O que contém águaup betFukushima que Japão começou a despejar no Oceano Pacífico:up bet
O plano também enfrenta forte oposição da China, que é o principal compradorup betfrutos do mar japoneses. Pequim acusa o Japãoup bettratar o oceano como seu “esgoto particular” e considera que a AIEA é um organismo “unilateral”.
Na quinta-feira (24/8), assim que o Japão deu início ao lançamento das águas, o governo chinês anunciou que irá proibir todas as importaçõesup betmariscos da região, para “proteger a saúde dos consumidores chineses”, segundo a alfândega do país.
Calcula-se que esta medida irá causar graves danos econômicos e o próprio Japão reconheceu que suas empresas sofrerão um golpe “significativo”.
Uma toneladaup betcocaína, três brasileiros inocentes e a busca por um suspeito inglês
Episódios
Fim do Novo podcast investigativo: A Raposa
Juntos, Hong Kong e a China importam todos os anos maisup betUS$ 1,1 milhão (cercaup betR$ 5,4 milhões)up betprodutos originários do mar do Japão. Este valor representa quase a metade das exportações japonesasup betfrutos do mar.
A Coreia do Sul também proíbe, há muito tempo, alguns produtos marinhos do Japão, mas não teceu maiores comentários na quinta-feira passada.
O primeiro-ministro sul-coreano, Han Duck-soo, afirmou que “o importante, agora, é se o Japão irá seguir rigorosamente os padrões científicos e fornecer informaçõesup betforma transparente, como prometeu à comunidade internacional”.
Seul e Tóquio vêm estreitando relações diplomáticas, apesarup betsuas profundas desavenças históricas. Eles se uniramup betaliança com os Estados Unidos, frente às ameaças da Coreia do Norte e da China.
Mas a maior parte dos sul-coreanos se opõe à liberação da águaup betFukushima e manifestantes tentaram invadir a Embaixada japonesaup betSeul na quinta-feira. Outras manifestaçõesup betindignação também foram registradasup betHong Kong eup betTóquio.
O que acontece na usinaup betFukushima?
Desde o desastreup bet2011, a Tepco – empresa proprietária da usinaup betFukushima – vem bombeando água para resfriar os reatores nucleares danificados.
Com isso, a usina produz diariamente água contaminada – cercaup bet100 m³ por dia – que é armazenadaup betgigantescos tanques.
Até o momento, já são maisup bet1 mil tanques cheiosup betágua. O Japão afirma que esta solução não é sustentável a longo prazo e, por isso, começou a liberar gradualmente essa água no Oceano Pacífico. Estima-se que este processo leve 30 anos.
O lançamentoup betáguas residuais no oceano é uma prática rotineira nas usinas nucleares. Mas esta situação é resultadoup betum acidente e não um descarte nuclear típico.
A Tepco filtra as águasup betFukushima através do seu Sistema Avançadoup betProcessamentoup betLíquidos, que reduz a maior parte das substâncias radioativas a padrõesup betsegurança aceitáveis, com exceção do trítio e do carbono-14.
O trítio e o carbono-14 são, respectivamente, formas radioativasup bethidrogênio e carbono. É difícil separá-los da água.
Estas substâncias estão presentes no ambiente natural, na água e até nos seres humanos, pois são formadas na atmosfera terrestre e podem entrar no ciclo da água. Ambas emitem baixos níveisup betradiação, mas podem trazer riscos se forem consumidasup betgrandes quantidades.
Antesup betserem lançadas no oceano, as águas residuais filtradas são diluídas com água do mar, para reduzir a concentração das substâncias ainda presentes.
A Tepco defende que seu sistemaup betválvulas impede a liberação acidentalup betáguas residuais sem diluição.
E o governo japonês acrescenta que os níveis finaisup bettrítio — cercaup bet1.500 becqueréis por litro — são muito mais seguros do que os níveis exigidos pelos órgãos reguladores para o descarteup betresíduos nucleares, ou pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para a água potável.
A Tepco também afirma que os níveisup betcarbono-14 estão dentro dos padrões internacionaisup betsegurança. A empresa e o governo japonês realizaram estudos para demonstrar que a água descartada trará pouco risco para os seres humanos e para a vida marinha.
Muitos cientistas também apoiaram o plano.
“A água descartada será uma gota no oceano, tantoup betvolume quantoup betradioatividade. Não há evidênciasup betque esses níveis extremamente baixosup betradioisótopos tenham efeito prejudicial à saúde", disse o patologista molecular Gerry Thomas, que trabalhou com cientistas japonesesup betpesquisas sobre a radiação e assessorou a AIEA nos relatórios produzidos pela agência sobre Fukushima.
O que dizem os críticos?
Mas nem todos estão convencidos pelos argumentos da empresa e do governo japonês.
Antes do anúncio da aprovação do plano pela AIEA, a ONG Greenpeace publicou relatórios levantando preocupações com o processoup bettratamento conduzido pela Tepco. Ela afirma que não é suficiente para remover as substâncias radioativas.
Para os críticos do plano, o Japão deveria, por enquanto, manter a água tratada nos tanques, o que permitiria ganhar tempo para desenvolver novas tecnologiasup betprocessamento e para que a radioatividade restante fosse reduzidaup betforma natural.
Alguns cientistas também estão preocupados com o plano japonês. Eles defendem que são necessários mais estudos sobre os possíveis efeitos desses resíduos sobre o leito oceânico e a vida marinha.
“Vimos uma avaliação inadequada do impacto radiológico e ecológico. Estamos preocupados não só com o fatoup betque o Japão talvez não consiga detectar o que está jogando na água [do mar], nos sedimentos e nos organismos, mas também, se isso acontecer,up betser incapazup betremover [o material contaminado]. Não há como colocar o gênioup betvolta à garrafa", explicou à BBC o biólogo marinho Robert Richmond, professor da Universidade do Havaí.
Tatsujiro Suzuki, professorup betengenharia nuclear do Centroup betPesquisa para a Eliminaçãoup betArmas Nucleares da Universidadeup betNagasaki, no Japão, declarou à BBC que o plano “não levaria necessariamente a uma contaminação grave ou prejuízo público, se tudo correr bem”.
Mas, como a Tepco falhouup bet2011 e não conseguiu evitar o desastre, ele teme que um possível acidente possa liberar água contaminada sem tratamento.
O que há por trás da reação da China?
Diversos analistas defendem que a reação da China não é motivada apenas por preocupações ambientais, mas também por questões políticas.
As relações entre Tóquio e Pequim se deterioraram nos últimos anos. O Japão vem se aproximando dos Estados Unidos e demonstrando seu apoio à ilha autônomaup betTaiwan, reclamada pela China.
“Este incidente é mais um sintoma do que uma causa da deterioração das relações sino-japonesas”, afirma o especialistaup betpolítica exterior chinesa Neil Thomas, do think tank (centroup betpesquisa e debates) Asia Society Policy Institute.
Para ele, “Pequim talvez tivesse feito menos escândalo pela liberação da água se suas relações com Tóquio estivessemup betmelhor posição”.
É provável que o Japão “repudie esta crítica, mas é pouco provável que faça algo provocador”, segundo o professor James D. J. Brown, especialistaup betpolítica exterior japonesa, do campus da Universidade Temple no Japão.
“Embora o governo do Japão esteja profundamente preocupado com as ações que considera agressivas do Partido Comunista Chinês, ele entende ser conveniente manter relações estáveis com seu maior vizinho”, explica o professor.
E talvez não seja necessário esperar muito tempo. Afinal, há quem acredite na possibilidadeup betque a China não cumpra com a proibiçãoup betimportaçãoup betfrutos do mar do Japão.
“As dificuldades econômicas cada vez maiores da China podem fazer com que qualquer proibição seja relativamente breve e limitada, para reduzir o impacto negativo sobre os importadores chineses e o sentimento dos empresários”, acrescenta Thomas.
Como o Japão está respondendo às críticas?
O governo do Japão e a Tepco lançaram amplas campanhasup beteducação pública. O primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, prometeu “alto nívelup bettransparência” no processo.
A Tepco se comprometeu a publicar dadosup bettempo real sobre os níveisup betradioatividade da água,up betum portal dedicado a explicar o processoup bettratamento e descarte das águasup betFukushimaup betdiversos idiomas.
Delegações estrangeiras e meiosup betcomunicação – incluindo a BBC – foram convidados a realizar visitas guiadas às instalaçõesup betprocessamento. E, no front diplomático, Tóquio iniciou conversações com seus vizinhos.
Textos publicados no site do Ministério das Relações Exteriores do Japão destacam que outras usinas nucleares da região, especialmente na China, liberam água com níveisup bettrítio muito mais elevados.
A BBC conseguiu confirmar alguns dos números fornecidos pelo governo japonês com informações das usinas nucleares chinesas disponíveis ao público.
Mas o maior argumento pode ser o relatório da AIEA, publicado pelo chefe da agência, Rafael Grossi, duranteup betvisita ao Japão,up betjulho. O relatório foi divulgado após uma investigação que durou dois anos.
A agência concluiu que a Tepco e as autoridades japonesas estão cumprindo com os padrões internacionaisup betsegurançaup betdiversos aspectos, que incluem as instalações, inspeções e conformidade, monitoramento ambiental e avaliaçõesup betradioatividade.
Grossi afirmou que o plano teria “impacto radiológico insignificante para as pessoas e para o meio ambiente”.
*Com colaboraçãoup betTessa Wong, Yuna Kim e Chika Nakayama.