Os mitos e verdades sobre as origens do vibrador:pix bet link

Crédito, Science Museum

Legenda da foto, Rachel Maines argumentou que vibradores mecânicos como este, datadopix bet link1909, foram usados para curar mulheres da histeria

Apesar da gigantesca popularidade e consagração do livro - incluindo o Prêmio Herbert Feis, da Associaçãopix bet linkHistória Americana,pix bet link1999 -, a teoria que aborda tem bases questionáveis,pix bet linkacordo com um novo artigo publicado no Journal of Positive Sexuality. O estudo conduzido por historiadores é o mais recente a refutar as alegações do livro - e isso vale tanto para a história da sexualidade quanto para a imaginação popular.

Crédito, Science Museum

Legenda da foto, Datado do iníciopix bet link1900, este vibrador era do tipo usado pelos médicos para massagear pacientes

"Até onde sabemos sobre a história da sexualidade, parece improvável que médicos fizessem isso (masturbar as pacientes como formapix bet linktratamento)", diz Hallie Lieberman, historiadora da tecnologia no Institutopix bet linkTecnologia da Geórgia e uma das autoras do artigo. "Depoispix bet linkverificar as fontes (do livro), foi quando eu realmente pensei, OK, tem algo estranho aqui."

Lieberman propõe uma visão alternativa. Sim, dispositivos mecânicos conhecidos como "vibradores" - e anunciados como massageadorespix bet linkcostas ou pescoço - estavam sendo usados por mulheres para a masturbação já nas décadaspix bet link1900 e 1910. Mas não há evidênciaspix bet linkque isso tenha ocorrido antespix bet link1900, quando os vibradores eram comercializados para médicos, e não diretamente aos consumidores.

E, portanto, não teria havido situaçõespix bet linkque médicos, sem compreensão do que era o orgasmo feminino, usassem esses dispositivos para curar mulherespix bet linkhisteria.

Mitopix bet linkorigem

Ao longo do século 19, vibradores elétricos eram comercializadospix bet linkrevistas, periódicos, literatura médica e jornais.

Em um anúncio divulgado no início do século seguinte, por voltapix bet link1904, uma mulher senta-se relaxada, com a cabeça ligeiramente para o lado. Um médico vestindo um jaleco branco está atrás dela, tocando seu pescoço. Em umapix bet linksuas mãos está um dispositivopix bet linkmetal com um grosso cabo preto: um vibrador elétrico, projetado para aliviar a tensãopix bet linkmassagear os pacientes. Mas não há sinais na imagempix bet linkque o dispositivo fosse usadopix bet linkoutro lugar além do pescoço da paciente.

Por esse método, "50% da fadiga dos massagistas é evitada", diz o panfleto. "Resultados infinitamente melhores no tratamento são obtidos."

Em outro folheto, o tratamento é administrado não por um médico, mas pela própria paciente. Com a formapix bet linkum secadorpix bet linkcabelo, o vibrador Sanofix,pix bet link1913, vinhapix bet linkuma pequena caixapix bet linkmadeira, com diversos acessórios diferentes. Em uma sériepix bet linkfotografias, uma mulherpix bet linksemblante sério, com um vestido brancopix bet linkbabados, segura o vibrador na testa, no queixo, na garganta e no peito.

Crédito, Science Museum

Legenda da foto, Este anúncio do início dos anos 1900 foi umpix bet linkuma série que mostrou o equipamento da Sanax sendo usado por homens e mulherespix bet linkseus braços, pernas, peito e rosto

Quando Rachel Maines, autora do livro A Tecnologia do Orgasmo, se deparou com esses anúncios, eles a intrigaram. "Passei os 19 anos seguintes fazendo pesquisaspix bet linkbibliotecas nos EUA e na Europa, tentando descobrir mais sobre a história dos vibradores", relata. "Não havia muito material nem nas fontes primárias. Por isso levou 19 anos, e acabei escrevendo um livro."

O livro descreve como os vibradores passaram a ser usados como dispositivos para poupar força no tratamento da histeria orgásmica. O procedimento era realizado por médicos dedicados a tratar o maior número possívelpix bet linkpacientes. Maines escreveu que os médicos usavam a masturbação para tratar a histeriapix bet linkmulheres desde o período romano.

Os médicos aliviavam a condição provocando "paroxismos" nas mulheres por meio da masturbação. Mas por causa da pouca compreensão da sexualidade feminina, os médicos não estavam cientespix bet linkque os paroxismos que seus pacientes vivenciavam eram na verdade uma resposta sexual.

Sexualidade feminina

A sexualidade feminina pode não ter recebido tanta atenção quanto a sexualidade masculina historicamente, mas a ideiapix bet linkque os médicos da era vitoriana teriam feito isso por completa faltapix bet linkconhecimento parece um tanto improvável para Hallie Lieberman.

"Ela apresenta a teoria como se ninguém soubesse o que é um orgasmo", diz Lieberman. "Mas já havia uma consciência do clitóris e da sexualidade das mulheres na época".

Há evidênciaspix bet linkque, nos séculos 19 e 20, por exemplo, médicos dos EUA e do Reino Unido teorizaram sobre quais tipospix bet linkcomportamento sexualpix bet linkmulheres eram saudáveis e quais não eram, e que havia um entendimento geral sobre o orgasmo feminino.

Além disso, há problemas com os exemplos históricos citados no livropix bet linkMaines. Cinco fontes são usadas no início do livro para respaldarpix bet linkalegaçãopix bet linkque os médicos usavam vibradores "especialmente na massagem ginecológica". Mas várias dessas fontes não confirmam essa afirmação.

Não se menciona vibradores, histeria ou massagem ginecológica - na verdade, a passagem referida é sobre o tratamentopix bet linkdores menstruais com correntes elétricas. O autor salienta que, para pacientes com dores menstruais, "a completa ausênciapix bet linkexcitação sexual é da maior importância".

A segunda fonte não menciona histeria, massagem ou vibradores. A terceira tampouco faz menção à massagem ginecológica, apenas à massagem tradicional, e o termo "vibrador" não aparecepix bet linknenhum lugar do livro. Lieberman encontrou essas inconsistências ao longopix bet linktodo o livropix bet linkMaines.

Maines se posicionou acolhendo as críticaspix bet linkLieberman, embora elas não tenham mudadopix bet linkvisão. "É perfeitamente apropriado que um jovem acadêmico desafie o trabalhopix bet linkespecialistas mais velhos", diz.

"Em A Tecnologia do Orgasmo, o que estou propondo é uma hipótese. Eles [Lieberman e seu coautor] não acham minha hipótese muito convincente - OK. Nós não vamos concordar nisso", acrescentou a pesquisadora.

Boas vibrações

O que se sabe é que os vibradores foram usados no corpo como uma panaceia para quase todas as doenças. Panfletos proclamarampix bet linkeficácia contra a insônia, paralisia, neuralgia, epilepsia, consumo, ciática, lombalgia, gota, surdez, vômitos, constipação, hemorroidas e dorespix bet linkgarganta. Era bom para o fígado e até mesmo para problemaspix bet linksaúdepix bet linkcrianças, apontou a literatura.

Crédito, Science Museum

Legenda da foto, Dizem que o massageador vibratório Veedee, que remonta ao iníciopix bet link1900, curava quase qualquer doença,pix bet linkresfriados a problemas digestivos

A histeria também estava na listapix bet linkcondições tratadas pelo vibrador. Mas para essas pacientes o vibrador era provavelmente mais usado para uma massagem relaxante nas costas ou no pescoço do que para qualquer tipopix bet linkuso erótico, afirma Lieberman.

"Com relação a massagear mulheres até o orgasmo, não há evidênciaspix bet linkque isso tenha acontecido no consultório médico", ressalta.

Pode até ter havido "médicos duvidosos", acrescenta ela, que assediavam pacientes. Mas não há evidênciaspix bet linkque o usopix bet linkvibradores para masturbação tenha sido um tratamento médico aceito.

O artigopix bet linkLieberman não é o primeiro a desafiar a teoriapix bet linkMaines. Outros pesquisadores, incluindo Helen King, historiadora da Universidade Aberta,pix bet linkLondres, desafiaram as afirmaçõespix bet linkMainespix bet linkque essa prática remonta aos períodos grego e romano.

"Maines queria uma linha histórica que remontasse ao períodopix bet linkHipócrates, então ela estava decidida a encontrar médicos massageando suas pacientes até o orgasmo nas primeiras fontes escritas", diz King.

Mas não era uma prática comum nas civilizações antigas permitir que médicos chegassem perto das mulheres da casa, explica ela. Outro problema foi que Maines não distinguiu a escrita satírica da literatura médica autêntica da época.

"Uma sátira romana, exibindo 'devotos'pix bet linkbanhos masturbando uma mulher até ela chegar ao orgasmo, é muito diferentepix bet linkdizer que os médicos realmente fizeram isso", diz King. "É uma sátira - é para ser escandalosa."

Enquanto isto, textos médicos antigos que descreviam médicos massageando lombar, joelhos ou cabeça foram interpretadospix bet linkmodo errôneo por Maines como um tipo um tanto diferentepix bet linkmassagem,pix bet linkacordo com King. Além disso, Maines teria contornado as evidências, deliberadamente escolhendo frases e fontes para reforçarpix bet linkhipótese: "Por exemplo, uma descrição sobre o que acontece quando o útero é friccionado durante o ato sexual transforma-sepix bet linkmasturbação por um médico".

A realidade

Mas se não foram os médicos, quem afinal inventou o vibrador como brinquedo sexual?

A resposta chega a alguns dos anúncios que Maines encontrou - mesmo que alguns acadêmicos hoje acreditem que suas interpretações sejam enganosas.

Quando os médicos começaram a perceber, por volta do início do século 20, que os vibradores não eram o santo remédio que se pensava, os fabricantes dos aparelhos se depararam com um problema. Havia toda uma indústria dedicada a fabricar esses dispositivos: havia a versão com manivela, que evoluiu para modelos movidos a vapor, que porpix bet linkvez evoluiu para um dispositivo acionado eletricamente. Mas agora havia menos médicos dispostos a comprá-los.

Uma empresa adotou uma estratégia ousadapix bet link1903, quando lançou um anúncio do aparelho sexual Hygeia tanto para homens quanto para mulheres.

"Parecia um cinto com eletricidade e vibração", diz Lieberman.

Esta foi a primeira fontepix bet linkum vibrador associado ao sexo que Lieberman descobriu empix bet linkpesquisa. Mas vender abertamente um vibrador como aparelho sexual era raro, até porque isso era considerado obsceno. Nos EUA, no Reino Unido epix bet linkoutros lugares, as leispix bet linkobscenidade por muitos anos impediram as empresaspix bet linkanunciarem dispositivos para o prazer sexual.

A mudança para a estratégiapix bet linkvender vibradores diretamente aos consumidores foi fortalecidapix bet link1915, quando a Associação Médica Americana fez uma declaração classificando os vibradores para uso médico como "um delírio e uma armadilha". Qualquer efeito que eles tivessem nas pacientes era psicológico, e não médico. A associação classificou os vibradores como uma fraude e começou a combatê-los, conta Lieberman.

Em vezpix bet linkmatar a indústria dos vibradores, os fabricantes simplesmente mudaram o focopix bet linkmédicos para consumidores.

Crédito, Alamy

Legenda da foto, Um cartazpix bet linkmeados do século 20 diz que o 'mini vibrador ... acalma o indivíduo levando-o a um relaxamento agradável'

"Viam-se anúncios no New York Times, no Chicago Tribune epix bet linktodo o Reino Unido", diz Lieberman. "Eles foram vistos como um aparelhopix bet linklazer para mulheres."

Com o passar do tempo, esses anúncios foram sendo, sutilmente, sexualizados. Homens sem camisa e mulherespix bet linkblusas decotadas eram mostrados exibindo alegremente os vibradores. Devido à reservapix bet linkanunciar explicitamente os vibradores como brinquedos sexuais, é difícil definir quando eles passaram a ser amplamente usados pra fins sexuais.

"O tipopix bet linkvibrador que conhecemos hoje começou a aparecer nos anos 1950 e se tornou mais comum e abertamente vendido nos anos 1960", diz Lieberman. "Mas ele ainda era polêmico".

A controvérsia levou muito tempo para se dissipar. Em alguns lugares, ainda há polêmica. No Estado americano do Alabama, por exemplo, as leispix bet linkobscenidade ainda proíbem a publicidade e a vendapix bet linkvibradores.

Crédito, Alamy

Legenda da foto, Anúncios como este,pix bet link1953, comercializavam vibradores diretamente para as mulheres como uma maneirapix bet linkcontrolar os nervos

Apesarpix bet linka história ser fortemente contestada, Maines continua defendendopix bet linkteoria. "Acredito que minha hipótese está correta. Muitos pensam da mesma forma", diz Maines.

Lieberman admite quepix bet linknova teoria é menos atraente do que a hipótesepix bet linkque várias geraçõespix bet linkmédicos usavam o vibrador na masturbação para acalmar mulheres histéricas.

"[Essa história] atrai as pessoas", acrescenta King. "É como uma cenapix bet linkfilme pornôpix bet linkque o médico 'resolve' o problema, se é que você me entende."

Foi esse apelo que impulsionou a popularização da teoria da masturbação médica. Por quase 20 anos, ensinaram-napix bet linkuniversidades, tomando-a como um dado na literatura acadêmica, apresentando-o como fato na mídia e popularizando-o nos palcos e nas telas. E, como observa Lieberman, quando as pessoas querem que uma história seja verdadeira, até acadêmicos raramente se incomodampix bet linkverificar os fatos.

  • pix bet link Leia a versão original desta reportagem (em inglês pix bet link ) no site da BBC Future pix bet link .

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