As gêmeas roubadas após nascimento que se reencontraram graças a vídeo no TikTok:betano aviaozinho

Amy Khvitia e Ano Sartania
Legenda da foto, Amy Khvitia e Ano Sartania só foram se conhecer aos 19 anos

Sua irmã gêmea, Ano, está sentadabetano aviaozinhouma poltrona assistindo a vídeos do TikTokbetano aviaozinhoseu telefone. "Esta é a mulher que poderia ter nos vendido", diz ela.

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Ano admite que também está nervosa, mas apenas porque não sabe como reagirá e se conseguirá controlarbetano aviaozinhoraiva.

É o fimbetano aviaozinhouma longa jornada. Elas viajaram da Geórgia para a Alemanha, na esperançabetano aviaozinhoencontrar a peça que faltava no quebra-cabeça. Elas finalmente vão conhecerbetano aviaozinhomãe biológica.

Nos últimos dois anos, elas vêm reconstruindo o que aconteceu. À medida que desvendavam a verdade, elas perceberam que havia dezenasbetano aviaozinhomilharesbetano aviaozinhooutras pessoas na Geórgia que também tinham sido retiradasbetano aviaozinhohospitais quando eram bebês e vendidas ao longo das décadas.

Apesarbetano aviaozinhotentativas oficiaisbetano aviaozinhose investigar o que aconteceu, ninguém foi responsabilizado até hoje.

A históriabetano aviaozinhocomo Amy e Ano se descobriram começa quando elas tinham 12 anos.

Amy Khvitia estava na casabetano aviaozinhosua madrinha, perto do Mar Negro, assistindo ao seu programabetano aviaozinhoTV favorito, Georgia's Got Talent. Havia uma garota dançando que se parecia exatamente com ela.

Na verdade, era idêntica.

Amy Khvitia aos quatro anos

Crédito, Amy Khvitia

Legenda da foto, Amy Khvitia, com quatro anos nesta foto, diz que sempre teve a sensaçãobetano aviaozinhoque algo não estava certo embetano aviaozinhovida
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"Todo mundo telefonava para minha mãe e perguntava: 'Por que Amy está dançando com outro nome?'", diz ela.

Amy mencionou isso parabetano aviaozinhofamília, mas eles ignoraram. "Todo mundo tem um sósia", dissebetano aviaozinhomãe.

Sete anos depois,betano aviaozinhonovembrobetano aviaozinho2021, Amy postou no TikTok um vídeo dela mesma com cabelo azul fazendo um piercing na sobrancelha.

A 320 kmbetano aviaozinhodistância,betano aviaozinhoTbilisi, outra jovembetano aviaozinho19 anos, Ano Sartania, recebeu o vídeobetano aviaozinhoum amigo. Ela achou "legal ela se parecer comigo".

Ano tentou rastrear na internet a garota com piercing na sobrancelha, mas não conseguiu encontrá-la. Ela compartilhou o vídeobetano aviaozinhoum grupobetano aviaozinhoWhatsApp da universidade para ver se alguém poderia ajudar. Alguém que conhecia Amy viu a mensagem e as colocoubetano aviaozinhocontato pelo Facebook.

Amy soube imediatamente que Ano era a garota que ela tinha visto anos atrás no Georgia's Got Talent.

"Estou procurando por você há tanto tempo!", ela mandou uma mensagem. "Eu também", respondeu Ano.

Nos dias seguintes, elas descobriram que tinham muitobetano aviaozinhocomum, mas nem tudo fazia sentido.

Ambas nasceram na maternidadebetano aviaozinhoKirtskhi – que já não existe – no oeste da Geórgia, mas,betano aviaozinhoacordo com as suas certidõesbetano aviaozinhonascimento, os seus aniversários ocorreram com algumas semanasbetano aviaozinhointervalo.

Elas não poderiam ser irmãs, muito menos gêmeas. Mas havia muitas semelhanças. Gostavam da mesma música, adoravam dançar e até tinham o mesmo penteado. Elas descobriram que tinham a mesma doença genética, um distúrbio ósseo chamado displasia.

Parecia que elas estavam desvendando um mistério juntas. "Cada vez que eu aprendia algo novo sobre Ano, as coisas ficavam mais estranhas", diz Amy.

Ano e Amy
Legenda da foto, Ano e Amy se conheceram pela primeira vez na estaçãobetano aviaozinhometrô Rustaveli

Elas marcaram um encontro e, uma semana depois, quando Amy se aproximava do topo da escada rolante da estaçãobetano aviaozinhometrô Rustaveli,betano aviaozinhoTbilisi, ela e Ano se viram pessoalmente pela primeira vez.

"Foi como olhar no espelho, exatamente o mesmo rosto, exatamente a mesma voz. Eu sou ela e ela sou eu", diz Amy. Ela soube então que eram gêmeas.

"Não gostobetano aviaozinhoabraços, mas abracei ela", diz Ano.

Elas decidiram confrontar as suas famílias e pela primeira vez descobriram a verdade. Elas haviam sido adotadas, separadamente, com algumas semanasbetano aviaozinhointervalobetano aviaozinho2002.

Amy ficou chateada e sentiu que toda abetano aviaozinhovida tinha sido uma mentira. Vestidabetano aviaozinhopreto da cabeça aos pés, ela parece uma pessoa durona, mas ao contar abetano aviaozinhohistória ela não consegue conter as lágrimas. "É uma história maluca", diz ela. "Mas é verdade."

Ano estava "zangada e chateada com a minha família, mas eu só queria que as conversas difíceis acabassem para que todos pudéssemos seguir adiante".

As gêmeas descobriram que alguns detalhesbetano aviaozinhosuas certidõesbetano aviaozinhonascimento oficiais, incluindo a databetano aviaozinhoque nasceram, estavam errados.

Incapazbetano aviaozinhoter filhos, a mãebetano aviaozinhoAmy diz que uma amiga lhe contou que havia um bebê indesejado no hospital local. Ela precisaria pagar os médicos, mas poderia levá-la para casa e criá-la como se fosse sua.

A mãebetano aviaozinhoAno contou a mesma história.

Nenhuma das famílias adotivas sabia que as meninas eram gêmeas e, apesarbetano aviaozinhopagarem muito dinheiro para adotar as filhas, dizem que não perceberam que isso era ilegal. A Geórgia estava enfrentando um períodobetano aviaozinhoturbulência e, como o pessoal do hospital estava envolvido na adoção, eles consideraram que tudo foi feito dentro da lei.

Nenhuma das famílias revelou quanto dinheiro foi pago.

As gêmeas queriam saber se seus pais biológicos as teriam vendido meramente por dinheiro.

Tamuna Museridze
Legenda da foto, Tamuna Museridze criou um grupo no Facebook para ajudar pessoas que procuram seus filhos biológicos, irmãos e pais

Amy queria procurar a mãe biológica para descobrir a verdade, mas Ano hesitava. "Por que você quer conhecer a pessoa que pode ter nos traído?", ela perguntava.

Amy encontrou um grupo no Facebook dedicado a reunir famílias georgianas com crianças suspeitasbetano aviaozinhoterem sido adotadas ilegalmente e compartilhou abetano aviaozinhohistória.

Uma jovem na Alemanha respondeu, dizendo que abetano aviaozinhomãe tinha dado à luz gêmeas no Hospital Maternidade Kirtskhibetano aviaozinho2002 e que, apesarbetano aviaozinholhe terem dito que os bebês tinham morrido, ela duvidava dessa versão.

Testesbetano aviaozinhoDNA revelaram que a menina do grupo do Facebook era irmã delas e morava com a mãe biológica, Aza, na Alemanha.

Amy estava desesperada para conhecer Aza, mas Ano estava mais cética.

"Essa é a pessoa que poderia ter te vendido, ela não vai te contar a verdade", alertou. Mesmo assim ela concordoubetano aviaozinhoir para a Alemanha com Amy para apoiá-la.

O grupo do Facebook que as gêmeas usaram, Vedzeb, significa "Estou procurando"betano aviaozinhogeorgiano.

Há inúmeras postagensbetano aviaozinhomães que dizem que a equipe do hospital lhes disse que seus bebês haviam morrido, mas depois descobriram que as mortes não foram registradas e que seus filhos ainda poderiam estar vivos.

Outras postagens sãobetano aviaozinhocrianças como Amy e Ano,betano aviaozinhobuscabetano aviaozinhoseus pais biológicos.

O grupo tem maisbetano aviaozinho230 mil membros e, junto com sitesbetano aviaozinhoDNA, ele expôs um capítulo obscuro na história da Geórgia.

O Vedzeb foi criado pela jornalista Tamuna Museridzebetano aviaozinho2021, depois que ela descobriu que era adotada. Ela encontroubetano aviaozinhocertidãobetano aviaozinhonascimento com detalhes incorretos quando estava limpando a casabetano aviaozinhosua falecida mãe.

Ela iniciou o grupo para procurar abetano aviaozinhoprópria família, mas o grupo acabou por expor um escândalobetano aviaozinhotráficobetano aviaozinhobebês que afeta dezenasbetano aviaozinhomilharesbetano aviaozinhopessoas e que se estende por décadas.

Hospital abandonado
Legenda da foto, A abandonada maternidadebetano aviaozinhoGurjaani é uma das pelo menos 20 implicadas na vendabetano aviaozinhobebês

Ela ajudou a reunir centenasbetano aviaozinhofamílias, mas ainda não localizou abetano aviaozinhoprópria.

Tamuna descobriu um mercado clandestinobetano aviaozinhoadoção que se estendia por toda a Geórgia e durou do início da décadabetano aviaozinho1950 até 2005.

Ela acredita que foi comandado por criminosos organizados e envolveu pessoasbetano aviaozinhotodos os setores da sociedade, desde motoristasbetano aviaozinhotáxi até pessoasbetano aviaozinhoalto escalão do governo.

"A escala é inimaginável, foram roubados até 100 mil bebês. Foi sistêmico", diz ela.

Tamuna explica que calculou esse número contando o númerobetano aviaozinhopessoas que a contataram e combinando isso com o períodobetano aviaozinhotempo e a propagação nacional dos casos.

Com a faltabetano aviaozinhoacesso aos documentos – alguns foram perdidos e outros não estão sendo divulgados – é impossível verificar o número exato.

Tamuna diz que muitos pais lhe contaram que, quando pediram para ver os corpos dos seus bebês mortos, foram informadosbetano aviaozinhoque eles já haviam sido enterrados no terreno do hospital.

Desde então, ela descobriu que nunca existiram cemitériosbetano aviaozinhohospitais georgianos. Em outros casos, eram mostrados aos pais bebês mortos que haviam sido congelados no necrotério.

Irina Otarashvili
Legenda da foto, Irina Otarashvili deu à luz gêmeosbetano aviaozinho1978. Médicos disseram que os bebês haviam morrido, mas agora acredita que eles mentiram para ela

Tamuna diz que era caro comprar uma criança: o equivalente a um anobetano aviaozinhoum salário médio na Geórgia.

Ela descobriu que algumas crianças acabaram com famílias estrangeiras nos EUA, Canadá, Chipre, Rússia e Ucrânia.

Em 2005, a Geórgia alterou abetano aviaozinholegislaçãobetano aviaozinhoadoção ebetano aviaozinho2006 reforçou as leis antitráfico, dificultando as adoções ilegais.

Outra pessoabetano aviaozinhobuscabetano aviaozinhorespostas é Irina Otarashvili. Ela deu à luz gêmeosbetano aviaozinhouma maternidadebetano aviaozinhoKvareli, no sopé das montanhas do Cáucaso, na Geórgia,betano aviaozinho1978.

Os médicos disseram que os dois meninos eram saudáveis, mas, por razões que nunca foram explicadas, foram mantidos longe dela.

Três dias depoisbetano aviaozinhonascerem, ela foi informadabetano aviaozinhoque ambos haviam morrido repentinamente. Um médico disse que eles tinham problemas respiratórios.

Irina e seu marido não conseguiam entender isso, mas especialmente na época soviética "você não questionava a autoridade", diz ela. Ela acreditoubetano aviaozinhotudo que eles disseram.

As autoridades pediram que o casal trouxesse uma mala para levar os restos mortais dos bebês e enterrá-los no cemitério ou no quintal, como era comum para os bebês da época. O médico disse para nunca abrirem a maleta, pois seria muito perturbador ver os corpos.

Nino Elizbarashvili
Legenda da foto, A filhabetano aviaozinhoIrina, Nino Elizbarashvili, diz que sempre pensava na mala enterrada no jardim

Irina fez o que lhe foi dito, mas 44 anos depoisbetano aviaozinhofilha Nino encontrou o grupobetano aviaozinhoTamuna no Facebook e começou a suspeitar.

"E se nossos irmãos não tivessem morridobetano aviaozinhoverdade?", ela imaginou. Nino ebetano aviaozinhoirmã Nana decidiram desenterrar a mala.

"Meu coração estava acelerado", diz ela. "Quando abrimos, não havia ossos, apenas gravetos. Não sabíamos se sorríamos ou se chorávamos."

Ela diz que a polícia local confirmou que o conteúdo era composto por galhosbetano aviaozinhouma videira e não havia vestígiosbetano aviaozinhorestos humanos.

Ela agora acredita que seus irmãos há muito perdidos ainda podem estar vivos.

Mão segurando galhos
Legenda da foto, A família afirma que a polícia local confirmou que os gravetos na mala eram galhosbetano aviaozinhovideira

No hotelbetano aviaozinhoLeipzig, Amy e Ano se preparam para conhecerbetano aviaozinhomãe biológica. Ano diz que mudoubetano aviaozinhoideia e que quer desistir. Mas é um vacilo momentâneo e, respirando fundo, ela decide seguirbetano aviaozinhofrente.

A mãe biológica, Aza, espera nervosabetano aviaozinhooutra sala.

Amy abre a porta hesitante e Ano a segue, quase empurrando a irmã para dentro do quarto.

Aza avança e os abraça com força, uma gêmeabetano aviaozinhocada lado. Os minutos passam. Abraçadas, ninguém fala nada.

Ano, Aza e Amy abraçando
Legenda da foto, Ano, Aza e Amy se encontram pela primeira vezbetano aviaozinhoLeipzig, na Alemanha, onde Aza mora hoje

Lágrimas escorrem pelo rostobetano aviaozinhoAmy, mas Ano permanece inabalável. Ela até parece um pouco irritada.

As três se sentam para conversar.

Mais tarde, as gêmeas contam que a mãe explicou que ficou doente após o parto e entroubetano aviaozinhocoma. Quando ela acordou, a equipe do hospital disse que logo após o nascimento dos bebês, eles haviam morrido.

Ela disse que conhecer Amy e Ano deu um novo significado àbetano aviaozinhovida.

Embora não sejam próximas, elas ainda mantêm contato.

Em 2022, o governo georgiano lançou uma investigação sobre o tráficobetano aviaozinhocrianças. O governo disse à BBC que conversou com maisbetano aviaozinho40 pessoas, mas os casos eram "muito antigos e registros históricos se perderam".

A jornalista Tamuna Museridze diz que compartilhou informações, mas o governo não disse quando irá divulgar o seu relatório.

O governo fez pelo menos quatro tentativas para descobrir o que aconteceu. Isso inclui uma investigaçãobetano aviaozinho2003 sobre o tráfico internacionalbetano aviaozinhocrianças que levou a uma sériebetano aviaozinhoprisões, mas pouca informação foi tornada pública. Ebetano aviaozinho2015, após outra investigação, a imprensa georgiana informou que o diretor-geral da maternidade Rustavi, Aleksandre Baravkovi, havia sido preso. Mas ele foi inocentado e voltou ao trabalho.

A BBC contatou o Ministério do Interior da Geórgia para obter mais informações sobre casos individuais, mas fomos informadosbetano aviaozinhoque detalhes específicos não seriam divulgados devido à proteçãobetano aviaozinhodados.

Tamuna uniu agora forças com a advogadabetano aviaozinhodireitos humanos Lia Mukhashavria para levar os casosbetano aviaozinhoum grupobetano aviaozinhovítimas aos tribunais georgianos. Eles querem ter acesso aos seus documentosbetano aviaozinhonascimento — algo que atualmente não é possível pela legislação georgiana.

Eles esperam que isso ajude a trazer um poucobetano aviaozinhopaz nas suas vidas.

"Sempre senti que faltava alguma coisa ou alguém na minha vida", diz Ano. "Eu costumava sonhar com uma garotinha vestidabetano aviaozinhopreto que me seguia e me perguntava como foi meu dia."

Esse sentimento desapareceu quando ela encontrou Amy.