'Não quero voltar a morar na Europa': por que mais brasileiros estão pedindo ajuda para retornar ao Brasil:email galera bet

Ele conta que morouemail galera betum albergue por um tempo.

"Depois consegui vaga num quarto por indicaçãoemail galera betamigos, mas daí eu já estava quase sem recursos financeiros", lembra.

Em Portugal, Silas trabalhou como supervisoremail galera betuma loja na cidadeemail galera betPortimão, na região do Algarve, no sul do país.

Sem vistoemail galera bettrabalho, ele enfrentava uma jornada exaustiva, sem folgas nos finaisemail galera betsemana, e o salárioemail galera bet850 euros (hoje cercaemail galera betR$ 5,2 mil) não era suficiente para se manter no país e honrar os pagamentos no Brasil.

"Eu estava desesperado, já estava me alimentandoemail galera betsopa no centroemail galera betacolhimento e com contas para pagar no Brasil."

Silas deixou Portugal oito meses depois,email galera betdezembro do mesmo ano, e hoje trabalha como fotógrafoemail galera betSão Paulo.

"O que vivi lá eu não desejo para ninguém. Não guardo mágoas, mas meu sonho foi frustrado. Não quero voltar a morar na Europa."

O retornoemail galera betSilas ao Brasil foi realizado com ajuda do programa Retorno Voluntário, dirigido a imigrantes que desejam voltar ao seu paísemail galera betorigem, independentemente da situaçãoemail galera betque se encontram no exterior: regulares ou não.

Programas similaresemail galera betretorno voluntárioemail galera betmigrantes estão disponíveisemail galera betoutros países.

Em alguns deles, como Bélgica, Espanha e Irlanda, os governos têm parceria com a OIM, a Agência da ONU para as Migrações, que custeia passagens aéreas e emissãoemail galera betdocumentos, oferece recursos financeiros para reintegração no paísemail galera betorigem, alémemail galera betdar assistência psicossocial para as famílias.

'Voltar foi um alívio'

Em Guararapes, no interioremail galera betSão Paulo, Lucas Ferreira,email galera bet37 anos, também buscou ajuda por meio do programa da OIM para retornar ao Brasil após viver quatro anosemail galera betPortugal.

Lucas imigrouemail galera bet2018 para a Vila da Moita, na área metropolitanaemail galera betLisboa, onde trabalhou como barbeiro, profissão que já exercia no Brasil havia 10 anos.

No entanto, sem vistoemail galera bettrabalho, ele enfrentou condições desfavoráveis, incluindo longas horasemail galera bettrabalho, sem folga aos domingos e feriados, e baixa remuneração.

A situação se agravou durante a pandemia, quando a barbearia onde ele trabalhava fechou, deixando-o sem dinheiro.

"Cheguei a pedir cesta básica, alimentoemail galera betONG, recebi ajudaemail galera betpessoas para comer. Passei por coisas lá que eu nunca tinha passado no Brasil", relembra, emocionado.

Lucas voltou para o Brasilemail galera betmarçoemail galera bet2022 e hoje tem seu próprio negócio.

"Além das passagens e toda a documentação, recebi da OIM 2 mil euros [hoje cercaemail galera betR$ 12 mil] para recomeçar no Brasil", conta.

"Com esse dinheiro, abri minha barbearia, onde atendo há quase dois anos. Voltar foi um alívio devido à situação que passei. O Lucas que foi era aventureiro. O Lucas que voltou é o Lucas pé no chão."

Aumento da busca por ajuda para voltar ao Brasil

As históriasemail galera betSilas e Lucas são exemplosemail galera betuma situação crescente entre brasileiros vivendo na Europa: a busca por ajuda para retornar ao país quando o sonho da imigração é frustrado.

Em 2023, a Agência da ONU para as Migrações apoiou o retornoemail galera bet1.661 brasileirosemail galera bet34 países.

Esse número é mais que o triplo do totalemail galera betbrasileiros auxiliados pelo programaemail galera bet2016.

Alémemail galera betpaíses europeus, o programa também beneficia imigrantesemail galera betnações como Austrália, Costa Rica, Japão, Marrocos, México e Uruguai.

Desde 2016, entre as pessoas que tiveram o retorno custeado, 1.316 indivíduos também receberam apoio financeiro da OIM para recomeçaremail galera betseus países, a chamada reintegração socioeconômica.

A organização diz que as situações são avaliadas caso a caso, e considera critérios como quantidadeemail galera betfilhos, formação acadêmica, situaçãoemail galera betvulnerabilidade, situação prévia no Brasil, entre outros.

Segundo a OIM, 42% optaram por investir o auxílio recebidoemail galera betempreendimentos próprios, 29% usaram para despesas médicas e 14% aplicaramemail galera beteducação ou treinamento profissional. A OIM afirma que utiliza seus próprios recursos financeiros globais para viabilizar o retornoemail galera betmigrantes pelo mundo.

Goiás (33%), Minas Gerais (15%), São Paulo (15%), Distrito Federal (4%) e Paraná (4%) são os principais Estados para onde retornaram os migrantes brasileiros entre 2016 e 2023, segundo a OIM.

Brasileiros lideram pedidosemail galera betPortugal, Irlanda e Bélgica

Em Portugal, Irlanda e Bélgica, os brasileiros lideram as solicitaçõesemail galera betRetorno Voluntário, conforme dados da OIM.

Em Portugal, onde são a maior comunidade estrangeira (30,7% dos imigrantes), eles representam 80% dos pedidosemail galera betretorno. A maioria (61%) dos brasileiros que retornaram ao Brasil tinha entre 25 e 35 anos.

"O desemprego, as dificuldadesemail galera betacesso ao mercadoemail galera bettrabalho, os desafios na regularização e a situação econômica são os principais motivos citados, muitas vezes interligados, que aumentam a vulnerabilidade e o desejoemail galera betretorno ao paísemail galera betorigem", explica Vasco Malta, chefe da OIMemail galera betPortugal.

Na Irlanda, os brasileiros, que são apenas 4% dos imigrantes, solicitaram 44% dos pedidosemail galera betretorno voluntário — 71email galera betum totalemail galera bet161 solicitações, segundo dados do governo irlandês. Esses números incluem tanto retornos pelo programa da OIM quanto pelo programa financiado pelo governo irlandês.

Na Bélgica, onde os brasileiros representam 3% dos imigrantes, eles foram responsáveis por 43% dos pedidosemail galera betretornoemail galera bet2023. Dos 2.308 pedidos registrados no ano passado, 995 foram feitos por brasileiros, conforme dados do governo belgaemail galera betparceria com a OIM.

Retornoemail galera betbrasileirosemail galera betoutros países

No Reino Unido, onde o governo financia os retornos voluntários sem a ajuda da OIM, a comunidade brasileira ficouemail galera betterceiro lugar entre as nacionalidades que mais solicitaram o programa no ano passado, com 12% do total. Apenas albaneses (20%) e indianos (15%) tiveram mais solicitações.

Na Espanha, onde o governo também cobre os custos dos retornos voluntários, 86 dos 1.019 pedidos feitosemail galera bet2023 foramemail galera betbrasileiros, representando 8,4% do total. Apesar disso, os brasileiros são apenas 0,13% dos maisemail galera bet5 milhõesemail galera betimigrantes no país.

Na Alemanha, segundo o Escritório Federalemail galera betMigração e Refugiados, apenas 17 dos 10.673 pedidosemail galera betretornoemail galera bet2023 foram feitos por brasileiros.

A presença brasileira entre os imigrantes na Alemanha também é baixa, com cercaemail galera bet58 mil brasileirosemail galera betum totalemail galera bet13,9 milhõesemail galera betestrangeiros residentes no país.

'Voltar faz parte'

Embora muitas pessoas possam ver o retorno ao paísemail galera betorigem como um sinalemail galera betfracasso ou vergonha, pesquisas recentes sobre migração indicam uma mudançaemail galera betparadigma, segundo o professor Leonardo Cavalcanti, Coordenador Científico do Observatório das Migrações Internacionais da Universidadeemail galera betBrasília (UnB).

"Hoje, o retorno não é mais visto como uma decisão definitiva, mas como uma etapaemail galera betum mundo cada vez mais dinâmico. É comum que uma pessoa volte para o paísemail galera betorigem e depois se desloque para outro país onde tenha redes migratórias conhecidas. Esse fenômeno é uma parte atual do processoemail galera betmigração, impulsionado por fatores como crises econômicas, dificuldadesemail galera betadaptação e necessidades familiares", explica o professor.

Cavalcanti também observa que, para muitos brasileiros, retornar ao Brasil pode representar uma grande oportunidadeemail galera betrecomeço.

Mesmo aqueles que não conseguiram empregos qualificados no exterior podem encontrar novas perspectivas profissionais e oportunidadesemail galera betrelacionamento devido à experiência adquirida.

"Quem retorna ao Brasil traz consigo uma bagagem cultural e um conhecimentoemail galera betmundo valiosos. Esse retorno representa um potencial e um diferencial para a sociedade brasileira. O país deve reconhecer e aproveitar a contribuição dessas pessoas bem formadas para o desenvolvimento nacional", afirma Cavalcanti.