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Por que Kamala Harris não destaca que pode se tornar primeira mulher eleita presidente dos EUA:bet open
Desde que começoubet opencampanha, ela tem evitado focarbet openseu gênero ou identidade racial, e prefere salientar suas qualificações para o cargo e a promessabet openque, se for eleita, irá governar para todos.
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Essa estratégia contrasta com a última vezbet openque uma mulher concorreu à Casa Branca por um dos dois grandes partidos americanos.
Em 2016, a democrata Hillary Clinton adotou como um dos temas centraisbet opensua campanha a ideiabet open“quebrar o tetobet openvidro” que impedia que mulheres chegassem à Presidência do país.
Clinton acabou vencendo no voto popular, com quase 66 milhõesbet openvotos, mas não no Colégio Eleitoral, e perdeu a disputa para o republicano Donald Trump.
Oito anos depois, Trump é novamente o candidato republicano, e desta vez os democratas apostambet openuma abordagem diferente para enfrentar o adversário.
Decisão estratégica
Vários fatores parecem pesar nessa decisão estratégica, entre eles o estilo pessoalbet openHarris, que ao longobet opensua carreira quebrou várias barreiras, mas sempre evitou dar atenção demasiada ao fatobet open“ser a primeira”.
Muitos observadores salientam que Harris está deixando o fato óbviobet openque é mulher falar por si. Além disso, lembram que o foco identitário traz o riscobet openafastar parte do eleitorado.
“(Harris) precisa navegar entre o potencialbet opensua identidade para energizar certos segmentosbet openeleitores e o riscobet openalienar outros”, diz à BBC News Brasil a cientista política Mara Ostfeld, professora da Universidadebet openMichigan.
Para Ostfeld, destacar a identidadebet openHarris dificilmente mudará a posição tanto dos eleitores que já estão motivados pela perspectivabet openeleger a primeira mulher presidente quanto dos que resistem à ideia.
“No entanto, há um terceiro segmentobet openeleitores que são indiferentes ou não têm certeza sobre como se sentembet openter uma mulher como presidente”, ressalta Ostfeld.
“Parece provável quebet openestratégia esteja focadabet openminimizar as diferenças percebidas por esses eleitores, com o objetivobet opennão amplificar qualquer incerteza ou desconforto que possam ter sobre uma mulher ocupar a Presidência.”
Segundo Debbie Walsh, diretora do Center for American Women and Politics (CAWP), centro que estuda a participação das mulheres na política americana e é ligado à Universidade Rutgers,bet openNova Jersey, os eleitores sabem que “é evidente que, se ela vencer, será a primeira (mulher)”.
“As pessoas que estão empolgadas com a ideiabet openela ser a primeira mulher eleita presidente, a primeira mulher negra, a primeira pessoabet openorigem asiática, já querem apoiá-la. Seu trabalho é tentar persuadir os que ainda não decidiram se podem votar nela”, diz Walsh à BBC News Brasil.
O exemplobet openHillary Clinton
“De certa forma, como Hillary Clinton veio antes, (como já) tivemos uma mulher indicada pelo Partido Democrata, Harris talvez não precise (destacar) tanto isso”, observa Walsh.
Quando Clinton concorreu à Presidência,bet open2016, o significado históricobet opensua candidatura era ressaltado desde o slogan “Eu estou com ela” até seus terninhos brancos, cor simbólica que remete ao movimento pelo sufrágio feminino no país.
Clinton era a primeira mulher a concorrer à Casa Branca por um dos grandes partidos. Seu gênero era usado como fator para motivar a base eleitoral e descrito não como obstáculo, mas como vantagem.
Em um discurso que ficou famoso, ela disse: “Não estou pedindo que votembet openmim simplesmente porque sou mulher, estou pedindo que votembet openmim por meus méritos”.
Logobet openseguida, completou: “Acho que um desses méritos é que sou uma mulher. E posso levar essa visão e perspectiva para a Casa Branca”.
O simbolismo se estendeu até o dia da votação. Clinton planejava realizarbet openfesta da vitória sob um “tetobet openvidro” real, no Javits Center, centrobet openconvençõesbet openNova York.
Mas aquela noite não acaboubet openfesta, e o trauma da derrota, que pegou muitosbet opensurpresa, levou os democratas a tentarem evitar repetir erros do passado.
Na Convenção Nacional Democrata deste ano,bet openagosto, muitas das mulheres estavam novamentebet openbranco, e Clinton voltou a usar a imagem do tetobet openvidro.
“Do outro lado desse tetobet openvidro está Kamala Harris, levantando a mão e fazendo o juramentobet openposse como 47ª presidente dos Estados Unidos”, disse, ao discursar.
Harris, no entanto, optou por vestir azul-marinho ao aceitar oficialmente a nomeação como candidata do Partido Democrata, e não fez nenhuma menção direta ao fatobet openser mulher.
Disse que aceitava a nomeação “em nomebet opentodos os americanos, independentementebet openpartido, raça, gênero ou da língua quebet openavó fala.”
“Ela passou a maior parte do tempo falando sobre o que fará pelo país (caso eleita), como está preparada e capaz, como tem experiência, é qualificada, forte”, observa Walsh.
O exemplobet openBarack Obama
O fatobet openHarris poder se tornar a primeira mulher a liderar os Estados Unidos não é totalmente ignorado pela campanha democrata.
“De muitas maneiras, outros estão levantando a questão da natureza históricabet opensua campanha”, salienta Walsh. “(O candidato a vice) Tim Walz fala sobre isso, muitos apoiadores estão falando sobre isso, e a imprensa está falando sobre isso.”
Mas ela própria evita fazerbet openseu gênero um ponto central, tocando no temabet openformas mais sutis, comobet openmenções àbet opencarreirabet openpromotora dedicada a defender mulheres e crianças contra “predadores” ou embet opendefesa do direito ao aborto.
Essa bandeira ganhou ainda maior relevânciabet opencampanhas democratas desde 2022, quando a Suprema Corte americana, com trêsbet opennove juízes nomeados por Trump, anulou a decisão que durante meio século garantiu o direito constitucional ao aborto no país.
“Se você observar, Kamala Harris está salientando (o fato de) ser mulher àbet openprópria maneira”, diz à BBC News Brasil a cientista política Rosalyn Cooperman, professora da University of Mary Washington, na Virgínia.
Cooperman, que é especialistabet openmulheres na política americana, observa que Harris toca no tema quando fala para fatias específicas do eleitorado, como mulheres negras.
“Em termosbet opensua estratégia geralbet opencampanha, uma coisa não exclui a outra”, afirma Cooperman. “Ela também consegue falarbet openmaneira convincente com grupos que se importam profundamente com a ideiabet open‘ter alguém que se parece conosco para nos representar’.”
Ao longobet opensua trajetória como promotora, procuradora-geral da Califórnia, senadora e vice-presidente, Harris nunca fezbet opensua identidade o foco principal, mesmo quando interlocutores insistem no assunto.
Em entrevista recente à rede CNN, quando uma pergunta tocou nesse tópico, Harris respondeu: “Estou concorrendo porque acredito que sou a melhor pessoa para fazer esse trabalho neste momento, para todos os americanos, independentementebet openraça e gênero”.
Muitos comparambet openestratégia àbet openBarack Obama, o primeiro (e único) homem negro a ser eleito presidente dos Estados Unidos.
Durantebet opencampanha vitoriosa,bet open2008, o democrata usou uma mensagem com apelo para o eleitorado mais amplo e destaque para suas propostas e para o desejobet openser “um presidente para todos os americanos”.
“Ele raramente falava sobre raça”, ressalta Walsh. “Ele não falava sobre se tornar a primeira pessoa negra eleita presidente.”
Mudanças desde 2016
Walsh lembra que,bet open2008, quando disputou as primárias democratas para ser a candidata do partido, mas perdeu para Obama, Clinton seguiu a sabedoria convencional, e não colocou seu gênerobet openprimeiro plano.
“Ela sempre se identificou muito (com a questãobet opengênero), e meio que concorreu contra o que erabet openmarca. Mas não deu certo”, afirma Walsh. “Acho que, quando concorreubet open2016, ela foi mais autêntica sobre isso. Era algo que realmente a definia.”
No entanto, o focobet opengênero, apesarbet openempolgar a basebet openapoio, também pode provocar rejeição. Muitos eleitores estão dispostos a votarbet openuma mulher, mas dão mais importância às propostas e competência do candidato, não ao potencialbet openfazer história.
“Se você olhar para Hillary Clinton, mulheres brancas, especialmente mulheres brancas casadas, votaram principalmentebet openDonald Trump”, observa Cooperman. “A noçãobet openque mulheres votambet openmulheres não levabet openconta o fator partidário.”
“É importante lembrar que Hillary Clinton não tinha nenhum roteiro, nenhuma mulher havia sido candidata à Presidência por um grande partido”, ressalta Walsh. “Além disso, seu adversário era um tipobet opencandidato contra quem, francamente, nenhuma pessoa havia concorrido.”
A experiênciabet openClinton serviubet openexemplo para Harris, que não apenas concorre como a segunda mulher a buscar o cargo por um grande partido mas, também, contra o mesmo adversário da antecessora.
“De certa forma, outro presentebet openHillary Clinton para Kamala Harris é quebet openperda mobilizou as mulheres politicamente neste paísbet openuma forma que não víamos há muito tempo”, salienta Walsh.
A derrotabet openClinton para Trump desencadeou marchasbet openprotesto ao redor do país e levou a uma maior participaçãobet openmulheresbet openorganizaçõesbet openbase e a uma ondabet opencandidaturas femininas a cargos públicos.
As eleiçõesbet openmeiobet openmandatobet open2018 registraram números recordesbet openmulheres concorrendo e sendo eleitas para cargos executivos e legislativos.
Segundo dados do CAWP, o númerobet openmulheres governadoras nos Estados Unidos é hoje o dobro do que erabet open2016, passandobet openseis para 12. Também há mais senadoras e deputadas federais.
Após quase quatro anos como vice, Harris concorre à Presidênciabet openum momentobet openque os eleitores americanos estão mais acostumados com uma candidata mulher.
"Embora ainda me doa não ter conseguido quebrar esse tetobet openvidro mais alto e duro, tenho orgulhobet openque minhas duas campanhas presidenciais fizeram parecer normal ter uma mulher no topo da chapa”, escreveu Clintonbet openjulho,bet openum artigobet openopinião no jornal The New York Times.
A menosbet openum mês das eleições, esta será novamente uma disputa acirrada. Pesquisasbet openintençãobet openvoto mostram Harris e Trump praticamente empatados, especialmente nos Estadosbet openque serão decisivos, com diferenças dentro da margembet openerro.
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