Conheça a cidade que foi o Vale do Silício do século 15:bet635
Os chineses usavam, desde muitos séculos antes, um métodobet635impressão com blocosbet635madeira - o primeiro livro deles teria sido impressobet635868. Mas a técnica com tipos móveis nunca foi muito popular no Oriente, devido à importância da caligrafia, à complexidade dos manuscritos e ao grande númerobet635caracteres.
A prensabet635Gutenberg se adequava bem, no entanto, ao sistemabet635escrita europeu. E seu avanço se deu sob forte influência da região onde surgiu.
Na Idade Média, Mainz era um dos principados eclesiásticos mais importantes do Sacro Império Romano-Germânico -bet635diocese e arcebispos eram o centro do poder e da dominação política.
Gutenberg, um aristocrata instruído e empreendedor, teria identificado a necessidade da Igrejabet635modernizarbet635técnicabet635reproduçãobet635manuscritos, até então copiados à mão pelos monges. Um processo extremamente trabalhoso e lento, que não acompanhava a crescente demanda por livros na época.
A criação da imprensa
No livro Revolutions in Communication: Media History from Gutenberg to the Digital Age ("Revoluções na Comunicação: História da Mídia,bet635Gutenberg à Era Digital",bet635tradução livre), Bill Kovarik, professorbet635comunicação da Universidadebet635Radford, nos EUA, introduz o conceitobet635"mãobet635obra do monge". Segundo ele, "um monge" equivale a um diabet635trabalho - cercabet635uma página - para uma copiadorabet635manuscritos. A criaçãobet635Gutenberg ampliou a produtividadebet635um mongebet635200 vezes.
No Museu Gutenberg, assisti à demonstraçãobet635uma página sendo impressabet635uma réplicabet635sua invenção. Primeiro, uma ligabet635metal é aquecida e derramada sobre uma matriz (molde usado para fundir os caracteres). Quando a liga esfria, as pequenas letrasbet635metal são organizadasbet635palavras e frases, compondo o conteúdobet635uma página, e revestidas com tinta. Finalmente, um papel é colocadobet635cima do molde. Na sequência, uma placa pesada faz pressão sobre ele, como uma prensabet635uva para produçãobet635vinho.
Qualquer semelhança talvez não seja mera coincidência: acredita-se que,bet635fato, Gutenberg se inspirou na prensabet635vinho. Desde que os romanos começaram a produzir vinho na região, a área ao redorbet635Mainz é um dos principais polos vinícolas da Alemanha, com variedadesbet635uvas famosas, como riesling, dornfelder e silvaner.
A página impressa para os visitantes do museu reproduz o estilo original (com fonte gótica e 42 linhas), o mesmo usado na Bíbliabet635Gutenberg - o primeiro grande livro a ser impresso usando tipos móveis no mundo ocidental. Trata-se da primeira página do Evangelhobet635São João, que começa assim: "No princípio, era o verbo…".
A escrita é frequentemente considerada a primeira revolução da comunicação, enquanto a prensabet635Gutenberg é associada à revolução da comunicaçãobet635massa. Após cercabet63515 anosbet635desenvolvimento - e um enorme aportebet635capital -, Gutenberg publicoubet635primeira Bíbliabet6351455.
"A Bíbliabet635Gutenberg é um trabalho extraordináriobet635habilidade", diz Kovarik.
Segundo ele, é possível notar uma forte motivação religiosa na perfeiçãobet635seu trabalho.
"Isso não era incomum na época. Por exemplo, um escultor tentaria fazer uma estátua perfeitabet635um canto remotobet635uma das grandes catedrais, não para as pessoas cultuarem, mas como uma expressãobet635fé pessoal."
Revolução impressa
Da tiragem originalbet635cercabet635150 a 180 Bíblias, apenas 48 existem até hoje. Dois exemplares estãobet635exibição no Museu Gutenberg. E ambos são ligeiramente diferentes. Após a impressão, as páginas eram levadas para serem rubricadas à mão por calígrafos especializados, que pintavam determinadas letrasbet635acordo com o gosto dos clientes. As Bíbliasbet635Gutenberg acabaram se tornando best-sellers.
Inicialmente, a Igreja recebeu bem a oportunidadebet635disponibilizar bíblias impressas e outros textos religiosos. A impressão permitia propagar a mensagem cristã e levantar dinheirobet635formabet635"indulgências" - documentos que concediam o perdão divino a quem pagasse. No entanto, o poder subversivo da palavra impressa logo ficou evidente.
Na décadabet6351470, todas as cidades europeias tinham gráficas e, nos anos 1500, cercabet6354 milhõesbet635livros já tinham sido impressos e vendidos. Com a rápida difusão da tecnologiabet635impressão, novas ideias - muitas vezes contraditórias às da Igreja - começaram a ser propagadas, como as 95 tesesbet635Martinho Lutero, que criticava a vendabet635indulgências.
Dizem que Lutero pregou o texto na porta da Igrejabet635Wittenberg,bet63531bet635outubrobet6351517. Poucos anos depois, 300 mil cópias haviam sido impressas e distribuídas, levando à Reforma Protestante e a um cisma permanente na Igreja.
Mas, apesar do amplo alcance e do impactobet635sua invenção, pouco se sabe sobre o próprio Gutenberg - a história do cidadão mais ilustrebet635Mainz segue envoltabet635mistério.
Uma placa mostra o lugarbet635que ele nasceu, na esquina da rua Christofs, mas a casa original já não existe mais. Hoje, é um edifício moderno, onde funciona uma farmácia.
Outra tabuleta, do ladobet635fora da Igrejabet635São Cristóvão, nas redondezas, indica o local onde ele provavelmente foi batizado. A igreja foi bombardeada durante a Segunda Guerra Mundial e permanecebet635ruínas, como memorialbet635guerra. Mas a pia batismal original, do tempobet635Gutenberg, ainda está intacta.
O cemitério onde sepultaram seu corpo foi pavimentado. E, apesarbet635haver estátuas delebet635toda a cidade, não se sabe exatamentebet635fisionomia. Em geral, Gutenberg é representado com barba, mas é pouco provável que usasse uma. Ele erabet635família aristocrata e, naquela época, apenas peregrinos e judeus usavam barba,bet635acordo com a guia Johanna Hein.
Na verdade, o homem que todo mundo conhece como Johannes Gutenberg nasceu Johannes Gensfleisch (que se traduz como "carnebet635ganso"). Se não fosse pelo costume do século 14bet635adotar como sobrenome o localbet635que a família residia, talvez estivéssemos nos referindo hoje à "Prensabet635Gensfleisch".
Mas, apesarbet635Gutenberg quase não ter deixado rastros físicos,bet635influência pode ser observada por toda parte - sejabet635um anúncio publicitáriobet635cosméticos,bet635uma mulher lendo o jornalbet635um café ou no cardápiobet635um restaurante.
Além disso, a revolução da comunicaçãobet635curso atualmente, viabilizada pela internet, a tecnologia digital e a mídia social é mais uma etapa dos avanços que começaram com Gutenberg.
"Toda vez que o custo da mídia diminui rapidamente, você permite que mais pessoas se manifestem, e você tem uma diversidade maiorbet635vozes", afirma Kovarik, explicando como isso afeta a distribuiçãobet635poder na sociedade e provoca mudanças sociais.
Paradoxalmente, no entanto, a revolução digital também pode ser vista como um retorno à era pré-impressão. É o que diz a Teoria do Parêntesebet635Gutenberg, desenvolvida por Thomas Pettitt, professor na Universidade do Sul da Dinamarca.
"A impressão conferiu estabilidade ao discurso: obrasbet635livros eram oficiais; notícias impressas eram verdadeiras. Na ausência da impressão, a notícia perdeubet635autenticidade e, como na Idade Média, é sinônimobet635boato. Estamos agora na fase da pós-notícia, onde provedoresbet635fake news podem acusar a imprensa legítimabet635propagar notícias falsas e escapar impunes", explica Pettitt.
Seja qual for o impacto da revolução digital do século 21, podemos fazer um prognóstico: assim como aconteceu na revolução da imprensa, seus efeitos vão repercutir por centenasbet635anos.
bet635 Leia a versão original desta reportagem bet635 (em inglês) no site BBC Travel bet635 .