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Cavernas revelam como viveram os últimos neandertais, nossos 'primos' extintos:conta betano
Há um especial interesseconta betanoquatro grandes cavernas, das quais três mal foram exploradas até agora. Mas escavações realizadasconta betanouma delas, a cavernaconta betanoGorham, mostram que os neandertais "não estavam apenas sobrevivendo", como conta o diretorconta betanoarqueologia do Museuconta betanoGibraltar, Clive Finlayson.
"[A cavernaconta betanoGorham] eraconta betanocerta maneira a cidade dos neandertais. Este era o lugar com a maior concentraçãoconta betanoneandertais da Europa."
Não se sabe se isso significa que havia ali apenas dezenasconta betanopessoas ou algumas famílias, porque evidências genéticas sugerem que os neandertais viviamconta betano"populações muito pequenas".
Sua ocupaçãoconta betanoGibraltar foi identificada pela primeira vezconta betano1848, com a descoberta do primeiro crânioconta betanoum neandertal adulto. Desde então, foram encontrados ossosconta betanomais sete indivíduos, bem como inúmeros artefatos que usavamconta betanoseu cotidiano, como ferramentas, restos mortaisconta betanoanimais e conchas.
É possível datar cada descoberta com baseconta betanoonde foi encontrada. Dentro da cavernaconta betanoGorham, existem muitos metrosconta betanocamadasconta betanosedimentos. Cada camada representa um momento diferente no tempo geológico.
Restos fósseis descobertos nessas camadas sugerem que os neandertaisconta betanoGibraltar ocuparam a caverna por maisconta betano100 mil anos.
Os neandertais podem ter vivido na região até há cercaconta betano24 mil a 33 mil anos,conta betanoacordo com a dataçãoconta betanouma das camadas. Isso aponta essa área como um dos últimos lugares conhecidos habitados por neandertais.
Eles também podem ter ocupado áreas costeiras vizinhas, mas o nível do mar subiu consideravelmente nos últimos 30 mil anos. Isso significa que qualquer outra evidência fóssil está submersa.
"Temos sorteconta betanoque,conta betanoGibraltar, por causaconta betanoseus penhascos íngremes, as evidências permaneceram intactas", diz Finlayson, que, junto comconta betanomulher, Geraldine, e seu filho, Stewart, escava essas cavernas há muitos anos. Todos os três são cientistas.
Enquanto a parte da frente da cavernaconta betanoGorham é relativamente aberta, banhada por luz solar e com vista direta para o oceano, a parteconta betanotrás é mais escura e se divideconta betanovárias câmaras.
Estas cavernas permanecem frescas no verão e levemente quentes nos meses mais frios, o que as torna perfeitas para descansar e ficar a salvoconta betanopredadores.
Hábitosconta betanocaça
Como o restanteconta betanosua espécie, os neandertais que moravam ali eram diferentes do que pensávamos — um grupo brutal e corpulentoconta betanohumanos primitivos que só grunhiam para se comunicar e usavam violentamente seus porretes.
Como explica a pesquisadora Paola Villa, da Universidade do Colorado,conta betanouma revisãoconta betanoestudos sobre a espécie, os neandertais eram muito semelhantes a nós.
Essa visão ganha força com descobertas feitas a partirconta betanoanálises genéticas. Não apenas compartilhamos 99,5% do mesmo DNA, como também carregamosconta betanonós um pouco do DNA neandertal ainda hoje.
Isso porque houve vários cruzamentos entre eles e nossa espécie, quando chegamos à Europa, vindos da África. Todos os indivíduos fora da África ainda levamconta betanosi evidências dessa mistura pré-histórica. Entre milharesconta betanoindivíduos, pesquisadores identificaram um total combinadoconta betano20%conta betanoDNA neandertalconta betanohumanos modernos hoje.
As descobertas na cavernaconta betanoGorham nos ajudam a compreender muitos outros aspectos sobre os neandertais, especialmente sobre seus últimos anos na Terra.
Restos encontrados no local indicam que eles consumiam frutos do mar e mamíferos marinhos. Isso não é surpreendente, dadas as evidências publicadas recentementeconta betanoque que eram capazesconta betanonadar.
Acredita-se inclusive que caçavam golfinhos, diz Clive Finlayson. Ainda não está claro como o faziam, mas sabemos que caçavam — ou matavam — grandes animais selvagens, como mamutes, rinocerontes e veados.
Os restosconta betanomaisconta betano150 espécies diferentesconta betanopássaros também foram descobertos na cavernaconta betanoGorham, muitos com marcasconta betanodentes e cortes, o que sugere que os neandertais os comeram. Há até mesmo evidênciasconta betanoque eles caçavam avesconta betanorapina, incluindo águias e abutres.
Não sabemos se usavam iscas e esperavam a oportunidade certa ou se caçavam ativamente pássaros, uma tarefa mais difícil. O que sabemos é que não comiam necessariamente todos os pássaros que caçavam, principalmente avesconta betanorapina como abutres — que são cheiosconta betanoácido.
"A maioria das marcasconta betanocorte está nos ossos das asas, onde há pouca carne. Parece que eles as pegavam para usar suas penas", diz Finlayson.
Eles aparentemente tinham preferência por pássaros com penas pretas, o que indica que estes eram usados para fins decorativos. Neste caso, os neandertais tinham uma compreensão e apreciação sofisticadasconta betanosímbolos culturais e eram dotadosconta betanohabilidades cognitivas que poderiam estarconta betanopéconta betanoigualdade com as nossas.
E, independentementeconta betanoquão inteligentes fossem, a criação desses artefatos culturais é uma das características que definem a humanidade.
Arte e linguagem
Eles podiam até mesmo produzir arte. Em uma surpreendente descoberta, os Finlaysons encontraram uma marcação na parede da cavernaconta betanoGorham, que apelidaramconta betano"hashtag neandertal". Essa foi a primeira evidênciaconta betanoarte neandertal, diz Geraldine.
Apesar da simplicidade da marcação, Geraldine garante que houve preparação para fazê-la. "Não foi algo que aconteceu por um erro. Algum processoconta betanopensamento estavaconta betanoandamento", afirma ela.
Quando arqueólogos tentaram refazer a marcação, descobriram que o sulco mais profundo exigia 60 movimentos com uma ferramentaconta betanopedra afiada. "Ficou claro que foi algo intencional", diz Geraldine.
A descobertaconta betanoconchas decorativas e do usoconta betanopigmentos vermelhos também apontam para a possibilidadeconta betanoterem utilizado objetos para fazer arte.
Novamente, se foi esse o caso, isso mostra que os neandertais tinham habilidadesconta betanocriar símbolos antes consideradas exclusivamente humanas. Na Espanha, pinturas rupestresconta betanoanimais e formas geométricasconta betano64 mil anos atrás também foram atribuídas aos neandertais.
Se foram capazesconta betanoproduzir arte e joalheria, talvez não surpreenda que estudos recentes indiquem que também possuíam sofisticadas habilidadesconta betanolinguagem.
Um estudo que analisou um osso considerado crucial para a fala, o hioide, localizado na região do pescoço, abaixo da mandíbula, descobriu que o equivalente dos neandertais funcionava exatamente como o nosso.
De acordo com a equipeconta betanocientistas liderada por Stephen Wroe, da Universidade da Nova Inglaterra, na Austrália, um modeloconta betanocomputador criado com base nisso concluiu que os neandertais podiam falar como nós.
"Muitos argumentariam que nossa capacidadeconta betanofala e linguagem está entre as características mais fundamentais que nos tornam humanos. Se os neandertais também tinham linguagem, também eram verdadeiramente humanos", diz Wroe.
Se podiam falar, também eram capazesconta betanotransmitir informações entre si com eficiência, como, por exemplo, ensinar uns aos outros a fazer ferramentas. Podem até mesmo ter ensinado uma coisa ou duas aos humanos modernos.
Novas evidências sugerem que foi exatamente isso que aconteceu quando os neandertais e os humanos modernos entraramconta betanocontato.
Um tipoconta betanoferramenta óssea, descobertaconta betanoum conhecido local dos neandertais, também foi achada mais tarde onde viviam apenas humanos modernos.
A equipeconta betanoMarie Soressi, da Universidadeconta betanoLeiden, na Holanda, analisa locais que foram habitados por neandertais há cercaconta betano40 mil a 60 mil anos.
As ferramentas que encontraram foram feitas com fragmentosconta betanoossosconta betanocostelasconta betanoveados e, provavelmente, usadas para ajudar a tornar a pele do animal mais macia, possivelmente para confeccionar roupas.
"Esse tipoconta betanoferramenta óssea é muito comumconta betanoqualquer local usado por humanos modernos após o desaparecimento dos neandertais", diz Soressi.
Isso sinaliza que os humanos modernos que se encontraram com os neandertais copiaram o uso deste tipoconta betanoferramenta. "Para mim, é possivelmente a primeira evidênciaconta betanoque algo foi transmitido dos neandertais para os humanos modernos."
Quando o homo sapiens vivia mais perto da linha do Equador, não precisavaconta betanoroupas quentes. Os neandertais, por outro lado, viviam nos climas mais frios da Europa por muitos anos antes da chegada dos humanos modernos. Aprender como eles a lidar com o frio teria sido um grande benefício para nós.
Muitos pesquisadores, incluindo Soressi, agora argumentam que conhecer outros humanos primitivos pode, portanto, ter sido crucial para nos tornarmos a espécie bem-sucedida que somos hoje.
O fatoconta betanoos neandertais usarem muitas ferramentas diferentes revela novamente como eles eram semelhantes aos humanos modernos. Como nós, eles foram capazesconta betanose adaptar e explorar com êxito seu ambiente.
"Os neandertais foram muito mais evoluídos do que pensávamos", diz Soressi. "Estamos agoraconta betanoum pontoconta betanoviradaconta betanoque devemos passar a considerar que os neandertais e os humanos modernos são iguaisconta betanomuitos aspectos."
Isso se torna ainda mais evidente dianteconta betanoevidênciasconta betanoque eles também enterravam seus mortos, outro ritual cultural que indica um "comportamento simbólico complexo".
Os últimos neandertais
Mas também havia diferenças claras entre os neandertais e os humanos modernos. Uma é o fatoconta betanoque estamos aqui hoje, e eles não.
Nos últimos milêniosconta betanosua existência, eles enfrentaram novos desafios com os quais não estavam tão bem preparados para lidar quanto os humanos modernos.
John Stewart, da Universidadeconta betanoBournemouth, no Reino Unido, analisou as diferentes estratégiasconta betanocaçaconta betanohumanos e neandertais.
Ele explica que os neandertais não exploraram a caçaconta betanoanimais menores, como coelhos, tanto quanto os humanos modernos. Embora haja evidências na cavernaconta betanoGorhamconta betanoque os neandertais caçavam coelhos, Stewart diz que eles faziam isso menos do que nós.
Suas táticasconta betanocaçarconta betanocontato próximo com a presa pode tê-los servido melhor no casoconta betanoanimais maiores e tornado muito mais difícil pegar coelhos suficientes para sobreviver quando outros alimentos estavam escassos, por exemplo.
"Acho que os humanos modernos tinham mais tecnologias para capturar presas menores, como redes ou armadilhas. Quando os tempos ficavam difíceis, os humanos modernos sempre tinham mais alimento a seu dispor", diz Stewart.
As evidências climáticas indicam ainda que os neandertais viviamconta betanoum ambiente cada vez mais hostil. Períodos extremosconta betanofrioconta betanooutras partes da Europa os empurraram para o sul até chegarem a áreas como Gibraltar.
"A cada poucos milharesconta betanoanos, na Europa e na Ásia, o clima mudava drasticamente,conta betanorelativamente quente para muito frio", diz Chris Stringer, líderconta betanopesquisa sobre origens humanas no Museuconta betanoHistória Naturalconta betanoLondres, no Reino Unido.
"Como isso acontecia repetidamente, eles nunca foram capazesconta betanoampliar a diversidade daconta betanoespécie."
Isso significa que, quando os últimos neandertais chegaram ao seu lugar final na Terra, eles eram muito endogâmicos (com vários acasalamentos consanguíneos), uma má notícia para uma população que já estava diminuindo.
Ao mesmo tempo, uma descoberta feitaconta betano2019 também sugere queconta betanofertilidade estavaconta betanodeclínio, talvez devido à faltaconta betanoalimentos — a infertilidade pode ser resultado da diminuição da gordura corporal.
A pesquisa liderada por Anna Degioanni, da Universidadeconta betanoAix-Marselha, na França, sugere que, mesmo "uma ligeira mudança na taxaconta betanofertilidadeconta betanomulheres mais jovens poderia ter tido um impacto dramático na taxaconta betanocrescimento da população neandertal e, portanto, naconta betanosobrevivência a longo prazo".
Sua população pode ter se tornado tão pequena que, eventualmente, alcançaram "um ponto sem retorno", diz Finlayson.
Infelizmente, isso significa que, embora os últimos neandertais vivessem da mesma maneira que seus ancestrais, mudanças climáticas tornaram isso insuficiente para garantirconta betanosobrevivência, o que, porconta betanovez, teria impactado diretamenteconta betanocapacidadeconta betanoinovar e disseminarconta betanocultura.
Se a vida se torna apenas uma batalha pela sobrevivência, outras coisas, como a cultura, podem cair no esquecimento. Nos últimos anos dos neandertais na Terra, não seria preciso muita competiçãoconta betanooutros seres humanos, animais ou doenças para acabar com eles.
Mas apesarconta betanose tratarconta betanouma espécie extinta, ela não desapareceu completamente. Algumas partesconta betanoseu genoma ainda vivemconta betanonós. Os últimos neandertais podem ter morrido, mas deixaramconta betanomarca na humanidade.
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