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Rosaldo, o passarinho romântico e persistente que ajuda cientistas brasileiros a entender as mudanças climáticas:bwin bet
Essa década e meiabwin betobservaçãobwin betum mesmo passarinho permitiu aos especialistas reunir uma sériebwin betdados sobre a históriabwin betvida dele.
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Fim do Matérias recomendadas
Essas informações podem ajudar a entender as estratégias que a espécie adota para se adaptar e responder às mudanças climáticas — como o aumento do nível do mar ou a maior frequênciabwin beteventos extremos.
Chegou a hora, então,bwin betconhecer a vida romântica e obstinadabwin betRosaldo.
Uma descoberta 'inacreditável'
O bicudinho-do-brejo era um completo desconhecido da ciência até o início da décadabwin bet1990.
"Em 1995, Bianca e eu fazíamos uma pesquisabwin betcampo no brejo quando vi uma fêmeabwin betuma espécie nova, que não conhecíamos. Bianca não quis acreditar nessa possibilidade, pois era algo além da nossa realidade", relata o ornitólogo Marcos R. Bornschein, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
A Bianca citada pelo cientista é a bióloga, jornalista e conservacionista brasileira Bianca Luiza Reinert, que dedicou a carreira a conhecer o bicudinho-do-brejo. Ela morreubwin bet2018.
"Pouco depois, naquele mesmo diabwin bet1995, vimos outros dois indivíduos da nova espécie. A partir daí, começamos as pesquisas emergenciais para confirmar o achado e descrever as características principais dessa ave", complementa Bornschein.
Em pouco maisbwin betdez anosbwin bettrabalho, os especialistas puderam confirmar que o bicudinho-do-brejo habita uma região bem restrita — o sul do Paraná e o nordestebwin betSanta Catarina.
O habitat dele se resume às áreas pantanosas, com capins altos, que ficam próximas da costa litorânea.
"O bicudinho tem o pesobwin betum bombom", detalha a bióloga Giovana Sandretti-Silva, que coordena um projetobwin betconservação da espécie e faz parte do grupobwin betpesquisabwin betBornschein.
"O macho é um pouco mais escuro e tem a barriga marrom. Já a fêmea possui uma barriga carijó, com penas brancas e pretas", diz ela.
A primeira décadabwin betpesquisa com o bicudinho-do-brejo também permitiu descobrir que esses pássaros são territorialistas e mantêm relacionamentos por longos períodos.
"O casal vive no mesmo lugar por vários anos, se alimentabwin betpequenos insetos ou caranguejos e usa os capins do brejo para fazer os ninhos", acrescenta Sandretti-Silva.
Segundo a bióloga, os bicudinhos geram dois ovos por ciclo reprodutivo — e, se bem-sucedidos, eles terão dois filhotinhos para cuidar por algumas semanas.
"Uma coisa interessante é que macho e fêmea dividem todas as tarefas. Juntos, eles constroem os ninhos, chocam os ovos, cuidam dos filhotes…", exemplifica ela.
Quando o filho cresce e consegue se virar sozinho, ele é expulso pelos próprios pais e precisa buscar um território próprio.
"Eles não têm muita autonomiabwin betvoo, então pulambwin betum capim para outro e vagam até achar um novo lugar", aponta Sandretti-Silva.
Nasce uma estrela
Rosaldo entra nessa históriabwin bet2007, quando os pesquisadores encontraram o ovobwin betque ele se desenvolvia dentrobwin betum ninho no brejo.
Após nascer, crescer e ser expulso pelos pais, o passarinho encontrou seu território na mesma Ilha do Jundiaquara onde veio ao mundo — segundo os pesquisadores, ele nasceu numa ponta da ilha e se estabeleceu no extremo oposto.
Questionado sobre a origem do nome Rosaldo, Bornschein diz que o grupo coloca anilhasbwin betdiferentes cores nas patas dos passarinhos observados.
A combinaçãobwin betcores e posições desses pequenos aros permite que os cientistas identifiquem cada animal, para que todas as aves possam ser acompanhadas individualmente ao longobwin betvários anos.
Assim que saiu do ovo, Rosaldo recebeu anilhas cor-de-rosa — daí veio a ideia do nome que ele carrega desde então.
"Rosaldo sempre foi muito precoce. Ele estabeleceu o próprio território com sete mesesbwin betidade e logo conheceu uma bicudinha mais velha, com quem começou a se reproduzir já no ano seguinte,bwin bet2008", conta Sandretti-Silva.
Desse primeiro casamento, que durou quatro anos, foram gerados três filhotesbwin betbicudinho-do-brejo.
A fêmea desapareceu — provavelmente morreu — no iníciobwin bet2012. Pouco tempo depois, Rosaldo tinha arrumado uma nova parceira.
"A segunda esposa foi o grande amor da vida do Rosaldo. Eles ficaram nove anos juntos, sempre no mesmo lugar, sempre fiéis um ao outro, e tiveram oito filhotes", contabiliza a bióloga.
"Isso dá quase um filhote por ano, o que representa um sucesso reprodutivo muito alto para os territórios que a gente monitora."
Com a morte da segunda esposa, Rosaldo está agora no terceiro "casamento", que se inicioubwin bet2021.
"Eles formam um casal bem animado, que faz muitos ninhos. Mas, infelizmente, apesar das várias tentativas, não conseguiram gerar filhotes até o momento", observa Sandretti-Silva.
Os especialistas dizem que Rosaldo está acostumado com a presençabwin betseres humanos — embora eles tentem interferir o mínimo possível enquanto fazem as pesquisasbwin betcampo. O passarinho é classificado como fotogênico, pois posa com naturalidade para as câmeras.
Resiliência, adaptação e persistência
Com as principais dúvidas sobre a biologia do bicudinho-do-brejo respondidas, os cientistas brasileiros agora querem entender como a espécie é afetada pelas mudanças climáticas — e Rosaldo pode desempenhar um papel-chave nesses esforços.
Bornschein observa que a áreabwin betque esses passarinhos vivem parece estar diminuindo. Atualmente, eles monitoram cercabwin bet32 territórios e 64 indivíduos diferentes.
“Antigamente, era comum acompanharmos até 40 territórios. A vida não está muito fácil para os bicudinhos”, constata ele.
Os pesquisadores querem entender como esses passarinhos estão se adaptando a novas realidades, como o aumento da temperatura, a elevação do nível do mar, a ocorrênciabwin beteventos extremos (como ciclones) e a introduçãobwin betespécies invasoras, como capins africanos.
Um exemplo prático: se o brejo estiver com mais água, isso exigirá que os bicudinhos façam seus ninhosbwin betcapins mais altos. Isso pode salvar os filhotes das inundações, mas deixa a família mais exposta aos predadores.
Bornschein pontua que, para entender essas novas realidades, será necessário fazer um acompanhamentobwin betlongo prazo, que supere 20 anosbwin betdados acumulados.
Isso ajudaria a ponderar ajustes cíclicos da natureza — o ornitólogo lembra que as marés, por exemplo, têm momentosbwin betcheias e baixas, que se revezambwin betperíodosbwin betcercabwin bet16 anos.
É justamente aí que entra Rosaldo: o fatobwin betele ser acompanhado há tanto tempo permite entender melhor como esses pássaros reagem às mudanças do ambiente.
“Queremos comparar as estratégias que o bicudinho possui no início da vida e como ele muda conforme fica mais experiente”, projeta Sandretti-Silva.
“Rosaldo está contribuindo muito para isso, pois temos dadosbwin bettoda a vida dele que nos ajudarão a entender essa adaptação às mudanças.”
Para entenderbwin betdetalhes essas questões, os pesquisadores firmaram recentemente uma parceria com o Zoológicobwin betSão Paulo. A ideia é pesquisar e conhecer os melhores meiosbwin betconservar a espécie — afinal, o bicudinho está ameaçadobwin betextinção.
Os especialistas pretendem aumentar as regiões próprias para a habitação e reprodução da ave, para que mais filhotes nasçam e sobrevivam.
“Nosso sonho é poder contribuirbwin betalguma forma para preservar a espécie e ao menos diminuir o riscobwin betextinção dos bicudinhos”, diz a bióloga Marina Somenzari, do Zoobwin betSP.
Para Bornschein, as quase três décadasbwin betcontato com o bicudinho-do-brejo podem ser resumidasbwin betuma palavra: persistência.
“Como pesquisador, é complicado humanizar o comportamentobwin betoutros seres. Mas vou me dar o direitobwin betfazer isso com o bicudinho: ele é uma das espécies mais persistentes que já vi.”
“Nossa equipe foi positivamente contaminada pela persistência do bicudinho, que lida com uma sériebwin betadversidades, e não desiste facilmente”, observa o especialista.
“E esse símbolo nos inspira a continuar nosso trabalho todos os dias”, conclui.
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