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As invisíveis fronteiras linguísticas da Suíça:ben slots
Geograficamente, a Röstigraben segue mais ou menos o curso do rio Saane. Mas não adianta procurar no mapa. Trata-seben slotsuma fronteira imaginária, embora gravada há muito tempo na mente do povo suíço.
Assim como outras fronteiras, não se atravessa a Röstigraben despretensiosa ou involuntariamente - exceto pelos estrangeiros como eu. Quase metade dos suíçosben slotslíngua alemã cruzam a divisa apenas uma vez por ano - e 15% nunca passaram por ela. É o que mostra um levantamento recente conduzido pelo institutoben slotspesquisa Sotomo, a pedido da empresaben slotstelecomunicações Swisscom.
Atravessar a Röstigraben "parece mais como migrar temporariamente para um lugar perigoso, onde você não vai entender o que as pessoas falam", compara a executiva suíça Manuela Bianchi,ben slotstomben slotsbrincadeira.
Sua história é tipicamente suíça, o que significa que não é nada típica. Com um paiben slotslíngua italiana e uma mãeben slotslíngua alemã, ela cresceu falando ambos os idiomasben slotscasa - e aprendeu francês, assim como inglês, na escola. Sim, a diversidade linguística do país às vezes pode ser exaustiva - a maioria dos rótulosben slotsalimentos lista os ingredientesben slotstrês idiomas. Mas,ben slotsgeral, ela considera "uma bênção incrível".
Ser multilíngue representa para a Suíça o mesmo que a educação para os ingleses ou o estilo para os italianos: é motivoben slotsorgulho nacional. Mas um orgulho discreto. Segundo outro costume local, é considerado "não-suíço" se gabar das habilidades linguísticasben slotsalguém - ouben slotsqualquer outro aspecto a esse respeito.
Ao imaginar uma fronteira, o que geralmente vem à cabeça é uma demarcação política - uma linha sólida, quem sabe até um muro, separando duas nações-estados. Essa é uma formaben slotsdivisa. Mas existem outras: fronteiras culturais; linguísticas; da mente. E ninguém entende melhor disso que os suíços. Eles contam com uma miscelâneaben slotslínguas e culturas que, milagrosamente, se mantêm unidas. E, como tudo no país, funciona perfeitamente (ou quase).
Quebra-cabeças
A Suíça sofre com poucos dos cismas linguísticos que costumam atormentar nações multilíngues, como a Bélgica e o Canadá. Mas como eles fazem isso?
O dinheiro certamente ajuda. A Suíça é um dos países mais ricos do mundo, com longa tradiçãoben slotsgovernos democráticos: uma referênciaben slotsdemocracia com inúmeros referendos e uma federaçãoben slotsprovíncias altamente autônomas. E se mantém unidaben slotstorno do que o povo chamaben slotsWillensnation. O termo alemão significa literalmente "nação por vontade", mas na Suíça a palavra ganha um significado especial: "uma nação nascida com o desejoben slotsviver unida".
A história, como sempre, também ajuda a explicar. A diversidade linguística da Suíça remonta a muitos séculos, bem antes da nação unificada que existe hoje. Há 7 mil anos, o país estava "no meioben slotstudo e à margemben slotstudo", segundo Laurent Flutsch, curador do Museu Arqueológicoben slotsVindonissa,ben slotsBrugg, que organizou recentemente a exposição Röstigraben - Como a Suíça se Mantém Unida (em tradução livre).
A região ficava na encruzilhadaben slotsvários grupos linguísticos - e o terreno montanhoso formava barreiras naturais entre eles. Quando a Suíça moderna foi formada,ben slots1848, as fronteiras linguísticas já estavam estabelecidas.
Há quatro idiomas oficiais no país: alemão, francês, italiano e romanche, língua nativa com status limitado, semelhante ao latim, e falada hoje apenas por um punhadoben slotssuíços. Um quinto idioma, o inglês, é cada vez mais usado para atenuar as divisões. Em uma pesquisa recente da Pro Linguis, três quartos dos entrevistados disseram que usam o inglês pelo menos três vezes por semana.
Na poliglota Suíça, há fragmentação até dentro das subdivisões. Quem mora nas provínciasben slotslíngua alemã fala alemão-suíçoben slotscasa, mas aprende alemão tradicional na escola. O italiano faladoben slotsTicino, por exemplo, é salpicadoben slotspalavras emprestadas do francês e do alemão.
Babel
O idioma pode não ser uma sina, mas determina muito além das palavras a serem ditas. A língua leva à cultura, que, porben slotsvez, rege a vida. Nesse sentido, a Röstigraben é tanto uma fronteira cultural quanto linguística. O dia a diaben slotscada lado da linha imaginária se desdobraben slotsum ritmo diferente.
"(Na minha opinião) a pessoa que fala francês é mais descontraída. Tomar uma taçaben slotsvinho branco durante o almoçoben slotsdiaben slotssemana ainda é bastante comum. Quem fala alemão, porben slotsvez, tem pouco sensoben slotshumor e segue regras mais rígidas que as dos japoneses", analisa Bianchi.
Já a diferença cultural entre a Suíça italiana e o restante do país - marcada pela chamada Polentagraben ("fossa da polenta") - é ainda mais acentuada. Os suíços que falam italiano são uma clara minoria. Representam apenas 8% da população e vivem, principalmente, no extremo sul do cantãoben slotsTicino.
"Quando me mudei para cá, as pessoas diziam: 'Ticino é como a Itália, com a diferençaben slotsque tudo funciona', e acho que é verdade", conta Paulo Gonçalves, acadêmico brasileiro que moraben slotsTicino há dez anos.
Nascidoben slotsum país com apenas uma língua oficial, Gonçalves fica admirado com o malabarismo que os suíços fazem com os quatro idiomas.
"É impressionante como eles conseguem se relacionar", diz o brasileiro.
Ele lembraben slotster ido a uma conferência que contava com palestrasben slotsfrancês, alemão, italiano e inglês.
"Aconteceram apresentaçõesben slotsquatro idiomas diferentes no mesmo auditório".
Horizontes ampliados
Para Gonçalves, viverben slotsum ambiente multilíngue "mudouben slotsmaneiraben slotsver o mundo e vislumbrar possibilidades".
"Sou uma pessoa bem diferente do que eu era há 10 anos", completa.
Os idiomas não são distribuídos uniformemente. Dos 26 cantões do país, 17 falam alemão, enquanto quatro são franceses e um italiano. Três são bilíngues e um (Grisões) trilíngue. No total, 63% da população tem o alemão como primeira língua.
Sendo assim, muitas características que o imaginário popular associa ao "estilo suíço" - como pontualidade e discrição - são, na verdade, particularidades suíço-alemãs.
A língua e cultura suíço-alemãs tendem a dominar principalmente no mundo dos negócios. E isso gera algum tipoben slotsatrito,ben slotsacordo com Christophe Büchi, autorben slotsum livro sobre a história das fronteiras linguísticas invisíveis do país.
"Mas o pragmatismo que move a política suíça sabe lidar com isso", afirma.
Segundo ele, o verdadeiro idioma nacional da Suíça é a reconciliação.
ben slots Leia a versão original desta reportagem ben slots (em inglês) no site BBC Travel ben slots .
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