Nanismo, drogas e religião: a vidareal bet slotsNelson Ned, um dos cantores brasileiros mais populares no exterior:real bet slots
Praticamente cego e locomovendo-se numa cadeirareal bet slotsrodas, ele expressaria ao jornalista o desejoreal bet slotsser lembrado como um homem romântico, intenso e amoroso.
, 1941) é um cantor e compositor brasileiro. também conhecido como "Rei da Música
" ou simplesmente 'o Rei". Marcelo(cantor ) 💶 – Wikipédia a enciclopédia livre :
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Fim do Matérias recomendadas
Foi a última entrevistareal bet slotssua vida.
"O Nelson já não tinha muita capacidadereal bet slotsconcentração", afirma Barcinski.
"Aos poucos, ele foi se esquecendo das coisas, dizendo frases desconexas, e a gente encerrou nossa conversa. Uma irmã já havia me avisado que ele vinha sofrendo com problemas neurológicos."
Tamanha vulnerabilidade não condizia com as memórias que o jornalista carregava desde os anos 1970.
"A exemploreal bet slotstodo mundo que foi criança na época, lembro do Nelson graças aos programasreal bet slotsauditório. Era uma presença visualmente impactante, aquela voz enorme saindoreal bet slotsum corpo tão pequeno. Ele se tornou famoso num temporeal bet slotsque pessoas com nanismo tinham uma vidareal bet slotsclausura, escondidas pelos pais."
As filhas do cantor, que também têm nanismo, falaram com a reportagem.
"Láreal bet slotscasa sempre tinha um montereal bet slotsartista", lembra a atriz Verônica Ned.
"Eu aprendi a nadar com o Chacrinha, e nossa faxineira era apaixonada pelo Raul Gil. Para a gente, isso tudo era muito natural."
Numa viagem a Miami, Verônica e a irmã perceberiam que o pai era um astro.
"O povo não deixava a gente andar", recorda-se a fonoaudióloga Monalisa Ned.
"Os latinos da cidade gritavam,real bet slotsespanhol, 'saca una foto!'. Quando entramos no hotel, as camareiras enlouqueceram, apertando nosso rosto, dando uns tapas brutos, chamando a gentereal bet slots'Ned’s babies'. E meu pai dava risada, dizendo que era famoso pra caramba."
Até meados da décadareal bet slots1980, Nelson Ned foi um dos cantores brasileiros mais populares do planeta, abarrotando qualquer estádio ou aeroportoreal bet slotsque pusesse os pés.
Singles dereal bet slotsautoria eram uma presença constante nas paradas do continente americano, da Península Ibérica e da África lusófona. Ignorado pelas novas gerações, ele figura ainda hoje entre os maiores vendedoresreal bet slotsdiscos na história do mercado fonográfico nacional.
Passados onze anos do fatídico encontroreal bet slotsCotia, Barcinski publicoureal bet slotsnovembro do ano passado o livro Tudo Passará – A Vidareal bet slotsNelson Ned, o Pequeno Gigante da Canção (Companhia das Letras).
"Esse cara é tudo que um biógrafo pode querer. Sempre foi uma pessoareal bet slotsextremos — o extremo da riqueza e da penúria, o extremo da libertinagem e da caretice, um sujeito capazreal bet slotsamar e odiar com o mesmo fervor. Acho um personagem incrível, daqueles casos mais estranhos que a ficção", diz o jornalista.
'Um showreal bet slotsnoventa centímetros'
Nelson Ned D’Ávila Pinto nasceureal bet slotsUbá, interiorreal bet slotsMinas Gerais, no dia 2real bet slotsmarçoreal bet slots1947. A mãe era soprano e multi-instrumentista; os tios tocavam flauta e violino. Regularmente, a família promovia sarausreal bet slotsmúsica clássica.
"Era meio que um ritual", lembra Verônica. "Meu avô assistia ao Jornal Nacional e desligava a TV. Depois, minha avó se sentavareal bet slotsfrente ao piano, com todo mundoreal bet slotsvolta, e tocava até as dez da noite. Quando a gente viajava para o sítio, ela ficava no acordeon. Quase todo dia rolava essa seresta."
Nelson foi o primeiro membro da família a nascer com deficiência. Ele sofriareal bet slotsdisplasia espondiloepifisária, um tipo raroreal bet slotsnanismo, causado por mutações genéticas.
"Meu pai tinha uma caixa toráxica enorme e um pulmão bem forte", explica Monalisa.
"Nossa tendência é sofrer uma escoliose, uma curvatura acentuada na coluna, mas isso não aconteceu com ele, talvez por ter praticado natação durante a juventude. Aí a musculatura acabou formando uma espéciereal bet slotscolete, e creio que isso tenha favorecido o canto, naquele estilo tenorzão que todo mundo conhece."
Desde pequeno, Nelson chamava a atenção. Aos três anos, tevereal bet slotsestreia na Hora do Guri, programa radiofônico que lançava artistas mirinsreal bet slotsUbá.
Em 1961, já morando na capital mineira, apresentou-se no Showreal bet slotsPrêmios DDE, atração veiculada pela TV Itacolomi, canal 4real bet slotsBelo Horizonte.
A convite da mesma emissora, interpretaria sucessosreal bet slotsElvis Presley e Chubby Checker no Cirquinho do Bolão, espetáculo infantil patrocinado pela Lacta.
A fábricareal bet slotschocolates o empregava também como animadorreal bet slotsrua — ele cantava numa Kombi cheiareal bet slotsbombons, percorrendo todas as escolas da cidade.
Dois anos depois, mudou-se para o Rioreal bet slotsJaneiro. Ali, foi acolhido por Silvio Santos, Hebe Camargo e Chacrinha.
"Num primeiro momento, a relação dele com a mídia era bastante cordial", observa Barcinski.
"A imprensa estava satisfeita por ter descoberto um menino talentoso, e ainda por cima 'anão', como se dizia na época. As matérias continham várias piadas duvidosas com a altura dele, algo impensável nos diasreal bet slotshoje."
"Mas, apesar disso, eram simpáticas ao Nelson, retratado sempre como um garoto batalhador, um jovem superando o nanismo através da música."
Em marçoreal bet slots1963, a revista O Cruzeiro publicou uma reportagemreal bet slotsduas páginas a seu respeito.
"Ele recebe cumprimentos olhando para cima", dizia o texto. "Sob os refletores, mostra o verdadeiro tamanho do seu talentoreal bet slotsgente grande."
A matéria continha uma manchete sensacionalista, reaproveitada no ano seguinte como título do primeiro álbum do cantor: Um Showreal bet slotsNoventa Centímetros.
Na capa do LP, Nelson aparece ereto, junto a uma fita métrica, vestindo smoking sob a luzreal bet slotsum holofote azul. Sua verdadeira altura, intencionalmente omitida pelos executivos da gravadora Polydor, erareal bet slots1,12 m.
"Eu senti como era pesado o meu corpo pequeno", diria ele sobre essa estratégiareal bet slotsmarketing. "Eu não tinha cor, forma física, era apenas uma sombra branca para os produtores. Um simples anãozinho grotesco."
O disco, com doze temas românticos, mostrou-se um fracassoreal bet slotsvendas, e o cantor foi dispensado pela gravadora.
'Tudo passará'
Nos anos seguintes, Nelson Ned estreitaria laços com Chacrinha.
"Ele foi como um pai para mim", disse. "Um homem respeitador, carinhoso, que acreditou no meu talento."
De temposreal bet slotstempos, o apresentador convidava Nelson para acompanhá-lo nas gravaçõesreal bet slotsseu programa, veiculado pela TV Excelsior,real bet slotsSão Paulo.
Nessas viagens, o artista conheceria as boates da cidade, realizando shows durante a noite; ao amanhecer, visitava gravadoras numa tentativareal bet slotsemplacar seu trabalho.
Assim, conheceu Leonardo Schultz, maestro que o levaria à capital portenhareal bet slots1968, como atração do Festival Buenos Airesreal bet slotsla Canción. Nelson mostrou a ele uma música ainda inédita a ser apresentada no evento: Tudo Passará.
Schultz apossou-se da obra, negando créditos ao brasileiro.
Pouco depois, a balada ganhou uma gravaçãoreal bet slotsespanhol, na voz do britânico Matt Monro, um dos cantores favoritosreal bet slotsFrank Sinatra. Versõesreal bet slotsinglês, francês, turco, búlgaro, alémreal bet slotsinstrumentais, se sucederiam nos meses seguintes — todas citando Schultz como autor.
Nelson, porém, já havia registrado a música e ajuizou um processoreal bet slotsplágio contra o maestro —real bet slots1975, um tribunalreal bet slotsBuenos Aires daria ganhoreal bet slotscausa ao artista brasileiro.
O veredito determinou o pagamentoreal bet slots8 mil dólares como indenização, mais 200 mil pelos royalties retidos.
Genival Melo, empresário do cantor, declarou à imprensareal bet slotsfevereiroreal bet slots1969: "Nossa surpresa maior foi quando vimos aquireal bet slotsSão Paulo, lançado pela CBS, um discoreal bet slotsCarlos José, vertido do espanhol, sob o título Tudo Passará. Não era outra, senão a cançãoreal bet slotsNelson Ned. Isso é o cúmulo, pois a música é brasileira."
Dois meses depois, por influênciareal bet slotsGenival, a Copacabana Discos lançou um compacto com a faixa, agora na vozreal bet slotsNelson.
Járeal bet slotsmaio, essa versão lideraria paradas radiofônicas por todo o país, às vezes superando os Beatles e Roberto Carlos. Imediatamente, a gravadora anunciou o segundo álbum do artista mineiro — também intitulado Tudo Passará.
Ao posar para a capa do LP, Nelson exigiu uma fotografia que ressaltassereal bet slotsestatura. Na imagem, ele aparece sentado, balançando as pernas sobre um imponente contrabaixo, com partituras ao fundo. O cantor assinava nove músicas do disco.
"São composições autobiográficas", afirma Barcinski.
"Nas entrelinhas, percebemos que abordam a vidareal bet slotsum homem rechaçado por ser pequeno. É um álbum muito triste e pesado, sobre as angústiasreal bet slotsalguém que não corresponde a certos padrões sociais."
Todas as letras foram escritas na primeira pessoa. Além da faixa-título, inspirada no relacionamentoreal bet slotsNelson com uma prostituta, o disco trazia Camarim, registro confessionalreal bet slotssua existência solitária, e Tamanho não é Documento,real bet slotsque o artista discorre explicitamente sobre nanismo.
"Você vive sempre a brincar comigo / Pode judiarreal bet slotsmim, que eu nem ligo / Sou pequeno, mas meu coração é grande / Bem maior do que o seu / Que já não cabe mais ninguém / Tamanho não é documento / Pelo menos tenho sentimento / Mas isso é coisa que você não tem."
O 'cantor do povão'
A partirreal bet slots1970, emissoras portuguesas levariam músicas do álbum às colônias lusófonas da África. No ano seguinte, Nelson Ned realizou uma turnê por Angola e Moçambique.
"É difícil entender como ele se tornou uma celebridade por lá", explica Barcinski.
"Ainda não existia televisão nesses países, e os jornais locais não publicaram nenhuma reportagem sobre o Nelson. O mais provável é que tenha sido um fenômeno puramente radiofônico. Os africanos ouviamreal bet slotsobra e se apaixonavam, talvez pelo fatoreal bet slotsserem músicas sobre pessoas mal tratadas, que sofriam humilhações na vida."
Nelson desembarcoureal bet slotsLuanda, capital angolana,real bet slots16real bet slotsabrilreal bet slots1971. Na pista do aeroporto, foi cercado por uma multidãoreal bet slotsfãs incrédulos — nenhum deles sabia que o astro tinha nanismo.
Para confirmar a própria identidade, subiu nas costasreal bet slotsseu empresário e cantou Tudo Passará — o público, então, o acompanhoureal bet slotsuníssono. Foi a primeira vez que uma plateia estrangeira demonstrou idolatria por ele.
"Essa é uma das características que levam o Nelson a ser tão popular lá fora", analisa Barcinski.
"Ele fala sempre pela perspectiva dos excluídos. Em suas músicas, indivíduos buscam algo, mas isso gera frustrações e cenasreal bet slotsintenso drama."
"A sensibilidade dele sempre foi muito latina, desbragada, romântica, com forte inclinação ao bolero. Quando ele canta, a gente consegue visualizar claramente um montereal bet slotsmarmanjos aos prantos, enchendo a carareal bet slotstequila numa boate do México."
Na terra dos mariachis, o brasileiro era um fenômeno:real bet slots1984, o programa Globo Repórter noticiou que seus discos estavam entre os mais vendidos pelas lojas mexicanas, perdendo apenas para Michael Jackson e Silvia Tapia, uma cantora pop local.
O cartunista Henfil, que à época residia nos EUA, escreveu: "Nelson Ned é um dos mais importantes cantores do povão porto-riquenho nos EUA".
O mineiro tinha 23 anos quando visitou Nova York pela primeira vez, a convite do Festival da Canção Latino-Americana. Sua apresentação, transmitida ao vivo para todo o continente, renderia a ele comparações com o francês Charles Aznavour.
Após o evento, a gravadora americana United Artists lançou Canción Popular, primeiro álbumreal bet slotsNelson Nedreal bet slotsespanhol — e seu passaporte para o mercado internacional.
Em Iñapari, na fronteira da Bolívia com o Peru, o Jornal do Brasil testemunharia: "Os soldados, nessa cidade pacata, tranquila, quase parada, perguntam se temos discosreal bet slotsRoberto Carlos e Nelson Ned. Permanecem o dia inteiro, com uma velha vitrola movida a pilha, ouvindo dois compactos desses cantores."
Em 1973, o cantor aterrissou na Colômbia, apresentando-se para 80 mil pessoasreal bet slotsuma arenareal bet slotsBogotá.
No ano seguinte, realizou 72 showsreal bet slotscassinos mexicanos e 22 espetáculosreal bet slotsMiami.
Meses depois, lotaria, por duas noites consecutivas, o Carnegie Hall — a mais importante casareal bet slotsNova York,real bet slotscujo palco João Gilberto e Tom Jobim haviam se revelado aos americanos.
O país dos rótulos
Ligado à bossa nova e casado com Elis Regina, o músico Ronaldo Bôscoli foi o maior detrator públicoreal bet slotsNelson Ned, a quem se referia como um "anãozinho ridículo". O astro não tardou a se manifestar.
"Esse senhor Bôscoli é personalidade fraca. Apesarreal bet slotsser um compositor, ele aparece mesmo é através do nomereal bet slotssua mulher. Do que se esquece é que as letras que faço são viris, ao contrário das dele, que são afeminadas. Eu jamais faria um troço parecido com O Barquinho ou Lobo Bobo", disse Ned.
A relaçãoreal bet slotsNelson com a imprensa já não era mais a mesma. O tom paternalista das primeiras reportagens cedera espaço a uma avalanchereal bet slotsataques àreal bet slotsobra: dizia-se que o repertório era brega e que as letras primavam pelo mau gosto; os arranjos seriam cafonas, e a voz, excessivamente sentimental.
Como todos os cantores românticosreal bet slotssua época, foi acusadoreal bet slotsescapismo e alienação.
"Com alguma diplomacia, o Nelson talvez assegurasse seu lugar na história da música brasileira", afirma Barcinski.
"Mas ele nunca foi um tipo apaziguador. Quando voltava dos EUA ou do México, esfregava o próprio sucesso na cara dos críticos."
"Ele muitas vezes exagerava, mas não deixareal bet slotsser incrível que um jovem supostamente bronco, nascido no interiorreal bet slotsMinas Gerais, tenha peitado todo o status quo da mídia brasileira. Suas entrevistas eramreal bet slotsuma violência enorme."
Definindo o Brasil como o "país dos rótulos", Nelson Ned partiu para o ataque: "O artista popular da minha linha não tem que se preocupar com a imprensa. Quem tem que se preocupar com a imprensa é Djavan, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Chico Buarque, porque eles vivem da imprensa. Nós, não." real bet slots
"Somos cantoresreal bet slotsrádio AM, somos homens do povo. Eu venho das massas populares, não fui criado nas elitesreal bet slotsIpanema ou do Leblon, nem represento essa bandeira esquerdizante, indefinida sexualmente. Eu represento o homem brasileiro, a passionalidade latino-americana e toda a virilidade que existe no bolero e na balada."
Sobre os medalhões da MPB, enfileirava termos pouco amigáveis: "esquerdalha", "manipuladores do poder", "exploradores do pobre", "cantores da desgraça alheia", "cafetões da miséria brasileira".
"Os metalúrgicos do PT gostam mesmo éreal bet slotsNelson Ned, Roberto Carlos, Agnaldo Timóteo e Ângela Maria."
Politicamente, mostrava-se conservador, tendo se recusado por toda a vida a fazer showsreal bet slotsCuba.
"Não canto para ditadores", disse.
No entanto, fez turnês por diversos países com regimes autoritáriosreal bet slotsdireita — a Argentinareal bet slotsJorge Rafael Videla, o Haitireal bet slotsJean-Claude Duvalier, a Espanhareal bet slotsFrancisco Franco e a África do Sul nos anos do apartheid.
Ao mesmo tempo, criticava Augusto Pinochet, defendia as Diretas Já e mantinha forte laçosreal bet slotsamizade com o escritor colombiano Gabriel García Márquez — um fã confessoreal bet slotssua música e apoiador declaradoreal bet slotsFidel Castro.
"Nelson se definia como um homemreal bet slotscentro", observa Barcinski. "Hoje,real bet slotsmeio a tanta polarização, seria obviamente jogado na vala dos direitistas. Mas suas letras e declarações públicas não condiziam com essa imagem estereotipadareal bet slotssujeito reacionário. Ele sempre defendeu os direitos das minorias."
Para surpresareal bet slotsmuitos, o cantor abraçava pautas LGBT e denunciava o racismo da sociedade brasileira.
"Sou uma pessoa que aposta no amor ereal bet slotstodas as suas consequências", disse.
"Inclusive tenho músicas com letras ambíguas, que insinuam o bissexualismo. Acontece que nossa cultura é discriminativa — preto na cozinha, cego na esquina, anão no circo, gay no picadeiro. Ou no banco dos réus, onde a TFP (Tradição, Família e Propriedade, organização civil tradicionalistareal bet slotsdireita que apoiou a ditadura militar) é o maior carrasco."
Segundo Monalisa, o pai antipatizava com o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"Mas,real bet slotscostumes, era muitoreal bet slotsesquerda", diz. "Ele sempre respeitou os funcionários, era a favorreal bet slotstodos os direitos trabalhistas. Um conservador geralmente não dá a mínima para as pessoas, nunca pensareal bet slotslavar a própria louça, acha absurdo um empregado tirar licença porque quebrou o pé."
'Nedlândia'
As filhas garantem que tiveram uma infância suave, apesar da infidelidade paterna. Nelson Ned Junior, o irmão mais velho, nasceureal bet slots1971, e Verônica,real bet slots1973. Monalisa é frutoreal bet slotsuma relação extraconjugal, e veio ao mundo no mesmo ano que o primogênito.
A família morava numa luxuosa mansão no Alto da Boa Vista, zona sulreal bet slotsSão Paulo.
"Meu pai era muito lúdico e contava histórias para a gente", lembra Monalisa.
"Ele vivia falando coisas sobre a Nedlândia, um reino feliz onde só tinha cidadãos pequenos como nós quatro. Meu pai era o rei, eu e a Verônica éramos as princesas, e meu irmão, o príncipe. Pessoas grandes não entravam na Nedlândia, a não ser como bobos da corte, para nos servir. E a gente se achava, por ter um país só nosso."
A estratégiareal bet slotsNelson proporcionaria autoestima às crianças.
"Eu nem lembrava que tinha nanismo", relata Verônica. "A menos que alguém colocasse objetos numa prateleira muito alta. De resto, a gente tinha uma vida normal. Ninguém ficava parado, pensando nisso. A gente foi viver."
Contudo, as meninas dificilmente viam outras pessoas na mesma condição.
"Hoje, percebo que ficavam todos bem escondidos", diz Monalisa.
Nelson se ausentava oito meses por ano. Longe da esposa e dos filhos, emendava shows internacionais com orgiasreal bet slotssuítesreal bet slotshotel. No final dos anos 1970, seu casamento ruiu.
"A separação dos meus pais até que foi tranquila", afirma Verônica. "Mas quando chegamos à adolescência, tudo piorou. Foi quando ele se tornou um cara bêbado e drogado, superagressivo. A gente passava inúmeros perrengues, ia pra cama sem saber se acordaria viva. A vontade dele erareal bet slotsescurecer a casa na bala."
Nelson vinha sofrendo dores nas costas, provocadas pelas sucessivas viagensreal bet slotscarro e avião. Para aplacá-las, automedicava-se com morfina — substância que lhe causaria sérios problemas oculares. Em 1976, perdeu a visão do olho direito; logo depois, viciou-sereal bet slotscocaína.
Cada vez mais obcecado por armas, mantinha emreal bet slotsresidência uma pistola Beretta, um revólver calibre 38 e um Colt 45 banhado a ouro, que ganharareal bet slotsArturo Durazo Moreno — guarda-costas do então presidente mexicano, José López Portillo, e chefe do Departamentoreal bet slotsPolícia na capital do país.
O vínculo com governistasreal bet slotscentro-direita permitiria a Moreno ser nomeado general cinco estrelas, ainda que nunca tivesse seguido carreira militar —real bet slotsfortuna multimilionária provinha basicamente do narcotráfico, alémreal bet slotssequestros e assassinatos por encomenda.
Em 1978, ele assistiu a um showreal bet slotsNelson Ned na Cidade do México, enviando uma frotareal bet slotscarros oficiais para buscá-lo num resort. Dali, iriam para uma confraternização nareal bet slotscasareal bet slotscampo — uma enorme propriedade com lagos, hipódromo e uma réplica da discoteca nova-iorquina Studio 54.
Na Colômbia, a situação não era muito diferente. Traficantes locais despachavam aeronaves para São Paulo, a bordo das quais o brasileiro se dirigia a mansões particulares.
Quando não cantavareal bet slotsfestas do crime organizado, Nelson fazia showsreal bet slotsboates gerenciadas pelos cartéisreal bet slotsCali e Medellín — Pablo Escobar esteve presentereal bet slotsmuitos desses eventos.
Tais excessos se intensificariam a partirreal bet slots1980, quando o artista conheceu Cida Rodrigues, a segunda esposa, mortareal bet slots2018. O casal saía todas as noites e voltava apenas pela manhã, ambos sob efeitoreal bet slotsuísque e cocaína.
Durante a ressaca, irrompiam as brigas: Cida punha as roupas do marido no chão e ameaçava queimá-las; Nelson disparava contra o teto da sala.
Num sábado, 9real bet slotsabrilreal bet slots1988, os filhos acordaram com um estampido. "Encontrei o patrão chorando", diria Manoel Antônio Ramos, o motorista da família. "Havia manchasreal bet slotssangue no hallreal bet slotsentrada e no caminho para a porta."
O jornal O Globo anunciaria emreal bet slotscapa: "Nelson Ned tenta matar a mulher com tiro no peito".
Últimos boleros
Nelson chegou ao noticiário policial num períodoreal bet slotsintensas transformações do mercado fonográfico.
Naquele momento, o rádio brasileiro encontrava-se dividido:real bet slotsum lado estavam as emissoras FM, com som estéreo e programação jovem, focadareal bet slotspop rock; do outro, o AM, com sinal mais abrangente e ênfase no forró, sertanejo e música romântica.
Aos 40 anos, o cantor saíareal bet slotsmoda e revelava desconforto com a crescente apatia do público.
"Não quero passar a imagemreal bet slotsressentido, mas é estranho o que acontece", declarou ao Jornal do Brasil.
"Toco nas FMsreal bet slotsNova York,real bet slotsMiami, do México,real bet slotstudo que é grande capital. Menos nas FMs brasileiras. Aqui, me chamamreal bet slotsbrega e boicotam. Ora, são as mesmas rádios que tocam Julio Iglesias e Fábio Jr."
Járeal bet slotscasa, mostrava-se aberto ao gosto musical dos rebentos. O quartoreal bet slotsNelson Ned Junior era forrado com pôsteres do Iron Maiden, AC/DC e outros grupos ligados ao heavy metal; Verônica e Monalisa preferiam Menudo.
Quando a boy band porto-riquenha veio ao país,real bet slots1985, Nelson promoveu um encontro das filhas com os rapazes, instalando-as no mesmo hotel que eles.
E, ao avistar Gene Simmons e Paul Stanley no Gallery, extinta casa noturna frequentada por ricaços paulistanos, ordenou a seu motorista que buscasse Junior — era a chancereal bet slotso primogênito conhecer pessoalmente os integrantes da banda Kiss.
"Lá pelos dezessete anos, entrei numa fase meio rock and roll e não curtia o som do meu pai", lembra Monalisa.
"Eu achava muito lento, melancólico, músicareal bet slotsvelho. A gente estava numa outra vibe, ouvindo Blitz, Legião Urbana, Paralamas do Sucesso, que eram mais a cara da nossa geração, e ele super entendia."
"Masreal bet slotsdomingo, ele escutava só o que tinha vontade, aí era Frank Sinatra e Tony Bennett o dia todo. A gente sempre achou legal, era a onda do nosso pai, e estava tudo certo", acrescenta Verônica.
Em 1993, Nelson produziu um álbum inteiramente dedicado ao bolero. Lançado pela gravadora independente Movieplay, El Románticoreal bet slotsAmérica continha versões para dezoito clássicos do gênero, como Perfumereal bet slotsGardenia, Cuando Tu Me Quieras e Perfídia.
O repertório homenageava Javier Solís, Lucho Gatica, Trio Los Panchos e outros artistas hispânicos que marcaramreal bet slotsadolescência.
"Não sei por que ele gravou El Románticoreal bet slotsAmérica", afirma Barcinski.
"Imagino que tenha sido uma tentativareal bet slotsrecuperar suas vendagens no mercado latino. É um disco que está 'pau a pau' com qualquer obra-prima mexicana."
"Você escuta e acha que foi produzidoreal bet slotsGuadalajara. Mas, para nosso espanto, as gravações ocorreram aquireal bet slotsSão Paulo, num estúdio da Vila Mariana, com arranjadores, maestros, um coral e instrumentistas brasileiros, todos escolhidos pelo Nelson."
O cantor, no entanto, havia engordado muito. Sem fôlego, mal conseguia permanecerreal bet slotspé. Sua respiração estava comprometida, e pela primeira vez sentiu a voz falhar. Em frente aos colegas, teve uma crisereal bet slotschoro.
Outros problemas se sucederam durante as gravações. Nelson cheirava cocaína ininterruptamente, e as desavenças com Cida persistiam.
"Minha casa, uma mansão, era a antessala do inferno", disse ele. "Toda noite havia brigas. Meus vizinhos não dormiam, chamavam a radiopatrulha, eu saía bêbado e insultava os policiais."
Salmos
Os filhos já não residiam no Alto da Boa Vista — expulsos pelo paireal bet slotsmeio a um surtoreal bet slotsagressividade, espalharam-se por três endereços diferentes.
Entristecidos, buscavam consolo no cristianismo. Hoje, Monalisa e Verônica são evangélicas.
Por indicação da filha caçula, Nelson leria os Salmos da Bíblia, sentindo-se tocado por um versículo que dizia: "Criareal bet slotsmim, ó Deus, um coração puro, e renovareal bet slotsmim um espírito reto". Foi o inícioreal bet slotssua conversão religiosa.
"Isso salvou a vida dele, e toda a nossa família", declara Verônica. "A gente vivia sempre num medo terrível, mas com aquela pontareal bet slotsesperança. Nossa meta era salvá-lo, pois meu pai tinha apenas três caminhos — cadeia, hospício ou cemitério. A gente orava para ficarreal bet slotspaz, e por entender que a palavrareal bet slotsDeus faria essa transformação."
Naquele mesmo ano, Nelson Ned assinou contrato com a Line Records, selo gospel da Igreja Universal, lançando o álbum Jesus Está Vivo. Entre as doze canções que integravam o LP, quatro eramreal bet slotssua autoria: além da faixa-título, compôs Quando eu Faloreal bet slotsJesus, Jesus é a Saída e Para ti, Senhor Jesus.
O cantor nunca mais gravou um disco não religioso.
"Muita gente acha que meu pai renegou a própria obra, mas isso não é verdade", alega Monalisa. "O problema é que ele sempre cantou o que vivia, ereal bet slotsrepente se viu evangélico, apaixonado por Deus, e só conseguia escrever músicas sobre esse outro tiporeal bet slotsamor, que é o amorreal bet slotsJesus."
Apesar da mudança, Nelson orgulhava-sereal bet slotstodo o seu repertório.
"Nos shows, ele ainda cantava os antigos sucessos", afirma Verônica. "Nunca houve empecilhos, porque não tem 'putaria' nessas músicas, é só dorreal bet slotscorno. E dorreal bet slotscorno, todo mundo sente."
Nelson, agora, apresentava-sereal bet slotscultos e templos, ganhando cachês inferiores e vendendo menos discos.
Boates e casas noturnas evitavam contratá-lo para shows, pois viam nas igrejas uma concorrência desleal.
Para economizar o dinheiro das passagens aéreas, o cantor viajava somentereal bet slotscarro, atravessando longas estradas na companhiareal bet slotsseu motorista. As orquestras e músicosreal bet slotsapoio foram substituídos por bases pré-gravadas, que ele mesmo carregavareal bet slotsCDs. Quase não recebia propostas no exterior.
Saudadesreal bet slotssi mesmo
Certa noite, Cida avisou às enteadas que o marido não estava bem.
"Quando entrei no quarto, vi meu pai caído ao lado da cama", relata Monalisa. "Ele não me respondia, nem se levantava. A gente ligou para uma ambulância e ele foi embora, sem planoreal bet slotssaúde. Depois desse dia, nunca mais voltou a ser o mesmo."
Nelson tivera um derrame cerebral — após um mêsreal bet slotsinternação, o AVC o deixaria com a fala prejudicada e sequelas permanentes no lado esquerdo do corpo.
Sua última apresentação ocorreureal bet slotsSão Paulo, no dia 26real bet slotsabrilreal bet slots2008, durante o evento Virada Cultural.
Às 19h daquele sábado, visivelmente fragilizado, o artista subiu num palco, esforçando-se para cantar seus clássicos à plateia que se aglomerava no Largo do Arouche.
Dalireal bet slotsdiante,real bet slotsúnica fontereal bet slotsrenda seriam os royalties das músicas que compusera ao longo das décadasreal bet slots1970 e 80 — uma verba insuficiente para as despesas básicas da casa.
Ao visitá-lo, familiares se assustavam com os arranhões e hematomas que apareciam emreal bet slotspele. Um dia, a irmãreal bet slotsNelson o resgatou — alegando que o levaria para um passeio, buscou o cantor no Alto da Boa Vista, para nunca mais voltar.
Em programas vespertinos da TV aberta, Cida acusou a famíliareal bet slotssequestro. Em 2012, um incêndio destruiu a mansão, reduzindo a cinzas os Discosreal bet slotsOuro que Nelson Ned ganhara ao longo da carreira.
Dois anos depois, Verônica visitou o pai numa clínicareal bet slotsrepouso. As enfermeiras tentavam reanimá-lo — ele havia sofrido um desmaio, agravado por um quadroreal bet slotspneumonia. A ambulância o levou para um hospital públicoreal bet slotsCotia (SP), onde morreria nas primeiras horasreal bet slotsum domingo, 5real bet slotsjaneiroreal bet slots2014.
As filhas consideram que esse foi o desfechoreal bet slotsum caminho vitorioso.
"Meu pai levou pontapés e sofreu doresreal bet slotsamor", reflete Monalisa. "Mas também foi uma criança querida e um homem resiliente, mesmo na doença. Ainda acordo com frases dele ecoando dentro da minha cabeça. No fim da vida, ele sempre me perguntava se eu era uma pessoa feliz. E isso é muito bonitinho, sabe?"
Para Verônica, o percursoreal bet slotsNelson Ned deve ser narrado integralmente, sem omissões.
"Acho importante falar sobre drogas, violência e alcoolismo", diz. "Querendo ou não, foi a história dele, é impossível mudar esse fato. E não acho que meu pai tenha morrido feliz, porque ele sentia saudadesreal bet slotssi mesmo, da própria essência."
"Mas com certeza, ele partiureal bet slotspaz. Eu sei para onde ele foi. E acredito que lá, esteja muito melhor do que todos nós aqui."