'Passei 13 dias sequestrado por uma gangue no Haiti e minha mulher negociou minha libertação':convocação da seleção brasileira de hoje

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Carolina da Silva negociou com grupos criminosos a libertação do marido, Esteban Zambrano

Hoje, estima-se que gangues armadas já controlem cercaconvocação da seleção brasileira de hoje80% do território da capital haitiana.

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“Sempre houve violência no Haiti, mas agora os grupos estão cada vez mais atrevidos, são cada vez mais ousados”, diz Zambrano,convocação da seleção brasileira de hojePorto Príncipe,convocação da seleção brasileira de hojeentrevista à BBC Mundo, serviçoconvocação da seleção brasileira de hojeespanhol da BBC.

“Isso parece uma guerra civil”, acrescenta. “As gangues cresceramconvocação da seleção brasileira de hojenúmero e força e estão atingindo níveis nunca vistos antes.”

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“Agora eles estão atacando delegacias, bancos, tudo o que encontram no caminho. “Eles atacaram o aeroporto e deixaram marcasconvocação da seleção brasileira de hojebala nos assentos dos aviões.”

Após o ataqueconvocação da seleção brasileira de hojemarço, o principal aeroporto do país teve que ser fechado e o governo declarou estadoconvocação da seleção brasileira de hojeemergência na capital, incluindo um toqueconvocação da seleção brasileira de hojerecolher noturno. Durante o dia, poucos se arriscam a sairconvocação da seleção brasileira de hojecasa.

“Estamos presos”, diz Zambrano, que mora no Haiti com a mulher, a uruguaia Carolina da Silva, e quatro filhos.

Ambos trabalham na organização cristã Comunidad Vástago, dedicada ao trabalho educativo e religioso.

Por enquanto, eles não têm planosconvocação da seleção brasileira de hojedeixar Porto Príncipe, apesar do aumento dos sequestros, extorsões, estupros e assassinatos. Segundo a ONU, maisconvocação da seleção brasileira de hoje53 mil pessoas deixaram a cidade entre 8 e 27convocação da seleção brasileira de hojemarço para fugir da violência.

O casal estáconvocação da seleção brasileira de hojeprocessoconvocação da seleção brasileira de hojeadoçãoconvocação da seleção brasileira de hojetrês dos seus quatro filhos e, até que isso seja finalizado, eles querem permanecer no país.

A seguir, leia o relatoconvocação da seleção brasileira de hojeprimeira pessoaconvocação da seleção brasileira de hojeZambrano sobre como foi seu períodoconvocação da seleção brasileira de hojecativeiro.

Crédito, EPA

Legenda da foto, O caos e a violência reinam no Haiti

"O sequestrador estava muito nervoso"

Uma tarde as crianças chegaram da escola, e minutos depois começou lá fora um tiroteio com armas pesadas, armasconvocação da seleção brasileira de hojeguerra. Tivemos que nos refugiar num lugar seguro dentroconvocação da seleção brasileira de hojecasa.

Não só aumentaram os tiroteios, mas também os sequestros. É assim que vivemos aquiconvocação da seleção brasileira de hojePorto Príncipe.

No início não demos muita importância, mas no ano passado os sequestros começaram a chegar cada vez mais perto da nossa casa.

À certa altura, soubemos que aconteceu um sequestro a dez quarteirões da nossa casa. Poucos dias depois, ouvimos falarconvocação da seleção brasileira de hojeoutro, mas desta vez a oito quarteirõesconvocação da seleção brasileira de hojedistância. E então, um a apenas seis quarteirõesconvocação da seleção brasileira de hojedistância.

Então decidimos sair por algumas semanas porque ouvimos dizer que estavam perguntando sobre nós.

Depois as coisas acalmaram um pouco e voltamos. Continuamos trabalhando com nossa organização cristã até que chegou um momentoconvocação da seleção brasileira de hojeque minha mulher e eu nos perguntamos 'o que fazemos?', porque a questão do sequestro era uma possibilidade latente.

Fizemos uma espécieconvocação da seleção brasileira de hojeplanoconvocação da seleção brasileira de hojeação caso algo acontecesse. Tomamos medidas como, por exemplo, sempre que umconvocação da seleção brasileira de hojenós saíaconvocação da seleção brasileira de hojecasa tinha que enviar aconvocação da seleção brasileira de hojelocalização por telefoneconvocação da seleção brasileira de hojetempo real. E isso acabou virando um hábito.

Um dia saíconvocação da seleção brasileira de hojecasa com minha filha do meio, que tinha 7 anos. Naquela época,convocação da seleção brasileira de hojejunho do ano passado, participávamosconvocação da seleção brasileira de hojeuma comunidade para ensinar espanhol para crianças e jovens haitianos. Eu era o professor.

Estávamos indo para láconvocação da seleção brasileira de hojecarro, quando a três quadras da casa dois jovensconvocação da seleção brasileira de hojemoto bloquearam meu caminho e me ameaçaram apontando uma arma para mim. Graças a Deus eles permitiram que minha filha fosse embora.

Eles eram jovens, acho que tinham entre 17 e 20 anos. Um deles assumiu o volante do carro e me obrigou a sentar no bancoconvocação da seleção brasileira de hojetrás. Eles me vendaram os olhos. O sequestrador estava muito nervoso e o carro caiuconvocação da seleção brasileira de hojeuma vala. Ficamos ali por cercaconvocação da seleção brasileira de hoje15 minutos, enquanto o menino tentava fazer o carro funcionar.

No seu nervosismo, o jovem, sem perceber, deixou a arma ao seu lado, ou seja, deixou-a ao meu alcance. Em maisconvocação da seleção brasileira de hojeuma ocasião pensei: “bem, posso pegar a arma”. Fiquei dividido, porque senti que não era a formaconvocação da seleção brasileira de hojeresolver o problema.

No final, decidi não pegar a arma.

O menino finalmente conseguiu tirar o carro da vala e colocá-loconvocação da seleção brasileira de hojemovimento. Depois me levaram para um lugar que ficava na encostaconvocação da seleção brasileira de hojeuma montanha.

"Se tiver que acontecer, vai acontecer"

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Esteban e Carolina com seus quatro filhosconvocação da seleção brasileira de hojePorto Príncipe

A primeira coisa que vi quando tiraram a venda foi outro homem sequestrado deitado numa cama.

Eles nos colocaramconvocação da seleção brasileira de hojeuma casa escura e semi-construída. Alguns minutos depois, o líder da gangue chegou e me deu permissão para fazer um telefonema. Eu disse à minha mulher,convocação da seleção brasileira de hojealguns segundos, que estava tudo bem, para não se preocupar e ficarconvocação da seleção brasileira de hojepaz.

Quando os soldados (como os membros da gangue se autodenominam) foram embora, fiquei sozinho com o outro homem sequestrado. Ele me disse que também era cristão e então começamos a orar e cantar juntos no meio da escuridão.

O tempo passou até que os soldados bateram na porta e nos deram uma lamparina.

Eles nos disseram: “pegue esta lâmpada para que você possa orar”. Eles não apenas nos deixaram a luz, mas também sentaram-se com suas armas na nossa frente para ouvir. Naquele momento entendi que, apesar do mal que possa existirconvocação da seleção brasileira de hojealguns seres humanos, Deus permite que coisas assim aconteçam.

Fiquei sequestrado por 13 dias. Me davam comida duas vezes ao dia, geralmente arroz com banana, e ao ladoconvocação da seleção brasileira de hojecasa tinha um banheiro adaptado.

Durante esse período, tive altos e baixos emocionais, dias mais calmos e dias mais tensos. Eu não sabia o que iria acontecer e às vezes pensavaconvocação da seleção brasileira de hojequão perto a morte poderia estar. E eu queria saber se eu estava pronto para isso.

Lembro-me que no sétimo dia, ou talvez no oitavo, pensei que fosse morrer. Então,convocação da seleção brasileira de hojeuma oração eu digo a Deus: “se tiver que acontecer, vai acontecer, estou nas suas mãos”.

Eu também tentei não pensar muito na minha família, tentei não pensar muito porque isso te afeta demais. Até os pensamentos tiveram que ser medidos.

Mas é muito diferente enfrentar aqueles momentosconvocação da seleção brasileira de hojeque você sabe que Deus está no controle. Naqueles momentos lembrei-me da importância da eternidade, da promessaconvocação da seleção brasileira de hojeque esta vida é apenas temporária.

"Coisas muito boas aconteceram durante o sequestro"

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Zambrano teve longas conversas com os seus sequestradores

Foi difícil, mas aconteceram coisas muito legais, como fazer amizade com a outra pessoa que foi sequestrada.

E também foi bom ter conhecido alguns dos soldados que nos mantinhamconvocação da seleção brasileira de hojecativeiro. Alguns até me contaram sobre como foram parar lá. Durante essas conversas entendi que havia um propósitoconvocação da seleção brasileira de hojetudo o que estava acontecendo comigo.

Essa é a beleza, e quero manter a beleza do sequestro.

Conversando com os jovens, percebi que alguns estavam bem inseridos no mundo do crime, mas outros queriam sair.

Tive longas conversas com um dos soldados nas quais ele me contou como tinha sidoconvocação da seleção brasileira de hojevida e como havia entrado naquele mundoconvocação da seleção brasileira de hojegangues.

Aos 17 anos, ele havia tido uma experiência que marcouconvocação da seleção brasileira de hojevida: voltando da escola para casa, ele soube que um grupoconvocação da seleção brasileira de hojebandidos estava golpeando seu pai até a morte.

Foi nesse momento que decidiu se vingar e, para atingir esse objetivo, juntou-se à gangue inimiga.

E finalmente ele conseguiu se vingar. Mas com o passar dos anos, as coisas mudaram. Ele disse que estava cansado, que não queria continuar.

Essa foi uma das conversasconvocação da seleção brasileira de hojeque mais me lembro. Não sei o que será dele... Espero que ele tenha conseguido tomar decisões importantes paraconvocação da seleção brasileira de hojevida.

"Minha mulher negociou minha libertação"

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, “Seconvocação da seleção brasileira de hojemulher fizer as coisas direito, você partiráconvocação da seleção brasileira de hojealgumas horas”, disse o chefe dos sequestradores a Esteban

Quando minha mulher descobriu que eu havia sido sequestrado, ela foi à polícia pedir ajuda. O problema é que houve tantos sequestros que a polícia não conseguia lidar, não tinha gente suficiente para negociar.

Então, eles disseram abertamente à minha mulher que não tinham como ajudá-la naquele momento.

Como minha mulher é fluente na língua crioula, ela teve coragemconvocação da seleção brasileira de hojese encarregar da negociação.

A princípio pediram US$ 100 mil (R$ 517 mil na cotação atual) pela minha libertação, valor impossívelconvocação da seleção brasileira de hojepagar.

Então ela negociou tão bem, se saiu tão bem, que conseguiu fazer o jogo com os sequestradores e acabou pagando apenas US$ 4 mil (R$ 20,6 mil).

Os policiais ficaram tão impressionados que a parabenizaram. Eles lhe disseram que o resgate mais baixoconvocação da seleção brasileira de hojeque tinham conhecimento até então era US$ 20 mil (R$ 10 mil).

Nós, como família, somos muito gratos por todas as doações que recebemos.

Um dia antesconvocação da seleção brasileira de hojeser solto, tive um ataqueconvocação da seleção brasileira de hojeasma porque não estava tomando minha medicação. Eu estava deitado no chão e mal conseguia respirar. Fiquei muito mal, mas naquele momento me lembreiconvocação da seleção brasileira de hojeum salmo e tive a convicçãoconvocação da seleção brasileira de hojeque eu seria solto.

No dia seguinte, às seis da manhã, o chefe dos sequestradores chegou e me disse: "Seconvocação da seleção brasileira de hojemulher fizer bem as coisas, você vai embora daqui a algumas horas".

Esperei desde as 6 da manhã e por volta das 13h me colocaram no carro com os olhos vendados e me levaram até o local onde me entregaram.