Vítimas registradas até agora 'são apenas a ponta do iceberg' da tragédia no RS, diz pesquisador da Fiocruz:cbet deposito
“Toda vez que um grupocbet depositopesquisadores faz investigações sobre algum desastre e recupera os registros anos depois, descobre um númerocbet depositoóbitos e internações muito maior [do que o divulgado durante a crise]”, aponta o pesquisador, professor da Escola Nacionalcbet depositoSaúde Pública Sergio Arouca (Ensp).
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Fim do Matérias recomendadas
Sequênciacbet depositodanos
Os estudos elaborados por Machado e seus colegas levamcbet depositoconta toda a cadeiacbet depositodanos e sequelas provocados pelos desastres ambientais na saúde e na infraestrutura pública.
Segundo os estudos, entre as doenças e situaçõescbet depositoque há aumentocbet depositoincidência nas horas e nos anos após grandes inundações estão:
- Doenças infecciosas e parasitárias, como diarreia, cólera, hepatite A, dengue, leptospirose e giardíase;
- Desnutrição;
- Doenças do olho, como conjuntivite;
- Doenças do aparelho circulatório, como pressão alta e Acidente Vascular Cerebral (AVC);
- Doenças respiratórias
- Dermatite e erupções cutâneas;
- Distensões musculares;
- Infecções renais;
- Lesões, traumatismos, cortes;
- Hipotermia;
- Choques elétricos;
- Afogamentos;
- Transtornos mentais ecbet depositocomportamento, como estresse pós-traumático, ansiedade, pânico, depressão e abuso no consumocbet depositoálcool e medicamentos;
- Violência doméstica.
Nas primeiras horas e dias após uma enchente, os óbitos e internações costumam vir das operaçõescbet depositoresgate e socorro e consistem principalmentecbet depositotraumas agudos.
Após algumas semanas e meses, durante o período chamado pelos especialistascbet depositorecuperação, doenças transmissíveis começam a ser diagnosticadas com mais frequência.
“Estamos falando das doenças mais tradicionais, como leptospirose, doenças diarreicas e hepatite, mas também daquelas relacionadas ao fatocbet depositomuitas pessoas serem obrigadas a vivercbet depositoabrigos após um evento como esse”, explica o pesquisador da Fiocruz.
“Há um risco potencializadocbet depositogastroenterite pela forma como os alimentos são armazenados ou manipulados ecbet depositodiarreia pelo acesso à água, pois a redecbet depositofornecimento muitas vezes é interrompida ou contaminada.”
Além disso, segundo Machado, os abrigos costumam ser ambientes com aglomeração e pouca ventilação, favorecendo a transmissãocbet depositodoenças infecciosas respiratórias.
“No Rio Grande do Sul,cbet depositoimediato, eu me preocuparia com as doenças respiratórias e os casoscbet depositohipotermia, porque há previsãocbet depositofrio para os próximos dias e suspeito que,cbet depositoalgumas áreas, muitas pessoas tenham perdido seus agasalhos e cobertores.”
Aindacbet depositoacordo com a análisecbet depositodados feita pelo pesquisador, casoscbet depositoleptospirose podem permanecercbet depositoalta por meses após o desastre.
Ao mesmo tempo, há tendênciacbet depositoelevação dos casoscbet depositodoenças não transmissíveis e problemascbet depositosaúde crônicos devido à desestabilização do sistemacbet depositosaúde e do dia a dia dos pacientes.
Segundo o Ministério da Saúde, até a manhãcbet depositosábado (11), ao menos 290 locais como hospitais e UPAs (Unidadescbet depositoPronto Atendimento) haviam sido atingidascbet depositoalguma forma pelo desastre no Rio Grande do Sul.
Há 18 hospitais totalmente danificados e que não terão condiçõescbet depositovoltar a realizar atendimentos. Outros 75 estão com funcionamento parcial.
Com isso, há a interrupçãocbet depositotratamentoscbet depositodoentes crônicos, diz Machado.
Emergências não relacionadas ao desastre também podem deixarcbet depositoser priorizadas.
“E mesmo aqueles que não dependiam do atendimento das unidades básicascbet depositosaúde muitas vezes saíramcbet depositocasa sem levar seus medicamentos para tratamento contínuo”.
Somado à toda a desestruturação da vida dos habitantes da região, esse cenário tende a levar a altascbet depositocasoscbet depositopressão alta e AVC, por exemplo.
O pesquisador da Fiocruz computou os registroscbet depositointernações por AVC meses antes e após as inundaçõescbet depositoSanta Catarinacbet depositonovembrocbet deposito2008, que atingiram 1,5 milhãocbet depositopessoas e deixaram cercacbet deposito150 mortos durante e imediatamente após a crise.
O levantamento mostrou picos nos casoscbet depositoAVC nas semanas após a tragédia ecbet depositoabrilcbet deposito2009, cinco meses depois. Mas os níveis ficaram mais altos do quecbet depositooutros momentos por ainda mais tempo.
“Em Santa Catarina, os AVCs subiram a níveis bem acima da média e só voltaram ao normal cercacbet depositooito meses depois”, relata Carlos Machado.
Períodocbet depositoreconstrução
Outro fenômeno registrado pelos pesquisadores, e que pode se repetir no Rio Grande do Sul, tem relação com o períodocbet depositoreconstrução das casas e infraestruturas destruídas, alémcbet depositofraturas decorrentescbet depositoacidentescbet depositotrabalho.
Em 2008, as internações por fraturascbet depositoSanta Catarina chegaram a um patamar acima da média por voltacbet depositocinco meses após as inundações.
“Por pior que sejam as condições, as pessoas sempre vão voltar e tentar reconstruir suas casas. Mas infelizmente, nem sempre com as ferramentas e segurança correta”, diz Machado.
Cercacbet deposito101 mil casas já foram destruídas ou danificadas pelas fortes chuvas que há dias assolam o Rio Grande do Sul, segundo estimativa da Confederação Nacionalcbet depositoMunicípios (CNM).
Até o momento, o desastre climático afetou 449 dos 497 municípios gaúchos.
Por contacbet depositotoda a destruição, Machado afirma que uma ondacbet depositomigração interna também não seria surpreendente.
"Algumas áreas vão permanecer comprometidas durante bastante tempo e há um contingente significativocbet depositopessoascbet depositoabrigos que precisará ser realocado”, diz.
“A médio e longo prazo, devemos notar uma saída da populaçãocbet depositoalguns municípios.”
O risco nesse caso, segundo ele, é sobrecarregar o sistemacbet depositosaúde pública das áreas menos afetadas.
Isso aconteceu após a passagem do furacão Mariacbet depositoPorto Ricocbet deposito2017, quando muitas pessoas fugiram da capital afetada e se deslocaram para municípios menores, com infraestrutura precária.
As autoridades locais contabilizaram oficialmente 64 mortes relacionadas ao furacão. Mas um estudo posterior realizado pela Escolacbet depositoSaúde Pública da Universidadecbet depositoHarvard,cbet depositocolaboração com as universidades Carlos Albizu e Ponce,cbet depositoPorto Rico, mostrou que o númerocbet depositomortes resultantes direta e indiretamente do desastre natural foi, na verdade, 72 vezes maior, chegando a 4.600 vítimas.
Os especialistas afirmam que o número aumentou, entre outros motivos, por conta da interrupção dos serviçoscbet depositosaúde, dos cortescbet depositoenergia elétrica e da devastação generalizada provocada pela tempestade, que deixou US$ 90 bilhõescbet depositodanos.
Doenças mentais, alcoolismo e violência
Estudos sobre desastres ambientaiscbet depositodiversas partes do mundo também mostram o efeito dessas tragédias na saúde mental.
Segundo Machado, há aumentocbet depositocasoscbet depositoestresse pós-traumático, insônia, amnésia, fobias, ansiedade, depressão e outros transtornos. Também não é incomum que famílias atingidas pelas enchentes tenham que lidar com abusocbet depositosubstâncias.
Faz parte também da cadeiacbet depositoconsequênciascbet depositorelação à saúde mental a violência familiar e o abuso no consumocbet depositoálcool e medicamentos entre adultos, e distúrbioscbet depositocomportamentocbet depositocrianças e jovens.
A violênciacbet depositoforma geral também tende a subircbet depositoconsequência da instabilidade social e dos prejuízos econômicos. Em alguns casos, meninas e mulheres podem estar mais expostas a assédio mental e sexual nos abrigos temporários.
“O Banco Mundial monitora os impactos econômicos no curto, médio e longo prazo após uma tragédia ambiental e percebemos que os impactos na saúde também podem seguir um ciclo semelhante”, diz o especialista.
A melhor resposta possível
Mas tudo isso pode ser minimizado se a respostacbet depositosaúde pública for adequada, afirma Machado.
As previsões sobre as possíveis ondascbet depositodoenças, contaminações e internações devem ser utilizadas para organizar o atendimento à população afetada quando a água baixar, com fococbet depositoretomar tratamentos para doenças crônicas e transtornos mentais, diz.
Segundo o especialista, a resposta dos serviçoscbet depositosaúde deve seguir os ciclos das doenças e dos problemas que tendem a aparecer até um ano após as enchentes.
Também é essencial a instalaçãocbet depositohospitaiscbet depositocampanha e o enviocbet depositoprofissionaiscbet depositosaúde qualificados para as áreas atingidas.
O Ministério da Saúde ordenou a montagemcbet depositocinco unidadescbet depositohospitaiscbet depositocampanha no Rio Grande do Sul. O órgão também afirma ter disponibilizado 50 kitscbet depositoemergência com medicamentos e insumos, cada um com capacidade para atender 1.500 pessoas durante um mês.
O governador Eduardo Leite também anunciou a liberaçãocbet depositoaproximadamente R$ 70 milhõescbet depositorecursos para a saúde, destinados para rede hospitalar,cbet depositosaúde mental e atenção primária, alémcbet depositoR$ 12 milhões para qualificar a infraestrutura dos abrigos.
“A principal dificuldade no momento está na logística do transporte, por conta dos bloqueios por terra e ar”, lamenta o especialista da Fiocruz.
Mas a principal formacbet depositoreduzir os riscos, segundo ele, está na prevenção e,cbet depositoespecial, na adaptação do serviçocbet depositosaúde aos riscos climáticos.
“Não podemos continuar a ter serviçocbet depositosaúde, hospitais ou unidades básicascbet depositoáreas vulneráveis. E se tivermos, eles têm que estar adaptados, por exemplo, a inundações frequentes”, diz.
Também é importante, segundo Machado, priorizar trabalhoscbet depositoorientação e conscientizaçãocbet depositomoradorescbet depositoáreas vulneráveis para que, caso não consigam deixar suas casas, pelo menos saibam como agircbet depositocasocbet depositoemergência.
O pesquisador da Fiocruz é um dos muitos especialistas envolvidos na elaboração do novo Plano Nacionalcbet depositoGestãocbet depositoRiscos e Resposta a Desastres Naturais, cuja previsãocbet depositoentrega é junho deste ano.
O projeto está previsto na Leicbet depositonº 12.608cbet deposito2012, mas somente agora será implantado.
“Não dá mais para a gente continuar a trabalhar como se cada desastre fosse a primeira vez”, diz o especialista.
“Precisamos avançar no Brasilcbet depositoum pensamento mais prospectivo e com a certezacbet depositoque já estamos atrasados.”