As festas que levaram à queda do rapper Sean 'Diddy' Combs: 'Ele se achava um rei':
A derrocadaCombs foi rápida, com um extenso processo criminal federal acusando-otráfico sexual e associação criminosa. Maisuma dúziaprocessos civis também foram abertos, acusando o magnata da músicaagressões, estupro e extorsão sexual. Um advogado afirmou que representa mais100 supostas vítimas, que afirmam terem sido abusadas sexualmente.
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O rapper nascido no Harlem, bairroNova York, negou repetidamente qualquer irregularidade, sejarelação às acusações criminais ou às civis. Os representantes do rapper se recusaram a comentar nesta reportagem. Mas anteriormente, Erica Wolff, advogada que representa Combs, disse à imprensa que o rapper nega "enfática e categoricamente" as acusações que, segundo ela, são "falsas e difamatórias".
Ele deve ir a julgamentomaio2025.
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Shuter, que trabalhou para Combs2002 a 2004, disse que o rapper estavaum momento crucial na carreira quando começou a trabalhar para ele.
Combs fundou a Bad Boy Records1993, uma gravadora que representava alguns dos maiores nomes do hip hop — incluindo artistas como Notorious B.I.G. e Usher.
Em 1998, criou a marcaroupas Sean John, que mais tarde se tornou um fenômeno cultural.
A partir daí, mergulhou no mundo das fragrâncias, das bebidas alcoólicas e até montou uma empresamídia, tornando-se apresentadordiversos reality shows,que descobriria novos talentos e transformaria as pessoascelebridades.
Shuter contou que, quando entrou para o universo do rapper, Combs queria transformarimagem pública e ascender na carreira, usando suas festas para se manter no centro do mundo do entretenimento.
"Ele estava simplesmente descobrindo que a maneirachamar mais atenção seria se tornando o rei das festasNova York."
Shuter afirmou que Combs era obcecado pelo poder e tinha um profundo desejopermanecer famoso.
Ele contou que o astro adorava que tirassem fotos dele, e queria exibir seu estilovida.
O trabalhoShuter era ajudar a manter "Diddy" no topo. Fazer partesua comitiva, segundo ele, era como fazer parteum circo — o rapper era o "mestre do picadeiro".
Ele disse que nunca testemunhou nenhuma conduta sexual imprópria. "Eu vi o desequilíbriopoder", ele afirmou. "O que eu não vi, foi o que está sendo alegado agora, que é simplesmente horrível."
"A razão pela qual ele era um astro é porque ele só pensava'Diddy'. Desde o momentoque acordava até o momentoque ia dormir", disse Shuter à BBC News.
"O hobby'Diddy' era 'Diddy'."
Shuter também revelou que Combs tinha um profundo fascínio pela família real britânica.
Ele contou que se lembrater sido solicitado mais10 vezes a ligar para o príncipe Harry e o príncipe William com convites para festas, oferecendo-se para cobrir os gastossuas viagens, hospedagem e até mesmo pagar porsegurança.
Em seu luxuoso apartamentoNova York, o rapper tinha fotos emolduradas dos príncipes, contou Shuter.
"Ele se considerava um rei, então faz todo sentido que ele gostariater dois príncipes emcompanhia".
Ele acrescentou que tanto Harry quanto William nunca aceitaram um convite feito por Combs.
Mas dizer "não" ao magnata da música não era algo que muitas outras pessoas faziam.
"Sempre havia armas ao redor'Diddy'", disse Shuter, descrevendo os detectoresmetalseu apartamento, que lembravam osum aeroporto.
"Era estranho."
Shuter contou que havia armasfogo por toda a casa do rapper. Em seus aposentos, os seguranças tinham armas presas aos tornozelos. Combs mantinha um círculo fechado, e levava a sério tantosegurança quantoimagem.
"Você não pode ser o 'Diddy'... a menos que as pessoas ao seu redor estejam bem arrumadas. Não havia ninguém desleixado ao redor dele."
As 'Festas do Branco' tinham um lado obscuro, diz o processo
Na regiãoLos Angeles, o rapper morava na rua que ficou conhecida como a mais caraBeverly Hills.
As cercas altas permitem que as celebridades se escondamolhares indiscretos. A mansão da Playboy,Hugh Hefner, fica a poucas portasdistância.
Os imponentes portões da propriedadeCombs possuem tochas acesas dia e noite.
Os vizinhos disseram à BBC que chamavam a polícia com frequência por causa das festas que ele dava.
Uma solicitação feita pela BBC, com base na liberdadeacesso à informação, revelou que policiais foram enviados para festas na mansão do rapper 14 vezes ao longosete anos.
Em uma rua onde a discrição e a privacidade são da maior importância, ninguém quis ser identificado, mas os vizinhos descreveram reservadamente à BBC o que testemunharam, dizendo que estavam fartos e incomodados com o que viam.
"Durante seis ou sete anos eram só festas, festas, festas", contou uma vizinha, acrescentando que via mulheres a qualquer hora "saindo e sentando na rua, elas não sabiam onde estavam".
Ela disse que elas pareciam "perdidas", e "suas roupas íntimas estavam à mostra".
A mansãoCombsBeverely Hills foi um dos vários locais que ele usou para realizar"Festa do Branco" anual, um evento emblemático que ele organizou1998 a 2009.
Ele começou a dar as festas na seleta área dos Hamptons,Nova York, com um rigoroso dress code que só permitia looks totalmente brancos, reunindo a elite tradicionalEast Hampton e as estrelasascensão do hip hop.
Certa vez, Combs descreveu as festas como uma formaromper barreiras raciais e geracionais.
Mas a festa mais badalada do ano era uma "fachada" que permitia condutas "sinistras", alega um processo recente.
Em uma ação judicial aberta nesta semana, um homem — que tinha 16 anos na época — descreveu a emoçãopoder participar da primeira "Festa do Branco"Combs1998.
Ao entrar na mansão nos Hamptons, ele viu celebridades e executivos do mundo do entretenimento por todos os lados. No processo, ele disse que acreditava que a festa poderia abrir portas para uma carreira musical.
Ele contou que estava indo para o banheiro quando encontrou o rapper. Eles começaram a conversar, e depois foram para outra área mais reservada. Foi então que Combs disse que o adolescente tinha a "aparência" certa, e que ele poderia transformar qualquer pessoauma estrela, afirma o processo.
Na sequência, a situação tomou um rumo inesperado. Combs ordenou abruptamente que o então adolescente, abaixasse as calças para que pudesse examiná-lo e tocá-lo, alega a ação judicial.
Aindaacordo com o processo, Combs disse que era "um ritopassagem", e "o caminho para se tornar uma estrela". O documento também alega que ele disse que era uma formaprovar seu valor, perguntando ao adolescente: "Você não quer entrar no mercado?"
Pelo menos dois outros processos se concentram nas festas.
A ex-estrelafilmes adultos Adria English afirmou que foi "aliciada para tráfico sexual ao longo do tempo", depoistrabalharvários eventos da "Festa do Branco", onde alega que o álcool estava misturado com drogas.
Outra ação judicial, aberta anonimamente nesta semana por um homem, faz alegações sobre uma "Festa do Branco"2006.
Ele afirmou no processo que trabalhava na segurança do evento, onde as bebidas teriam sido batizadas com drogas, e disse que foi estuprado por Combs.
Maisuma dúziaprocessos civis foram abertos acusando o magnata da músicaagressões, estupro e extorsão sexual.
Nestes processos, tanto homens quanto mulheres dizem que foram coagidos ou forçados a praticar sexo, seja por Combs ou por pessoas dacomitiva.
Outros afirmam que cederam porque foram intimidados por Combs e pelo poder que ele tinha no setorentretenimento.
Alguns contaram que tiveram suas carreiras arruinadas ou oportunidades perdidas quando não cederam às vontadesCombs.
A equipe jurídicaCombs rejeitou os processos como "tentativas clarasangariar publicidade".
A cantora Cassie, que namorou com o rapperforma intermitente por quase uma década, a partir2007, acusou Combsuma ação judicialcontrolar todos os aspectos davida, forçando-a a consumir quantidades excessivasdrogas, a fazer sexo com outros homens,agredi-la durante anos e a ameaçá-la — e às pessoas do seu círculo — quando ela tentava deixar o relacionamento.
Em um processo — que deu início a uma avalancheacusações contra o rapper —, a cantora disse que enquanto estava namorando Combs, percebeu que ele tinha uma "rede tremendamente leal" que faria qualquer coisa que ele pedisse.
"Ela reconheceu que estava impotente, e que denunciar Combs às autoridades não alteraria o status ou a influênciaCombs, simplesmente daria a Combs outra desculpa para machucá-la", afirma o processo.
Cassie, cujo nome completo é Casandra Ventura, disse que,determinado momento, depoistentar deixar Combs, a gravadora dele ameaçou que "seu single não seria lançado se ela não atendesse às ligações telefônicasCombs", acrescenta a ação judicial.
Os advogadosCombs negaram novamente as acusações, dizendocomunicado enviado à BBC no início desta semana que ele "nunca agrediu sexualmente ninguém — adulto ou menoridade, homem ou mulher".
'A coragem é contagiosa'
Embora vários processos judiciais detalhem supostas agressões sexuaisfestas realizadas nas propriedadesCombs, as chamadas festas "Freak-off"quartoshotel parecem ser o foco das autoridades federais.
O DepartamentoJustiça americano acusou o rapperassociação criminosa, tráfico sexual e transporte para finsprostituição no indiciamento14 páginas no mês passado.
Os promotores acusaram Combsfilmar atos sexuais durante as "Freak Offs", que as autoridades federais descrevem como festas sexuaisvários dias envolvendo várias prostitutas.
O documento alega que Combs e seus colaboradores reservaram quartoshotel e os abasteceram com narcóticos como cetamina, lubrificante, roupascama extras e iluminação para que pudessem gravar as orgias.
Durante as festas "Freak Offs", Combs supostamente "batia, chutava e jogava objetos nas vítimas", o que causava ferimentos que, às vezes, levavam semanas para cicatrizar, afirmam os documentos do tribunal.
De acordo com a acusação, os participantes teriam sido coagidos com drogas e ameaças a permanecerem "obedientes e complacentes". Posteriormente, os envolvidos tomariam fluidos intravenosos para se recuperarem, alegam os promotores.
O processoCassie, abertonovembro2023, quase um ano antes do indiciamento do rapperNova York, inclui detalhes visuais destas supostas festas "Freak-Off".
O processo afirma que Combs realizaria esses eventos semanalmentehotéisNova York e Los Angeles, levando prostitutasavião, fornecendo drogas que incluíam ecstasy, cocaína e cetamina, e forçando a cantora a praticar atos sexuais.
Durante uma operaçãobusca nas mansõesCombsLos Angeles e Miami, policiais apreenderam armas do tipo AR-15, carregadoresgrande capacidade, milharesfrascoslubrificante e óleo para bebês.
A prisãoCombs e as consequências que rondamcarreira geraram esperança entre ativistas e sobreviventesviolência sexualque seu caso possa impulsionar mudanças significativas no mundo da música.
Gloria Allred, uma renomada advogada dos direitos das mulheres que defendeu várias mulheres durante o movimento #MeToo, acredita que o mundo está finalmente assistindo a um "acertocontas" na indústria musical.
Ela está representando Thalia Graves, que alega ter sido drogada e estuprada violentamente pelo rapper2001.
Ela disse que foi ameaçada por Combs e não se manifestou, com receioque ele "arruinasse a vida dela", conta Allred.
Mas a advogada afirmou à BBC que acredita que as consequências da prisão do rapper estão longeterminar.
"A coragem é contagiosa", diz ela.
E os promotores e advogados da crescente listadenunciantesCombs deram a entender que há mais por vir.
"Combs não fez tudo isso sozinho", observou Damian Williams, procurador dos EUA para o Distrito SulNova York. "Ele usouempresa, os funcionários dessa empresa e outros colaboradores próximos para conseguir o que queria."
A investigação do caso ainda está aberta, segundo as autoridades.
Ao sairsua mais recente aparição no tribunal, vestindo um macacão begepresidiário, Combs murmurou parafamília: "Eu amo vocês", e repetidamente colocou as mãos no coração, fazendo um sinaloração.
Quando a audiência terminou, um grupofãs se amontoou nas portas do tribunal, na ponta dos pés, na esperançavê-lo e demonstrar seu apoio.
Para seu ex-assessor, a tempestade midiática que agora cerca o rapper não deixater uma pitadaironia.
"Ele queria se tornar a pessoa mais famosa do mundo e, ironicamente, agora ele é", diz Shuter.