Cliente tem sempre razão? A cultura que alimenta crescentes casosaplicativo de aposta que paga na horaabusos a trabalhadores no Japão:aplicativo de aposta que paga na hora

Chamado dogeza, esse tipoaplicativo de aposta que paga na horapedidoaplicativo de aposta que paga na horadesculpas é usado no Japãoaplicativo de aposta que paga na horacasos extremos, quando se implora pelo perdão.

Tratados como deusesaplicativo de aposta que paga na horaum país que preza pelo bem servir, os clientes mimados estão cada vez mais intolerantes, dizaplicativo de aposta que paga na horaentrevista à BBC News Brasil a professora Hiromi Ikeuchi, da Faculdadeaplicativo de aposta que paga na horaSociologia da Universidadeaplicativo de aposta que paga na horaKansai.

Até o início da décadaaplicativo de aposta que paga na hora1960, os consumidores no Japão eram esmagadoramente a parte mais fraca. Em 1968, foi promulgada a Lei Básicaaplicativo de aposta que paga na horaDefesa do Consumidor, quando foram estabelecidos os princípios básicos da políticaaplicativo de aposta que paga na horaconsumo. Com a economia japonesaaplicativo de aposta que paga na horaascensão e o mercado cada vez mais competitivo, as empresas colocaram o cliente no pedestal, alimentando as expectativas dos consumidores para exigir cada vez mais.

“Ironicamente, pode-se dizer que ao mesmo tempoaplicativo de aposta que paga na horaque elevaram os padrõesaplicativo de aposta que paga na horaatendimento, as empresas criaram um ambiente onde é provável que ocorra insatisfação e até mesmo abusos e assédio”, afirma Ikeuchi à BBC News.

Ela cita como exemplo o que ocorre atualmente no serviçoaplicativo de aposta que paga na horaentregaaplicativo de aposta que paga na horadomicílio, que por si só já é uma comodidade ao cliente. Mas quando a mercadoria chega 5 minutos antes ou depois do horário especificado para a entrega, muita gente reclama.

“À medida que o mundo se torna mais conveniente e os serviços mais abrangentes, as expectativas dos consumidores aumentam.”

Segundo Ikeuchi, atualmente as pessoas estão cansadas, estressadas e menos tolerantes.

Os anosaplicativo de aposta que paga na horapandemiaaplicativo de aposta que paga na horacovid-19 só ajudaram a tornar tudo pior, com muita gente não conseguindo mais controlaraplicativo de aposta que paga na horaraiva. Como resultado, não aceitam os menores erros cometidos por outros, resultando num aumentoaplicativo de aposta que paga na horareclamações.

Antigamente, se houvesse alguma queixa, a primeira coisa que o consumidor fazia era ligar para o atendimento ao clienteaplicativo de aposta que paga na horaum telefone fixo. Hoje, as reclamações podem ser apresentadasaplicativo de aposta que paga na horaforma imediata e gratuitaaplicativo de aposta que paga na horaqualquer lugar.

A disseminação das redes sociais fez com que os insultos se tornassem comuns, e são mais persuasivos e impactantes, e com efeitos devastadores. Isto levou a novos problemas, como o bullying corporativo e destruiçãoaplicativo de aposta que paga na horamarca, antes mesmo da própria empresa tomar conhecimento do caso. No momentoaplicativo de aposta que paga na horaque descobre que algo está errado, a situação pode já ter se tornado incontrolável.

Muitas companhiasaplicativo de aposta que paga na horaseguro oferecem hoje o "seguro kasuhara", e têm tido grande procura. A Sompo Japan Insurance, por exemplo, recebeu a adesãoaplicativo de aposta que paga na hora20 mil empresas desde o lançamento do produto, que inclui balcãoaplicativo de aposta que paga na horaatendimento com um advogado para ajudar os clientes a lidar com o abuso.

O Governo Metropolitanoaplicativo de aposta que paga na horaTóquio criou uma força-tarefa para discutir as contramedidas. Para os representantes empresariais, elas devem não apenas proteger os trabalhadores, mas também as atividades empresariais. Maisaplicativo de aposta que paga na hora80% das pequenas e médias empresasaplicativo de aposta que paga na horaTóquio têm até 20 funcionários e dificuldades para lidar com esse tipoaplicativo de aposta que paga na horasituação.

O governador da provínciaaplicativo de aposta que paga na horaAichi, Hideaki Omura, recentemente expressou aaplicativo de aposta que paga na horaintençãoaplicativo de aposta que paga na horatrocar informações com Tóquio para a criaçãoaplicativo de aposta que paga na horauma portaria, que incluiria disposições sobre penalidades e diretrizes a fimaplicativo de aposta que paga na horaprevenir o abusoaplicativo de aposta que paga na horaclientes.

O desafio será customizar políticasaplicativo de aposta que paga na horacontramedidas para cada empresa e loja com base nesta portaria. Especialistas dizem que é difícil determinar o que constitui uma reclamação legítima e quando passa a ser assédio.

A fimaplicativo de aposta que paga na horadescobrir a situação real, a Central Sindical Rengo realizou um levantamento com 1.000 pessoas, incluindo 675 diretamente afetadas e 325 cujos colegasaplicativo de aposta que paga na horatrabalho foram vítimas. Quando questionadas sobre que impressão tinham sobre o númeroaplicativo de aposta que paga na horacasos nos últimos cinco anos, 77 disseram que acreditavam ter diminuído enquanto 369 responderam o contrário.

Das 675 pessoas que tinham sido vítimasaplicativo de aposta que paga na horakasuhara, 516 (76,4%) disseram que as suas vidas mudaram devido ao abuso: sentiam-se deprimidos ao ir trabalhar, física e mentalmente doentes, e não conseguiam se concentrar no trabalho e nem dormir direito.

O Ministério do Trabalho, Saúde e Bem-estar do Japão lançou uma cartilha informativa para conscientizar as pessoas dos males provocados pela intolerância e todo tipoaplicativo de aposta que paga na horadesrespeito, salientando que reclamar é diferenteaplicativo de aposta que paga na horaofender.

Muitas empresas japonesas hoje repensam como deve ser o relacionamento com os clientes e fazer as regras prevalecerem. Diante do aumento do abusoaplicativo de aposta que paga na horapassageiros ao pessoal da estação, tripulação e atendentes, a companhia ferroviária JR East criou a políticaaplicativo de aposta que paga na horaabuso e assédio, especificando os atos que se enquadram na categoriaaplicativo de aposta que paga na horakasuhara.

Caso ocorram ataques físicos ou mentais, comportamento obsessivo e exigênciasaplicativo de aposta que paga na horaserviço excessivo, a companhia ferroviária deixa claro que poderá acionar a polícia e tomar outras medidas através do seu departamento jurídico. Mas segundo um funcionário ferroviário, quando a empresa é parcialmente responsável por um atrasoaplicativo de aposta que paga na horatrem, muitas vezes é difícil tomar uma decisãoaplicativo de aposta que paga na horaretaliação.

A JR East opera na região metropolitanaaplicativo de aposta que paga na horaTóquio, áreaaplicativo de aposta que paga na horaTohoku e arredores, e criou um manual para seus maisaplicativo de aposta que paga na hora70 mil funcionários poderem lidar com passageiros inconvenientes e não comprometer a segurança e a pontualidade, reconhecidas mundialmente como uma das qualidades do sistemaaplicativo de aposta que paga na horatransporte japonês.

Em média, a companhia tem registrado cercaaplicativo de aposta que paga na hora30 casosaplicativo de aposta que paga na horakasuhara por mês nos horáriosaplicativo de aposta que paga na horapico. São casos como oaplicativo de aposta que paga na horaum um funcionário que foi agredido quando pediu a um passageiro para trocar do vagão especial (green) para o normal, como indicava a passagem que tinha nas mãos.

Jogoaplicativo de aposta que paga na horacintura

O brasileiro Romeu Kenichi Funatsumaru foi por um ano responsável pelo treinamentoaplicativo de aposta que paga na horafuncionários estrangeirosaplicativo de aposta que paga na horauma redeaplicativo de aposta que paga na horalojasaplicativo de aposta que paga na horaconveniência. Ele lembra que as relações sociais no Japão são verticalizadas, e nessa relaçãoaplicativo de aposta que paga na horapoder o cliente se acha muito acimaaplicativo de aposta que paga na horaquem o atende. “Eles jogam suas frustrações no funcionário, que não pode - e nem deve - revidar”, diz.

Romeu diz ter colocadoaplicativo de aposta que paga na horaprática muito do que havia aprendido quando atuou como comissárioaplicativo de aposta que paga na horabordoaplicativo de aposta que paga na horacompanhias brasileiras nos anos 1990.

“Não enfrente e nunca diga não ao cliente. Deixe-o desabafar, e quando ele estiver um pouco mais calmo, leve-o para um ambienteaplicativo de aposta que paga na horaque possa se sentir mais confortável para dialogar”, diz ele.

Romeu não chegou a se ajoelhar para pedir desculpas como no humilhante dogeza, porém repetiu inúmeras vezes a expressão “sumimasen” (sinto muito), o cliente tendo ou não razão.

O caso mais sério que presenciou na lojaaplicativo de aposta que paga na horaque gerenciou foi quando uma cliente jogou o american dog (empanadoaplicativo de aposta que paga na horasalsicha no palito)aplicativo de aposta que paga na horauma funcionária que tinha acabadoaplicativo de aposta que paga na horafritar o lanche. “Não foi uma reação normalaplicativo de aposta que paga na horauma pessoa”, lembra.

Estima-se que maisaplicativo de aposta que paga na hora80 mil estrangeiros atualmente trabalhemaplicativo de aposta que paga na horaesquemaaplicativo de aposta que paga na horameio período nas filiais das três principais lojasaplicativo de aposta que paga na horaconveniência do Japão, representando 10% dessa mãoaplicativo de aposta que paga na horaobra. O número aumentou cercaaplicativo de aposta que paga na hora1,4%aplicativo de aposta que paga na horacomparação com cinco anos atrás, e segue a tendênciaaplicativo de aposta que paga na horaalta.

Por causa da aparência física e com japonês fluente, Romeu nunca foi destratado como sendo um estrangeiro. Porém, as pessoas que ele treinou podem se tornar tornar alvos fáceisaplicativo de aposta que paga na horaclientes abusivos e também xenófobos.

Natasha Jacomini é um exemplo. Nos quatro anosaplicativo de aposta que paga na horaque trabalhou ao volante, ela foi vítimaaplicativo de aposta que paga na horauma passageira com dupla intolerância. “Consigo lidar com a situação, mas nesse dia não foi possível”, lembra ela, considerada a primeira taxista brasileira da regiãoaplicativo de aposta que paga na horaTokai.

Depoisaplicativo de aposta que paga na horaconfirmar a rota até o destino da viagem, a passageira começou a insultá-la quando o táxi já estavaaplicativo de aposta que paga na horaandamento, desconfiada do caminho. A viagem seguia e as ofensas aumentavam, e piorou quando a passageira viu o cartãoaplicativo de aposta que paga na horaidentificação profissional da brasileira.

Pelo nome descobriu tratar-seaplicativo de aposta que paga na horaestrangeira, e ao abuso moral adicionou comentários discriminatórios. “Isso me pegouaplicativo de aposta que paga na horaum jeito! Mas quando essa passageira me disse que estrangeiro não é gente, parei o táxi, pedi para ela descer e chamei outro táxi para ela continuar a viagem”.

O episódio foi registrado pela câmera instalada no veículo, e não houve desdobramento - nem queixa formal da passageira nem punição à taxista. Porém, ficou a certezaaplicativo de aposta que paga na horaque trabalhar com serviço no Japão não é fácil. “Muitos clientes tratam os funcionários com soberba, falamaplicativo de aposta que paga na horaforma ríspida sem qualquer motivo. Todos se acham superior a todos os demais”, lamenta Natasha.

Para a professora Hiromi Ikeuchi, da Faculdadeaplicativo de aposta que paga na horaSociologia da Universidadeaplicativo de aposta que paga na horaKansai, a criaçãoaplicativo de aposta que paga na horamanuais e normas é importanteaplicativo de aposta que paga na horavários sentidos. Alémaplicativo de aposta que paga na horapadronizar respostas e proteger o funcionário, permite ao consumidor entender até onde vai a obrigação da empresa.

Tirar o cliente do pedestal leva tempo, pois é como reinventar a cultura do consumo do Japão para o conceitoaplicativo de aposta que paga na hora"pagar o preço justo", sem direito a serviços excessivos para além desse valor.

Excessoaplicativo de aposta que paga na hora'haras'

O Japão é frequentemente associado a uma cultura coletivista, onde o grupo e a harmonia são valorizados.

Por esse motivo, as pessoas hesitavam expor seu desconforto ou insatisfação pessoal.

Contudo, com o recente “boom do abuso”, as pessoas parecem ter sido tomadas por uma súbita ondaaplicativo de aposta que paga na horainsatisfação e reclamamaplicativo de aposta que paga na horaquase tudo.

"Eu, pessoalmente, não gosto disso. Não creio que seja assim que uma sociedade saudável deva ser", diz a professora Ikeuchi.

Em um paísaplicativo de aposta que paga na horaque o coletivo importa, há uma sérieaplicativo de aposta que paga na horacondutas no Japão que hoje são classificadas como abuso e assédio.

São tantos, que cunharam até o termo "hara-hara" (harassment do harassment). No verão, é muito comum ouvir sobre o “ea-hara”, que ocorre quando uma pessoa define a temperatura do ar-condicionado no ambienteaplicativo de aposta que paga na horatrabalho, ignorando a vontade da maioria.

A tendência é os homens regularem o aparelhoaplicativo de aposta que paga na horatemperatura baixa, deixando as colegas reclamando do ambiente congelante.

Já o “aru-hara” é o termo usado quando se força alguém a beber, ignorando a vontade alheia e até mesmo o grauaplicativo de aposta que paga na horatolerância da pessoa ao álcool. É uma situação que pode ocorreraplicativo de aposta que paga na horaeventosaplicativo de aposta que paga na horaempresas ou confraternização entre subordinados e seus superiores.

Outro abuso com toques nipônicos é o “bura-hara”, sobre comentários da personalidade feitos a partir do tipo sanguíneo da pessoa.

No lugar do signo, muitos japoneses perguntam o tipo sanguíneo e o associa a qualidades (e defeitos). Há ainda o incômodo causado pelo cheiro (sume-hara) e pelo cigarro (sumo-hara).

Nesse universoaplicativo de aposta que paga na hora"hara", há os tipos com impactos profundos nas vítimas que necessitam do trabalho conjunto da sociedade para combatê-los, como são os assédiosaplicativo de aposta que paga na horapoder e assédio sexual, e agora também o abuso do cliente.

Para lidar com o problema do kasuhara, a professora Ikeuchi salienta que o primeiro passo é entender seu conceito e contexto. O consumidor também tem papel fundamental para mudar esse cenário.

”A primeira coisa a fazer é abandonar o sentimentoaplicativo de aposta que paga na horaprivilégio,aplicativo de aposta que paga na horaque o cliente é Deus eaplicativo de aposta que paga na horaque é um VIP”, diz.