Os motivos que levaram indígenas a serem menos vacinados contra covid-19, apesar dos riscos maiores:sport recife e bahia palpite

Crédito, Buda Mendes/Equipa/Getty Images

Legenda da foto, Menos da metade dos indígenas têm o esquema vacinal completo, aponta estudo

Os pesquisadores Julia Pescarini e Andrey Cardoso, envolvidos na análise, explicam que o interessesport recife e bahia palpiteanalisar a cobertura vacinal e a eficácia da vacinasport recife e bahia palpitepovos originários brasileiros se deu por o grupo apresentar historicamente maior riscosport recife e bahia palpitedoenças infecciosassport recife e bahia palpitecomparação com a populaçãosport recife e bahia palpitegeral, incluindo infecções respiratórias agudas.

O risco é amplamente atribuído a saneamento básico precário, desnutrição e acesso limitado a cuidadossport recife e bahia palpitesaúde.

No Brasil, os autores apontaram no artigo que isso é agravado pela longa históriasport recife e bahia palpiteexposição à discriminação, violência, degradação ambiental e restrição territorial, que perpetuam a infecção respiratória como um importante problemasport recife e bahia palpitesaúde para as populações indígenas.

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Legenda da foto, O menino Davi Xavante foi a primeira criança no Brasil a ser vacinada contra covid-19.
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Embora muitas das comunidades indígenas estejam longe dos centros urbanos, isso não impediu que o vírus se espalhasse nelas.

No primeiro trimestre da pandemia, houve um rápido aumento no riscosport recife e bahia palpitetransmissão sustentadasport recife e bahia palpitecovid-19sport recife e bahia palpiteáreas com presença indígena.

Duas pesquisas nacionais que investigaram anticorpos contra a doença na populaçãosport recife e bahia palpite133 cidades mostraram uma prevalência 87% maior entre indígenassport recife e bahia palpitecomparação com brancos.

Além disso, no primeiro da pandemia, a mortalidade entre os indígenas foi 16,7% maior do que a observada na população brasileirasport recife e bahia palpitegeral.

Apesar desses fatoressport recife e bahia palpiterisco, Pescari lembra que os povos originários não foram considerados inicialmente um grupo prioritário para a aplicaçãosport recife e bahia palpitedoses pelo Ministério da Saúde.

"Profissionais envolvidos no PNI [Programa Nacionalsport recife e bahia palpiteImunização] e sobretudo organizações dos próprios povos indígenas intercederam pela inclusão desse grupo na fase prioritária, que inicialmente era destinada apenas a profissionais da saúde, idosos e pessoas com comorbidade", explica Pescari, que é pesquisadora do Centrosport recife e bahia palpiteIntegraçãosport recife e bahia palpiteDados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs), institutosport recife e bahia palpitepesquisa vinculado à Fiocruz, e da London School of Hygiene and Tropical Medicine.

Além da importância inatasport recife e bahia palpitepreservar a saúdesport recife e bahia palpitecada pessoa e o direito constitucional ao acesso à saúde, Cardoso reforça que, no caso dos indígenas, protegê-los é também salvar sabedorias e culturas ancestrais.

"Quem detém muito do conhecimento, no caso dos povos originários, são os anciões, pessoas idosas, que estavam naturalmentesport recife e bahia palpitemaior riscosport recife e bahia palpiteserem afetados pela covid-19."

Por que as populações indígenas foram menos vacinadas contra a covid-19?

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Legenda da foto, À princípio, indígenas não eram um grupo prioritário, mas mobilização mudou isso

Os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil apontam alguns motivos que levaram a esse quadro.

sport recife e bahia palpite Dificuldadesport recife e bahia palpiteacesso

A localizaçãosport recife e bahia palpitedeterminados territórios, como os dos povos yanomami, no meio da selva, é um dos principais desafios para a vacinaçãosport recife e bahia palpiteindígenas.

As equipessport recife e bahia palpitesaúde demoram dias para chegar, e materiais e medicamentos são escassos. No casosport recife e bahia palpitevacinas, a depender da marca, corre-se o riscosport recife e bahia palpiteas doses estragarem por faltasport recife e bahia palpiterefrigeração correta.

A dificuldadesport recife e bahia palpiteacesso é, no entanto, considerada contornável com esforços e investimento. Ainda assim, mesmosport recife e bahia palpitelocais onde o acesso é mais fácil, há desafios.

"Em alguns casos, um postosport recife e bahia palpitesaúde atende três ou quatro comunidades indígenas, então, não fica tão pertosport recife e bahia palpitetodas. Para idosos ou pessoas com dificuldadesport recife e bahia palpitelocomoção por qualquer motivo, esse acesso é dificultado e requer um esforço maior", avalia Julia Pescarini.

sport recife e bahia palpite Fake news

As notícias falsas sobre a vacinação contra a covid-19 também chegaram nas aldeias, no boca a boca ou por aplicativossport recife e bahia palpitemensagem e redes sociais.

Uma reportagem da BBC News Brasil com o comunicador e empreendedor indígena Anápuàka Tupinambá trouxe relatossport recife e bahia palpiteindígenas afetados pelas fake news.

"Vi parentes falarem que viram que maissport recife e bahia palpite900 indígenas no Xingu teriam morrido por conta da vacina. Uma senhora com maissport recife e bahia palpite90 anos me disse que não iria se vacinar por causa disso", afirma.

"Nenhuma região do país está a salvo (das notícias falsas), nemsport recife e bahia palpiteáreas isoladas como Amazônia e Pará."

Andrey Cardoso, que faz parte da Escola Nacionalsport recife e bahia palpiteSaúde Pública da Fiocruz - Riosport recife e bahia palpiteJaneiro (ENSP) e trabalha com saúde indígena há 25 anos, diz que a circulaçãosport recife e bahia palpiteinformações equivocadas espalhou medo.

"Fizemos um esforço muito grande para trazer informações técnicas e científicas e mostrar a eles a importância da vacina para que eles tivessem confiançasport recife e bahia palpitetomar", diz.

sport recife e bahia palpite Influênciasport recife e bahia palpiteprofissionaissport recife e bahia palpitesaúde negacionistas

Em reuniões com pesquisadores que trabalhavam na área do Xingu, Cardoso conta ter tomado conhecimento do impacto do padrãosport recife e bahia palpitecomportamento das equipessport recife e bahia palpitesaúde que também foram afetados por fake news e teorias da conspiração.

"Quando as equipes não incentivavam a aplicação do imunizante e compartilhavam teorias falsas, o impacto negativo foi visto por consequência da não aceitação da vacina e inclusive na mortalidade dos indígenas no território", afirma.

"Isso afeta todas as etapas do atendimento, seja na vacinação, tratamento ou até na testagem, por exemplo."

sport recife e bahia palpite Faltasport recife e bahia palpiteinvestimentos

Pescarini aponta que o Sistema Únicosport recife e bahia palpiteSaúde (SUS) sofre com ameaças constantessport recife e bahia palpitecolapso por faltasport recife e bahia palpiterecursos, o que torna o acessosport recife e bahia palpitepopulações mais vulneráveis ainda mais precário.

"A atenção à saúde indígena está ainda mais sucateada. A partir dos dados que levantamos, pretendemos deixar a liçãosport recife e bahia palpiteque, quanto mais complexos os atendimentos são, mais investimentos você precisa para que você não deixe aquela população desassistida", diz.

"É parecido com populações vivendosport recife e bahia palpitefavelas ou comunidades vivendosport recife e bahia palpiteáreassport recife e bahia palpiteoutras áreas remotas. No Brasil, que você precisasport recife e bahia palpiteum esforço extra, você precisasport recife e bahia palpiteum investimento maior para que todos sejam assistidos pelo sistema."

Crédito, Buda Mendes/Equipa/Getty Images

Legenda da foto, Pesquisadores apontam que atenção à saúde indígena está 'sucateada'

Como o estudo foi feito

Para encontrar a taxasport recife e bahia palpitevacinação entre indígenas, o estudo vinculou dados nacionais sobre imunização a registrossport recife e bahia palpitesintomáticos esport recife e bahia palpiteinfecção respiratória aguda grave e estudou um gruposport recife e bahia palpiteindígenas vacinados com maissport recife e bahia palpite5 anos entre 18sport recife e bahia palpitejaneirosport recife e bahia palpite2021 e 1ºsport recife e bahia palpitemarçosport recife e bahia palpite2022 - pela data final, o estudo não contabilizou a terceira dose da vacina e nem a imunizaçãosport recife e bahia palpitecrianças menores.

Usando os dadossport recife e bahia palpite389.753 indígenas elegíveis, as coberturas vacinais gerais foramsport recife e bahia palpite65% e 48,7%, respectivamente, para vacinação parcial ou total (duas doses).

O artigo também fez uma análise sobre a eficácia das vacinas. "Receber duas dosessport recife e bahia palpitequalquer uma das três vacinas (Coronavac, AstraZeneca ou Pfizer) foi pelo menos 50% eficaz contra casos sintomáticossport recife e bahia palpitecovid-19 confirmadossport recife e bahia palpitelaboratório e maissport recife e bahia palpite80% eficaz contra casos graves (ou seja, progressão para UTI e morte)", aponta o texto.

O artigo estásport recife e bahia palpitefasesport recife e bahia palpiteem fasesport recife e bahia palpitepreprint, o que significa que ainda não passou pela revisãosport recife e bahia palpitepares - quando o estudo é enviado por pesquisadores não envolvidos no artigo para que avaliemsport recife e bahia palpitequalidade e, posteriormente, o conteúdo seja publicadosport recife e bahia palpiterevista científica.

À reportagem, Julia Pescarini e Andrey Cardoso explicaram que buscam agora publicaçãosport recife e bahia palpiteuma revistasport recife e bahia palpitegrande impacto e principalmente que tenham os dados abertos ao público geral, sem necessidadesport recife e bahia palpitepagamento pelo acesso.

"É muito importante que a informação chegue ao maior númerosport recife e bahia palpitepessoas possível", avalia Cardoso.

- Texto originalmente publicado em http://vesser.net/articles/c727170wz2vo