Para onde vai o voto da 'Marçalândia' no segundo turno: 'O sistema não vai fazer nada por você':betesporte bilhete

O empresário Marcos Dorça, eleitorbetesporte bilheteMarçal,betesporte bilheteseu apartamento na Mooca

Crédito, Reinaldo Canato

Legenda da foto, O empresário Marcos Dorça, eleitorbetesporte bilheteMarçal,betesporte bilheteseu apartamento na Mooca

Em pouco tempo, o ex-coach e empresário angariou 28% dos votos do eleitorado paulistano e por pouco não foi para o segundo turno. Ficou atrásbetesporte bilheteGuilherme Boulos (PSOL) por apenas 56,8 mil votos. O atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), ficoubetesporte bilheteprimeiro lugar, com 29% dos votos totais.

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E foi principalmente nessa banda da cidade, a mais populosabetesporte bilheteSão Paulo, onde Marçal conseguiu demonstrarbetesporte bilheteforça eleitoral.

Ele foi o candidato mais votadobetesporte bilhete14 das 20 zonas eleitorais da zona leste - popularmente conhecida como ZL. Segundo o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-SP), a ZL concentra 3,2 milhõesbetesporte bilheteeleitores, o maior colégio eleitoral da capital.

Marçal também foi o vencedorbetesporte bilheteoutras seis zonas eleitorais da zona norte, formando na cidade uma espéciebetesporte bilhete"Marçalândia", um corredorbetesporte bilhetebairros que vaibetesporte bilheteItaquera ao Tucuruvi, passando por Penha, Mooca e Vila Maria.

Pablo Marçal

Crédito, EPA

Legenda da foto, Pablo Marçal teve 28% dos votosbetesporte bilheteSão Paulo e ficoubetesporte bilheteterceiro na disputa
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Candidato à reeleição, Nunes foi o mais bem votadobetesporte bilhete17 distritos, principalmente na zona sul, seu reduto eleitoral, ebetesporte bilheteparte da zona norte.

Já Boulos venceubetesporte bilheteoutros 19, tantobetesporte bilhetebairros mais pobres dos extremos da cidade, como Guaianazes (leste) e Campo Limpo (sul), quantobetesporte bilheteáreas centrais ebetesporte bilheteclasse média e alta, como Bela Vista e Pinheiros.

Nos últimos dias, a BBC News Brasil visitou três bairros da "Marçalândia" - Mooca, Itaquera e Vila Medeiros - para conversar com eleitores do ex-coach, entender suas motivações e como avaliam o desempenho do candidato - que prometeu se candidatarbetesporte bilhetenovobetesporte bilhete2026.

Para três entrevistados, Marçal representa uma "esperançabetesporte bilhetemudança", um "rosto novo na velha política", alguém que "acredita na pessoa, e não no sistema".

Por outro lado, eles culpam a derrota ao comportamento explosivo e desrespeitosobetesporte bilheteMarçal contra seus adversários: "ele atacou demais", "perdeu a linha", "infantilizou a campanha", disseram.

E para onde vai o voto da "Marçalândia" no segundo turno?

Na última terça-feira (8/10), Marçal disse acreditar que metadebetesporte bilheteseus votos poderiam migrar para Boulos. "Ele sabe sinalizar com o povo e o Ricardo [Nunes] não sabe, Boulos e Lula têm a língua do povo, os outros só brigam", afirmou.

Uma pesquisa do Instituto Datafolha divulgada na quinta (10/10), no entanto, apontou que 84% dos eleitoresbetesporte bilheteMarçal disseram pretender votarbetesporte bilheteNunes no segundo turno - tendência também verificada entre os eleitores entrevistados nesta reportagem.

'Sair da mesmice'

"Conheci Marçal na campanha. Achei que valia a pena arriscarbetesporte bilheteum rosto novo na política nacional, uma chancebetesporte bilhetesair da mesmice. Não acreditobetesporte bilheteninguém que já estava na política, ou que venhabetesporte bilheteuma famíliabetesporte bilhetepolíticos. Ele é um empresário bem-sucedido. Concordo com as ideias dele", diz o empresário Marcos Dorça.

Para ele, que hoje atua no ramobetesporte bilhetetecnologia e trabalha semprebetesporte bilhetecasa, um dos principais problemasbetesporte bilheteSão Paulo é o trânsito. "Isso é o que mais me revolta. Eu gastava quatro horas por dia dentro do carro", diz. "Minha mãe mora na Penha, a sete quilômetros daqui. Às vezes levo 1h30 nesse percurso."

Ali, na Mooca, Marçal teve 33% dos votos, seguido por Nunes (30%) e Boulos (22%). Dorça arrisca uma explicação sobre o bom desempenho do ex-coach no tradicional ponto da ZL:

"Aqui é uma regiãobetesporte bilheteclasse média, com muitos empresários. E vamos ser sinceros? É a classe média que sustenta esse país. E ser classe média no Brasil é um inferno, porque os ricos não pagam nada, e os pobres não têm condiçõesbetesporte bilhetepagar. Então, quem segura a bucha somos nós. E estamos muito cansados disso."

Para Dorça, esse estrato da ZL viu no ex-coach alguém que acredita que o Estado não deve ser assistencialista, e sim "prover condições para a pessoa ter seu ganha pão", nada além disso.

"Esse negóciobetesporte bilhetedarbetesporte bilhetegraça, cara, ninguém evolui. Você dá aquele mínimo, e a pessoa não se esforça, se acomoda, porque aquilo vembetesporte bilhetegraça. Essa é mais uma formabetesporte bilhetemanter curral eleitoral. O assistencialismo é importante, mas até certo ponto", diz.

Imagem mostra o edifício Platina, no Tatuapé, o mais alto da cidade

Crédito, Reinaldo Canato

Legenda da foto, À esquerda, o edifício Platina, no Tatuapé, o mais alto da cidade
Rua do Tatuapé

Crédito, Reinaldo Canato

Legenda da foto, A região do Tatuapé terá seu terceiro shopping

O empresário, que escolheu votarbetesporte bilheteNunes no segundo turno, se considerabetesporte bilhetecentro-direita e diz que "jamais votariabetesporte bilheteJair Bolsonaro".

Embora tenha oficialmente apoiado o atual prefeito, o ex-presidente chegou a flertar com Marçal durante a campanha.

"Por outro lado, temos essa direita extremista, que não tem visão administrativa,betesporte bilhetefuturo,betesporte bilhetesustentabilidade... Marçal tem algumas característicasbetesporte bilheteBolsonaro, como a maneirabetesporte bilhetese comunicar, mas acho que eles são bem diferentes. Bolsonaro é um militar exonerado, um boçal. Marçal tem experiência administrativa."

Dorça acredita que, na reta final da campanha, Marçal foi "vítima"betesporte bilhetesua própria personalidade: teria perdido votos ao atacar demais seus adversários, como quando divulgou um laudo toxicológico falso que seriabetesporte bilheteGuilherme Boulos.

"Se ele fosse mais racional, teria vencido. Mas se mostrou moleque, passou a linha do desrespeito. Agora já era, nunca mais vai ganhar. Quando você vem do nada, você só tem uma oportunidadebetesporte bilheteganhar. Se não emplacou, não vai".

'Ele não é da política'

Perto das margensbetesporte bilheteSão Paulo, Itaquera é outro tradicional bairro da ZL que se "marçalizou" nestas eleições, embora ali a distância do ex-coach para Boulos tenha sidobetesporte bilheteapenas um ponto percentual - pouco mais mil votos.

Na terça-feira, o comerciante Celso Rossi,betesporte bilhete71 anos, outro eleitor da Marçalândia, encaixotava os últimos sapatos da loja que leva o nomebetesporte bilhetesua família há 34 anos.

"Vou encerrar minhas atividades. Não vale mais a pena, não tenho capitalbetesporte bilhetegiro. Depois da pandemia, as pessoas só compram pela internet. Veem a foto do sapato e compram, sem experimentar antes", lamenta.

Entre as vitrines da loja, há uma bandeira do Brasil.

"Já votei no Maluf e muitas vezes no PSDB, mas me decepcionei muito, principalmente com o apoio do Geraldo Alckmin ao Lula", diz, referindo-se ao passado tucano do atual vice-presidente, hoje no PSB.

"Pra mim, ali acabou o PSDB. Quem fez renascer meu interesse por política foi Jair Bolsonaro. Toda minha família ébetesporte bilhetedireita", diz.

"Confesso que preferia o Ricardo Salles (ex-ministro do Meio Ambiente do governo Bolsonaro). Mas me identifiquei com as ideias do Marçal", afirma Rossi, que costuma frequentar manifestações bolsonaristas na avenida Paulista.

O comerciante se surpreendeu ao ser informado que o ex-coach foi o candidato mais bem votadobetesporte bilheteItaquera e que deu Boulos no vizinho Guaianazes. "Talvez o povobetesporte bilheteItaquera tenha mais expertise", diz.

Prédios da Mooca

Crédito, Reinaldo Canato

Legenda da foto, Na Mooca, Pablo Marçal teve 33% dos votos
Pessoas andando na rua do Tatuapé

Crédito, Reinaldo Canato

Legenda da foto, Marçal foi o mais votado na zona eleitoral do Tatuapé com 32,89% dos votos

Para Rossi, São Paulo tem um problema fundamental: a educação precária.

"Na minha época, a escola pública era melhor que a particular. E, mesmo a particular, hojebetesporte bilhetedia, também é ruim. Vejo pela minha neta. Ela está na quinta sériebetesporte bilheteum colégio particular aqui perto, e só tem dois professores…"

Também cita o trânsito lento como outro defeito insuportávelbetesporte bilheteSão Paulo. "Você tem carro? Eu fico indignadobetesporte bilhetepegar o carro às 6h e a marginal Tietê já estar parada. Caramba, são 6 horas da manhã, cara, imagina o que é isso…"

Ele tenta explicar porque a ZL apostoubetesporte bilheteMarçal. "Acho que boa parte da sociedade está muito desacreditada da política. Então, como ele não é político, as pessoas acreditam nas novas ideias que ele apresenta", diz ele, que preferiu não tirar fotos para esta reportagem.

Para Rossi, que também decidiu votarbetesporte bilheteRicardo Nunes no segundo turno, o coach cometeu erros básicos na campanha: "Ele atacou as mulheres dizendo que elas têm um cérebro menor que o dos homens. Isso não se faz, o eleitorado feminino é maior".

"Outro equívoco foi cantar vitória antes do tempo. Ele se empolgou e disse que iria ganhar no primeiro turno. Você não faz issobetesporte bilheteeleição. Está aí o resultado."

O mito da ascensão da ZL

Para o cientista social Tiaraju Pablo D'andrea, coordenador do Centrobetesporte bilheteEstudos Periféricos da Universidade Federalbetesporte bilheteSão Paulo (Unifesp), a votaçãobetesporte bilhetePablo Marçal encarna o "mito da zona leste como um local historicamente prejudicado, mas que hoje ascendeu economicamentebetesporte bilheteum mundo do trabalho cada vez mais precarizado."

"Há um aumento da informalidade e da precarização. E Marçal apresenta uma saída falsa: o descrédito nas políticas públicas e o empreendedorismo como solução pessoal. A ideiabetesporte bilheteque apenas esforço pessoal leva à ascensão", diz D'andrea, autor do livro A Formação das Sujeitas e dos Sujeitos Periféricos (Editora Dandara).

"Mas Marçal é diferente do jovem desempregado, do motoboy e do vendedorbetesporte bilhetetupperware. Ele é milionário, e vende uma esperança falsa para quem está desesperado. Uma esperança que flerta com o 'golpebetesporte bilhetesorte', a ideiabetesporte bilheteque você pode ficar ricobetesporte bilheteuma hora para outra, na lógica das bets e do jogo do tigrinho."

Para explicar o alcancebetesporte bilheteMarçal na região, o pesquisador divide a ZLbetesporte bilhetequatro núcleosbetesporte bilhetebairros com comportamentos eleitorais diferentes.

vista da zona leste a partir da Mooca

Crédito, Reinaldo Canato

Legenda da foto, A zona leste é a regiãobetesporte bilheteSP com maior númerobetesporte bilheteeleitores: 3,2 milhões

Os mais afastados, como Guaianazes, Itaim Paulista e São Mateus, representam uma periferia mais precarizada e com tendência mais à esquerda. É nessa região onde o PT historicamente concentra boa partebetesporte bilheteseus votos.

"Depois, há uma faixa que chamobetesporte bilhete'periferiabetesporte bilhetetransição'. Itaquera, São Miguel, Parque do Carmo, Teotônio Vilela, onde existe uma misturabetesporte bilhetecaracterísticas tanto da classe média baixa, com mais estrutura e comércio, como pontos mais parecidos com a periferia tradicional", diz D'andrea.

O pesquisador avalia que esses são os "distritos pêndulos" da cidade, pois costumam votar mais na esquerda ou na direita, a depender do contexto eleitoral. "Em 2018, Bolsonaro venceu nesses bairros, masbetesporte bilhete2022 Lula foi o mais votado. Em 2012, Fernando Haddad ganhou. E agora Marçal se saiu melhor".

D'andrea explica outra camada na ZL:

"Há bairros tradicionais, como Penha, Vila Formosa e Carrão, onde há uma população mais conservadora e envelhecida,betesporte bilheteclasse média baixa, que tem um certo medo da pobreza das regiões periféricas e tende a votar mais à direita."

Já o quarto setor é formado por Tatuapé e Mooca, mais próximos do centro ebetesporte bilhetefranco crescimento econômico, diz. "Podemos chamar esses bairrosbetesporte bilheteepicentro do bolsonarismobetesporte bilheteSão Paulo. É uma região rica, ocupada por empresários e pessoas que ascenderam socialmente."

O professor, no entanto, pondera sobre a análise da votação nessas regiões.

"Quando a gente pinta o mapa das zonas eleitoraisbetesporte bilheteazul oubetesporte bilhetevermelho, não significa que toda a população daquele ponto ébetesporte bilhetedireita ou esquerda. Há divisões internas e diferentes maneirasbetesporte bilhetepensar. Boulos e Nunes também foram votados nesses bairros. Então, o mapa mostra muita coisa, mas também esconde."

'O sistema não vai fazer nada por você'

A comerciante Rosane Cazé, eleitorabetesporte bilheteMarçal, embetesporte bilheteloja na Vila Medeiros

Crédito, Reinaldo Canato

Legenda da foto, A comerciante Rosane Cazé, eleitorabetesporte bilheteMarçal, embetesporte bilheteloja na Vila Medeiros

A "Marçalândia" também concentra parte do território da zona norte, principalmentebetesporte bilhetepontosbetesporte bilhete"fronteira" com a ZL.

Nessa parte da cidade, Marçal venceubetesporte bilheteseis das 11 zonas eleitorais: Vila Maria, Vila Sabrina, Tucuruvi, Santana, Jaçanã e Pirituba.

Dois dias depois da eleição, a comerciante Rosane Cazé,betesporte bilhete44 anos, lamentava a derrota do ex-coach no primeiro turno - ela já o acompanhava pelas redes sociais há alguns anos.

"Ele atacou demais os outros candidatos, e deveria ter se defendido melhor. Se passou por louco. E teve o episódio da cadeirada do [José Luiz] Datena…", diz, referindo-se ao ataque do candidato do PSDB ao ex-coach durante um debate da campanha.

Rosane falou com a reportagem enquanto postava fotos dos cosméticos que vende embetesporte bilhetelojabetesporte bilheteuma rua movimentada da Vila Medeiros.

rua da Vila Medeiros

Crédito, Reinaldo Canato

Legenda da foto, Marçal venceubetesporte bilheteseis zonas eleitorais da zona norte
rua da Vila Medeiros,betesporte bilhetefrente a igreja católica. pessoas andando

Crédito, Reinaldo Canato

Legenda da foto, A Vila Medeiros está dentro da área da zona eleitoral da Vila Maria

O bairro faz parte da zona eleitoral da Vila Maria, onde Marçal teve seu maior percentualbetesporte bilhetevotos na cidade (33,6%).

"Já votei no Lula porque acreditava que ele iria mudar o país. Mas não mudou nada. Piorou."

"Hoje soubetesporte bilhetedireita, mas não sou militante nem voto no Bolsonaro, não. Na última (eleição presidencial), eu anulei. Agora, vou votar no apático do Nunes por faltabetesporte bilheteopção mesmo. Boulos está dentro da corja do Lula, não voto", diz a comerciante.

Para ela, que há 19 anos mantémbetesporte bilheteloja empregando jovens mulheres do bairro, Pablo Marçal encarnabetesporte bilhetevisãobetesporte bilhetemundo:

"Penso exatamente como ele: acredito na evolução da pessoa, e não no sistema. O sistema não vai fazer nada por você, e você não vai mudar o sistema. É só você, sozinho."