As pessoas resistentes à anestesia e que enfrentam a broca do dentista à frio:alavancagem apostas desportivas

A equipe médica pode até ter ficado surpresa, mas aquilo não era novidade para Lemon. Ela sempre teve resistência à anestesia local.

A primeira vez que notou isso foi décadas atrás, aos sete anosalavancagem apostas desportivasidade, numa ida ao dentista.

"Eles começaram a trabalhar e eu, obediente, só levantei a mão para que eles soubessem 'estou sentindo isso'", lembrou.

Outra injeçãoalavancagem apostas desportivasanestesia local não fez efeito.

"No fim eu só gritei e chorei o tempo todo."

Clendenen, que observoualavancagem apostas desportivasperto os efeitos da resistência à anestesiaalavancagem apostas desportivasLemon, decidiu investigar o problema. Ele descobriu várias histórias na literatura médica relatando estranhos casosalavancagem apostas desportivaspacientes que diziam que a anestesia local não fazia efeito.

Ninguém sabe direito o que acontece com essas pessoas - ou seja, qual mecanismo causa a resistência ou qual seria o melhor remédio contra ela.

Mas um novo estudo genéticoalavancagem apostas desportivasLemon e da família dela pode ajudar a descobrir o que provoca isso.

Uma doença - e algumas pistas

Alan Hakim e seus colegas no University College Hospitalalavancagem apostas desportivasLondres foram alguns dos primeiros cientistas a divulgar esses casos.

Hakim atuavaalavancagem apostas desportivasuma clínica para pessoas que sofrem da síndromealavancagem apostas desportivasEhlers-Danlos, um grupoalavancagem apostas desportivasdoenças genéticas muito raras caracterizadas por problemas no tecido conjuntivo, que leva a fadiga, hipermobilidade das juntas e a uma pele que se fere facilmente.

Ele descobriu que alguns desses pacientes também relatavam resistência à anestesia local.

"Ficou óbvio para nós que esso era uma pergunta que deveríamos fazer a todos os pacientes da clínica", lembra Hakim, um dos autoresalavancagem apostas desportivasum relatório sobre as descobertasalavancagem apostas desportivas2005.

Onze anos depoisalavancagem apostas desportivasescrever sobre o problema, ele conta que ainda não houve uma pesquisa médica formal sobre as causas da resistência a anestesia local nesses casos, apesaralavancagem apostas desportivasjá existirem algumas teorias.

Uma hipótese é que o tecido desses pacientes é um pouco diferente das pessoas que não têm a síndrome, e isso poderia afetar a absorção das substâncias anestésicas.

A anestesia local funciona ao interromper os canais que conduzem íons positivosalavancagem apostas desportivassódio - e com eles a sensaçãoalavancagem apostas desportivasdor - para as células nervosas. Mas ainda restam questões a respeito desse processo.

Descobrir todos os detalhes pode explicar a razãoalavancagem apostas desportivasalguns pacientes reagirem melhor a alguns medicamentos - por exemplo, articaína ao invésalavancagem apostas desportivaslidocaína.

Uma teoria que explicaria a maior eficácia da articaína, por exemplo, é que ela é mais solúvelalavancagem apostas desportivasgordura (lipídios) e, por isso, se espalha melhor por cada membrana do nervo.

Também é possível que os nervos dos pacientes estejamalavancagem apostas desportivasum lugar um pouco diferente do normal - alguns dentistas, por exemplo, conseguiram contornar o problema mudando o local da injeção.

Às vezes a anestesia local é injetada no tecido abaixo da pele (em um processo chamado infiltração). Em outras, é injetada no nervo ou perto dele (bloqueio do nervo).

Um dentista pode usar o bloqueio do nervo se for fazer algum trabalhoalavancagem apostas desportivasperfuração, por exemplo.

Mas faltam dados concretos sobre o assunto - alguns artigos sobre as razões da resistência a anestésicosalavancagem apostas desportivaspacientes que sofrem da síndromealavancagem apostas desportivasEhlers-Danlos não entramalavancagem apostas desportivasdetalhes.

"Eles não são específicos, não falam se é a técnicaalavancagem apostas desportivasinfiltração ou a técnicaalavancagem apostas desportivasbloqueio do nervo (que falhou)", apontou Joel Weaver, um anestesiologista odontológico na Ohio State University, nos Estados Unidos. Assim como outros na área, ele pede mais pesquisas.

Hakim afirma que o trabalho que fez junto a seus colegas aumentou a conscientização entre médicos e dentistas, mas muitos até hoje nunca ouviram falar e até duvidam da existência do problema.

Só dez minutos

Jenny Morrison, uma enfermeira especializada no tratamentoalavancagem apostas desportivaspacientes com a síndromealavancagem apostas desportivasEhlers-Danlos - e que também tem o problema -, já se deparou com médicos e dentistas céticos.

"(A anestesia) Funciona por alguns minutos e o efeito passa muito rápido. Em algumas pessoas, não funcionaalavancagem apostas desportivasjeito nenhum mas, para mim, dura cercaalavancagem apostas desportivasdez minutos."

Algunsalavancagem apostas desportivasseus pacientes já contaram que médicos e dentistas simplesmente não acreditam quando eles dizem: "anestesia local não funciona comigo".

Uma organização britânica especializada no problema, a Ehlers-Danlos UK, publicou informações que os pacientes podem mostrar aos médicos para explicar o problema.

Morrison afirma que isso pode ajudar, mas a mudança real na percepção dos médicos e dentistas só virá quando uma grande pesquisa confirmar a existência do fenômenoalavancagem apostas desportivasuma quantidade considerávelalavancagem apostas desportivaspacientes.

"Acho que até termos um certo nívelalavancagem apostas desportivasprova disso, será muito difícil fazer os médicos aceitarem", afirmou.

Lori Lemon disse que também passou por isso.

Além dos problemas com o dentista e outros procedimentos mais recentes, ela cita outras experiências dolorosas durante cirurgias. Lembra,alavancagem apostas desportivasparticular,alavancagem apostas desportivasum cateterismo cardíaco, procedimento no qual um longo tubo passa por uma veia do paciente até chegar ao coração.

"Senti tudo. E,alavancagem apostas desportivasnovo, isso não é algo pelo qual um paciente deveria ter que passar."

Mutação

Existe algo surpreendente no casoalavancagem apostas desportivasLemon: ela nunca foi diagnosticada com Síndromealavancagem apostas desportivasEhlers-Danlos. Por isso, Steven Clendenen está tentando descobrir se podem existir outras razões para a resistência dela aos anestésicos.

Cientistas da Faculdadealavancagem apostas desportivasMedicina da Universidadealavancagem apostas desportivasYale, sugeriram que pode haver uma causa genética. O resultado da pesquisa da equipe é um novo estudo indicando que a resistência a anestesia pode ser mais comum do que imaginávamos.

Eles perguntaram a outros membros da famíliaalavancagem apostas desportivasLemon se eles passaram pelo mesmo problema e descobriram que a mãe dela e uma meia-irmã por partealavancagem apostas desportivasmãe também pareciam ter a mesma resistência, apesaralavancagem apostas desportivasnelas a resistência não parecer tão forte. O pai não sofria do problema.

O passo seguinte seria analisar o DNA dos familiaresalavancagem apostas desportivasLemon e, quando Clendenen e seus colegas fizeram isso, descobriram um problema genético relacionado a um canalalavancagem apostas desportivassódio específico no corpo, conhecido como sódio 1.5.

O gene afetado, chamado SCN5A, produz uma proteína chamada NaV1.5, que é um grande componente desse canal.

Esse tipoalavancagem apostas desportivasmutação é conhecida como uma mutação "de trocaalavancagem apostas desportivassentidos", o que significa que um dos aminoácidos na proteína é diferentealavancagem apostas desportivaspessoas com essa diferença genética.

O resultado é que a funcionalidade da proteína pode ser afetada. Uma mutação parecida significa que as pessoas com anemia falciforme, por exemplo, têm hemoglobina anormal - a proteína que carrega o oxigênio no sangue.

"Analisamos a genética disso e foi tipo 'uau' - (a mãe dela) tinha o mesmo defeito", contou Clendenen. A meia-irmã maternal também, mas o pai, que não tem resistência à anestesia, não tinha.

Os canais sódio 1.5 só foram estudadosalavancagem apostas desportivasdetalhealavancagem apostas desportivastecido cardíaco, não nos nervos periféricos onde a anestesia local é aplicada.

Um teste químico mostrou rapidamente que os canais sódio 1.5 estavam presentes nos nervos periféricos. Então, um problema genético relacionado a esses canais poderia,alavancagem apostas desportivastese, inibir a anestesia nestas áreas do corpo.

Não está clara qual a diferença que essa mutação causa, mas pode ser que ela faça os canaisalavancagem apostas desportivassódio ter mais chancesalavancagem apostas desportivaspermanecerem abertos, permitindo o fluxoalavancagem apostas desportivassinal do cérebro apesar da aplicaçãoalavancagem apostas desportivasanestesia local.

O anestésico geralmente inibe o fluxoalavancagem apostas desportivassódio e, com isso, impede que o sinalalavancagem apostas desportivasdor chegue ao nervo. Mas Clendenen admite que os detalhes desse mecanismo ainda são um mistério.

Casos parecidos

Depoisalavancagem apostas desportivasapresentaralavancagem apostas desportivaspesquisaalavancagem apostas desportivasuma conferência recente, Clendenen disse que vários médicos contaram casosalavancagem apostas desportivaspacientes com uma resistência ainda não explicada à anestesia local.

Um dos profissionais que procuraram o pesquisador chegou a contar que fez cinco anestesias locaisalavancagem apostas desportivasbloqueioalavancagem apostas desportivasnervo no mesmo paciente, mas nada funcionou.

Alan Hakim afirmou que a pesquisa é "fascinante". Para ele, identificar as diferenças genéticas que potencialmente afetam canaisalavancagem apostas desportivasíons no sistema nervoso pode ser útil para ajustar os tratamentos para pacientes que têm o defeito e sofremalavancagem apostas desportivasresistência à anestesia.

"Pode ser muito decisivoalavancagem apostas desportivastermosalavancagem apostas desportivasdeterminar que tipoalavancagem apostas desportivasremédio você poderá usar e a eficácia dele", explicou.

Mas Hakim lembra que apenas uma família foi pesquisada - o resultado precisa ser replicado com mais pessoas.

Clendenen, poralavancagem apostas desportivasvez, conta que o próximo passo da pesquisa é examinar mais pessoas que reclamamalavancagem apostas desportivasresistência à anestesia local para verificar se elas também têm essa peculiaridade genética.

Ele também quer examinar o comportamentoalavancagem apostas desportivasanestésicos locaisalavancagem apostas desportivascélulas que apresentam esse defeito genético.

Lori Lemon é só elogios ao trabalhoalavancagem apostas desportivasClendenen e à Clínica Mayo.

Ela lembra o quanto seu problema a deixou com "medo"alavancagem apostas desportivascontar aos médicos que algo poderia dar errado caso ela precisassealavancagem apostas desportivascirurgia.

A paciente encara a situação com bom-humor.

"Me sinto como um dos X-Men, tenho uma mutação", brinca.

Para aqueles que tiveram que aguentar procedimentos invasivos sem contar com nenhum alívio da dor ou encarar uma anestesia geral para uma simples cirurgia no dentista, uma nova esperança pode estar surgindo.

"É muito importante divulgar isso. As pessoas não acreditam (nesses pacientes) e é muito frustrante. Até algunsalavancagem apostas desportivasmeus colegas, com quem conversei, falam 'não acredito'", disse Clendenen.