Por que peixes têm cada vez mais dificuldade para respirar?:bet 375
O motivo da invasãobet 375massa, segundo Pauly, são os níveisbet 375oxigênio extremamente baixos daquelas águas poluídas.
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As espéciesbet 375peixe que não conseguem suportar ambientes com pouco oxigênio fugiram, enquanto o pato-de-bombaim, que faz partebet 375um pequeno subconjuntobet 375espécies fisiologicamente mais capazesbet 375viver com menos oxigênio, mudou-se para lá.
Algumas pessoas ficaram felizes com a migração, já que o pato-de-bombaim é perfeitamente comestível.
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Mas isso nos oferece a perspectivabet 375um futuro sombrio para a China e para todo o planeta.
À medida que a atmosfera se aquece, os oceanosbet 375todo o mundo ficam cada vez mais privadosbet 375oxigênio, fazendo com que muitas espécies abandonem seus habitats.
Por essa razão, pesquisadores esperam que muitos locais sofram declínio da diversidadebet 375espécies, permanecendo apenas aquelas poucas que conseguem lidar com condições mais rigorosas.
E a faltabet 375diversidade no ecossistema significa faltabet 375resiliência.
Pauly resume a situação afirmando que "a desoxigenação é um grande problema".
Nossos oceanos do futuro, mais quentes e com menos oxigênio, não só irão abrigar menos espéciesbet 375peixes, mas também peixes menores e raquíticos. Para piorar, haverá mais bactérias produtorasbet 375gases do efeito estufa, segundo os cientistas.
Pauly afirma que a região dos trópicos ficará vazios, à medida que peixes migrarem para águas mais oxigenadas e espécies específicas que já vivem nos polos sujeitas à extinção.
Os pesquisadores se queixambet 375que o problema do oxigênio não recebe a atenção que merece. A acidificação e o aquecimento dos oceanos ocupam a maior parte do noticiário e das pesquisas acadêmicas.
Em abril, por exemplo, a imprensa divulgou que as águas da superfície do planeta estão mais quentes do que nunca — uma média surpreendentebet 37521 °C.
É claro que esta não é uma boa notícia para a vida marinha. Mas, quando os pesquisadores se dedicam a comparar os três efeitos — aquecimento, acidificação e desoxigenação —, os impactos dos baixos níveisbet 375oxigênio são os pioresbet 375todos.
"Não é tão surpreendente", segundo o ecofisiologista Wilco Verberk, da Universidade Radboud, na Holanda. "Sem oxigênio, os outros problemas perdem a importância."
Afinal, os peixes, como os outros animais, precisam respirar.
Os níveisbet 375oxigênio dos oceanos do planeta já caíram maisbet 3752% entre 1960 e 2010. E espera-se que eles caiam até 7% abaixo dos níveisbet 3751960 no próximo século.
Alguns locais são piores do que outros. O topo do nordeste do Oceano Pacífico perdeu maisbet 37515% do seu oxigênio.
Segundo o relatóriobet 3752019 do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na siglabet 375inglês) sobre os oceanos, entre 1970 e 2010, o volumebet 375"zonas com nível mínimobet 375oxigênio" nos oceanos do mundo — onde os grandes peixes não sobrevivem, mas sim as águas-vivas — aumentou entre 3% e 8%.
A queda do oxigênio é causada por alguns fatores. Em primeiro lugar, as leis da física determinam que a água mais quente pode reter menos gás dissolvido que a água mais fria. É o que faz com que o refrigerante tenha menos gás quando está quente.
À medida que o nosso planeta se aquece, as águas da superfície dos oceanos perdem oxigênio e outros gases dissolvidos. Esse efeito simplesbet 375solubilidade é responsável por cerca da metade da perdabet 375oxigênio já observada até 1 mil metrosbet 375profundidade nos oceanos.
Em profundidades maiores, os níveisbet 375oxigênio são determinados,bet 375grande parte, por correntes que levam as águas da superfície para baixo. E essas correntes também são afetadas pelas mudanças climáticas.
O derretimento do gelo acrescenta água doce e menos densa que resiste à mistura nas principais regiões. E a alta velocidadebet 375aquecimento atmosférico nos polos,bet 375comparação com o Equador, também arrefece os ventos que determinam as correntes oceânicas.
Por fim, as bactérias que vivem na água e se alimentambet 375fitoplâncton ebet 375outros materiais orgânicos que caem no fundo do mar consomem oxigênio.
Tal impacto pode ser maior ao longo das linhas costeiras, onde o despejobet 375fertilizantes alimenta a proliferação das algas que, porbet 375vez, alimenta as bactérias famintas por oxigênio.
O resultado disso é o aparecimentobet 375mais "zonas mortas", como a que se verificou no Golfo do México.
Os pesquisadores chegaram até a sugerir que o aumento da poluição por microplásticos tem potencialbet 375exacerbar a queda dos níveisbet 375oxigênio.
Segundo essa hipótese, se o zooplâncton se alimentarbet 375microplásticosbet 375vezbet 375fitoplâncton (sua presa habitual), este último irá se proliferar, alimentando novamente aquelas bactérias que consomem oxigênio no seu caminho até o fundo do mar.
A Rede Globalbet 375Oxigênio Oceânico é um grupo científico formado como parte das iniciativas da Década das Nações Unidasbet 375Ciência do Oceano para o Desenvolvimento Sustentável (2021-2030).
O grupo afirma que, desde os anos 1960, a áreabet 375água com baixos níveisbet 375oxigêniobet 375mar aberto aumentoubet 3754,4 milhõesbet 375km² — pouco menos da metade do tamanho do Canadá (ou pouco mais que a metade do Brasil).
E um estudobet 3752021 concluiu que, até 2080, maisbet 37570% dos oceanos do mundo irão sofrer desoxigenaçãobet 375níveis consideráveis.
Em 2018, preocupados com a perdabet 375oxigênio dos oceanos, centenasbet 375pesquisadores assinaram a Declaraçãobet 375Kiel (Alemanha), pedindo urgentemente maior consciência do problema, alémbet 375ações para limitar a poluição e o aquecimento.
Os pesquisadores estão agorabet 375processobet 375formar o Bancobet 375Dados e Atlasbet 375Oxigênio Oceânico Global (GO2DAT, na siglabet 375inglês) para consolidar e mapear todos os dados.
O bioquímico Andrew Babbin, do Institutobet 375Tecnologiabet 375Massachusetts (MIT, na siglabet 375inglês), nos Estados Unidos, faz parte do comitê gestor do GO2DAT. Em 2021, ele mapeou imensas áreas do Oceano Pacífico com níveisbet 375oxigênio extremamente baixos.
"Certamente, é preocupante", afirma Babbin.
Ele espera repetir o exercíciobet 375mapeamento daqui a cercabet 375uma década para observar as mudanças.
Babbin explica que as condiçõesbet 375baixo nívelbet 375oxigênio tendem a abrigar uma classebet 375bactérias anóxicas produtorasbet 375metano ou óxido nitroso, que são potentes gases do efeito estufa.
Prever os impactos líquidosbet 375cada um dos três fatores — solubilidade, mistura e microbiologia — tem se mostrado complicado.
"Qualquer um deles é difícil", segundo Babbin. "E, quando você os reúne todos, é imensamente difícil fazer qualquer previsão."
Nos trópicos, por exemplo, um modelo indica que a alteração do equilíbrio entre os fatores biológicos que esgotam o oxigênio e a mistura oceânica que o produz irá reduzir os níveisbet 375oxigênio até cercabet 3752150 — mas os níveis irão aumentar a partirbet 375então, o que é uma possível boa notícia para os peixes tropicais.
Mas,bet 375forma geral, os modelos climáticos parecem ter subestimado as alterações dos níveisbet 375oxigênio, que vêm caindo com rapidez maior do que o esperado. Os impactos sobre a vida marinha serão complicados — e não serão bons.
De forma geral, os peixesbet 375ambientes quentes têm metabolismo mais alto e precisambet 375mais oxigênio.
A truta, por exemplo, precisabet 375seis vezes mais oxigênio dissolvidobet 375águas a 24 °C do quebet 375águas frias a 5 °C. Por isso, quando as águas se aquecem e o oxigênio se dissipa, o impacto para muitas criaturas aquáticas é duplo.
"Os peixes precisambet 375muito oxigênio, principalmente os grandes que gostamosbet 375comer", afirma Babbin.
Atualmente, existem cercabet 3756 miligramasbet 375oxigênio por litrobet 375água do mar nos trópicos e 11 miligramas por litro nos polos.
Se os níveis caírem abaixobet 3752 miligramas por litro (uma reduçãobet 37560 a 80%), como já acontece com frequênciabet 375alguns locais, a água será oficialmente hipóxica — ela conterá níveisbet 375oxigênio baixos demais para sustentar muitas espécies.
Mas reduções mais sutis também podem causar grandes impactos. Os peixes já gastam dezenasbet 375vezes mais energia para respirar do que as pessoas, segundo Pauly, já que eles precisam bombear uma quantidade irrisóriabet 375oxigênio da água viscosa.
Os efeitos dos baixos níveisbet 375oxigênio são bem conhecidos pelos alpinistas, que sofrem doresbet 375cabeça e confusão mental que pode ser fatalbet 375grandes altitudes.
Os peixes frequentemente tentam nadar para longe das águas com baixo teorbet 375oxigênio, mas, se não conseguirem escapar, eles ficam letárgicos.
Os baixos níveisbet 375oxigênio afetam quase todo o seu desenvolvimento, incluindo o crescimento, a reprodução, os níveisbet 375atividade e a própria sobrevivência dos peixes.
Uma sériebet 375alterações genéticas e metabólicas pode ajudar os peixes a conservar energia, mas apenas até certo limite.
De forma geral, os peixes maiores são mais afetados, simplesmente porque a razão entre o volume do seu corpo e as brânquias é maior, dificultando o abastecimento das células com oxigênio.
A pesca excessiva já reduziu o númerobet 375peixes grandes no oceano e a desoxigenação parece exacerbar este efeito, segundo Verberk.
É mais difícil avaliar os efeitos crônicosbet 375longo prazobet 375uma leve redução dos níveisbet 375oxigênio do que os efeitosbet 375curto prazo da hipóxia, acrescenta o especialista.
Os pesquisadores pediram urgentemente mais estudos a este respeito.
"Para hipóxia suavebet 375prazos mais longos, não existem muitos estudos, mas é provável que haja um impacto bastante forte", afirma ele.
"Se tivermos continuamente 7% menos energia [de 7% menos oxigênio], isso irá se acumular até um déficit muito grande."
Os peixes já estão se mudando para encontrar mais oxigênio. Os que vivembet 375águas mais profundas podem mudar-se para águas mais frias e, portanto, mais oxigenadas.
Já os que vivem nas primeiras centenasbet 375metros da colunabet 375água, como o peixe-vermelho, podem se moverbet 375direção à superfície para respirar melhor.
Um estudo realizado entre 1995 e 2009 com os peixes dos recifes da Califórnia concluiu que 23 espécies se moveram,bet 375média, 8,7 metros por décadabet 375direção à superfície, à medida que os níveisbet 375oxigênio eram reduzidos.
E, no nordeste tropical do Oceano Atlântico, o atum se moveu para uma camadabet 375água mais estreita devido à redução do oxigênio — ao todo, eles perderam 15% do seu habitat disponível entre 1960 e 2010.
Embora o aquecimento e a desoxigenação costumem andar lado a lado, estes dois efeitos não são coincidentesbet 375toda parte, segundo Verberk.
O resultado é uma colchabet 375retalhos, com áreas muito quentes ou com níveisbet 375oxigênio baixos demais para que diversas espéciesbet 375peixe possam sobreviver, gerando uma variedadebet 375rotasbet 375fuga diferentes.
Os pesquisadores estão atualmente tentando mapear os efeitos previstos para diferentes espécies, estudando como a temperatura e o oxigênio podem restringir seus futuros habitats e como essas faixas irão se sobrepor entre si.
Quando encontram águas onde podem respirar, os peixes precisam ainda verificar quais alimentos eles podem encontrar e quais predadores precisam ser evitados.
"O baixo nívelbet 375oxigênio será o estímulo para a mudança para outros lugares, mas esses outros lugares não estão vazios", explica Verberk.
"Eles irão encontrar outros animais vivendo ali. Isso irá mudar as interações competitivas entre as espécies."
Os caranguejos, segundo Pauly, estão atualmente marchandobet 375direção à Antártida, à medida que aquelas águas se aquecem e os moluscos não protegidos se proliferam.
"Será uma destruiçãobet 375massa", prevê.
No último século, segundo Pauly, a maior pressão sobre a vida marinha foi a pesca excessiva, que causou enormes declínios da quantidadebet 375peixes. Isso, agora, poderá mudar.
Ele explica que, se mantivermos a pesca excessiva sob controle, as pressões climáticas representarão o maior problema para a vida marinha nas próximas décadas.
Um estudobet 3752021 demonstrou que os oceanos já se encaminham para uma perdabet 375oxigênio quatro vezes maior, mesmo se as emissõesbet 375CO₂ fossem interrompidas imediatamente.
Se mapearmos as tendênciasbet 375aquecimento e redução do oxigênio, o desfecho cataclísmico para o oceano daqui a milharesbet 375anos seria "uma sopa na qual não é possível viver", segundo Pauly.
O oceano já apresenta zonas hipóxicas esporádicas, segundo ele, "mas é possível imaginar todas as zonas mortas do mundo se reunindobet 375uma só, e isso é o fimbet 375tudo."
Se não conseguirmos controlar as emissõesbet 375gases do efeito estufa, "teremos que esperar que isso irá acontecer", conclui o pesquisador.
*Este artigo foi publicado originalmentebet 375Yale e360 e republicado pelo site BBC Future mediante autorização. Leia aqui a versão originalbet 375inglês.