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A guerra 'esquecida' que deixa milharescrianças feridas e passando fome:
O pé direitoHashim foi mutilado e ele não tem um polegar. Ele mexe sem parar com as mãos, como se tentasse apagar as cicatrizes.
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No idioma português brasileiro, é comum usarmos sinais mais e menos para expressar probabilidades. Mas o que isso realmente 🤶 significa e como usá-los corretamente? Neste post, vamos esclarecer as suas dúvidas.
O que é um sinal mais português 🤶 brasileiro?
jogar caça niquel gratisFim do Matérias recomendadas
Os meninos foram atingidos por um bombardeio organizado pelos rebeldes houtiuma manhãoutubro do ano passado, quando voltavam da escolaum intervalo,acordo com seu pai, al-Harbi Nasser al-Majnahi. Eles não voltaram às aulas desde então.
"Tudo mudou completamente", diz ele, sentadopernas cruzadasum colchão. "Eles não brincam mais fora com outras crianças. Eles têm deficiências. Eles estão com medo e têm problemas psicológicos."
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Em voz baixa, parecendo mais jovem do que seus nove anos, Hashim diz que gostariavoltar para a escola.
"Quero estudar e aprender", ele me diz. Perguntei a Bader se ele também queria ir. "Sim", ele responde. "Mas minha perna foi cortada, então como posso ir?"
O pai deles diz que eles não foram matriculados no próximo ano letivo porque não tem dinheiro para o transporte. E ele não tem como tirarfamília do perigo.
"Embora tenhamos medo, não podemos viveroutro lugar", ele me diz, "porque o aluguel seria mais alto. Então, somos forçados a ficar aqui, vivamos ou morramos".
O que começou como uma guerra civil foi alimentada por rivais regionais que apoiam lados opostos.
A Arábia Saudita sunita apoia o governo internacionalmente reconhecido do Iêmen, por mais fraco que seja. O xiita Irã apoia o movimento houti, formalmente conhecido como Ansar Allah (ou ApoiadoresDeus) e que segue uma corrente do islamismo xiita conhecida como zaidismo.
Em setembro2014, os houtis tomaram a capital do Iêmen, Sanaa, expulsando o governo. Na primavera seguinte, uma coalizão liderada pela Arábia Saudita interveio, apoiada pelo Reino Unido e pelos EUA.
Os sauditas prometeram uma operação rápida para levar o governovolta ao poder. Não aconteceu exatamente assim.
Oito anos e milharesataques aéreos da coalizão depois, os houtis ainda controlam a capital. Os sauditas agora querem uma saída rápida - pelo menos militarmente.
E nas linhasfrenteTaiz, Bader e Hashim ainda dormem e acordam ao som da guerra.
"Ouço explosões", diz Bader, "e há atiradoreselite. Eles atiramtudo na vizinhança. Sinto que pode haver uma explosão pertomim ou a casa pode explodir".
Caminhamos alguns passos até a casa ao lado - onde outra infância foi dilacerada.
Amir aparece na porta - um meninotrês anos com uma camiseta amarela, silencioso e sombrio. No lugar da perna direita há uma prótesemetal. Seu pai, Sharif al-Amri, o ajuda a se levantar, curvando-se frequentemente para beijartesta.
Amir foi mutilado no mesmo dia que Bader e Hashim - apenas algumas horas depois.
Ele estava na casaum parente do outro lado da rua quando o edifício foi bombardeado, matando seu tio e seu primoseis anos. Amir sobreviveu, mas tem profundas feridas na memória.
Enquanto Sharif coloca a dorseu filhopalavras, Amir cochila no calor sufocante, embaladoseus braços.
"Ele se lembracada momento após o bombardeio até chegar ao hospital. Ele diz: 'Isso aconteceu com meu tio e isso aconteceu com meu primo.' Ele fala da fumaça e do sangue que viu. Quando vê as crianças brincando, fica muito chateado e diz: 'Não tenho perna'."
Cada casa nesta rua temmedidamedo. Mas a do Munir tem mais do que a maioria.
O paiquatro filhos me leva por um beco até a casasua família, que fica bem na linhafogo. Homens armados houti estão tão perto quanto seus vizinhos - ele diz que a cerca20 a 30 metrosdistância.
"Há um atirador à nossa frente", diz Munir, agachando-se perto da janelasua sala. "Posso vê-lo agora se abrir a janela. Se você sair para o jardim, ele atirará."
"Vivemos com medo aquiTaiz. As pessoas não sabem quando serão atingidas por um míssil ou um franco-atirador. Se Deus quiser, haverá paz e o Iêmen voltará a ser grande."
No corredor, encontramos seu filho mais velho, Mohammed, um jovem animado14 anos que dependeuma cadeirarodas. Quandoescola foi bombardeada, os outros alunos fugiram, deixando-o para trás. Agora ele teme que, secasa for atingida,família possa se machucar tentando resgatá-lo.
Por mais3.000 dias, Taiz foi praticamente sitiada, um campobatalha entre o governo e as forças Houti. E os jovens não foram poupados.
Um médico local nos disse que, desde 2015, tratou cerca100 crianças amputadas - mutiladas por bombardeios houti, minas e munições não detonadas.
A maioria das crianças mutiladas e mortasTaiz ao longo dos anos foi vítima dos houtis. Mas outros morreramataques aéreos da coalizão liderada pela Arábia Saudita - nos primeiros anos da guerra - e alguns foram mortos por forças do governo. Todos os lados têm sangue nas mãos.
O conflito do Iêmen está agoraum momentomenos violência - desde uma trégua mediada pela ONU no ano passado, que durou 6 meses. Não é mais uma guerra total, mas também não é paz.
A Arábia Saudita e o Irã apertaram as mãos e fizeram as pazes. Até agora tudo bem. Houve conversas entre os sauditas e os houthis, mas fontes nos dizem que elas pararam. E não há negociações envolvendo as próprias facçõesguerra do Iêmen.
O país está cada vez mais fragmentado, como um quebra-cabeça quebrado que não pode ser remontado. Um movimento separatista - apoiado pelos Emirados Árabes Unidos - quer que o sul seja independente, como foi1967 a 1990. Essa é mais uma fissuraum Estado desgastado.
Venho ao Iêmen desde o início da guerramarço2015. Esta é minha sétima visita. Enquanto a comunidade internacional falamovimentospaz, por aqui reina o cansaço e o desespero.
Durante três semanas no país, muitas conversas foram como uma despedida, um réquiem à nação.
Muitos duvidam que o Iêmen sobreviverá emforma atual. Muitos mais duvidam que os houthis farão a paz.
"Eles afirmam ter o direito divinogovernar", disse um profissionalvinte e poucos anosTaiz, que preferiu não ser identificado. "Eles afirmam que o Profeta é seu avô. Não consigo vê-los desistindosuas armas e voltando para a democracia e as eleições."
Ou ditooutra forma por Gamal Mahmoud Al Masrahi, responsável pelos camposrefugiados internos no sudoeste do Iêmen, "a comunidade internacional vive uma ilusão" quando pensa que os houthis farão a paz.
Queríamos medir a temperatura no norte controlado pelos houthis, lar da maior parte da população do Iêmen32 milhões. Mas depois que chegamos ao país, os rebeldes revogaram nossa permissão. Ativistasdireitos humanosSanaa dizem que os governantesfato estão cada vez mais repressivos.
Ao sairmos da Rua Al-Rasheed, Bader saiu, mas está sentado sozinho à beira da estrada. Amir está sendo levado na garubauma bicicleta por seu pai. "Não tenha medo, meu amor", diz Sharif, "estou ao seu lado."
Ele pergunta ao filho o que ele quer para o futuro.
"Me compre uma arma", Amir responde hesitantemente, suas palavras chocam comvoz infantil.
"Vou carregar uma bala na minha arma e atirar naqueles que pegaram minha perna."
Fome
Foi uma viagemtrês horas na garupauma motocicleta,terreno acidentado - parte estrada, parte pedras -um calor implacável. Mas esta foi a única maneiraRajah Mohammed levar seu filho, Awam, gravemente doente, a um hospital infantil especializadoTaiz.
Primeiro, ele teve que passar 10 dias ganhando dinheiro para pagar a viagemsua casa no portoMocha, no Mar Vermelho. A viagem custou 20.000 riais iemenitas, o equivalente a R$ 65.
Quando Awam chegou ao hospital sueco iemenita - ainda assim chamado, embora seus benfeitores suecos tenham partido há muito tempo - a equipe correu para pesá-lo e medi-lo. Mas os gráficos e escalas não eram necessários para confirmar que ele estava gravemente desnutrido. Seus braços enrugados e o estômago dolorosamente distendido contavam a história.
Rajah - que tem mais quatro filhos - luta para salvar seu filho há um ano.
"Ele sempre está com febre", ele me diz, parado ao lado da camaAwam, abanando-o com um pedaçopapelão.
"Fomos a todos os hospitaisMocha. Disseram-nos para trazê-lo aqui. Mal posso alimentar meus filhos. Às vezes, tudo o que temos é pão e chá. Pode ser assim por um mês ou mais."
A fome faz parte do alicerce do Iêmen, mas foi agravada pelo conflito que destruiu meiossubsistência, elevou os preços, deslocou mais4 milhõespessoas e fechou metade das unidadessaúde do país.
Rajah é um dos desabrigados pela guerra. "Fomos deslocados seis ou sete vezes", diz ele. "Toda vez devemos nos mudar para um novo lugar porque temos medominas terrestres."
A fome tem perseguido seu filho - e muitos outros aqui - desde o nascimento. Quase 500.000 crianças iemenitas com menoscinco anos sofremdesnutrição aguda grave e lutam para sobreviver, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU).
Para Awam, há mais uma ameaça. Testes mostram que ele pode ter leucemia e pode exigir tratamento prolongado.
Para Rajah, manter um filho no hospital significa arriscar que seus outros filhos passem fomecasa. Ele leva Awamvolta para Mocha no dia seguinte. Ele diz aos médicos que tentará ganhar mais dinheiro para trazê-lovolta.
Os médicos dizem que estão recebendo muitos pacientes da cidade - outrora famosa por seu comérciocafé, agora inundada por famílias deslocadas.
Viajamos até lá pela mesma estrada esburacada que Rajah atravessou com seu filho, mas no confortoum carro com tração nas quatro rodas.
Chegamos a uma clínicasaúde rural, repletamães vestidas da cabeça aos pés com abayas pretas e véus no rosto, segurando crianças doentes. O ar está pesado com as súplicas das mães e o choro dos bebês.
A clínicatrês quartos está praticamente fechada atualmente, mas as autoridades locais decidiram abri-la porque estávamos na área. As mães avançam, pensando que somos médicos estrangeiros, implorando que ajudemos seus filhos.
Um médico local aparece, mas ele nos diz que a equipe da clínica estágreve e não trataránenhum caso. "Não podemos fazer nada por eles", diz o dr. Ali bin ali Doberah.
"Faz quatro meses que não recebemos. Algunsnós vão procurar empregos que paguem porque não podemos alimentar nossos filhos."
A clínica não está mais recebendo apoioagênciasajuda estrangeiras que costumavam pagar parte dos salários. Nove centrossaúde fecharamMocha e outras áreas da costa oeste do Iêmen por faltafinanciamento.
Em todo o país, as agênciasajuda humanitária estão reduzindo as doações. O Programa MundialAlimentos da ONU já fez cortes profundos, ao norte e ao sul.
A organização diz que terá que interromper o fornecimentoalimentos para entre três e cinco milhõespessoas até meadossetembro, a menos que mais dinheiro entre.
Enquanto os doadores estrangeiros hesitam, as crianças iemenitas lutam pela vida.
No meio da multidão está uma criança11 meses chamada Safaa - cujos braços e pernas são apenas pele e osso e cujo rosto está contorcidodor. A filhapescador está definhando. Ela também sofreproblemas hepáticos.
"Às vezes ela não tem comida enquanto o pai está no mar. Temos que esperar que ele volte para podermos comprar comida para ela", diz a mãe, Umm Ahmed.
"Estou preocupada com ela. Quero conseguir ajuda para ela, mas nossas circunstâncias são difíceis."
A cabeçaUmm Ahmed está abaixada, o ombro caído. A históriasua família é como um resumo dos anosguerra do Iêmen, escritos com sangue e sofrimento.
Ela nos conta que está desalojada há 7 anos, seu cunhado foi mortoum ataque aéreo esobrinha morreu na explosãouma mina terrestre. Ela enterrou quatroseus nove filhos, por causadesnutrição e problemas hepáticos. Agora a fome está ameaçandofilhinha.
Umm Ahmed nos conduz a curta distância atécasa, que - como seu país - já teve dias melhores. A tinta azul brilhante está desaparecendo das paredes. Há uma portamadeira ornamentada, mas poucos móveis e nenhum brinquedo.
Ela coloca Safaauma rede feitaxale, balançando-a para frente e para trás para mantê-la fresca.
Seu marido, Anwar Taleb, parece preocupado e cansado. Ele é um pescadorterceira geração com uma barba espessa, que mal consegue alimentarfamília.
"Vou para o mar15 a 20 diascada vez e consigo o que consigo", diz ele, "mas nos últimos três meses não encontrei nenhum trabalho. Às vezes, o dinheiro que ganhamos cobre apenas o custo da viagem."
Ele nos conta que casou suas duas filhas -14 e 15 anos - porque não tem dinheiro para alimentá-las. Pedimos para conhecê-los, mas ele diz que mesmo que concorde, seus maridos não deixarão. Mais duas infâncias interrompidas. Mais duas vítimas ocultas da guerra.
Agora Safaa pode estar ficando sem tempo.
Damos uma carona aos pais dela até uma clínica local mais bem equipada - esta está funcionando. Ela é internada imediatamente, mas os médicos dizem que ela precisarátratamento especializado na cidade portuáriaAden, no sul - uma viagemcercacinco horas que seus pais não podem pagar.
Depoisalguns dias, descobrimos que ela também foi levadavolta para casa, onde pode haver pouco para alimentá-la.
Guerra, fome e pobreza estão interligados aqui. As crianças do Iêmen podem escaparum e ser vítimas dos outros.
E correm o riscoserem negligenciados internacionalmente. Os horrores da Ucrânia estão mais próximoscasa para muitas nações ocidentais do que o sofrimento distante na Península Arábica.
Agora, mais do que nunca, os iemenitas temem que sejam fáceisignorar.
Quem ajudará os meninos feridosTaiz - Bader, Hashim e Amir - e as crianças famintasMocha - Awam e Safaa?
Reportagem adicionalWietske Burema, Ahmed Baider e Goktay Koraltan
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