A misteriosa peçablaze promoçãocerâmica que revela um sentido ocultoblaze promoção'As Meninas', obra-primablaze promoçãoVelázquez:blaze promoção
Personagens
A obra mostra um autorretrato do artista aos 57 anos, quatro anos antesblaze promoçãosua morteblaze promoção1660 — e depoisblaze promoçãoter passado as últimas três décadas como pintor da corte do rei Felipe 4º.
Com a paletablaze promoçãomãos, do lado esquerdo da cena, a "selfie"blaze promoçãotamanho naturalblaze promoçãoVelázquez nos observa como se fôssemos o objeto que ele está tentando capturar na enorme tela àblaze promoçãofrente. É uma pintura sobre uma pintura na superfície imagináriablaze promoçãouma tela que não podemos ver.
No centro do quadro, à esquerdablaze promoçãoVelázquez, vemos a infanta Margarita, filha do rei Felipe 4º eblaze promoçãoMariana da Áustria, com duas damasblaze promoçãocompanhia ao seu lado. O resto do aposento tenuamente iluminado do Palácio Realblaze promoçãoMadri se completa com um grupo heterogêneoblaze promoçãocortesãos.
Portal da percepção
Por uma porta aberta no fundo da cena, uma silhueta enevoada, do camareiro da rainha, se prepara para deixar o quadro, mas não antesblaze promoçãoparar para nos olhar, como se quisesse que o seguíssemos rumo ao desconhecido.
À esquerda da porta, um espelho reflete como espectros os rostos do rei e da rainha, cuja localização no mundo da obra é desconhecida. Os monarcas estão lá, mas não estão.
Estes aspectos da obra — a porta aberta e os rostos reais no espelho fantasmagórico — levaram muitos especialistas a suspeitar que há muito maisblaze promoçãoação na pintura do que nossos olhos conseguem enxergar.
A presença "ausente" do rei e da rainha, que aparecem na pintura mas não na cena, nos obriga a concluir que se tratablaze promoçãouma obra filosófica sobre a substância da matéria e a natureza da existência do agora, como uma imagem congeladablaze promoçãouma cena da agitada vida palaciana.
O enigmablaze promoçãoseu reflexo garante que não sejamos espectadores passivos, mas que busquemos ativamente compreenderblaze promoçãoque parte do mundo eles se encontram.
O espelho os coloca onde estamos, como sujeitosblaze promoçãoum retrato que Velázquez está pintando?
Ou o espelho revela o que já está naquela grande tela, da qual só vemos o verso? Esta segunda opção faria com que a imagem no espelho fosse um reflexo imaginário da superfícieblaze promoçãouma pintura imaginária que retrata personagens cujos paradeiros só podemos imaginar.
Um pontoblaze promoçãofuga que desaparece
As Meninas brinca com a nossa mente e com a nossa retina.
Por um lado, as linhasblaze promoçãoperspectiva da tela convergem e direcionam o nosso olhar para um pontoblaze promoçãofuga, que é a porta. Mas, por outro lado, o espelho chama nossa atenção para a parte posterior da pintura, para avaliar a possível posição dos espectros reais.
Somos constantemente arrastados para dentro e para fora da obra, enquanto o aposento que Velázquez pinta se torna uma estranha dimensão elástica que é ao mesmo tempo transitória e eterna, um reino tangível, mas também nebuloso e imaginário.
As imagensblaze promoçãoVelázquez têm um efeito quase psicotrópico sobre nós — com um estadoblaze promoçãotranse, que tem atraído o público geração após geração. Talvez estejamos descrevendo uma alucinação ou visão místicablaze promoçãovezblaze promoçãouma pintura.
O jarro
Fácilblaze promoçãoignorar na encruzilhadablaze promoçãoperspectivas ópticas, filosóficas e psicológicas que se misturam na pintura, há um objeto que talvez ofereça uma pista material para o efeito pretendido pela obra-prima alucinógenablaze promoçãoVelázquezblaze promoçãonossa consciência: um ponto vermelho vibrante na formablaze promoçãoum pequeno jarro.
Este modesto jarro, que uma das criadas oferece à jovem infanta (e a nós)blaze promoçãouma bandejablaze promoçãoprata, deveria ter sido reconhecido pelos contemporâneos como a materialização das propriedades que alteram a mente e o corpo.
Conhecida como búcaro, esta simples peçablaze promoçãocerâmica era um dos muitos artesanatos que os exploradores espanhóis levavam do Novo Mundo para o Velho Mundo nos séculos 16 e 17.
Segundo o historiadorblaze promoçãoarte Byron Ellsworth Hamann, que estudou cuidadosamente a origemblaze promoçãomuitos dos objetos que aparecem nos quadrosblaze promoçãoVelázquez, incluindo a bandejablaze promoçãopratablaze promoçãoAs Meninas, o brilho característico do jarro e o tom avermelhado o distinguem como um produtoblaze promoçãoGuadalajara, no México.
Uma mistura secretablaze promoçãoespeciarias locais incorporadas à argila quando o vaso era fabricado garantia que qualquer líquido contido ali fosse delicadamente perfumado. Mas o búcaro era conhecido por cumprir outra função mais surpreendente.
Alucinações
Nos círculos aristocráticos espanhóis do século 17, se tornou uma espécieblaze promoçãomodismo entre meninas e mulheres jovens mordiscar as bordas desses jarros porososblaze promoçãoargila e lentamente devorá-los por completo.
Uma consequência química do consumo da argila estrangeira era um drástico clareamento da pele até adquirir uma tonalidade quase fantasmagórica, o que na época era uma aspiração estética e uma demonstraçãoblaze promoçãoriqueza, ao indicar que o sustento da pessoa não dependia do trabalho feito sob o sol que escurece a pele.
Por mais estranho que pareça, consumir a argila do búcaro era menos perigoso do que algumas alternativas contemporâneas, como espalhar uma pasta veneziana feitablaze promoçãochumbo, vinagre e água no rosto, que resultava no envenenamento do sangue, quedablaze promoçãocabelo e morte.
Mas a ingestão da argila do vaso também causava a perigosa redução dos glóbulos vermelhos, paralisia dos músculos e destruição do fígado. Provocava ainda alucinações. De acordo com a autobiografiablaze promoçãouma pintora e mística da época, Estefaníablaze promoçãola Encarnación, publicadablaze promoçãoMadriblaze promoção1631, o vícioblaze promoçãomordiscar búcaros levava a uma maior consciência espiritual.
Apesarblaze promoçãolamentar ter levado "um ano inteiro" para se livrar "deste vício", ela afirma que o efeito narcótico provocava visões que permitiram a ela "ver Deus mais claramente".
Símbolo do declínio imperial
Quando mapeamos os efeitos fisiológicos e psicotrópicos da dependência do búcaro no eterno enigmablaze promoçãoAs Meninas, a pintura ganha um significado novo e talvez ainda mais perturbador.
A consciência alterada da infanta, cujos dedos circundam o búcaro (será que ela teria acabadoblaze promoçãomordiscá-lo?), se expandeblaze promoçãorepente do epicentro da ação da tela para toda a lógica da pintura. Além disso, podemos ver que o pincelblaze promoçãoVelázquez aponta para uma mancha do mesmo vermelho intenso emblaze promoçãopaleta, a mesma tintablaze promoçãoonde se originou o búcaro.
Fantasmagórica na palidez, a infanta também parece levitar do chão, efeito proporcionado pela sombra que o artista insere sob a barra do seu vestidoblaze promoçãoformablaze promoçãoparaquedas. Inclusive os pais da infanta, cujas imagens flutuam diretamente acima do búcaro, começam a parecer espíritos holográficos projetadosblaze promoçãooutra dimensão,blaze promoçãovezblaze promoçãomeros reflexosblaze promoçãoum espelho.
De repente, vemos As Meninas não apenas como uma fotografia do momento, mas uma reflexão sobre a evanescência do mundo material e da inevitável evaporação do ser. Ao longoblaze promoçãoquase quatro décadasblaze promoçãoserviço à corte, Velázquez testemunhou o declínio gradual do domínioblaze promoçãoFilipe 4º. O mundo escapavablaze promoçãosuas mãos.
O búcaro, um troféu das proezas coloniais e do poder imperial minguante, é o símbolo perfeito desse declínio e do desapego da miragem do agora. Ele habilmente ancora a cena confusa e, ao mesmo tempo, está diretamente envolvido emblaze promoçãoconfusão.
Simultaneamente físico, psicológico e espiritualblaze promoçãosuas implicações simbólicas, o jarro é o buraco da fechadura pelo qual o significado mais profundo da obra-primablaze promoçãoVelázquez pode ser vislumbrado e desvendado.
blaze promoção Leia a versão original blaze promoção desta reportagem (em inglês) no site BBC Culture blaze promoção .
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