, intitulado The Last Courtesan – Writing My Mother’s Memoir (“A última cortesã – escrevendo as memórias da minha mãe”,bet 65 apostastradução livre). O autor é seu filho, Manish Gaekwad.
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“Minha mãe sempre quis contarbet 65 apostashistória”, afirma Gaekwad. Ele não sente vergonha nem constrangimento por narrar a história como ela aconteceu. Depoisbet 65 apostasviver com a mãe no kotha até o final da adolescência, a vidabet 65 apostasRekhabai não tem segredos para ele.
“Crescendo no kotha, a criança observa muito mais do que deveria”, ele conta. “Minha mãe sabia e não sentia necessidadebet 65 apostasesconder nada.”
Gaekwad escreveu seu livro com base nas memórias contadas porbet 65 apostasmãe. A obra oferece ao leitor uma visão surpreendentemente honesta da vidabet 65 apostasuma cortesã indianabet 65 apostasmeados do século 20.
As cortesãs – também chamadasbet 65 apostastawaifs, na cultura popular indiana – já existiam desde cerca do século 2 a.C. no subcontinente indiano, segundo Madhur Gupta, dançarinabet 65 apostasOdissi – dança típica do leste da Índia – e autora do livro Courting Hindustan: The Consuming Passions of Iconic Women Performers of India (“Cortejando o Hindustão: as paixões que consumiam emblemáticas mulheres artistas da Índia”,bet 65 apostastradução livre).
“Elas eram mulheres artistas, cuja função era oferecer entretenimento e prazer à realeza e aos deuses”, segundo Gupta.
Até o domínio britânico, as cortesãs indianas eram consideradas artistas respeitadas. Elas eram profundamente qualificadas nas suas artes, ricas e apadrinhadas por alguns dos homens mais poderosos dabet 65 apostasépoca.
“Mas elas também enfrentavam a exploração nas mãos dos homens e da sociedade”, afirma Gupta.
A cultura das cortesãs na Índia começou a declinar quando os britânicos criaram leis destinadas a restringir essa prática. Eles as consideravam dançarinas ou profissionais do sexo.
O seu status caiu ainda mais depois da independência da Índiabet 65 apostas1947, quando muitas cortesãs foram forçadas e prostituir-se para sobreviver. A prática extinguiu-se por completo, mas as históriasbet 65 apostascortesãs famosas e suas vidas fascinantes foram perpetuadasbet 65 apostaslivros e filmes.
Uma dessas histórias é exatamente abet 65 apostasRekhabai.
Ela nasceubet 65 apostasuma família pobre na cidadebet 65 apostasPune, no oeste da Índia. Era a sextabet 65 apostas10 irmãos. Rekhabai não se lembra exatamente da data ou do ano, poisbet 65 apostasnoçãobet 65 apostastempo é nebulosa.
Cansadobet 65 apostasgerar cinco meninas, seu pai, embriagado, teria tentado afogá-labet 65 apostasum lago quando ela nasceu.
Com nove ou 10 anosbet 65 apostasidade, Rekhabai casou-se para liquidar uma dívida da família. Mais tarde, ela foi vendida pelos sogros para um kotha na regiãobet 65 apostasBowbazar,bet 65 apostasCalcutá, no leste do país.
Rekhabai ainda não era adolescente quando começou a aprender a cantar e dançar, para se tornar tawaif. Masbet 65 apostasvida e seus ganhos eram controlados por uma mulher da família que também era cortesã no mesmo local.
Durante a guerra sino-indianabet 65 apostas1962, essa mulher saiu do kotha e Rekhabai teve a chancebet 65 apostasassumirbet 65 apostasprópria vida. Suas apresentações à luzbet 65 apostasvelas a ajudaram a ganhar independência e a fizeram perceber que ela podia serbet 65 apostasprópria provedora e protetora, se tivesse coragem suficiente.
Este princípio a orientaria pelo resto da vida.
Liberdade e conflitos
Ao contrário das personagens famosas dos filmesbet 65 apostasBollywood, como Umrao Jaan e Pakeezah, Rekhabai nunca desejou ter um homem.
Ela decidiu não se casar novamente, apesarbet 65 apostaster uma longa listabet 65 apostasprotetores que a cortejavam. Seus pretendentes variavambet 65 apostaspequenos criminosos até ricos xeques e músicos renomados, mas casar-se significaria deixarbet 65 apostasvidabet 65 apostastawaif e deixar o kotha.
Ironicamente, o kotha – o pequeno espaço no qual ela se apresentava, morava, criava seu filho e onde abrigou diversos familiares,bet 65 apostasdiferentes épocas – tornou-se seu símbolobet 65 apostasliberdade e poder.
Ainda assim, o kotha também era um espaço repletobet 65 apostasconflitos e dificuldades, onde as circunstâncias destruíam a inocência, eliminavam a humanidade e evocavam emoções destrutivas, como raiva, medo e desespero.
No seu livro, Gaekwad narra algumas lembranças profundamente perturbadoras contadas porbet 65 apostasmãe, como o casobet 65 apostasque um marginal sacou uma arma para atirarbet 65 apostasRekhabai por ter se recusado a se casar com ele.
Em outro ponto, Rekhabai relembra o abuso que sofreubet 65 apostasoutras cortesãs, com ciúmes do seu sucesso. Algumas tentaram intimidá-la contratando gângsteres para ficar à espreita no ladobet 65 apostasfora do seu quarto, enquanto outras a chamarambet 65 apostasprostituta – o que não era o caso.
Mas o kotha também formou a mulher determinada que ela acabaria se tornando. Foi ali que Rekhabai descobriu seu talentobet 65 apostasdançarina e o poder que ela exercia sobre os homens que procuravam escapar das suas próprias inseguranças ou do tédio e da melancolia da vida.
Foi no kotha que ela aprendeu a ler os homens pela forma como eles a tratavam e a aplacar os egos quando necessário – ou despedaçá-los, se eles ameaçassem destruir o seu próprio.
“Eu dominava a linguagem do kotha. Eu tinha que falar quando era necessário”, ela conta.
Mas, ao lado daquela artista charmosa, esperta e exuberante, o kotha também viu Rekhabai transformar-sebet 65 apostasuma mãe coruja, intensamente protetora, que fazia tudo ao seu alcance para dar uma vida melhor para o seu filho.
Quando Manish Gaekwad era bebê, ela o mantinha ao seu lado no kotha. Rekhabai relembra como ela corria para ver como estava a criança entre cada apresentação, se achasse que havia ouvido seu choro.
Mais tarde, ela o mandou para um internato e comprou um apartamento, para que ele pudesse convidar seus amigos para passar a noite sem constrangimentos.
Rekhabai se orgulhava pelo homem que seu filho se tornou, embora o ensino médiobet 65 apostasinglês e a criação mais refinada do internato tenha feito com que ele ficasse diferente delabet 65 apostasmuitas formas.
Ela relembra uma história encantadora, quando seu filho a visitou nas férias da escola e pediu garfo e colher para comer.
“Eu conhecia o garfo [kaanta,bet 65 apostashindi], mas nunca havia ouvido aquele nomebet 65 apostasinglês antes [fork]... Precisei ir ao mercado comprar quando você explicou [o que era aquilo]”, conta ela no livro.
No final dos anos 2000, a cultura das cortesãs havia desaparecido por completo. Rekhabai deixou o kotha para viver no seu apartamentobet 65 apostasCalcutá. Ela morreubet 65 apostasMumbai, no oeste da Índia,bet 65 apostasfevereiro.
Gaekwad conta que irá admirarbet 65 apostasmãe para sempre, combet 65 apostascoragem, seu talento e seu gosto pela vida.
“Espero que os homens leiam este livro.” Segundo ele, os homens indianos têm essas “noções sobre a figura materna,bet 65 apostasque ela precisa ser um modelobet 65 apostaspureza”.
“Mas espero que este livro ajude as pessoas a identificar a individualidade das suas mães e aceitar quem elas são como pessoas, independentemente do seu relacionamento conosco”, conclui Gaekwad.