Quem são os tártaros da Crimeia e por que têm papel-chave na resistência à Rússia:

Vladimir Putin com a mao esquerda no queixofrente a ponte na Crimeia

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, O presidente russo, Vladimir Putin, durante visita à Crimeia2018

Mustafa Dzhemilev, líder tártaro da Crimeia proibido pela Rússia proibiuentrar na Crimeia até 2034, disse recentemente que o “Atesh está nas profundezas… mas trabalha dentro da Crimeia… explodindo alvos”.

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Serhii Kuzan, chefe do think tank Centro UcranianoSegurança e Cooperação,Kiev, disse que “A ideia é que o invasor sempre sinta a presença dos guerrilheiros e que nunca se sinta seguro”.

Diversos métodos estão sendo usados para sabotar os russos na Crimeia e além.

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Comotantos incidentes nesta guerra, e isso vale para atos cometidos por todos os lados, verificar a origemataques é uma tarefa extremamente difícil.

Sabe-se que forças guerrilheiras nas regiõesKharkiv, Zaporizhzhia e Kherson realizaram recentemente uma campanha coordenadadistribuiçãoadesivos e panfletos contra o chamado "mundo russo".

Além disso, repetindo uma tática adotadaconflitos anteriores, a Ucrânia teria lançado panfletos sobre posições russas com a seguinte mensagem: “Soldado russo, se você não quer ser um nazista do século 21, saianossa terra! Caso contrário, o destino dos soldadosHitler e um tribunal como oNuremberg esperam por você!”

O apelo ao passado é sedutor para Kiev, pois a guerra partidária desempenhou um papel importante na vitória da guerra civil russa (1917-1923) e no que a Rússia lembra como a “grande guerra patriótica” (1941-1945).

A comparação do atual exército russo com os invasores nazistas da segunda guerra mundial contradiz completamente a versãoPutin.

O Kremlin diz que nacionalistas ucranianos colaboraram e participaramassassinatosmassa durante a ocupação nazista.

A propaganda russa afirma ainda que a guerra atual visa “desnazificar” a Ucrânia.

Quem são os tártaros?

Em primeiro plano, mulher tártara idosa enxuga os olhos com um lenço

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Os tártaros da Criméia são um grupo étnico turcomano nativo da península da Crimeia.

Quem conhece a história da Rússia, da Ucrânia e dos tártaros da Criméia não deverá se surpreender com a hostilidade dos últimos à atual manifestação do imperialismo moscovita.

Diferentemente dos russos eslavos, os tártaros da Criméia são um grupo étnico turcomano nativo da península da Crimeia.

A nação tártara da Criméia se formou ao longoquatro séculos (1200-1650) e se fundiu com diferentes ondasimigrantes. Em 1783, a czarina Catarina, a Grande, anexou a Crimeia e, posteriormente, o Império Russo agiu para “russianizar” os tártaros da Crimeia antes da revolução1917.

Sob o governoJoseph Stalin (1924-1953), a União Soviética reprimiu ativamente dos tártaros da Criméia. Como resultado, vários tártaros decidiram cooperar com os alemães após a invasão nazistajunho1941.

Stalin acusou os tártaros da Criméiatraição e deportou a comunidademassa para o Gulag - como eram chamados os campostrabalho forçado sovieticos.

Embora alguns tártaros da Criméia tenham servido junto a potências do Eixo, um número bem maior serviu no Exército Vermelho.

Conhecida como Sürgün (o exílio), esta deportaçãopelo menos 180.000 pessoas para a Ásia central1944 foi um dos capítulos mais dolorosos da história tártara.

Na década1960, pesquisasativistas tártaros estimaram que aproximadamente 100.000 dessas pessoas tenham morrido (mesmo os registros soviéticos mostram que 30.000 tártaros da Criméia morreram menosdois anos após as deportações).

Somentesetembro1967, o Soviete Supremo – o mais alto órgão legislativo da URSS – reconheceu que a acusaçãotraição contra toda a nação tártara da Crimeia era “irracional”.

Treze anos antes, o Soviete Supremo votou pela transferência da Crimeia da Ucrânia da República Socialista Federativa Soviética da Rússia para a República Socialista Soviética.

O movimento não foi tão controverso na época, visto que ambas as entidades eram parte da União Soviética. Mas a dissolução da União Soviética1991 mudou tudo isso.

A maioria dos tártaros só foi autorizada a retornar à Crimeia1989, sob o comando do líder soviético reformista Mikhail Gorbachev.

Os tártaros não receberam nenhuma compensação por suas perdas, e seu retorno para casa gerou tensões com russos e ucranianos étnicos, muitos dos quais se mudaram para a península depois1944.

Depois que a Ucrânia se tornou independente,1991, líderes tártaros disseram que autoridadesKiev deliberadamente impediram que seu povo conseguisse empregos públicos.

Tambémos acusaramsecretamente se “apropriarsuas terras”.

'Inimigo comum'

Grupomilitares caminhadirecao a caminhoes

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, O movimento militar Atesh prometeu travar uma guerra contra os invasores russos.

Aos poucos, porém, um inimigo comum uniu os tártaros da Criméia e a Ucrânia.

Os tártaros da Criméia tornaram-se fervorosos defensores do novo Estado ucraniano e chegaram a ser apelidados"os maiores ucranianos da Crimeia".

Em 1897, os tártaros nativos da Crimeia representavam 34,1% da população da Crimeia.

Apesar da reversão da limpeza étnica promovida por Stalin,2001 os russos representavam 58% da população da Crimeia, enquanto os tártaros indígenas representavam apenas 12%.

A invasão da Crimeia pela Rússia2014 foi um retorno desastroso ao passado para os tártaros da Crimeia. Os russos imediatamente embarcaramum programatirania sistemática. Essas perseguições persistem até hoje.

A assembléia autônoma tártara da Criméia, Mejlis, da qual Mustafa Dzhemilev era presidente, foi proibida, assim como as referências públicas às deportações stalinistas.

Depois2014, milharestártaros deixaram a Crimeia ocupada pela Rússia e foram para a Ucrânia. O ativista e político tártaro Ilmi Umerov disse ao Serviço FederalSegurança da Rússia que “não considera a Crimeia parte da Federação Russa”.

Ele foi encaminhado para um hospital psiquiátrico.

Em novembro2015, demonstrando solidariedade ucraniano-tártara, o Verkhovna Rada (o parlamento ucraniano) aprovou uma moção denunciando as deportações1944 como “genocídio”.

Este precedente encorajou Letônia, Lituânia e Canadá a seguir o exemplo2019.

Em 2021, a Verkhovna Rada aprovou uma lei que reconheceu os tártaros da Crimeia como um dos povos indígenas da Ucrânia.

Enquanto a guerra atual continuar, e considerando a significativa contribuição militar dos tártaros da Crimeia, Kiev deverá se colocar cada vez mais favoravelmente à questão da autodeterminação da nação tártara da Crimeia.

Para o especialistaestudos ucranianos Rory Finnin, o futuro da Crimeia é fundamental para qualquer acordo que possa se seguir à guerra atual.

A Ucrânia perdeu o controle da Crimeia2014, mas os esforços dos tártaros da Crimeia no atual conflito estão contribuindo significativamente para a capacidadeKievevitar uma derrota para a Rússia.

*Jonathan Este é editorassuntos internacionais.

Este artigo foi publicado originalmente no sitenotícias acadêmicas The Conversation e republicado sob licença Creative Commons. Leia aqui a versão originalinglês.