Naufrágio na Grécia foi tratado 'como sendo desprovidocassino resort nacional innprotagonistas e heróis', diz professora:cassino resort nacional inn

Agora, a diferença na cobertura midiática e o interesse global mobilizados pelas duas tragédias marítimas têm sido alvocassino resort nacional inndiscussões, tanto entre especialistas quanto nas redes sociais - com críticas à atuação da imprensa e ao destaque desigual dado Titancassino resort nacional inncomparação ao drama dos imigrantes que se arriscam no mar.

Priyamvada Gopal, professoracassino resort nacional innestudos pós-coloniais da Faculdadecassino resort nacional innInglês da Universidadecassino resort nacional innCambridge, é uma dessas críticas, argumentando que certas vidas individuais têm ganhado destaque enquanto outras são “relegadas às margens da história humana”.

“Acho que a imprensa certamente temcassino resort nacional inndar um passo atrás e se questionar a respeitocassino resort nacional innquais histórias deseja contar e o que trata como sendo ou nãocassino resort nacional inninteresse”, diz.

‘Anônimos sem rosto’ x ‘protagonistas heróicos’

Sobcassino resort nacional innperspectivacassino resort nacional innestudiosacassino resort nacional inncrítica literária, Gopal acha que alguns elementos-chave contribuíram para consolidar o que chamacassino resort nacional inn“anonimato sem rosto” dos refugiados no Mediterrâneo, contra o “protagonismo” concedido aos cinco tripulantes do Titan.

“Pensando a respeitocassino resort nacional innquais histórias nos interessam e por quê, e nas histórias que nos são entregues pela mídia, acho que a grande diferença entre os dois casos é que um deles (o dos migrantes) foi tratado essencialmente como sendo desprovidocassino resort nacional innum protagonista, desprovidocassino resort nacional innheróis”, diz Gopal à BBC News Brasil.

“Então só temos uma espéciecassino resort nacional innnúmero vago - centenas, talvez 600 ou 800 -cassino resort nacional innpessoas que estavam a bordo desse navio que afundou e elas morreram. E vimos muito pouco interessecassino resort nacional innquem essas pessoas eram como indivíduos. Vimos pouco interesse ou evocaçãocassino resort nacional innsuas famílias a respeito do seu luto e do que aconteceu.”

Em contrapartida, argumenta ela, “nas notícias a respeito do Titan, houve um grande interesse a respeitocassino resort nacional innquem seus passageiros - agora lamentavelmente mortos - eram como indivíduos, como pessoas com um rosto, um nome, uma história, com interesses e paixões. Em apenas 24 horas, fomos alimentados com muitas informações sobre eles.”

Ela conclui:

“Os que morreram no Mediterrâneo na semana passada também são indivíduos, com interesses e históriascassino resort nacional innvida provavelmente muito interessantes, que simplesmente não ficaram disponíveis para nós. Como crítica literária, me interesso a respeitocassino resort nacional inncomo nossas histórias são construídas e quem decidimos tratar como indivíduos e quem simplesmente se torna partecassino resort nacional innuma massa anônima”.

Suspense e 'reality show'

Mas será que a diferençacassino resort nacional innatenção às duas tragédias não se deve ao elemento do suspense da história do submersível Titan?

O mesmo, aliás, aconteceu com duas enormes operaçõescassino resort nacional innbusca que se desenrolaram praticamentecassino resort nacional inntempo real: o desastre dos mineiros chilenos,cassino resort nacional inn2010, e a história dos meninos presoscassino resort nacional innuma caverna na Tailândia,cassino resort nacional inn2018.

Lembrando que, agora, se tratavacassino resort nacional innuma expedição ao naufrágio mais famoso da história, o do Titanic - e que o público pôde acompanharcassino resort nacional inndetalhes a corrida contra o tempo para tentar resgatar a tripulação do Titan antes que seu estoquecassino resort nacional innoxigênio chegasse ao fim.

“Obviamente que esse é, sim, o caso - eu também me vi clicandocassino resort nacional inn‘refresh’ (nas notícias do caso) para saber o que estava acontecendo. Nós estamos muito acostumados a reality shows e a testemunhar coisascassino resort nacional inntempo real. Então há esse elementocassino resort nacional innsuspense, esse ‘o que será que vai acontecer?’ no estilo Hollywood. Mas isso também é fabricado”, defende Gopal.

Ela argumenta que o navio naufragado no Mediterrâneo também havia passado várias horas no mar sob escrutínio das autoridades, assim como acontece com outros barcos semelhantes levando migrantes - mas, nacassino resort nacional innvisão, “são histórias das quais não escutamos” as individualidades.

“O que teria acontecido se a cobertura aérea do navio no Mediterrâneo tivesse sido feita ao vivo? Não sabemos exatamente qual foi a conversa entre os passageiros e a Guarda Costeira (grega), que afirmou que o barco não queria ser ajudado e que rumava para a Itália. O que teria acontecido se tudo isso - o suspense e a fascinação - tivesse sido mobilizado para as 700 pessoas naquele navio? (...) Também é interessante (a diferença) entre quando nos decidimos tornar testemunhas e quando decidimos virar nossas costas.”

No caso da tragédia com o barcocassino resort nacional innrefugiados, uma investigação do BBC Verify colocoucassino resort nacional innxeque o relato oficial da Guarda Costeira grega, que alegou que o barco recusou ajuda e não estavacassino resort nacional innperigo até pouco antescassino resort nacional innafundar.

Uma análise da BBC sobre a movimentaçãocassino resort nacional innbarcos na área da tragédia indica que o pesqueiro superlotado ficou ao menos sete horas sem se mover antescassino resort nacional innter afundado.

A Guarda Costeira, porém, sustenta que durante esse período o barco estava a caminho da Itália e sem precisarcassino resort nacional innresgate.

'Vida das pessoas ricas'

A BBC Urdu, serviço paquistanês da BBC, tem feito uma cobertura extensa do ocorrido, uma vez que a maioria das vítimas era do Paquistão. O país declarou luto nacional pela tragédia.

Para Farah Zia, diretora da Comissãocassino resort nacional innDireitos Humanos do Paquistão, é natural que a notícia do submersível tenha recebido tanta atenção global, se tratandocassino resort nacional innum grupocassino resort nacional inntripulantes financeiramente influente - entre eles havia bilionários e exploradores marítimos.

“Ao redor do mundo, quando uma tragédia acontece com pessoas ricas, isso ganha muita importância, porque as pessoas se interessam pelas vidas delas e é natural que a imprensa cubra isso”, disse ela à BBC Urdu, agregando que a tragédia deveria servircassino resort nacional innoportunidade para "vozes mais diversas" serem incluídas nas coberturas.

Ao mesmo tempo, o comentarista paquistanês Zarrar Khuhro destacou as manifestaçõescassino resort nacional innrua registradascassino resort nacional innAtenas depois da tragédia,cassino resort nacional innprotesto contra a atuação da Guarda Costeira. Outras cidades também registraram protestos diantecassino resort nacional innembaixadas gregas.

“Talvez pela primeira vez, vemos uma demonstração grande puramente para condenar a perdacassino resort nacional innvidascassino resort nacional innmigrantes”, disse Khuhro ao serviço Urdu. “Depoiscassino resort nacional innuma tragédia, simultaneamente vemos o melhor e o pior que a humanidade tem a oferecer.”

A comissáriacassino resort nacional innDireitos Humanos do Conselho Europeu - principal órgãocassino resort nacional inndireitos humanos do continente -, Dunja Mijatovic, porcassino resort nacional innvez, se disse “chocada pelo nível alarmantecassino resort nacional inntolerância a graves violaçõescassino resort nacional inndireitos humanos contra refugiados e migrantes pela Europa”.

O naufrágio do Mediterrâneo, ela agregou, “é mais um lembretecassino resort nacional innque, apesarcassino resort nacional innmuitas advertências, as vidas das pessoas no mar continuam sob risco diante da capacidade insuficientecassino resort nacional innresgate e coordenação, da faltacassino resort nacional innrotas seguras e legais,cassino resort nacional innsolidariedade e da criminalizaçãocassino resort nacional innONGs que tentam oferecer assistência”.

'Noções pré-concebidas'

Nessa linha, Gopal,cassino resort nacional innCambridge, acha que as histórias dos imigrantes que tentam a sorte no Mediterrâneo são encaixadascassino resort nacional innnarrativas pré-concebidas, que também limitam o interesse por histórias individuais.

“Achamos que já conhecemos seus relatos: ‘bem, são pessoas desesperadas ou imigrantes econômicos gananciosos’, que é uma das histórias que os governos nos dizem, pelo menos aqui no Reino Unido”, diz.

“Então achamos que não há nadacassino resort nacional inninteressante nisso e os encaixamoscassino resort nacional innembalagenscassino resort nacional innhistórias já conhecidas,cassino resort nacional innvezcassino resort nacional innhistórias únicas. Mas cada um daqueles 700 passageiros tinha uma história e um contexto próprio. (...) E, mais uma vez, voltamos à questãocassino resort nacional inno que decidimos tornar partecassino resort nacional innuma história sem rosto oucassino resort nacional innuma história que mereça ser contada. Me pergunto, se tivéssemos uma cobertura parecida à do Titan, se haveria uma mudança no discurso público relacionado a imigrantes - e que talvez não haja um investimentocassino resort nacional innmudar o discurso público relacionado aos migrantes.”

Um exemplo que fugiu dessa norma, destaca Gopal, foi o caso do menino sírio Alan Kurdi,cassino resort nacional inn2 anos, encontrado sem vidacassino resort nacional innuma praia turcacassino resort nacional inn2015, depoiscassino resort nacional innsua família tentar escapar da guerra na Síria.

“Esse caso se destaca justamente porque foi a exceção - quanto se tratacassino resort nacional innmigrantes, ele é literalmente o único que tem nome. É a exceção que prova a regra. Acho que se deve à forte imagemcassino resort nacional inncomo ele foi encontrado e à crençacassino resort nacional innque crianças não deveriam morrer assim. Porém, para a maioria dos imigrantes mortos no mar, tratamos isso como normal, cotidiano, e não merecedor da nossa atenção.”