Revolução dos Cravos: o campofootball 1xbetconcentração usado pela ditadura salazarista contra adversários do regime:football 1xbet

Entrada do campofootball 1xbetTarrafal

Crédito, Institutofootball 1xbetPatrimónio Culturalfootball 1xbetCabo Verde

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A Colônia Penalfootball 1xbetCabo Verde, nome oficial do campo do Tarrafal, foi criadafootball 1xbetabrilfootball 1xbet1936, no contextofootball 1xbetvários protestos sociais que tinham começadofootball 1xbet1934, com a greve geralfootball 1xbet18football 1xbetjaneiro, que deram origem a várias detençõesfootball 1xbetPortugal.

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O regime criou um campofootball 1xbetconcentração numa das suas colônias e deportou os presos que considerava mais perigosos ideologicamente para lá.

"A primeira fase do campo acolheu majoritariamente os presos políticos que se opuseram ao regime: anarco-sindicalistas, comunistas e socialistas", explica a historiadora Isabel Flunser Pimentel.

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"Parecia-se com os campos, nãofootball 1xbetextermínio, masfootball 1xbetconcentração que existiam na Alemanha nazista ou na Espanhafootball 1xbetFranco. O objetivo não era matar os prisioneiros, mas sim neutralizá-los, colocá-los tão longe quanto possível e deixá-los morrer", completa ela.

Inicialmente tratava-sefootball 1xbetapenas um campo com tendasfootball 1xbetlona. "Foram os próprios presos,football 1xbetregimefootball 1xbettrabalhos forçados, que construíram depois os diferentes barracões", diz Nélida Brito, professorafootball 1xbetHistória Contemporânea na Universidadefootball 1xbetCabo Verde.

Por ali passaram 340 presos, todos portugueses, naquela que ficou conhecida como a "primeira fase" do campo.

As condições eram terríveis: aos maus tratos e espancamentos, juntava-se a escassa alimentação, a faltafootball 1xbetcondiçõesfootball 1xbethigiene — os "banheiros" eram cinco buracos no chão com latas dentro — , aliadas ao clima hostilfootball 1xbetCabo Verde, os perigos da transmissão da malária pelas picadasfootball 1xbetmosquitos e a faltafootball 1xbetcuidados médicos.

Tanto que o Tarrafal começa a ser conhecido como "o campo da morte lenta".

A construção do campo, nas primeiras décadas do século 20

Crédito, Acervo/SIPA

Legenda da foto, A construção do campo, nas primeiras décadas do século 20

A 'frigideira'

Quem hoje visita o campo do Tarrafal, transformadofootball 1xbetMuseu da Resistência, pode ler, inscrita nas paredes, a declaraçãofootball 1xbetintenções do médico Esmeraldo Pais da Prata, que deveria zelar pela saúde dos prisioneiros: "Não estou aqui para curar, mas sim para passar certidõesfootball 1xbetóbito".

"Morreram 33 presos entre 1936 e 1954. A maioria delesfootball 1xbetdoenças como a malária ou a diarreia, fruto da água que bebiam que não era potável. Mas outros devidos aos maus tratos que sofriam", conta Nélida Brito.

O pior dos castigos era a chamada "frigideira". Criada pelo primeiro dos diretores do campo do Tarrafal, Manual dos Reis,football 1xbet1937, tratava-sefootball 1xbetuma "caixa"football 1xbetconcretofootball 1xbetseis metrosfootball 1xbetcomprimento, trêsfootball 1xbetlargura e uma pequena fenda no teto.

"Exposta ao sol intensofootball 1xbetCabo Verde, o calor ali dentro podia chegar aos 60 graus", diz a professorafootball 1xbethistória.

"Quando se estava na frigideira — e aconteceufootball 1xbetficarem ali doze homens — a umidade da respiração condensava-se nas paredes por onde escorria. Não é necessário ter muita imaginação para se fazer uma ideia do que podia acontecer quando doze homens tentavam respirar dentrofootball 1xbetuma caixa daquelas, com o sol tropical a aquecer pelo exterior, e onde a evaporação do ar respirado escorria pelas paredes", escreveu Gilberto Oliveira, preso do campo, no livro Memória Viva do Tarrafal.

"Os corpos encharcados, o ar sem oxigênio sufocante, a fazer o sangue latejar nas fontes, os peitos oprimidos numa semiasfixiafootball 1xbetendoidecer, com toda aquela umidade viscosa, acicatada pelos ácidos pútridos do latão dos dejetosfootball 1xbetque todos eram obrigados a servir-se; um buraco enfim, onde os homens eram tratados pior que animais", escreve ele.

Gabriel Pedro, paifootball 1xbetEdmundo Pedro, foi o preso que mais tempo passou ali dentro: 135 dias. O desespero foi tal que um dia tentou tirar a própria vida, cortando os pulsos com uma lata que tinha lá dentro.

Encontraram-no a tempofootball 1xbetsalvar a vida dele. O filho, Edmundo, ficou trancado na frigideira por 70 dias, depoisfootball 1xbetuma tentativafootball 1xbetfuga.

"Não se pode imaginar o que era aquilo. A temperatura lá dentro chegava a atingir quase 50 graus. À noite havia uma condensação e a umidade escorria pelas paredes e nós lambíamos aquilo. Tiraram-nos a água. Não se faz ideia do que era aquele sofrimento", contou elefootball 1xbetentrevista ao jornal português i,football 1xbet2017.

Vista do campofootball 1xbetconcentração do Tarrafal, na ilhafootball 1xbetSantiago,football 1xbetCabo Verde

Crédito, Institutofootball 1xbetPatrimônio Culturalfootball 1xbetCabo Verde

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Desativação e reabertura

A maioria dos presos ia parar ao campo do Tarrafal sem qualquer julgamento. "É o caso do Edmundo Pedro", diz a historiadora Irene Flunser Pimentel. "Esteve lá 10 anos e só quando volta à metrópole é que é julgado e condenado a uma penafootball 1xbetano meio, que já não cumpriu, claro."

Em 1954, anos depois da vitória dos aliados na Segunda Guerra Mundial e alguma pressão internacional, o campo foi fechado.

No entanto,football 1xbet1961, com a eclosão da guerra do Ultramar e os movimentos independentistas das colônias portuguesas, o regime decidiu abrir o campofootball 1xbetnovo.

O nome foi modificado — passou a ser Campofootball 1xbetTrabalhofootball 1xbetChão Bom — e a "frigideira" foi aposentada.

No lugar dele surge a "holandinha", uma construçãofootball 1xbetcimento, também precária, mas que estava dentrofootball 1xbetoutro edifício, impossívelfootball 1xbetver do exterior.

Nesta segunda fase, os presos já não são anti-fascistas portugueses, mas sim membros dos movimentosfootball 1xbetliberação das colônias africanas.

"Por ali passaram 107 angolanos, 100 guineenses e 20 cabo-verdianos. Nesta segunda fase, não havia tantos trabalhos forçados, até porque o campo já foi construído e eles passaram a maior parte do tempo ali fechados", conta Nélida Brito.

"Criou-se uma biblioteca que tinha três funções: afootball 1xbetbiblioteca, graças ao enviofootball 1xbetlivros, afootball 1xbetescola e afootball 1xbetigreja também. Além disso, graças à cumplicidadefootball 1xbetalguns guardas, [os presos] conseguiram 3 rádios. As condições continuavam duras — os castigos corporais e a insalubridade continuaram a existir —, mas não havia a brutalidade da primeira fase."

Planta do campofootball 1xbetconcentraçãofootball 1xbetCabo Verde

Crédito, Acervo/SIPA

Legenda da foto, Imagem do campofootball 1xbetconcentraçãofootball 1xbetCabo Verde com descrições das instalações

Resistência

Os presos eram separados por nacionalidades e os guardas não deixavam que eles se misturassem, para que uns movimentos políticos não "alimentassem" os outros.

Durante os muitos anos que ali estiveram, os presos desenvolveram formasfootball 1xbetresistência.

"Muitos fizeram o que chamavamfootball 1xbetsuperação acadêmica. Os que tinham mais estudos ensinavam os outros, alguns só sabiam escrever o nome. E isto, esta aprendizagem uns com os outros, era uma formafootball 1xbetsobreviver e resistir àquela opressão", conta Diana Andringa, jornalista e autora do documentário Memórias do Campo da Morte Lenta.

Gravadofootball 1xbet2009, no 35º aniversário do encerramento do campo, o documentário mostra o reencontro dos presos que ali entraram e sobreviveram.

"Foi muito emocionante assistir àquilo. Muitos nem se conheciam, a maioria nunca tinha voltado ali e aquela partilhafootball 1xbetmemórias comuns, foi reparador. Entraram alifootball 1xbetoutra forma, como vitoriosos, porque o que estes africanos, presos nos anos 1960, tinhamfootball 1xbetcomum com os portugueses, presos nos anos 30, era o anti-fascismo e o anti-colonialismo."

Nas imagens há relatosfootball 1xbetuma crueldade extrema. De violência, espancamentos, históriasfootball 1xbetisolamento na holandinha que acabaramfootball 1xbetloucura. Mas o que mais impressionou a jornalista foi o que ela chamafootball 1xbet"maldade inútil".

"Alguns foram presos com os pais e, quando chegaram aqui, foram obrigados a despir-se. Muito angolanos e guineenses preferiram levar pancada a despirem-se na frente dos pais. Isso, nas suas culturas, é uma coisa que não se faz. E é aqui onde o colonialismo mostra o total desrespeito pela cultura do outro, e é aí, onde os agridefootball 1xbetforma brutal", diz a jornalista.

Pátio interno do campofootball 1xbetconcentração

Crédito, Institutofootball 1xbetPatrimônio Culturalfootball 1xbetCabo Verde

Legenda da foto, Pátio interno do campofootball 1xbetconcentração

"Foi dito às famílias dos guineenses que eles tinham morrido. E muitas fizeram o funeral. O peso que isto deixa numa família, o traumafootball 1xbetsaber depois que se enterrou um filhofootball 1xbetvida... Lembro-me também da mulherfootball 1xbetum anarquista português, o Mário Castelhano, que recebeu a devoluçãofootball 1xbetum envio postal com a palavra 'faleceu' escrita a vermelho. É assim que ela soube que o marido morreu. Estas são aquelas brutalidades que mais me chocaram, porque é a maldade inútil, não tem nenhuma finalidade, só ferir mais", relata ela.

Quando a revolução aconteceufootball 1xbetPortugal,football 1xbet25football 1xbetabrilfootball 1xbet1974, alguns presos souberam da notícia pelo rádio. Outros têm informações por uns poucos guardas que entretanto tinham criado uma certa relação com alguns.

"Tenho boas notícias para vocês, a coisa rebentou lá", disse-lhes disfarçadamente um guarda cabo-verdiano. Mas ali nada acontece. Pelo menos até o dia 1ºfootball 1xbetmaio.

Naquela manhã, uma multidão juntou-se à porta do campo e exigiu a libertação dos presos. Em poucos minutos o diretor, Dadinho Fontes, e alguns militares entraram no campo, anunciaram a mudançafootball 1xbetregime e libertaram os presos.

Quando saíram, os presos foram ovacionados pela multidão que os levou nos ombros ao centro da cidade, numa festa que seguiu pelo dia fora.

"O mais importante não é eles terem tentado matar-nos lentamente", dizfootball 1xbetdeterminado momento do documentário Jaime Schofield, cabo-verdiano que foi presofootball 1xbet1967.

"O mais importante é a recusa dessa morte lenta. No Tarrafal nós reinventamos a vida, sempre!"